Era Pra Dar Certo... escrita por Lola Baudelaire


Capítulo 4
Como assim, pessoa?


Notas iniciais do capítulo

Gente eu demorei um pouco pra postar porque eu meio que não conseguia escrever nadinha. Demorei a tarde toda pra terminar esse capítulo.
espero que gostem.
eu dedico esse capítulo a querida Angel que me deu algumas dicas.
espero que gostem
.
.
.
.
.
.
Betado por Maya do Blog Perfect Design



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/554215/chapter/4

Eu nunca tinha visto minha mãe furiosa e ainda xingar daquele jeito, logo ela que sempre fora tão recatada admiradora dos bons modos. Sério mesmo, quando eu digo nunca não estou querendo exagerar, ela não xingou nem mesmo quando eu bati em um carro de luxo, fazendo ela ter que pagar indenização ao dono. Algo em minha mãe tinha mudado, provavelmente por causa daquele verme a quem ela chama de noivo.

— Senta aí. — ordenou, apontando com a cabeça para o espaço ao seu lado. E é claro que eu a obedeci, me sentei no tapete felpudo a centímetro de distancia. E eu lá tinha escolha? Ela parecia bem irritada, logo presumi que o motivo desse aborrecimento foi o incidente do dia anterior. Não tiro a razão, o vexame que causei, eu também ficaria muito brava se estivesse no seu lugar.

Ela encheu o peito de ar como na respiração comum na pratica de ioga, estava claro que minha mãe procurava se acalmar. Ao completar o exercício de respiração ela abriu os olhos cor de esmeralda, eles já não estavam mais sombrios, sua expressão era branda e reconfortante. Me senti aliviada, minha mãe poderia ser tranquila e equilibrada na maioria do tempo, mas quando ficava com raiva, era meio que assustador.

Então ela começou:

— É sobre seu pai... Alias, você tem um pai, e a culpa do que aconteceu ontem foi dele.

— Hã?

Não esperava ouvir aquilo. Não mesmo, muito menos naquele momento. Nunca conheci meu pai, mas eu sempre soube que tinha um, até porque tinha certeza de que não era biologicamente possível que minha mãe tenha me gerado sem a ajuda de um homem. Vivo ou morto eu tinha certeza que ele existia.

Eu não me importava muito com isso, mas a infância eu me lembro de ter perguntado muito a minha a minha mãe, mas ela sempre respondia com alguma historia diferente.

“Ah querida, seu pai é um alien, ele me deu você de presente por ficar tão agradecido com o café que lhe ofereci.”

“Não se preocupe com isso, quem precisa de pai quando se é uma pedra rara que virou uma linda garotinha como você?”

Eu nunca acreditei nessas fantasias, mas adorava ficar me gabando. Como em um dia na segunda série...

— Vamos crianças, esta na hora de vocês compartilharem o que seus pais responderam na entrevista que eu passei na aula passada. Quem quer começar? — disse ela toda simpática, enquanto procurava um voluntario.

— Eu! — gritei eufórica, levantando a mão toda empolgada. Adoraria compartilhar com a turma toda a minha resposta.

— Vamos querida, compartilhe sua resposta com a classe. Como e quando seus pais se conheceram?

— No ebay professora! — respondi toda satisfeita.

— Como? — ela questionou meio confusa.

— Eu não tenho pai professora. Minha mãe não precisou, ela me comprou no ebay, em uma liquidação da época que as folhas caem, tinha um desconto muito e ela não conseguiu resistir quando viu meus olhos verdes e redondos. — respondi, fazendo a classe toda rir enquanto a professora me olhava abismada.

No fim da aula fui chamada na sala da diretora, e minha mãe estava lá, se esforçando ao máximo, para manter uma expressão séria enquanto a psicóloga da escola dizia:

“Eu recomendo que a leve a um terapeuta, ela anda muito dispersa, e ela conta muitas histórias absurdas para os coleguinhas.”

Minha mãe respondeu com um tom meio arrogante:

“Não se preocupe, ela está perfeitamente bem, só tem uma imaginação muito boa, ao contrário dos seus outros alunos.”

No caminho de casa paramos para tomar sorvete.

— Querida — ela começou em meio a uma colherada cheia de sorvete. —, não se preocupe você não precisa ter um pai para ser feliz. Porque você tem a mim, e só isso basta.

Naquele momento eu entendi, mesmo sendo muito nova, eu consegui entender que não importava que todos os meus amiguinhos da escola tivessem pai, eu não precisava de um, minha mãe era completa, e éramos uma família feliz.

Ao decorrer dos anos, eu me importava cada vez menos com isso. Poderia ter sido um namorado antigo que foi embora, ou um doador anônimo de um banco de esperma qualquer. Não fazia a menor diferença. Pelo menos não até agora.

— Desde quando isso importa agora? — perguntei confusa.

Ela não me respondeu, apenas passou a mão em seu cabelo curto, loiro e dourado, visivelmente desconfortável, e ficou transferindo a atenção para televisão de 72 polegadas na qual estava passando Bonequinha de luxo, bem na parte em que Holly Golightly, interpretada por Audrey Hepburn, começa a tocar Moon River sentada na janela de seu apartamento.

Moon river, wider than a mile

Rio da Lua, mais largo do que uma milha

I'll crossing you in style some day

Eu atravessarei você com elegância, algum dia

Definitivamente era uma música linda, mas aquele não era o momento certo para aprecia-la, eu precisava entender o que estava acontecendo.

Depois que a música acabou, mamãe abaixou o volume da TV, colocando-a no mínimo, então ela começou novamente:

— Sabe Poseidon?

— Sei. O da mitologia grega? — perguntei sem entender mais nada sobre o que estava acontecendo ali.

— Ele mesmo.

— O que ele tem a ver com isso tudo?

— Ele é seu pai — respondeu baixinho.

Sério que aquela conversa esta mesmo acontecendo?

— Oi? Como assim? — retruquei a procura de respostas.

E mais uma vez ela se manteve em silêncio.

Examinei seu rosto tentando encontrar alguma resposta acreditável. Era muito bem cuidado para uma mulher perto dos quarenta, tinha apenas algumas rugas nos cantos dos olhos, “rugas do sorriso” como ela costumava dizer. Natie costumava dizer que éramos idênticas, o formato do rosto, os mesmo olhos verdes esmeralda e o nariz arrebitado. A única diferença era que meu cabelo era de um tom de loiro bem mais escuro. Todos diziam que quando eu tivesse a sua idade seria praticamente uma copia. E certamente seria uma honra.

— É o roteiro do seu novo filme? — continuei insistindo, eu queria respostas.

Ela balançou a cabeça, negando enquanto recolhia os papeis espalhados pelo chão, os empilhou em uma ordem que fazia sentido para ela. Pude ter um vislumbre do que estava escrito no topo da primeira página, “Quando você me matou” escrito em letra cursiva. Minha mãe era cineasta e esse era o título de seu mais novo projeto em Hollywood, depois de ganhar o Oscar de melhor diretor com “Mate-me antes que se arrependa”, sua carreira finalmente subiu de apenas uma diretora de documentários alternativos (devo ressaltar que faziam sucesso entre o público destinado) para diretora Hollywoodiana de filmes com alta bilheteria.

Aquilo era estranho. Mas parecia que tudo estava em seu devido lugar. As paredes continuavam pintadas de azul caribenho, o conjunto de sofás ainda era feito de couro branco, as fotos permanecia no mesmo lugar de sempre: dentro de porta-retratos de prata, enfileirados em cima da mesinha do canto da sala. Até o vento soprava pela janela do mesmo jeito. Aquilo era real, meu medo de ter ido parar na casa errada se foi quando eu vi meu par de sapatos Prada sob a mesa de fotos. Eu havia os deixado ali semana passada.

Então ela finalmente resolveu quebrar o silencio:

— Filha, tente acreditar em mim, eu sei que parece absurdo, mas é a verdade.

— Okay então. Vou considerar como verdade. — mesmo incrédula eu acreditei, só podia ser verdade, nada explicaria minha mãe ter ficado desse jeito.

— Mas é verdade. — exclamou.

— Certo então. É verdade. Eu acredito. Mas por que motivo você me escondeu isso a minha vida toda? São dezessete anos, é muito tempo. Pra quê isso tudo?

Eu levantei e fui até a janela observar o movimento, as ruas do condomínio pareciam calmas, o que era uma dádiva em Beverly Hills. Calma e privacidade. Esse era o desejo de qualquer um que morava em aqui.

— Eu quis te proteger. Bem, eles disseram que quanto menos soubesse mais segura ficaria. E eu tinha medo de que você fosse procura-lo em Nova York. Lá é muito perigoso pra você.

Do que ela estava falando?

— Eu a mantive longe de Nova York sua vida toda, eu tentei te dar uma vida normal. Mas não consegui. Eu tentei, eu juro que tentei. Mas agora tudo saiu do meu controle e você tá fazendo essas coisas. Ah... Brooke, minha filha, eu fui tão falha.

Suas ultimas palavras saíram embargadas. Lagrimas escorriam por seu rosto que ficava vermelho.

E lá estava eu, sem ação alguma, diante da minha mãe aos prantos, sem ao menos saber o que dizer.

Eu apenas a abracei, e fiquei ali calada, do mesmo jeito em que fazia nas raras vezes em que minha mãe chorava, na verdade só foram duas: Quando Gaspard, seu primeiro marido foi embora alegando que não suportava a mais, e a outra foi há dois anos quando o vovô morreu. Então eu não sabia como agir em uma hora dessas.

Eu só fiquei ali esperando que meu abraço ajudasse em alguma coisa, eu já nem me importava mais com essa confusão de ser filha de um deus grego, a única coisa que importava naquele momento era minha mãe e nada mais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente espero que tenham gostado, esse capítulo foi meio que um parto. muito trabalhoso, porque ele é muuuito importante para vocês entenderem a história.
não gostaram?
comentem, eu realmente preciso saber onde melhorar.
beijos, muito obrigada pela atenção, e até a próxima