Crônicas do Destino escrita por Natássia


Capítulo 1
O Dia Dez de Outubro


Notas iniciais do capítulo

O Dia Dez de Outubro

Oi, leitores amados! Com esta one-shot, eu inauguro a série de one-shots inspiradas na Trilogia Destino!

Esta primeira se chama O Dia Dez de Outubro. É uma one-shot comemorativa desta data, o dia 10/10/2014, data em que, todos vocês sabem, Mônica e Do Contra finalmente ficam juntos em Escrevendo o Destino.



Sinopse:

Por um ano e meio, Mônica planejou cada minuto deste dia, para que nada saísse errado. Era o dia mais importante de sua vida. O dia em que finalmente estaria ao lado do amor de sua vida. Será que Cebola manteria sua palavra? Será que Do Contra a perdoaria? Será que o destino se cumpriria? Ela não sabia as respostas. Ela já tinha feito tudo a seu alcance. Agora só restava esperar. Cada tique do relógio trazia para mais perto seu triunfo ou sua desgraça.



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O Dia Dez de Outubro

9 de outubro de 2014

0h00


Meia-noite.

Eu não consigo dormir.

A esta hora, Cebola está no avião, com minhas cartas, sobrevoando algum lugar da Ásia.

Ele vai pousar em Tóquio às três da tarde, horário local, e vai chegar à casa do DC praticamente na mesma hora em que este chega da escola.

Não tem como dar errado.

Ou tem?

E se DC não quiser recebê-lo?

E se ele não quiser ler minhas cartas, ouvir minhas desculpas?

Eu não o culparia. Eu me mantive afastada por um ano e meio, em silêncio. Nem um telefonema, nem um e-mail, nada. Qualquer pessoa no lugar dele me mandaria às favas depois de um gelo tão grande.

Mas ele não é qualquer pessoa.

Tive meus motivos. Primeiro: eu estava sendo vigiada. Eu tinha que fingir que não me lembrava de nada do futuro. Ou Ângelo tentaria apagar minhas memórias. E eu não queria esquecer o que vi. Não, de jeito nenhum.

Segundo: eu não conseguiria conversar com o Do Contra e não confessar tudo. Por isso não fui me despedir dele no aeroporto. Eu choraria, me atiraria aos pés dele, declararia o meu amor e pediria que ele não se afastasse de mim. E assim, eu arruinaria o nosso destino. Da mesma forma, bastaria uma conversa no Skype, e eu faria a mesma coisa. Confessaria que morria de saudades, que o amava loucamente. E ele pegaria o primeiro avião de volta.

Mas eu não podia deixar isso acontecer. Havia uma data marcada para estarmos juntos. E essa data é amanhã. 10 de outubro de 2014. Eu consegui aguentar até aqui. O plano foi um sucesso. Cebola logo entregará minhas cartas. Do Contra entenderá meus motivos. E tudo terá valido a pena.

Abraçada ao Sansão, tento pegar no sono como sempre faço: fico repassando na cabeça as lembranças da minha viagem no tempo. Quando DC e eu patinamos no gelo; quando fizemos amor; quando fizemos planos para o bebê que chegaria.

Esse futuro estava perto de se tornar real.

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6h30

Acordo com o despertador. Em vez de me arrumar para ir à escola, pego o notebook e ligo o Skype.

Cebola atende rápido. Ai dele se não atendesse.

— Fala, baixinha.

— Baixinha é a vó. E aí?

— Ah, então... A viagem foi de boas. Tranquilo. A cidade é mó legal e...

— Cebola, para de enrolar!! — fiquei vermelha de raiva. — cadê o DC? Você conseguiu encontrar ele?

— Ah, o DC? Falei com ele sim.

O careca estava tentando me matar de ansiedade.

— E o que ele falou?!

— Ele pegou a passagem e saiu correndo. Já tá no caminho pro aeroporto.

Meu sorriso se abriu:

— Jura? Mas... o que ele disse? Ele ficou feliz, bravo? Como ele reagiu?

— Olha, ele ficou bem... chocado. Mas acho que ficou feliz, porque ele disse que eu vou ser padrinho de casamento de vocês — Cebola deu de ombros.

Dei uma risada, misturada com lágrimas de felicidade.

— Ele falou isso? Que a gente ia se casar?

— Pois é. O cara é doidinho de pedra mesmo.

— Cebola!!

— Relaxa, Mô. Em pouco mais de trinta horas, você vai ter seu príncipe aí, ok? Seu plano infalível deu certo.

— Graças à sua ajuda.

— Graças a mim. Eu sou o máximo, diz aí.

— Você é, Cebola. Obrigada.

— De nada, baixinha.

— Tchau. Se cuida.

— Tchau.

Em pouco mais de trinta horas, eu teria meu príncipe aqui comigo.

E as próximas trinta horas seriam as mais longas de toda a minha vida.

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15h30

Padoca do Quim

— Você tá muito pensativa hoje. Mais do que nos outros dias — Magali comentou, enquanto mastigava seu sanduíche natural. — Tá sorridente também. Me conta qual é a novidade boa! Hein? Hein?

— Não é nada demais, ué. Só apreciando este milk-shake. Muito bom mesmo.

— Sabe o que eu acho que a gente devia fazer?

— O quê?

— A gente devia aproveitar que seu pais vão viajar esse fim de semana e fazer... Uma noite de garotas na sua casa!!!

— NÃO!!

— Nossa... Tá, a gente não faz, não precisa ficar brava. Era só uma ideia.

— Não, Magá, eu não fiquei brava, não é nada disso. Mas não tinha sido você mesma que tinha falado que tá super pendurada em Geografia e Matemática? Eu também preciso estudar horrores. A gente não pode ficar brincando. Então eu vou me trancar em casa e não vou sair pra nada nesse fim de semana.

Magali estranhou um pouco minha desculpa, mas por fim convenceu-se:

— É, Mônica, acho que você tá certa. Eu vou aproveitar o sábado e estudar na biblioteca. Porque se eu fico em casa, não me concentro direito. Se você quiser ir junto...

— Não, valeu.

— Acho que eu vou precisar de um professor particular de Geografia, sabe... Não quero ficar de recuperação! — Magali fez biquinho.

— Na verdade, eu conheço uma pessoa que entende muito de Geografia e que pode dar uma força pra gente nessa matéria.

— O Franja! Claro! Como eu não pensei nisso antes?

— Na verdade, eu me referia a um outro amigo nosso. Um que entende tudo de previsão do tempo, condições climáticas, atmosfera e...

— Eu não vou pegar aula particular com o Nimbus, Mônica. Sem chance.

— Poxa, logo você, que é chegada num professor gatinho, devia ouvir meu conselho.

— Você fala tão bem do Nimbus, parece até que você gosta dele.

— Nada a ver, Magá. Eu só reconheço que ele é lindo, diferente de certas pessoas, que acham ele sexy e ficam se fazendo de difíceis.

Magali ficou vermelha até a raiz dos cabelos.

Ponto para mim.

Eu não ia desistir até juntar esses dois.

E, soltando um suspiro, confessei:

— Mas a razão de eu gostar tanto do Nimbus, Magali, é que ele me lembra muito um certo alguém.

— Hummmmm. Entendi. Bateu saudade do DC, foi?

— Pois é.

— Por que você não liga pra ele?

— Talvez eu ligue nesse fim de semana.

— Dou o maior apoio.

Quim se aproximou da nossa mesa, servindo uma salada de frutas à namorada:

— E pra você, mais alguma coisa, Mônica?

— Não, Quim. Obrigada. Vou deixar vocês a sós um pouco. Preciso ir pra casa estudar. Tchau pra vocês — joguei um beijo no ar a eles e saí dali depressa.

Na verdade, eu queria passar numa loja de velas perfumadas para decorar a casa amanhã. Queria fazer uma decoração especial, bem romântica, para a chegada do DC.

Na saída da padoca, encontro nada menos que meu cunhado, quer dizer, meu pretenso futuro cunhado, Nimbus.

— Nimbus! — chamo por ele e, quando tenho sua atenção, o abraço. — Que bom te encontrar! Precisava mesmo te perguntar uma coisa.

— Mesmo? O quê?

— Onde fica a loja que sua mãe compra aqueles refrigerantes esquisitos do DC?

— Ah! É uma loja bem escondida, fica lá no Bairro da Liberdade. Mas por que você quer saber?

— Ahn... É que... Eu tô ajudando a Denise a organizar a festa de Halloween no fim do mês, sabe... Daí a gente quer servir uns drinks estranhos e tal.

Ele deu uma risada. Eu adorava ver o sorriso dele. Era o mais próximo do sorriso do DC que eu podia ver.

— Na verdade, eu tô de carro e eu vou dar uma passadinha lá na Liberdade agora, comprar umas especiarias que minha mãe pediu. Se você quiser uma carona, posso te levar lá pra você conhecer a loja.

— Seria ótimo.

— Só vou comprar umas coisas aqui na padoca e a gente já vai, tá?

— Te espero aqui.

Olhei o relógio do celular. Eram quase 16h30. Faltavam oficialmente vinte e quatro horas para que eu visse novamente o Do Contra.

— Vamos? — Nimbus me arrancou de meus pensamentos.

— Vamos — assenti com a cabeça e entrei em seu carro.

Coloquei o cinto de segurança e fiquei em silêncio, enquanto Nimbus manobrava o carro.

— Então, Mônica, você não vai me perguntar?

— Perguntar o quê?

— O que você me pergunta todo santo dia. Como tá o meu irmão.

— Ahn... Na verdade, é que eu já tive notícias dele hoje.

— Já? — Nimbus me encarou, surpreso.

— Já. O Cebola tá em Tóquio, lembra? Eles se esbarraram por lá.

— Ah, é mesmo! Vou ligar pro DC mais tarde, tem uns dias que não falo com ele.

Eu precisava dissuadi-lo da ideia:

— Hummmm... Na verdade, eu acho que você não vai conseguir falar com ele nesse fim de semana... Parece que ele ia viajar com a banda dele pra Okinawa. Uma coisa assim. Inclusive o Cebola ficou até chateado, porque queria passar uns dias lá com o DC, e não vai rolar.

— Nossa. Ele não tinha me falado dessa viagem. Mas eu acho ótimo. É mais uma oportunidade pra ele se entender com aquela namoradinha dele.

Perguntei, lívida:

O quê?!

— A Kazumi. Ela toca na mesma banda que ele. Mas eles ficam nesse relacionamento vai-e-volta, sabe. Na verdade, ele mal fala dela. Mas eu já conversei com ela alguma vezes. Ela é super gente boa, e eu acho que ela merecia uma chance. Além de ser gata pra caramba.

— Ahn... Mas eu achei que eles tinham terminado.

— Tinham, mas nunca deixaram de ser amigos. E, sabe, eu sou do tipo que não acredito muito em amizade homem-mulher sem que haja um interesse de alguma das partes.

— Nada a ver. Cebola e eu terminamos e somos amigos agora.

— Existem exceções, Mônica, é claro, mas o que eu estou dizendo é que eu torço pra que meu irmão encontre uma garota bacana. Só isso. E, se eles estão viajando juntinhos por aí, acho que nada impede que eles... Se entendam, sabe.

— Mas essa banda deles viaja muito?

— Não muito, porque lá no Japão eles têm aula aos sábados também. Mas já viajaram algumas vezes.

— E nessas viagens você acha que... O DC e essa tal de Kazumi... Dormem juntos?

Nimbus riu:

— Você tá completamente com ciúmes, Mônica.

— Estou. Confesso.

— Sabe o que eu não entendo? Ele é louco por você, e você por ele. Você é, Mônica. Você não consegue esconder mais isso de mim. Mas vocês insistem em não se falar.

— Eu não posso, Nimbus.

— Não pode por quê?

— Eu juro que logo, logo, você vai entender.

— Será mesmo? Acho que não vou entender vocês dois nunca.

— A questão é: se eu falasse pra ele que sou louca por ele, o que você acha que aconteceria?

— Acho que ele viria embora no primeiro avião.

— Eu também acho. E é por isso que não digo nada, entende? Eu queria que ele tivesse essa oportunidade de intercâmbio, que vai ser tão importante pro futuro dele.

Ele ficou silencioso por uns instantes, refletindo, e por fim respondeu:

— É, acho que tem razão. Entendo seu ponto. Às vezes a gente precisa sacrificar nosso sentimento em nome de um bem maior.

Seu olhar distante sugeria que ele havia mudado de assunto.

— Como estão você e Ramona?

Ele engoliu em seco:

— Estamos... Tentando.

— Há coisas contra as quais não se pode lutar, não é?

— O que quer dizer?

— Você não pode mudar o destino dela. Não importa o quanto você a ame, ela nunca, nunca deixará de ser filha da bruxa Vivi.

Nimbus arregalou os olhos, certamente surpreso com minha assertividade.

Continuei:

— Desculpe falar mal da sua sogra assim, mas eu não consigo esquecer tudo de ruim que ela tentou fazer pra Magali na nossa infância.

— Eu também nunca me esqueci.

— Mas você pode mudar o destino dos seus filhos, Nimbus. Escolhendo uma outra avó pra eles.

O queixo dele caiu.

— Me desculpa, Nim. Eu não quis ser tão invasiva.

— Você tá insinuando que a Ramona deve se privar do direito de se casar e ter filhos por causa da mãe que tem?

— Não, Nimbus, é claro que não. A Ramona é uma menina incrível. Mas... Eu tava pensando nisso esses dias, sabe? Um dia, se tudo der certo, se o DC me perdoar e esquecer essa Kazumi pra quem você faz a maior torcida — carreguei a voz de ressentimento — um dia nós vamos ter filhos e eles vão ter avós incríveis, e um tio incrível também.

— Não precisa bajular.

— Tô dizendo a verdade. E, se alguma coisa acontecer comigo e com DC, eu sei que meus filhos estarão em boas mãos, sabe? Sei que a Dona Keiko vai fazer um ótimo trabalho, ou mesmo você.

— Nossa... Eu nunca tinha pensado nisso. Mas meus filhos vão ter minha mãe e...

— E, sem você por perto, a Viviane vai infernizar a sua mãe atrás das crianças.

— Meu Deus. Isso é horrível. Eu... Eu não tinha pensado nisso.

— Algumas decisões são difíceis, né?

— Sabe que eu tava até com a aliança pra pedir a Ramona em casamento?

— Mentira!

— Sério. Eu queria fugir com ela pra longe daqui.

Eu precisava pensar rápido. Eu não podia deixá-lo fazer isso:

— Talvez o destino tenha me colocado nesse carro com você pra impedir que você faça essa bobagem.

— Salvar a Ramona não é uma bobagem.

— Você não é salvador de ninguém. Você acha certo sacrificar tudo assim? Sua faculdade, seus amigos, o convívio com sua família? Até sua carreira de mágico que tá pintando por aí?

— Do que você tá falando?

— Ahn... Eu tô falando do seu sonho de ter um show de mágica! Não é seu sonho? Você acha que vai conseguir realizar isso se tiver que viver feito nômade?

— Mas eu preciso ajudar ela.

— Às vezes, o melhor jeito de ajudar quem a gente ama é ficando longe. Cebola e eu que o diga.

— Mas...

— E aí você vai privar uma ótima mãe, a dona Keiko, do convívio do único filho que ainda mora com ela, pra poder manter a Ramona longe da mãe louca. Isso não faz nenhum sentido, Nimbus. Além do mais, quanto tempo você acha que essa fuga ia demorar até que a Vivi encontrasse vocês? É inútil. Fugir esta noite não vai resolver nada. Acho bom você ficar e pensar em algo melhor, de cabeça fria.

— Eu já pensei muito, eu não sei mais o que fazer.

— Quem sabe, você não esbarre com a solução amanhã? Assim, andando na rua?

— É, talvez.

— E, por falar em solução, será que você podia ajudar uma amiga com umas aulas particulares de Geografia? Lembro que você era muito bom nessa matéria. E é a chance de você ganhar uns trocados.

— Bom, meu forte é mais a Geografia física, não tanto a política, mas acho que posso ajudar sim. Quem é?

— A Magali.

Ele enrubesceu de leve.

— A Magali?!

— Sim, a Magali.

— Ahn... Acho que... Não sei. Pensando bem, tem um tempão que não estudo Geografia, sabe... Acho que o Franja vai saber indicar alguém legal pra dar aula pra ela e...

— Nimbus, por que você não quer dar aula pra Magali?

— Bom, primeiro, porque eu acho que ela não ia gostar.

Menti descaradamente:

— Eu já falei com ela. Ela adorou a ideia.

— Ela adorou?! Ahn... Então... Mas é que... Eu tenho muita coisa da faculdade pra estudar, sabe... Melhor não.

— Nimbus.... Não me enrole. Achei que estivéssemos tendo uma conversa franca aqui.

Com a voz alterada, ele disparou:

— Eu estou numa porra de uma crise com a minha namorada, a qual você acabou de piorar tremendamente, e agora você quer jogar no meu colo a menina mais linda do Limoeiro?!?! Porra, Mônica!! Pega leve!!

— Desculpa. Eu não sabia que a Magali te deixava assim tão nervoso. Desculpa mesmo.

Ponto para mim.

— E-ela n-não me deixa nervoso! Você me deixa nervoso!

— Supondo que a Magali fosse solteira, ela teria chances com você?

Ele soltou um suspiro longo, como quem contasse até dez:

— Não. Não teria, porque eu sou um homem muito bem comprometido.

— Mas assim, só dizendo hipoteticamente que você estivesse solteiro também...

— Ela só tem dezessete anos, e eu já sou maior. Eu não ia querer encrenca pro meu lado.

— No próximo dia 10 de maio ela já faz 18 anos...

— Enfim, não tem sentido ficar falando como as coisas seriam se. O que importa não é como as coisas seriam, e sim como elas são.

— Ou como elas serão.

— O que você quer dizer com isso?

— O que eu quero dizer, Nim, é que, até o dia 10 de maio, todos esses obstáculos já podem ter sido eliminados. E aí eu quero ver qual é a desculpa que você vai me dar.

Às vezes, eu acho que juntar esses dois vai ser mais difícil do que enganar o Ângelo. Que dois amigos cabeças-duras eu fui arrumar.

Mas desistir é palavra que não existe no meu dicionário.

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10 de outubro de 2014

0h00

Meia-noite.

Enfim o dia 10 de outubro.

Eu mal podia acreditar que esse dia havia chegado.

Faltavam dezesseis horas e trinta minutos para a chegada de DC.

Eu não tive nenhuma notícia dele.

Eu não conseguia dormir de tanta ansiedade.

Verifiquei, pela milésima vez, as roupas que eu usaria para buscá-lo no aeroporto, e a camisola vermelha que eu usaria... Bom, você sabe. Quando a gente fosse... Você sabe.

Será que ele iria gostar?

Lembrei-me do que Nimbus disse, sobre a tal de Kazumi — que ódio eu tenho desse nome.

Será que eles tinham ido longe no relacionamento?

Argh. Estou morta de ciúmes.

Mas eu não tenho motivos para ter ciúmes. Né?

Afinal, ele está num avião para vir me encontrar. É a mim que ele ama.

Mas nesse um ano e meio foi do lado dela que ele esteve.

Não pude evitar as lágrimas.

Me dá uma ideia de como ele se sentia todas as vezes que me via com o Cebola.

Somos impotentes sobre o passado do outro. Não há o que fazer.

Ele nunca vai conseguir apagar o Cebola da minha vida, e eu nunca vou conseguir apagar essazinha da vida dele.

Mas eu queria tanto que a primeira vez dele tivesse sido comigo.

É, Mônica. Você não pode ter tudo.

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6h30

Despedi-me de meus pais, que pegaram a estrada rumo ao litoral, e enfim pude começar os preparativos da decoração da casa. Varri, aspirei, tirei o pó e coloquei as velas aromáticas de uma forma bonita por toda a sala, e no meu quarto também. Fui até a floricultura e comprei algumas flores. Coloquei aromatizadores de ambientes em todos os cômodos.

Meu celular tocou quando eu estava voltando da padoca. Era a Magali. Ia me perguntar por que eu estava faltando aula. Eu já tinha a desculpa pronta.

— Oi, amiga.

— Oi, Mô! Cadê você?!

— O Monicão tá passando mal, tadinho. Não tá conseguindo comer nada. Daí achei melhor ficar de olho nele hoje. Já que minha mãe não tá em casa.

— Nossa! Mas e esse barulho? Você tá na rua?

— Eu vim aqui no pet shop comprar um remedinho pro estômago dele, pra ver se ele melhora um pouco. Mas, se daqui até de tarde ele não parar de vomitar, eu vou levar ele no veterinário.

— Puxa, Mô. Qualquer coisa que você precisar de ajuda... Me avisa. Depois te empresto meu caderno pra você pegar a matéria.

— Obrigada, Magá. Beijo.

Desliguei e corri para casa. Eu estava me tornando especialista em mentiras. Esse castelo de cartas iria desmoronar até domingo, eu sei. Mas eu teria o meu fim de semana perfeito com o Do Contra. Era só isso que importava.

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15h30

Tudo estava perfeito. A decoração ficou linda. O refrigerante de jabuticaba estava gelado. As roupas e nécessaire que arrumei para o DC já estavam prontas e separadas. A mesa estava posta, com um lanche da tarde bem servido. Os pães de queijo estavam no forno elétrico, que estava com o timer acionado e desligaria na hora em que chegaríamos do aeroporto. DC os comeria bem quentinhos.

Eu já estava pronta. Olhei-me no espelho uma última vez, e respirei fundo.

O táxi já estava na porta me esperando.

Falta uma hora.

Mais uma hora e eu terei DC em meus braços para sempre.

Peguei a caixa de lenços e coloquei na bolsa.

Eu estava emocionada demais. Felizmente meu rímel é à prova d’água.

Entrei no carro e dei a direção:

— Aeroporto de Guarulhos, senhor. E rápido. Estamos indo buscar minha felicidade.

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16h15

Procurei nos telões de desembarque pela informação de ouro.

Voo American Airlines 2590 – Origem: Dallas – Desembarque: Portão 3

Corri até a saída do portão 3 e aguardei. O pessoal de um outro voo estava saindo.

Quinze minutos, Mônica. Quinze minutos.

As lágrimas vinham em profusão.

Fechei meus olhos e me lembrei da última vez em que eu o abracei. A noite antes da festa de despedida dele. Dormimos abraçados. Isto é, ele dormiu. Eu apenas pensava na crueldade que eu teria que fazer no dia seguinte. Fingir que não sentia nada por ele, bem ali na festa de despedida dele. Fazer ele sentir raiva de mim.

Deus, como aquilo foi difícil. Mas precisava ser feito.

Todo o sofrimento que guardei só para mim nos últimos dezoito meses, tudo que calei, tudo isso iria acabar agora. Eu nem acredito que consegui.

Abri os olhos. O telão mostrava 16h31.

Olhei para o portão de desembarque.

Ele estava lá.

Tento correr até ele. Mas minhas pernas falham. Eu caio de joelhos.

Parece que toda a minha força resolveu me deixar.

Ele corre até mim e me abraça. Ele é real. Não é fruto da minha imaginação. Ele está aqui mesmo!

— Você veio… Tive tanto medo que você não viesse.

— Eu tô aqui. Você pode chorar agora.

— Todo mundo me diz pra não chorar…

E eu estou te dizendo pra chorar. Você pode desabar agora, eu tô aqui pra te pegar, ok? Não segure essa dor dentro de você.

Ele tinha razão. Eu não conseguia mais segurar esse turbilhão de sentimentos. O alívio de finalmente poder revelar o que sinto, a felicidade de ter DC aqui do meu lado, a dor desses meses todos guardada, estava tudo misturado e eu estava ali, desabando na frente dele.

Do Contra me pegou no colo, com jeito, e nós tomamos um táxi, onde eu ainda chorei por um longo tempo.

Que raiva de mim mesma. Espero tanto para vê-lo, e só o que consigo fazer é chorar feito uma boba.

Balbuciei:

— Meu amor… me perdoa por tudo que te fiz passar. Eu tenho tanta coisa pra te explicar…

— Eu tô bravo com você, Mônica.

Senti minha espinha congelar. Será que ele tomou esse avião só para me dizer que não queria saber de mim? Ele era bem capaz disso.

— Você devia ter explicado tudo no início, linda. Eu teria entendido. Mas você, com essa mania de bancar a forte, enfrentou tudo sozinha. Você podia ter morrido, sabia? Ficando deprimida daquele jeito, você poderia não escapar. Eu não quero nem pensar no que poderia ter te acontecido!

Ele nem sabe o quanto tem razão. Por tantas vezes eu fiquei sem comer, sem dormir, que realmente cheguei a correr risco de vida.

— Mas, se eu tivesse te contado tudo, as coisas não aconteceriam como era pra ser. Você não teria ido pro seu intercâmbio.

— Talvez não, mas a gente ia enfrentar o Ângelo juntos. E, se você me contasse que eu devia ir pro Japão pra garantir o futuro da nossa família, dos nossos filhos, eu teria ido sim.

— O que importa é que acabou. Estamos juntos agora – eu o abracei.

— Me promete uma coisa?

— Prometo o que você quiser, amor.

— Promete que não vai mais escrever o meu destino sem me contar antes.

— Prometo.

— E promete que você vai dividir tudo comigo. Que você não vai mais lutar sozinha. Nunca mais. Promete que vai contar comigo, que vai me deixar lutar do seu lado.

— Prometo.

Finalmente nos beijamos. Eu, é claro, chorei de novo. Acariciei o rosto dele, apreciando seus traços harmônicos. Havia um novo adereço em seu rosto, um piercing de halteres na sobrancelha direita. Eu tinha visto essa mudança no futuro, e acho que esse acessório só realçava seu rosto perfeito.

Ele sussurrou:

— Acho que agora você aceita meu pedido de namoro, né?

— Eu já sou sua namorada. Sempre fui.

Ele abriu um sorriso enorme:

— Ah, é? Desde quando?

Então esta seria a hora em que eu diria a frase que ele tatuaria no braço e que ele gravaria em nossas alianças de noivado. A frase que eu teria dito no nosso primeiro dia de namoro.

— Desde que o mundo é mundo. Desde a criação do Universo. Estava escrito nas estrelas. Você é o meu destino, Do Contra.

Dita esta frase, o nosso destino agora era um trem colocado na trilha certa. Nada o pararia.

Meu destino finalmente estava escrito.


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Notas finais do capítulo

Então é isso, leitores queridos! Espero que tenham gostado. Comentem, recomendem!

Tenho mais one-shots planejadas. Aguardem pelas novidades!

Beijo grande a todos =*