Oathkeeper escrita por Denise Miranda


Capítulo 44
Garota cega


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO: eu sei que está escrito na fanfic logo de início que ela é para as pessoas que leram os livros (pelo menos até o final de Festim dos Corvos) ou para pessoas que não ligam para spoilers, mas estou aqui só para avisar novamente: esse capítulo contém um spoiler que NÃO é em relação a Brienne. Então, se você ainda não terminou de ler o Festim, não precisa ler esse capítulo, pois ele não vai interferir no final da Fanfic (embora ele esteja bem legal e triste, hahahaha), só achei que daria um toque especial se eu escrevesse um POV sobre a pessoa abaixo. Pra quem for ler, boa leitura!



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Beth, a mendiga cega, interpretava seu papel todos os dias na cidade livre de Bravos. Sentava no chão, perto de um bordel, e conseguia distinguir as pessoas e os lugares pelos cheiros e pelo som. Todos lugares haviam sons diferentes.

Nos bordéis, as musicas eram mais rápidas, haviam muitas risadas das mulheres, as mesmas tinham cheiro de morango, e os homens de cerveja.

A garotinha cega sentava, esperando que alguma pessoa bondosa deixasse uns trocados para ela. E ficava com seus ouvidos abertos, esperando ter três coisas novas para aprender, pois todos os dias precisava contá-las para o Homem Gentil.

Beth sentiu um roçar em sua perna, e logo em seguida um miado. Passou a mão no pelo macio do gato, e sorriu. Meu companheiro. Eu posso enganar as pessoas, mas a você eu não posso, não é mesmo? Você tem um olfato tão bom como o meu. Sabe que eu era a Gata das Ruas antes de ser a Beth.

De todos os seus disfarces, o que Beth mais gostava era da Gata das Ruas. Gostava até mais da Gata do que a própria Arya da Casa Stark. Mas eu matei a Gata quando matei aquele cantor. Mas o homem era desonesto, lembrou-se a garota. Era um desertor da Patrulha da Noite.

– Só o Deus da Morte que pode tirar a vida dos outros, pequena. – A garota sem nome lembrou-se do Homem Gentil dizendo para ela.

No dia seguinte, estava cega. Não podia desafiar o Deus da Morte. Eu estou pagando pelos meus pecados. Matei o cantor, matei a Gata. E eu matei Arya quando entrei no navio para Bravos. E agora, quem eu sou? Eu sou ninguém.

De vez em quando, Beth achava que conseguia ver pelos olhos amarelos de seu companheiro as pessoas passando pelas ruas.

Voltava para a Casa do Preto e Branco após aprender suas três novas coisas. E, todas as noites, o Homem Gentil as exigia, e Beth obedecia. Não podia voltar para casa até saber de três novidades.

Todos os dias eram escuros. Mas, a noite, a garotinha cega podia entrar na pele de sua loba e conseguir enxergar a beleza do mundo novamente. E, todas as noites, ela ia para o mesmo lugar. A casa que um dia foi sua. Winterfell.

Winterfell estava em ruínas, mas um dia, a loba se surpreendeu ao ver humanos a reconstruindo. Pela aparência dos homens, pareciam ser homens do Norte. A loba gigante sentiu em seus ossos que podia confiar neles.

Nymeria andava pelas matas com sua alcatéia. Era a líder, é claro. Caçava veados, coelhos e até animais mais ferozes. Sempre os matava e ficava com a melhor parte da caça. Nymeria não tinha medo de nada.

Podia morar na Cidade Livre de Bravos, mas o que mais gostava eram de seus sonhos, onde era uma loba em Westeros. Já tive muitos nomes. Nymeria, Salgada, Arryn, Beth, Gata das Ruas. E também já fui Arya Stark. Agora sou ninguém.

"Quem você é?", perguntava a voz do bondoso homem. "Ninguém", a garota sem nome respondia. "Você mente."

Sinto-me diminuída, pensava a garota, enquanto estava deitada em sua cama. Arya sentia a cada dia sumindo na escuridão. E tudo é sempre tão escuro, pensou. Quando mantemos nossas partes honestas, boas e verdadeiras longe por tempo o bastante, será que as perdemos de vez?, se perguntava todos os dias. Sentia suas lágrimas escorrendo por seu rosto. Eram salgadas. Se ninguém se importa com você, será que você sequer existe?

Arya fechou seus olhos e tudo continuou escuro, da mesma maneira que estava antes. Mas agora, ela podia sonhar. Em seus sonhos, era uma loba gigante. Em seus sonhos, era Nymeria.

Nymeria estava na fortaleza que um dia Arya conheceu como a Fortaleza dos Umber. Um dos vassalos de meu pai, pensou a garota em forma de lobo. Não, se corrigiu imediatamente. Não do meu pai. Do pai de Arya Stark. Eu não sou Arya. Eu sou ninguém.

"Você mente.", conseguia ouvir a voz do Homem Gentil em seus pensamentos. Os pelos da loba pareceram ficar eriçados com tais lembranças.

A loba se escondia no Bosque Sagrado, por detrás das árvores dos deuses do norte. Não são meus deuses. Só existe apenas um deus. E seu nome é Morte, pensou a garota cega. Nymeria sempre tinha que brigar com seu grupo para ficarem afastados enquanto a mesma ia visitar sua antiga irmã, Sansa Stark. Ela já foi minha irmã, assim como Lady já foi irmã de Nymeria, lembrou-se a garota sem nome. Mas Lady morreu, e Arya também.

"Quem você é? Ninguém."

Conseguia ver a silhueta de Sansa ao longe, rindo com uma garota magrela que parecia ter a mesma idade. Seus cabelos eram longos e castanhos, e os olhos cinzas. Uma típica garota do Norte. Se Arya estivesse viva, ia parecer com essa garota, percebeu a loba. A menina ria com Sansa, as duas pareciam estar confidenciando segredos importantes. Mas Arya e Sansa nunca se dariam bem como essas duas.

Gostaria de dizer para Sansa que eu não a odiava. Não de verdade, lamentou-se a garota que por um momento se esqueceu que não era mais Arya Stark. Mas não posso. Arya morreu. Eu sou ninguém.

Também viu Sansa trocando beijos com o cavaleiro da metade do rosto queimado. Arya passou muitos momentos com o mesmo. Pensei que havia morrido, se surpreendeu a loba, quando viu o Cão pela primeira vez. Algo dentro dela parecia estar feliz. Percebeu que a garota Stark aprendeu a gostar do homem que cuidava dela como sua filha. Ele cuidava de mim. E eu o deixei pra morrer. Não, não eu. Arya. Arya o deixou para morrer. Mas então ela que morreu.

Nymeria avistou o Regicida e sentiu uma fúria dentro da mesma. Teve que segurar seus instintos para não pular do seu esconderijo no Bosque Sagrado, em direção à garganta do homem sem honra. Não posso ter raiva dele. Arya tinha raiva dele, eu não o conheço. Eu sou ninguém, se lembrava.

A loba também via frequentemente uma mulher gigantesca, com cabelos curtos, loiros e desgrenhados, sempre com a mão no cabo da espada, atrás de Sansa, guardando-a. Dela Nymeria gostou logo. Arya adoraria conhecê-la, pensou a garota cega. Se lobos pudessem sorrir, teria aberto um nesse momento. Arya gostaria de ter sido como ela. Mas não pôde, pois morreu. Eu não gostaria de ser como ela. Eu sou ninguém, não tenho desejos, família, bens materiais, nada. Nada em que me agarrar nesse mundo.

Então, se isso é verdade, porque todas as noites eu vou ao encontro de Sansa Stark e também de Winterfell?

"Quem é você?"

"Ninguém."

"Você mente."

Nymeria olhou por mais alguns instantes sua irmã penteando seus cabelos ruivos sedosos, sorrindo, sendo feliz. Arya desejava isso para ela. Se Sansa, sua última irmã viva, estivesse feliz, ela poderia descansar em paz. E assim o fez.

E então a loba voltou para sua alcatéia, esquecendo Sansa, esquecendo Winterfell. Agora só pensava no próximo animal selvagem que rasgaria para comer sua carne e beber seu sangue.

Após isso, a garota cega acordava todos os dias na mesma escuridão. Nessa hora, era apenas uma serva do Deus de Muitas Faces. Levantava, servia a Casa do Preto e Branco, fazia tudo que lhe era pedido. Mais tarde, interpretava seu papel, sendo Beth, a mendiga cega.

E, a noite, antes de dormir e voltar a ser uma loba gigante, fazia a sua prece:

Cersei. Walder Frey. Meryn Trant. Tywin Lannister. Polliver. Ilyn Payne. A montanha. Valar Morghulis.


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Notas finais do capítulo

OBS: Esse trecho " Sinto-me diminuída, pensava a garota, enquanto estava deitada em sua cama. Arya sentia a cada dia sumindo na escuridão. E tudo é sempre tão escuro, pensou. Quando mantemos nossas partes honestas, boas e verdadeiras longe por tempo o bastante, será que as perdemos de vez?, se perguntava todos os dias. Sentia suas lágrimas escorrendo por seu rosto. Eram salgadas. Se ninguém se importa com você, será que você sequer existe?" foi inspirado em uma frase falada por Tessa Gray e Will Herondale na saga "As peças infernais" que é maravilhosa, recomendo a leitura. :D valar dohaeris pra vcs



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