Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 20
Doce confusão


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo dedicado ao White Lightning, o Vini, que nos deu a 4ª recomendação para Chamem os Bombeiros! Aeeeeeee Ah, ele escreve uma história bem bacana, nos moldes de “Eu sei que vocês fizeram no verão passado”, que se chama, “The Hunting Game”. Vale conferir! Bora para a história?



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Volto para casa com os pensamentos todos na Gi. Ela é delicada, divertida, sexy. O jeito que seus cabelos se mexem para lá e cá presos no rabo de cavalo me deixam “ligado”. De shorts jeans, não muito curto, com uma regatinha e as alças do sutiã aparecendo. Ela é sensual na medida certa.

Olho pelo retrovisor e Mozart está deitadinho, olhando para a janela. Meu companheirão parece que ostenta um sorriso na boca. Será que ele entendeu o que aconteceu? Pois é, beijei a Gi. E, diga-se de passagem, que coisa boa, cara. Sempre quis roubar um beijo daquela garota. Mesmo não sabendo o que poderia vir depois. Um tapa, a retribuição dele, um “fique”. Não... isso, a Gi não falaria. Aliás, e a partir de agora: o que será de nós?

Temos uma relação amistosa que beira a amizade, mas a paquera está lá. Sempre cutucando como um menino travesso querendo algo. Aliás, eu sou o menino travesso, querendo por mais...

Entro com o carro na garagem, e estaciono rapidamente. Desço e abro a porta para o Mozart, que desce com a guia e vai na frente. Ele dá uma disparada em direção ao elevador e depois para e me olha a fim de esperar. Chego com a caixa de ferramentas e aperto o botão para chamar o elevador.

Minha cabeça e meus sentimentos estão confusos. Ou melhor, a cabeça não processa os acontecimentos, mas o coração sim. Aliás, acho que só a cabeça debaixo que processa... Mas isso é outra história. Chego no meu andar, abro a porta e meu amigo entra. Vai direto para a área de serviço para beber água. Mas ele me olha desapontado, como quem perguntasse: “cadê a minha tigela?”.

— Esqueceu que fomos na casa da tia Gi e levei suas tigelas, figura? – pergunto.

“Ah, a moça boazinha? Ela é minha tia? Não sabia que tinha uma tia...”.

Tiro da sacola as tigelas, e dou uma lavada na de água e coloco para ele matar a sua sede.

Guardo a maleta de ferramentas. Acendo o compartimento de gás e vou tomar um banho. Aqui o meu chuveiro é regulado por gás. Porque na minha antiga casa, era o mesmo da Gi, elétrico. Quando faltava força no inverno (e não era raro lá na cidade), imagine o sofrimento.

Me esbaldo com a água morna, lavo os cabelos e mais uma vez, vem à mente, a garota de cabelos castanhos escuros, com um sorriso cheio de covinhas. Olha, ela cozinha bem, viu? Não esperava que tivesse uma mão cheia. Mas para variar, minha cabeça de cima trabalha na velocidade da luz para atrapalhar o andamento de todos os outros itens: coração e... bem, deixa para lá.

E agora? Como ela vai reagir? O que será de nós? Foi apenas um beijo? Ou... estou gostando dela? A última pergunta é respondida: eu gosto dela! E gosto de modo diferente: vontade de ficar junto, saber o que espera da vida, se prefere o inverno ou verão. Me toco que quero algo mais com ela, assim, simplesmente. Sem pressa e sem sobressaltos. Mas e ela? Sim, retribuiu o beijo e com uma certa ferocidade, não posso negar. Mas... Mas, mas... Relacionamento é algo complicado: você sabe o que quer, o problema é saber se a garota está na mesma sintonia que a sua. E é aí que entra a Gi.

Bem, veremos o que vai acontecer...

*****

Não consigo dormir! Viro para lá, para cá e só vem na mente: o Júlio. Bem, ele consertou o chuveiro a troco de um jantar e... um beijo. Caramba, por que ele me perturba tanto? Aliás, por que estou perturbada? Foi um só um beijo... Um beijo de boa-noite, não foi? Vai ver que fez isso porque sentiu vontade. Ué, ele é esquisito. Aliás, ele sempre foi esquisito. Não tenho a mínima ideia do que me espera daqui para frente. E se isso foi apenas um ato involuntário ou a evolução de algo mais.

Tento fechar os olhos, luto bravamente para vir o sono, e aí... Vem o beijo. A sensação de sentir os seus lábios, o perfume amadeirado, o toque que minhas mãos sentiram em contato com a sua barba macia.

Júlio Sardinha, ou melhor, Schiavon. Não sabia que ele era descendente daquelas famílias ricas do interior de São Paulo. E que tinha tudo para ser mais um playboizinho bobo. No entanto, largou tudo e veio para capital. E por isso mesmo, tem a minha admiração e... o que sinto por ele mesmo?

Durmo muito pouco. Horas desperto assustada e achando que perdi o horário. Outras, como alguém estivesse me vigiando. Levanto-me para beber água e o Ernesto está na janela. Ainda emburrado e amuado. Como ele me repreende-se do meu ato. Chego perto do meu gato e pergunto:

— Você não vai dormir, queridinho?

“E por que você se preocupa comigo, humana? Vá lá! Vá com seu barbudinho e com aquele cachorro babão, nojento e fedorento”, mio, dou meia-volta e vou para minha cama na área de serviço. “Palhaça! Acha que vai me comprar com essas palavras doces?”.

Bem, definitivamente Ernesto não está com bom humor. Aliás, quando ele está? Volto a dormir e aí sim, acordo logo depois com o celular aumentando a cada segundo a música do alarme. Minha cabeça lateja, e meu estômago está revirado. Saio da cama e faço a minha rotina como sempre.

Logo depois, chego ao jornal. E quando me aproximo da sala dos repórteres a Lilian me chama.

— Menina, bom-dia, né?

— Ah, bom-dia, Li! O que manda?

— Gi, você pode aproveitar e cobrir as compras de Natal no Brás? Iria a Natália, mas a garota estava voltando de bicicleta ontem à noite...

— Ela foi assaltada?

— Que nada! Ela se desequilibrou, caiu e quebrou o braço. Putz grila, viu?

A Natália é das repórteres mais “geração saúde” de nossa turma. Desde que o Haddad, o prefeito de São Paulo, começou a pintar ciclovias para lá e para cá, ela é que tem se mostrado mais simpatia pelo feito do político. Mas convenhamos, ele tem tara por tinta! Cria ciclovias até com postes e árvores no meio. Vai ver que a ideia é fazer percurso com obstáculos. Vai entender!

— E vou com ...

— Comigo? – escuto a voz atrás de mim. E ela é indefectível. É do Júlio.

Viro e o vejo abrir um sorriso para mim. Inconscientemente dou dois passos para trás, em direção à Lilian.

— Bom-dia, minha princesa! Dormiu bem? – ele me pergunta.

A Lilian me lembra o Ernesto nessa hora: levanta as orelhas, arregala os olhos e arruma os óculos.

— Sim... Sim.

— E está funcionando direitinho o chuveiro?

Caramba, Júlio, informação demais, não acha?

— Chuveiro? – a Lilian deixa escapar a pergunta de forma bem natural e curiosa.

— É, sim! Não pense besteira, Li. Só troquei o chuveiro para Gi. Bem, ao menos ela não gastou dinheiro com aquele serviço do “Cadê marido?”...

— É “Pra que marido?”. – respondo seca. Mesmo não querendo ser assim.

— Hum, quer que os deixem sozinhos?

— Sim!

— NÃO! – respondo. – Já estou saindo, só me diga qual fotógrafo vai comigo hoje. – digo à sósia da Garcia, torcendo que não fosse aquela figura que tem atrapalhado meus pensamentos.

— Ah, sim, o Décio!

— O Décio? – pergunta o fotógrafo hipster e trocador de chuveiro.

— É! E vai logo, Gi. Porque o Jura já está lá embaixo. Tome. – me passa uma página impressa enquanto me instrui: - aqui está o roteiro do dia. Caso, você descubra mais alguma coisa, mande bala! A gente sabe que você é boa no que faz.

Antes que fique envaidecida, apanho a página, contorno o Júlio e vou em direção aos elevadores.

Mas quando chego quase lá, sinto meu braço sendo agarrado. E quando me viro, quem está me segurando?

— Ei, sobre ontem...

— Agora, não, Júlio! Depois a gente conversa.

— Mas, Gi, eu queria tanto falar sobre...

E o sinal do elevador avisa que ele já chegou no andar. Entro e o encaro. E antes que ele possa falar mais alguma coisa, a porta se fecha.

Passo o dia trabalhando de forma animada com Décio. Aliás, ele é um cara legal em campo ou fora do trabalho. Sinto saudades das fofocas do Felipe. Mas na altura do campeonato, é melhor ficar longe das observações sarcásticas que deixaria o Félix, da novela Amor à Vida, sem-graça.

Antes de chegar à redação já preparo um pequeno texto para ajudar a Juliana na edição de domingo.

— Você tá podendo, hein, Gi? Vai só dar você! – ela me diz.

Aliás, quase todo o caderno vai ser assinado por mim e com as fotos do Décio. Algumas exceções aí, mas as minhas reportagens são predominantes. E agora, caminho de casa porque não sou de ferro.

Quando contorno a esquina da rua da minha casa, vejo ao longe uma moto parada. Aliás, moto, não, uma Vespa. Conforme me aproximo da portaria, posso ver, o Júlio encostado tranquilamente com o capacete no antebraço. Será que nenhum dos porteiros o tocou? Bem, o pessoal aqui tem receio com motoqueiros e motoboys. Essa questão de segurança, deixa uma pessoa desconfiar da outra, em São Paulo.

Tento controlar a minha respiração e minha ansiedade. Tentei o dia inteiro não focar em nenhum momento nesse hipster destrambelhado. Mas aí está ele. Será que era isso que tentava me avisar quando esperava o elevador?

Ele me vê chegar e abre um sorriso. O que quer de mim? Aliás, por que estou fugindo dele? O que quero afinal? Nem eu sei. Paro por um instante, respiro e continuo andando e vou tentar ignora-lo, pedir para abrir o portão, entrar no meu prédio e continuar minha vida.

— Gi?

Quando tomo por mim, ele está na minha frente, me encarando com cara de cachorro pidão. Agora, dá para perceber de onde o Mozart se espelha nas ações.

— Júlio, eu...

Ele chega mais perto, me agarra e me beija. O beijo de certa forma me incendeia. E quando tomo consciência estou o abraçando. Caramba, por que não tomo jeito?

Ele é longo, doce e com o mesmo toque da primeira vez, atrevido. Ele me solta e me encara:

— Você não precisa fugir de mim. Gosto tanto de você e...

Coloco a minha mão sobre a sua boca pedindo silêncio.

— Acho que é minha vez de falar. Escute, não sei o que você significa para mim. Gosto de você, mas me sinto confusa.

E o sem-vergonha beija a minha mão. A retira e me volta a beijar. Fico realmente sem palavras. E daria para falar alguma coisa? Depois ele me abraça de forma tão carinhosa. Mesmo estando suada, cansada e não me sentido nada bonita, me deixo levar. E de repente, ele me nocauteia:

— Amanhã, vamos tomar café juntos?

Eu o solto e olho no fundo dos olhos. Mas não consigo falar nada. Não sei o porquê ele me deixa assim.

— Vamos? – ele me pergunta mais uma vez. – Diga o que você quer e amanhã a gente sobe até o terraço e ficamos ali. É sexta, Gi. Vamos aproveitar!

— Tudo bem! Mas nem sei o que...

— Posso te surpreender? Trazer algo que você gosta e percebi? – se tem uma coisa que o Júlio é, é ser observador. Então, ele deve ter pegado um monte de detalhes sobre a minha pessoa. Agora não sei se acho isso bacana ou não.

— Tá bom!

— Então, até amanhã! – me beija rápido dessa vez. Me alisa os cabelos e dispara o famoso: - minha pequenina.

Ele me solta e volta para a moto. Aliás, moto, não, Vespa. Sobe, coloca o capacete, me joga um beijo e vai embora.

Maldito seja! Só ele para me deixar assim. Desde que comecei a aprender o que é se interessar pelo sexo oposto, o Júlio foi o primeiro para me deixar sem ação e sem... o que pensar.


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Notas finais do capítulo

Gente do céu! Foi um capítulo e tanto, hein? Fala aí! E pensou que iria deixar uma lacuna sobre esses dois? Nem pensar! Sei que há uma boa turma por detrás do JúlioVanna.
Hoje o glossário está de boa:
Félix, da novela Amor à Vida – Interpretado por Mateus Solano, o Félix foi um personagem controverso. Começou como um demônio. A pura bicha má para o final da novela... Se redimir e ainda ficou com o carneirinho, Niko ( o gostoso do Thiago Fragoso. Já falei que ele é gostoso?). Aliás, os dois protagonizaram o primeiro beijo gay em uma novela da Rede Globo.
Bem, vi que tem aumentado cada vez mais o número de pessoas acompanhando. Mas... não deixam isso em público. Quer ganhar um beijo, ser mencionado(a)? É só deixar público, viu?
E no sábado que vem... Finalmente a cena em tempo real que o Murilo e aquele bando de xeretas acompanharam. Beijinhos para vocês :*



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