Capítulo único

Ichigo é um grande bocó, mas, não fale isso na cara dele. Ele sabe que o é e não precisa mesmo que outra pessoa diga, visto que Grimmjow era mais suficiente para fazê-lo sozinho. O constrangimento da situação era inteiramente à toa, mas ele verdadeiramente não ligava se era bobo ou não. Sério, se tinha algo que ele levava a sério era a própria integridade. E Grimmjow ligava? Ah, não, ele apenas abria aquele sorriso maníaco que fazia o Kurosaki querer correr.

Você deve estar se perguntando: o que aquele sociopata fez de tão grave? Ichigo responde sem maiores delongas: Ah, nada não. Ele apenas fazia questão de deixar claro que o moranguinho pertencia apenas a ele, que era só dele.

Não que a intenção fosse totalmente má, longe disso. Ichigo não se sentiria tão envergonhado e culpado se fosse apenas isso. Claro, seria de modo diferente na mente dele: em um momento intimo, a sós. Ele não precisava ter marcado o ruivinho com hematomas de todos os tamanhos, para todos os gostos – se for um sadomasoquista, claro – em qualquer parte visível (e nas cobertas por roupas) do corpo. Não queira (ou queira) saber como.

– Grimmjow! – Gritou ele, a raiva era quase palpável.

Depois de alguns segundos, o outro saiu do banheiro, uma toalha em volta da cintura, os cabelos úmidos, mas, ainda assim, os olhos eram preguiçosos, como os de um felino que foi acordado na melhor parte de seu sono. Ichigo decidiu que aquilo não abalaria a bronca épica que estava prestes a dar, de jeito nenhum.

– O quê? – Ele perguntou sem real interesse na resposta.

– Você tem algum retardo? – Soou bem raivoso, era um ótimo começo. Isso queria dizer que não iria vacilar, certo? – Por que... – Errado. Ficou verdadeiramente envergonhado para terminar, mas tinha que fazer isso, ou de que adiantaria a sua raiva? – Diabos, por que não fez isso em um lugar que pudesse cobrir?

– Ué, cobre com maquiagem. – E deu uma risadinha sínica.

– Eu vou te matar. – Ichigo afirmou com calma.

– Vai não. – Grimmjow se aproximou, o cheiro fresco de banho encheu o ar do quarto. Olhando-o com os olhos grandes e azuis através do espelho, estava incrivelmente intimidador. O outro sorriu, aquele estúpido sorriso de dentes arreganhados que fazia as criancinhas chorar de medo e beijou a nuca do outro, fazendo um arrepio descer por todo o seu corpo. Ichigo admite (não com orgulho, mas admite) que aquilo era malditamente bom.

– O que te deixa tão confiante sobre isso? – O ruivo levantou o queixo e tentou parecer tão confiante quanto não se sentia.

– Você gosta. – Ele ronronava como um gatinho ao Sol e se aconchegava mais no outro. A toalha não mais se fazia presente para separar o contato entre os corpos. O que era uma grande merda, afinal, a roupa intima de Ichigo não era grossa o suficiente para interromper o contato.

– O que quer dizer com isso? – Sentiu o corpo do outro tremendo pelo riso impaciente, colado ao seu.

– Eu quero dizer que, apesar de reclamar, você tem fetiche por isso. – Explicou de forma abnegativa.

– Fetiche? – O fato é que Ichigo não ligava mais para as marcas; talvez mais tarde.

– É, fetiche. – E não ligando mais para a conversa, virou o corpo menor, mas nem por isso fraco, para poder beijá-lo propriamente.

Certo, talvez Grimmjow tenha razão. Talvez Ichigo tenha algum fetiche estranho, bobo e impróprio que o faça gostar de Grimmjow. Não um fetiche pelos objetos ou por uma situação, mas por aquele homem. Bem, é verdade que a pessoa deve ter coragem ou problemas para se envolver com o dono dos mais bonitos olhos que o Kurosaki já deve o desprazer de ver, então deve ser isso mesmo.

Sempre que faziam sexo, Ichigo ainda se surpreendia com tudo, como se as outras vezes fossem inexistentes. E, quando acabavam e ele parava para pensar nisso, a mais recente parecia sempre melhor. Como se fosse a primeira vez, ele se encantava com o homem que tinha o físico mais perfeito que já pisou na terra, os olhos mais maliciosos e maldosos, daqueles que não te permitiam sentir vergonha.

Sempre ficava boquiaberto com os músculos rígidos que eram cobertos pela pele bronzeada que mais parecia seda. Os beijos eram agressivos, ainda que carinhosos às vezes. Talvez fossem duros de vez em quando e o ato em si era violento, mas quem ligava? Era melhor assim, era do jeito deles. Era assim que eles se comunicavam, assim que diziam o que nenhum tinha a real coragem de dizer.

Mas não precisavam, de qualquer forma. Eles entendiam o que o outro sentia naquilo. Qualquer afeto era transmitido ali. Ainda assim, quem sabe? Ichigo não. No momento, ele está um pouco fora de jogo.

Quando acabaram, estavam trêmulos. Ichigo se lembraria de mais tarde, quando acordar, mandar o namorado parar de ser tão animal. Mas, talvez não desse, a natureza de Grimmjow era assim mesmo, selvagem.

Dormiu ali mesmo, depois de trocar um beijo bobo com o outro. Tinha que se recuperar para a próxima bronca épica quando visse o que houve com as suas costas depois daquilo.