Wico - Three Days to Paradise? escrita por arcGabriel


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

One Shot de Wico



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Gaia finalmente havia sido derrotada. Nico sentia-se culpado por ter deixado Octavian "cometer suícidio". Tudo bem, nem tanto, o que o incomodava mesmo era a possibilidade de esse fato ter assustado e afastado Will Solace.

Nico havia decidido, sabem lá os deuses o porquê, permanecer no Acampamento Meio-Sangue. Lá no fundo, Nico sabia que era por causa de certos olhos azuis, mas recusava-se à alimentar outras falsas esperanças tolas com outro garoto. E por que é que Will Solace prestaria alguma atenção nele? Ainda mais depois de tudo que tinha acontecido?

Jason o tirara do chalé de Hades, cuja decoração Nico reprovou e muito! Lençóis vermelhos como sangue, móveis todos feitos em mogno, aquilo parecia um quarto de vampiros! De qualquer maneira, o filho de Júpiter ficou muito entusiasmado com a decisão de Nico em permanecer ali no acampamento.

— Ah, cara — disse Jason. — Espere só até eu contar para Piper. Ei, como eu também estou sozinho no meu chalé, você e eu podemos comer à mesma mesa no refeitório. Podemos também formar uma dupla para os jogos de capturar a bandeira e para os concursos de canto, e…

— Você está me assustando… Quer que eu mude de ideia, é isso?

— Desculpe. Desculpe. Como quiser, Nico. É só que fiquei contente.

O engraçado era que Nico sentia que era sincero.

Nico por acaso olhou na direção dos outros chalés e avistou alguém acenando para ele. Will Solace estava à porta do chalé de Apolo, com uma expressão séria no rosto. Ele apontou para o chão aos seus pés, como quem diz Você. Venha cá. Agora.

— Jason, você me dá licença?

* * *

— E aí, por onde você andou? — perguntou Will.

Ele usava um avental verde de cirurgião, calça jeans e chinelo. Esses trajes não deviam fazer parte do protocolo hospitalar.

— Como assim?

— Não saio da enfermaria há, tipo, dois dias. Você nem passou aqui. Não se ofereceu para ajudar.

— Eu… o quê? Por que vocês iam querer um filho de Hades no mesmo ambiente com pessoas que estão tentando se curar? Por que alguém ia querer algo assim?

— Você não pode ajudar um amigo? Talvez cortar ataduras? Ou me trazer um refrigerante, alguma coisa para comer? Quem sabe um simples Tudo bem por aí, Will?. Acha que para mim não seria bom ver um rosto amigo?

— O quê?… Meu rosto?

As palavras simplesmente não faziam sentido juntas: Rosto amigo. Nico di Angelo.

— Você é tão complicado — observou Will. — Espero que tenha parado com aquela besteira de ir embora do Acampamento Meio-Sangue.

— Eu… pois é. Sim. Quer dizer, eu vou ficar.

— Bom. Então você pode ser complicado, mas não é um idiota.

— E você ainda fala comigo desse jeito? Não sabe que eu posso invocar zumbis e esqueletos e…?

— No momento você não pode invocar nem um osso de galinha sem virar uma poça de escuridão, Di Angelo. Já falei, chega dessas coisas do Mundo Inferior. Ordens médicas. Você me deve pelo menos três dias de repouso na enfermaria. Começando agora.

Nico sentiu um arrepio de felicidade, como se centenas de borboletas-esqueleto ressuscitassem em seu estômago.

— Três dias? É… acho que dá.

— Ótimo. Ah, e…

Um Uhuul! alto cortou o ar.

Perto do local da fogueira, no centro da área comum, Percy exibia um sorriso enorme para alguma coisa que Annabeth tinha acabado de lhe contar. Annabeth ria e lhe dava tapinhas no braço.

— Já volto — disse Nico a Will. — Juro pelo Rio Estige e tudo.

Ele foi até Percy e Annabeth, que ainda riam como alucinados.

— E aí, cara — disse Percy ao vê-lo. — Annabeth acabou de me dar uma boa notícia. Desculpe se exagerei na comemoração.

— Vamos passar nosso último ano do ensino médio juntos — explicou Annabeth. — Aqui em Nova York. E depois da formatura…

— Faculdade em Nova Roma! — Percy fez um gesto no ar como se estivesse tocando uma buzina de caminhão. — Quatro anos sem monstros para enfrentar, sem batalhas, sem profecias estúpidas. Só Annabeth e eu, estudando para ter um diploma, frequentando cafés, curtindo a Califórnia…

— E depois… — Annabeth beijou Percy no rosto. — Bem, Reyna e Frank disseram que podemos morar em Nova Roma pelo tempo que quisermos.

— Isso é ótimo — disse Nico. Ele ficou um pouco surpreso ao perceber que achava mesmo ótimo. — Eu também vou ficar aqui, no Acampamento Meio-Sangue.

— Que máximo! — exclamou Percy.

Nico observou o rosto dele, seus olhos verdes da cor do mar, o sorriso, o cabelo preto bagunçado. Por algum motivo, Percy Jackson agora parecia aos olhos de Nico um garoto normal, não uma figura mítica. Não alguém a idolatrar ou por quem se apaixonar.

— Então — disse Nico. — Como vamos passar pelo menos um ano nos esbarrando aqui no acampamento, acho que é melhor eu esclarecer umas coisas.

O sorriso de Percy vacilou.

— Como assim?

— Por muito tempo eu tive uma queda por você. Só queria que você soubesse.

Percy olhou para Nico. Depois para Annabeth, como se quisesse confirmar que tinha ouvido direito. Depois de novo para Nico.

— Você…

— É — disse Nico. — Você é uma pessoa sensacional. Mas eu superei isso. Estou feliz por vocês.

— Você… então quer dizer…

— Isso mesmo.

Os olhos cinza de Annabeth começaram a brilhar. Ela deu um sorrisinho para Nico.

— Espere — disse Percy. — Então você quer dizer…

— Isso mesmo — repetiu Nico. — Mas relaxe. Já passou. Quer dizer, agora eu entendo… você é bonito, mas não faz meu tipo.

— Não faço seu tipo… Espere. Então…

— A gente se vê por aí, Percy — disse Nico. — Annabeth.

Ela levantou a mão para um high-five. Nico bateu. Depois voltou pelo gramado até onde Will Solace o esperava.

O filho de Apolo lhe dirigiu um olhar de dúvida, Nico se perguntava se ele ouviu àquilo tudo, uma parte do filho de Hades, por algum motivo, desejava que sim.

— Ei, eu disse que voltava já.

Will balançou a cabeça como que para espantar um pensamento.

— Ahn... Bom... Vamos! Para a enfermaria, Di Angelo! — Will pegou na mão de Nico como da última vez para checar se ele não estava se dissolvendo, outro choque elétrico percorreu a espinha do filho de Hades, dessa vez, porém, ele não a puxou.

— Não estou me fundindo as sombras, é dia!

— Não estava checando isso...

Nico corou, era dia e o sol brilhava intenso como se Apolo estivesse lhes vigiando, se em aprovação, Nico não saberia dizer...

— Tem certeza que está se sentindo bem? — Perguntou Will preocupado.

Qual é o seu problema?!, Nico pensou em perguntar. Por que se importa comigo?, mas invés respondeu:

— Sim, é só que... — Nico olhou em volta, todos os semideuses os encaravam com certa curiosidade, Nico detestava receber toda aquela atenção — ... tem gente demais nos olhando...

— Qual é o problema?

A luz do sol refletida em Solace cintilava, ele parecia um príncipe, seus cabelos loiros bagunçados em contrate com o azul calmo de seus olhos, sua pele levemente bronzeada. Ele era alto e forte, mesmo sendo apenas alguns anos mais velho que Nico. Seu andar era descontraído, sua voz era doce e... Pare com isso!, repreendeu-se Nico. Parece uma estúpida debutante apaixonada! Você não está apaixonado Nico Di Angelo! Não atreva-se a se apaixonar!

Mas Afrodite parecia gostar de brincar com ele, ou seria tudo culpa das Parcas? O maldito Destino?! Não, Nico não culparia ninguém pelo acaso...

***

A enfermaria estava mais vazia do que Nico esperava, haviam alguns romanos que tiveram de permanecer ali graças a alguns ferimentos mais graves, a maioria dos gregos já estava melhor, ou simplesmente preferiam ficar em seus chalés do que ali.

— Três dias sem invocar esqueletos, zumbis, fantasmas e mortos em geral. — Disparou Will assim que chegaram. — E, de forma alguma, tente viajar pelas sombras, nem meio metro, ouviu bem?!

— Sim, mamãe — Nico sorria todo bobo, como se tivesse sido atingido por um dos dardos tranquilizantes das Caçadoras, em dose moderada.

— Não estou brincando, — a voz de Will soou muito séria — Eu... ahn... você precisa se cuidar melhor...

— Os três dias de repouso aqui serão assim? Sermões e lições de moral? Conselhos fraternos e coisa do tipo? Puxa, porque é que eu não vim antes! Teria sido...

Will segurou firme o braço direito de Nico, o filho de Hades só então percebeu que estava meio que provocando um pequeno terremoto. Solace o encarou e Nico rendeu-se:

— Nada de coisas do Mundo Inferior por três dias... eu já entendi...

— Vou buscar o nosso almoço, não saia daqui — Will lhe beijou na bochecha. Enquanto ele saía Nico ficou acariciando o local, com os pensamentos muito longe dali. Nico sentou-se lentamente sobre um dos leitos ali perto, sentia-se flutuar...

— Olá!

— Santo Hades! — Nico recuou assustado.

Sentado no leito estava um garoto descalço vestido com uma camiseta hippie azul e verde, com estampa floral e com as mangas rasgadas como se fosse um colete, suas calças jeans eram claras, folgadas e com alguns rasgos. O cabelo castanho caía em cachos até seu pescoço. Tinha o porte físico de um atleta, musculoso mas não monstruoso. Ele estava de olhos fechados como se meditasse, o que fazia sentido para o modo em que se encontrava, com uma mão sob a outra e com as pernas cruzadas na posição de lótus.

— Quem é você? — O coração de Nico aos poucos desacelerava voltando ao ritmo normal, recuperando-se do susto.

— O amor realmente assusta, tenho que concordar. — respondeu o jovem — Achei que já estivesse familiarizado comigo, assim você me magoa Nico Di Angelo...

Só então Nico prestou à atenção em uma corda de couro que rodeava o tórax do rapaz, mantendo firme uma aljava presa à suas costas, carregada de flechas mortais e um arco muito branco com uma rubi no centro.

— Ahn... Cupido...?

— Eros. — Corrigiu o Deus. — Agora que tudo está calmo e a guerra acabou eu pude parar um pouquinho para visitar os amigos.

Eros continuava com os olhos fechados, o que estava deixando Nico um pouco nervoso. E o que ele queria dizer com "visitar os amigos"? Cupido quase o matara, o forçara a confessar sua queda por Percy na frente de Jason. Que tipo de amizade podia ser essa?

— Fico lisonjeado, mas... não entendo, o que quer?

Eros abriu os olhos. Eles eram vermelhos, mas não como os de Cupido que pareciam uma mistura venenosa de corações diluídos e super condensados, os olhos de Eros eram mais claros, como se na mistura venenosa do amor também estivessem sido acrescentados ingredientes como paciência, amizade, companheirismo, felicidade, respeito e devoção.

O Deus sorriu, um sorriso inocente de criança, Nico estava começando a ficar apavorado.

— Vim lhe dizer que você lutou bravamente, e que nenhum herói se compara a você, Di Angelo.

— Ora, por favor, não participei da batalha real, apenas fugi com uma estátua gigante, uma pretora e um sátiro viciado em artes marciais...

— Fez mais que isso, e sabe disso! — Eros levantou-se, asas brancas irromperam de suas costas abrindo-se em sua envergadura máxima, algumas plumas desprenderam-se enchendo o lugar com um cheiro amadeirado, levemente doce e silvestre, que lembrava muito a Nico o cheiro que Solace exalava. — Matar gigantes e escapar da morte com uma espada na mão é fácil, mas enfrentar os próprios sentimentos, enfrentar os próprios limites, dar tudo de si por outra pessoa... Ah Nico... isso é um nível totalmente diferente de bravura que poucos heróis conseguem atingir. Venha cá, me dê um abraço!

Nico hesitou, então o deus tomou a iniciativa. Primeiramente Nico sabia que não estava morto, e isso era bom, depois ele decidiu que gostava muito mais de Eros do que de Cupido.

— Quanto mais intensa é a luz, mais poderosa se torna a escuridão, enchendo-se de harmonia e assim tornando-se completa — sussurrou Eros ainda abraçado com Nico — Torne-se completo Nico, e complete a luz.

O deus desapareceu, Nico sentiu-se revitalizado e cheio de energia novamente. Abriu os olhos e estava ao lado do pinheiro de Thalia. Um garoto loiro vinha correndo em sua direção, Nico não estava vendo muito bem. Devia ser meio-dia, ou alguma coisa perto disso, pois o sol estava bem no centro do céu fazendo com que quase nada projetasse uma mínima sombra sequer.

— Ei, o que está fazendo aqui fora? Achei que tínhamos combinado que você ficaria três dias de repouso na enfermaria, sob meus cuidados! — Reclamou Will. Nico agora o via melhor. Ele estava todo preocupado e Nico começava a achar que ele ficava muito fofo daquele jeito.

— Estou me sentindo bem! — Respondeu Nico levando uma mão acima da testa para projetar um pouco de sombra sobre seus olhos, o excesso de luz estava incomodando-lhe.

— Qual é o problema? — perguntou Will percebendo o desconforto do filho de Hades.

— O sol está muito... intenso.

Will aproximou-se tanto que seu corpo praticamente colava-se ao de Nico, o filho de Hades não podia deixar de pensar em como ele era quente.

— Quer que eu cubra o sol pra você? — Perguntou Will esfregando a nuca.

— Cale a boca, Solace! — Devolveu Nico ficando sem jeito com aquela aproximação toda. Com aquele cheiro amadeirado lhe deixando extasiado.

— Com prazer — Solace inclinou-se e selou seus lábios nos de Nico que ficou sem ação. Nico começou a retribuir o beijo se perguntando como aquilo podia estar mesmo acontecendo!

Não se passara um dia sequer e, para Nico, nada podia chegar assim tão perto do paraíso...


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