Onze e treze da manhã, quinta-feira, aula de história. Nesse momento, meu mundo desabou.

O forte Sol costumeiro do horário invadia as janelas sujas de poeira do colégio Marino. O professor, com a voz cansada e arrastada, dizia mecanicamente de uma guerra da qual, hoje, me recuso a lembrar. O riscar da caneta dos mais estudiosos completava a tabela de sons disponíveis.

Tentava insistentemente prender minha atenção a qualquer coisa menos entediante. Meu erro foi esse. Prender minha atenção á pequena janelinha da porta.

A visão me atormenta até hoje. Os cachos vivos flutuavam com toda a vida possível, causando um contraste na cena. Não acreditei na primeira, nem na segunda vez que olhei. Era apenas o sono, achava. Mas quando vi o desespero nos olhos do senhor Poe encontrando os meu confusos, pude ver que não era apenas um terrível pesadelo.

Meu sangue esfriou, meus tímpanos dilataram, o coração acelerou e acredito, que nesse momento também, meus olhos umedeceram, mas já não me lembro, pois o grito que saiu do fundo de minha alma foi tudo que consegui perceber.

O nome pronunciado, com todas as letras possíveis, cortou o ar de forma violenta. Acordou os viajantes e alertou os atentos. Algo estava errado. Levantei-me e joguei a cadeira longe. Meus pés pensaram e correram até a porta enquanto meu cérebro, inundado de medo, sofria antecipado.

A porta puxada com furor dá-me a abertura para a verdade. Crio forças e chego ao homem, tirando de seus braços, a pequena garota.

Analiso seu pequeno rosto, para tocar, de leve, seus lábios sem cor. A palidez das antes coradas bochechas, é assustadora. Os olhos fechados me dão a dúvida de uma tragédia.

Questiono por respostas, que veem com enormes dúvidas. Encosto minha cabeça em seu peito, atrás de uma batida, se quer, qual fosse. O descompassado e fraco som escurece minhas vistas, que eu insisto a não me deixar domar.

Aperto sua mão, estendida em direção ao chão, e olho em volta. Uma multidão boquiaberta nos encarava, temendo se aproximar. Antes de prender meus afogados olhos novamente nela, ouço um autoritário e trêmulo “Eles estão vindo”.