Eu estava na aula de Geografia, (mesmo hoje sendo o meu primeiro dia não me deram folga) a professora tinha no máximo uns vinte e cinco anos, e pelos cochichos e olhares dos garotos da nossa turma, ela fazia um certo sucesso, eu estava sentada no fundão, a professora, graças a Deus, não pediu para mim falar nada nem me apresentar, só me mandou para o meu lugar. Andressa se sentava mais à frente de mim, umas duas filas, e Scott não havia chegado, o que era estranho já que ele saiu antes de mim e Andressa. E como se ele tivesse ouvindo meus pensamentos, entrou pela porta, fazendo um barulho maior do que o necessário.

–Scott... Atrasado como sempre... Qual o motivo de hoje? –a professora perguntou com um sorriso boba nos lábios, aparentemente Scott não fazia sucesso só entre os alunos, entre as professoras também...

–Ah, você sabe, o de sempre... Despertador quebrado. –disse ele e deu de ombros, “despertador quebrado? ” Quando eu cheguei ele já estava acordado... Que desculpa mais esfarrapada. Mas a professora pareceu acreditar, ou pelo menos só não queria mais ouvir nada, e o mandou para o seu lugar. E nesse momento, eu vi que eu havia escolhido o pior lugar do mundo para me sentar. Scott andou, e foi para o seu lugar, que era na cadeira atrás de mim. “Ótimo” Pensei.

E para melhorar, o meu “colega de quarto” começou a chutar a minha cadeira, e continuou, a aula inteira. Eu sabia que ele não iria parar, não importa o quanto eu reclamasse, então eu simplesmente coloquei os meus fones e esperei a aula terminar, o que demorou séculos.

***

–Será que dá para parar? –gritei para a pessoa que estava sentada atrás de mim quando o sinal bateu. O chute na cadeira era seguido de outro e de outro, não parou nem um segundo dês do início da aula, eu estava ficando enjoada do vai e vem constante.

–Por que? –perguntou ele cinicamente. –É tão divertido. –completou.

–É irritante, eu estou ficando enjoada! –disse eu com a voz calma, o que me surpreendeu.

–Tudo bem. Eu paro! Só por que eu não quero que você vomite em mim. –disse ele sorrindo e se erguendo para ir logo para fora da sala, me ergui e segui ele, porem ao sair na porta tomei a direção contrário, tentando deixar ele bem longe de mim.

–Hey! Olha por onde anda! –gritou uma voz fina e muito enojada para mim, quando acabei esbarrando em alguém. Uma garota loira, de narizinho empinado, seguida por outras duas garotas que pareciam clones dela, estava parada na minha frente, os livros caídos no chão. Sem sobra de dúvida, ela é a “patricinha” que comanda essa escola.

–Oh! Me desculpe vossa excelência, não notei sua presença deslumbrante nesse lindo palácio escolar. –disse eu sorrindo, agitando os braços em direção ao corredor cheio de alunos que nos observavam boquiabertos, eu estava com a voz carregada de sarcasmo e nojo.

–Como é que é? Acho que você vai querer retirar o que disse. Não quer ser minha inimiga. –disse ela com a voz enjoativa em um tom de alarme, ela estralou os dedos e um rapaz que observava tudo de longe, veio correndo e ajuntou seus livros e saiu correndo na direção oposta da que veio. –Viu? –terminou ela.

Eu fiz um reverencia, e tudo foi compreendido, a guerra foi declarada, que soe o canhão. Continuei andando pelo corredor, deixando ela para trás, com um sorriso de “eu vou matar ela” nos lábios.

–Eu não acredito que você fez isso. –disse Andressa correndo atrás de mim, abafando um sorriso, pelo visto eu não sou a única que não foi com a cara daquela garota. –Guria... To virando sua fã. –disse ela batendo palmas e eu ri.

–Quem era ela? –perguntei indicando a garota que agora andava em direção oposta com seus saltos ecoando pelo piso e com seus clones correndo para acompanha-la.

–Samanta. A líder da “trindade” dessa escola. Em toda escola tem a sua “rainha” e na nossa é a Samanta... Se bem que ela ta bem mais para demônio do que para rainha, mas tudo bem... Ela só é assim tão “poderosa” por causa do pai dela.

–Quem é o pai dela? –perguntei inocentemente, olhando em meu horário qual a minha próxima aula, e tentando achar o caderno e livro de Matemática no chiqueiro que eu chamo de mochila.

–É um ator famoso. Cristian M’Leem. –disse ela como se o caro fosse um Deus do Olimpo.

–Quem? –perguntou arqueando as sobrancelhas. Andressa abre a boca, espantada.

–Em que mundo você vive?

–Na Terra. –digo com um sorriso torto no rosto.

–Serio? –Disse ela e revirou os olhos. O sinal para a próxima aula tocou e nós fomos para a sala, e a aula, passou mais devagar que uma lesma.

***

Quando o sinal tocou de novo, eu, Andressa e Carol, que apareceu na aula de matemática, fomos para o quarto. Carol era calma, e bem sem graça na minha opinião, sorria para tudo e todos mas não falava muita coisa. Diferente de Andressa que mais parecia um papagaio com hiperatividade.

Entramos no nosso “quarto” que mais parecia um mini apartamento e Andressa fez o almoço, que foi: Pizza. Daí você pensa: “Que tipo de almoço é esse? ” Mas qual é? Nós somos três adolescentes que não sabem fazer nada na cozinha além de comer.

Enquanto nós comíamos Scott apareceu e seguiu direto para o “nosso” quarto, sem nem dizer “Oi” qual é a dele? Em uma hora fica chutando a minha cadeira a aula toda e em outra nem fala nada... Só pode ser bipolar.

Almocei e fui para o meu novo quarto, onde havia duas camas de solteiro, uma cômoda, uma escrivaninha, e uma porta que eu supus ser o banheiro, pelo som de agua correndo que vinha lá de dentro. Scott estava tomando banho.

Eu comecei a desfazer as minhas malas, mas fui interrompida por um Scott saindo do banheiro só com uma toalha enrolada na cintura. Se eu não tivesse tão disposta a odiá-lo e fazer da vida dele um inferno, eu até apreciaria a vista. Eu odiava lavar roupa, mas eu até poderia lavar se fosse no tanquinho dele... Que tanquinho. Pera ai! No que eu estou pensando? Lavar roupa? Oi?

–Já acabou de apreciar a vista? –disse ele com um sorriso cínico do rosto, e eu revirei os olhos. Sai do quarto para deixar ele se vestir e me atirei no sofá.

Convensido? Idiota? Com certeza. Lindo? Com certeza duplo. Pera ai! O que? Não nada disso... Me recuso a achar isso. “Ele é feio! ” Pensei comigo mesma.