Munakata… assim como você disse, eu sou um tolo. Um tolo que hoje apenas pode ver a distancia aquilo que deixei para trás. Lembro-me do medo que senti quando me dei conta daquilo que me unia a você, do medo de demonstrar que eu me importava. Certamente você me acharia um fraco se eu começasse a falar com a voz tremula e rouca que guardei por tantos anos. Era mais fácil mentir para mim mesmo dizendo que, possivelmente, haveria outro alguém que você amava. Eu sempre fui um tolo… A vida sempre foi cruel e eu nunca soube o que fazer.

Naquele dia, eu segurei meu coração nas mãos e o entreguei a você, deixando que sua espada o perfurasse com toda sua veemência. Sabe… naquele momento… eu pude notar que você tremia levemente. Naquele momento, quando eu sentia a vida se esvair por meu corpo, eu pude notar que eu deixei a maior chance da minha vida passar… assim como várias outras que eu perdi, porém, naquele ultimo instante, eu percebi que deixei meu amor passar em vão, sendo que você sentia o mesmo.

Devo dizer que eu sempre quis lhe dizer que o sol e a lua brilhavam nos seus olhos. A vontade que eu tinha de abraça-lo para sentir seu coração bater, toca-lo e lhe dizer doces palavras falavam mais alto dentro de mim todas as vezes que me via ao seu lado. Novamente, a covardia me impedia de fazê-lo.

Quem sabe, se eu tivesse lhe tocado com suavidade, eu pudesse ter percebido aquilo que você sentia por dentro. Infelizmente eu nunca me permiti fazê-lo, buscando sua atenção apenas como o Rei Vermelho, partilhando momentos pessoais como Suoh Mikoto, mas… nunca demonstrando verdadeiramente aquilo que levei para o tumulo.

Certa vez ouvi Anna dizendo que o amor é a luz que certamente brilha nos corações daqueles que o conhece. É uma chama instantânea que cresce. Como não rir de um comentário desses? Eu era a chama que crescia sem restrição, você era meu libertador… Agradeço por ter sido você a fazer o trabalho sujo.

Sei que você era o único que mais me entendia e isso o deixava revoltado, eu apenas não me dei conta que era por me entender que você não conseguia negar as minhas vontades. Entre o sentimento e o dever, você seguiu seu caminho e eu o meu, entregando-lhe os restos das minhas chamas que um dia brilharam por você.

Justo hoje você resolveu me visitar, parado de frente a minha lapide, deixando flores e tabaco. Se você pudesse ver, iria me dar mais um de seus sermões por eu carregar um sorriso sacana e amargo nos lábios. Você deveria de estar com seus subordinados, passando este dia com seus homens e tentando curar as férias que eu deixei em você, mas justo hoje você está aqui comigo. Justo no seu aniversário, Munakata.

As lagrimas que ainda teimam em escorrer por seu rosto e a distancia que não me permite te tocar é uma tortura que agora levarei por toda a eternidade. Se você pudesse me ouvir hoje, eu queria que você soubesse…

Por todas as vezes que você me apoiou, mesmo não sendo sua intensão, era você quem me sustentava. Por todas as vezes que eu me via perdido, era você quem me fazia enxergar, mesmo que fosse pela força bruta para que eu pudesse entender. Por toda a alegria que você me fazia sentir dentro de mim quando eu podia vislumbrar um sorriso em seus lábios, por tudo que eu fiz de errado e você me corrigiu, por toda a realidade que você me fez segurar, por esse sentimento tardio que descobri… hoje eu sou grato a você.

Você foi a minha força para continuar quando eu me senti um fraco por não conseguir controlar as chamas dentro de mim, você me reprimiu, mas nunca realmente impôs sua crença sobre as minhas vontades. Mesmo sem que eu dissesse uma única palavra, você era a minha voz, compreendendo mais de mim do que eu mesmo, mesmo que você continuasse a sustentar aquela faceta séria e justa. Eu realmente fui um tolo de não ter percebido a mentira por trás das suas palavras.

Você foi meus olhos, enxergando por mim o melhor que eu poderia ser até o fim. Você estendeu sua mão para que eu me levantasse e eu, por puro orgulho, a neguei. Talvez esse seja o único arrependimento que guardo da minha vida. Eu nunca fui aquilo que você esperava que eu fosse, mas no fundo, eu sou grato a você.

Quero que saiba que eu andei ao seu lado de cabeça erguida, sabendo que você estaria lá caso eu caísse. Essa era a premissa quando eu escolhi você para extinguir as chamas da minha vida. A fé que você colocou em mim quando eu havia a perdido, foi meu ultimo momento de felicidade. Quando já não havia mais volta, eu percebi que tive seu amor, que eu tive tudo e havia perdido mais uma vez por suas próprias mãos. Novamente, eu sou grato a você por isso.

Você era o vento suave que me levava onde eu deveria de ir e eu sempre lutei contra isso. Você era a minha ultima luz no meio de um universo deturpado pelo poder que eu não conseguia conter. Seria mais idiota ainda se eu não admitisse agora que você era minha inspiração. Em meio a mentiras, você era a verdade e eu realmente não sabia o quanto eu era abençoado por ter sido amado por você.

Talvez se eu tivesse dito, você não estaria agora frente a minha lapide, no dia do seu aniversário. Eu queria poder fazer desse dia algo melhor por você, então peço que apenas aceite essas ultimas palavras…

“Feliz Aniversário, Munakata…”