Reyna acordou antes de todos. Ela queria ter certeza que ninguém a veria. Trocou-se rapidamente e continuou em sua desconfortável e pequena barraca até escutar sons do lado de fora. Na noite passada, ela aprendeu a montar um barraca. Estranhou, é claro, o lugar era bem menor do que os lugares em que ela estava acostumada a dormir.

O dia seria difícil, ela previu assim que saiu. Não poderia dizer que o lugar estava um confusão, pois uma coisa que romanos não eram era desorganizados. Pelo menos os exércitos. Mas um clima tenso tomava conta do local.

Sentou em uma das mesas enquanto os soldados tomavam o café da manhã. Ela pegou um pedaço de pão e um pouco d’água. Enquanto comia, tentava não prestar atenção na conversa dos soldados a sua volta. A maioria era jovem. Quando os soldados calaram-se, Reyna olhou para cima. Todos a encaravam. Uma mesa pequena, ela e mais três garotos, não mais velhos do que o próprio general.

— Ei, novato. Rômulo, não é? Meu nome é Nico. Nico Di Angelo. - O garoto de olhos e cabelos negros a encarou. - Aqueles são Frank - Apresentou um garoto musculoso com traços asiáticos - E Percy. - Um garoto de profundos olhos verdes e sorriso brincalhão. O garoto lhe parecia familiar, isso era perigoso.

— Ahn… - Ela pigarreou. - Sim, é um prazer.

Após um momento silencioso, Nico Di Angelo resolveu dar continuidade ao assunto.

— O que você acha sobre tudo isso?

— Eu… - Reyna pensou um pouco e depois admitiu. -Me desculpe, não prestava atenção no que falavam.

— Ah… Bem, nós falávamos do desaparecimento da princesa, o que você acha que aconteceu? Não era para sabermos, era um segredo, mas um segredo só serve para ser descoberto. - Reyna engoliu em seco.

— Eu não tenho ideia. Quer dizer, ela é a princesa. Porque iria fugir?

— Nenhum de nós falou que ela fugiu. - Percy levantou as sobrancelhas.

— Ahn, eu sei. Estou apenas… pensando alto. Quer dizer, são várias opções: Fugir, ter sido sequestrada, ter sido morta… Mas, como já disse, acho fugir improvável.

Percy suavizou a expressão e ela quase suspirou aliviada.

— E se… Ela fugisse com alguém? - Frank levantou a hipótese.

— Você diz… Com um cara? - Reyna quis saber mais.

— É… quer dizer, as garotas vivem sonhando com essas coisas… Conheço alguma mulheres que fugiram para se casar.

Ela torceu o nariz. Antes que pudesse responder algo, Dakota, o centurião, se intrometeu:

— Sorte do cara, se ela fugiu. Dizem que a futura Imperatriz é quente.

O centurião achou um lugar na mesa, entre Nico e Percy.

— Quente? - Percy fez cara de confusão.

— É, cara. Gostosa, sexy, linda, gostosa, pernas bonitas, gostosa, pei…

— Ok, já entendemos, Dakota. - Nico o cortou.

O general aproximou-se da mesa com um sorriso no rosto. Deuses, e que sorriso. O capacete entre os braços musculosos, a espada embainhada. Reyna notou um cicatriz nos lábios de Jason. Na verdade, foi a única imperfeição que ela achou em Jason Grace até agora, o que não era nem um pouco grave, já que era uma imperfeição muito fofa. Forçou-se a voltar atenção na conversa e fingir que não viu ele se aproximando.

— Muito bem, soldados. Acho que vocês já conversaram demais sobre suas garotas. Vamos ao treino. - Era como se, no momento, Jason estivesse ali como amigo, não como general. Sua linguagem corporal dizia isso e o rosto dos outros ali presentes também.

Não havia mais nenhum soldado por perto, o que poderia explicar o comportamento. Percy, Dakota, Frank e Nico o saldaram com um sorriso. Até que Dakota quebrou o silêncio novamente:

— Ah, meu caro Jason Grace, quem me dera a Imperatriz fosse minha garota…

Jason revirou os olhos.

— Pare de sonhos, homem! Ela deve ser mimada. Argh… - Jason pensou na ideia em silêncio, por alguns segundos. - Não mesmo. Se um dia encontrá-la, deixo para vocês. Eu passo.

— Vamos cobrar, Grace!

— O que faz vocês acharem que ela é um objeto? - Reyna soltou no calor do momento. Droga. Ela não podia fazer com que os outros desconfiassem, no entanto não pode evitar. Sempre se sentiu um objeto de troca, era para isso que estava ali. Queria mudar as coisas.

— Não achamos - Percy se adiantou - E, pelo que Annabeth me fala, a princesa parece ser simpática. Quer dizer, é a única naquele lugar que a trata bem. “Minha garota” só tem elogios a ela.

— Annabeth? - Tentou falar como se não quisesse nada. Como se não conhecesse a garota.

— A namorada dele. - Jason respondeu a pergunta, o que a surpreendeu. - É uma servente pessoal da futura Imperatriz, como o Dakota falou. Eu nunca gostei muito da realeza, só devo respeito ao Imperador. A garota, por enquanto, não é nada.

Reyna ficou feliz em saber que poderia contar com Annabeth. Ela gostava muita da menina. A considerava como amiga.

— Como pode dizer que ela não é nada! - Dakota interveio novamente. Pelo jeito, era algo que ele gostava de fazer, - Me disseram que ela é muito inteligente, fala diversas línguas, estrategista singular, apesar de alguns não se importarem, ela tem todas as caracteristicas que um líder deve ter, e, como prêmio, ela ainda é quente. O que mais um homem poderia querer?!

— Isso não me importa. A minha garota tem a benção de Vênus. Não dá para ser mais quente que ela.

Dakota mordeu o lábio, discordando.

— Hora do treino? - Ele disse, antes que uma briga começasse.

— Sim, vocês ainda tem muito que aprender, legionários.

Jason foi embora, deixando um sorriso simpático pairar no ar.

Enquanto se dirigiam para o treinamento, Reyna reparou que aquela era uma versão completamente oposta e mais agradável do Jason que ela havia conhecido na noite anterior.