Chamem os Bombeiros escrita por Juliana Rizzutinho
Notas iniciais do capítulo
Olá, garotada, chegando ao 17º capítulo de Chamem os bombeiros e bora para história?
Chego cedo à redação, com certa pressa para fazer a reportagem da 25 de março. Desta vez, vou redigir e assinar. E o Décio também virá para escolhermos, juntos, as melhores fotos. A matéria irá sair como especial de capa para o caderno de domingo. Portanto, tenho pouco tempo.
Quando me dirijo à mesa que me dispuseram a escrever, sinto alguém puxando o meu rabo de cavalo. Quando viro para trás para ver quem é, dou de cara com...
— Bom-dia, né? Sua mãe não te deu educação? me pergunta o fotógrafo hipster.
Júlio tem andando muito fofo comigo, desde o incidente do suco de caju e seu broncoespasmo. Essa mudança brusca de comportamento alimentou mais ainda as fofocas sobre nós dois. Já viu, né?
— Bom-dia! respondo rabugenta.
— Nossa, você não está bem, Gi! Dá para perceber! me diz com aquele sotaque puxado no erre que ele tanto tenta esconder.
— Hunf! Imagina! Estou ótima! Tive um dia difícil ontem, Júlio. Dá um tempo! viro-me e ele me segura pelo braço.
Ele tem ficado muito grudento... E não estou gostando.
— Ei! O que aconteceu, Gi? Pode me contar?
Retorno e o encaro. E desembesto a falar como não houvesse o amanhã:
— Está tudo ótimo, Júlio! Tirando que meu chuveiro queimou bem na hora que iria tomar aquele banho depois de ter voltado da 25 de março, e...
— Seu chuveiro queimou?
— É! E tem mais! Tive que pedir aqueles serviços do Pra que marido? que vai me custar uma pequena fortuna. Ainda tive que ir até a casa de minha mãe para tomar banho e...
— Poderia ter me chamado! ele me corta.
O encaro atônita. Ignoro o que ele disse e continuo a minha reclamação a todo vapor.
— Então tomei banho lá e ainda por cima, passei a noite.
— Mas, por que você dormiu lá?
Cada pergunta idiota, valhe-me!
— Porque tomo um banho de manhã e outro de noite! Satisfeito?
E antes que ele abra a boca, continuo:
— E não só isso! A minha mãe foi para minha casa, esperar o rapaz para consertar o chuveiro. E com Ernesto querendo arrancar o meu braço enquanto o colocava na gaiolinha...
— Ah, seu gato... e o tom que ele usa, parece irônico. Meio que eu e o Mozart o conhecemos.... Ah, vá te catar! Dei abrigo ao cachorro fofo, mas chorão dele! Ah, qual é?
— Sim, Ernesto. Tirando o fato de dormir na casa dos meus pais e ser acordada no meio da noite com sons de amor do casal...
— Sons de amor? ele me pergunta se divertindo. Ele é tonto? Você os ouviu transando, é isso?
Puta que pariu, alguém arranque a língua dele, por favor!
— É! Satisfeito?
— Ops, só quis brincar!
— Bem, para fechar o assunto, enquanto estou aqui, minha mãe já deve estar fazendo o rapa na minha casa.
— Como assim?
Por que você simplesmente não cala a boca, Giovanna?, penso. E agora? Como vou contar que tenho uma mãe cleptomaníaca?
— Bem... suspiro e tomo coragem para continuar. Minha mãe tem um sério problema de pegar as coisas que não são suas...
— Aff! Sério mesmo, Gi? Coisa sinistra! Então... Tenho uma proposta para você!
Pronto! Lá vem merda! Lá vem merda!
— E qual seria? pergunto temendo pela resposta.
— Arrumo o seu chuveiro e você cozinha para gente. Que tal?
O olho abobada. Como que é? Cozinhar? Bem, não sou das dez mais. Me viro muito bem quando é só para mim, mas, cozinhar para os outros... Tenho certeza que vai sair um desastre.
— Bem, eu... Posso tentar!
— Pensa, Gi! E aí inclina o corpo para trás, cruza os braços de modo que a sua mão direita começa a fazer tique que detesto: o de enrolar as pontas da barba. Saíra mais barato do que... do que... Como chama mesmo o barato?
— Pra que marido?
— Triste o nome desse serviço, não?
Comentário mais infeliz isso sim!
— Como assim, triste?
— Bem, deixa pra lá! Voltando ao assunto. Então desmarque o Cadê marido?...
— Não, Júlio! É Pra que marido?.
— Isso, isso! Ele quer imitar o Chaves agora? E aí, chego na sua casa lá pelas cinco, tudo bem?
— Ah... É... me vejo concordando no final.
— Muito bem! Vou levar o Mozart. Não te incomoda?
Ai, caramba! Só o que faltava. Bem, pelo menos terei o Júlio para ajudar a separá-lo do Ernesto, não?
— Mas você geralmente tem frilas... tento deixa-lo indeciso.
— Não tem problema! O de hoje é um porre! Vou passar para o Felipe. E duvido que ele não vá amar! e mexe as sobrancelhas.
Como assim? Vai ver que irá ter uns boys magia. E que tipo de frila o Júlio tem feito ultimamente?
— Então...
— Isso, desmarque o serviço, dispense sua mãe e às cinco horas estarei lá!
E mais uma vez digo de forma mecânica:
— Então, até às cinco.
Onde estou com a cabeça?
Ligo para o serviço Pra que marido? e desmarco a visita. Logo depois, aviso a minha mãe, e só a ouço:
— Tem certeza, filha?
— Sim, mãe! O Júlio vai consertar para mim...
— Hum... Então é esse o nome do meu futuro genro?
De onde ela tirou isso da cabeça?
— Mãe, não confunda as coisas, vá!
Desligo irritada e volto a trabalhar. A matéria sai fluida e com a ajuda do Décio, então, fica bonita, benfeita.
— Bem, agora só vou enviar para a Juliana e ir para casa.
— Tá precisando de descanso, hein, Gi? me avisa o fotógrafo palestrino.
Caramba, será que aparento estar tão acabada?
— Você acha?
— É que você tá com cara que não dormiu bem. diz pensativo.
E não dormi mesmo, pode apostar!
Feito todos os deveres, vou para casa. Quero dar uma ajeitada antes que o Júlio chegue. E então, chega o temido horário: 17 horas. Parece que as coisas estão no lugar. Comida para o Ernesto posta, e até a caixinha de areia está limpinha. E aí toca o interfone. Não entendo o porquê, mas meu coração dispara. Ele só vai consertar o chuveiro, certo?
— Boa-tarde, Giovanna! O Júlio Sardinha está aqui.- avisa o porteiro - E ah, ele está com um cachorro completa quase sussurrando.
— Podem entrar os dois.
— Certo! responde não muito convicto.
Logo mais, a campainha toca e o Ernesto se vira, para de brincar com a bolinha e olha desconfiado para porta. Como eu sei? Oras, faz uns dois anos que ele veio viver comigo. Tempo suficiente para conhecer todas as suas esquisitices. Acredito eu.
Abro a porta, e o Júlio me oferece um sorriso, mostra a caixa de ferramentas em uma mão, enquanto que a outra, segura a coleira do Mozart.
— Onde está a encrenca, senhorita Giovanna?
Faço com a mão para ele entrar. Caramba, por que estou tremendo?
— Bem, não reparo na bag...
— Bem, a minha casa também é meio bagunçada! Nem esquente. e se inclina para me beijar na bochecha, mas de tal modo que seus lábios encostem bem próximos à minha boca.
O Ernesto chega perto e mostra um olhar maligno para o pobre cachorro que pula ao me ver.
— E você, moleque? Como está? indago para o simpático cãozinho.
O Mozart começa a lamber as minhas mãos.
— É, Gi! Ele te adora!
— Não fale isso porque o Ernesto fica com ciúmes.
O fotógrafo vira e encontra o olhar do gato vidrado nele.
— E aí, rapaz, tudo bem?
O gato dá dois passos para trás e faz o seu famoso fizzz
Puta que pariu! A humana tem exagerado na dose! Primeiro, aquela maldita perua que nem me ofereceu mais atum, agora esse chato e ESSE CACHORRO INSUPORTÁVEL!.
O Mozart abana o rabo e vai cheirar o Ernesto.
— Júlio, você poderia...
— Vem, Mozart! Vem com papai!
O golden o olha como quem dissesse: Por que não posso brincar com ele?. Enquanto que o Ernesto começa a arrepiar os pelos. Vendo a cena, penso uma maneira de despistar o cachorro do meu gato. E ah, sim, claro! O chuveiro deve ser consertado.
— É, vamos lá? convido-o para ir ao banheiro.
— E é para isso que viemos! - Espero eu, penso.
Ele me segue e o Mozart também vem atrás. O Ernesto fica na sala, ainda muito carrancudo.
— Aí está a encrenca! abro o boxe e mostro o chuveiro. E ainda aquelas marcas horrorosas que o maledeto fez.
— Você tem uma escadinha? E ah, preciso que desligue o disjuntor do chuveiro. Onde está a caixa de distribuição de luz?
Francamente, nunca cheguei perto daquele quadro. Tenho medo dele. Aquelas alavancas todas. Sei lá, parece que se vou mexer alguma coisa, o meu apartamento irá explodir. Ou vou levar um choque como naqueles desenhos animados.
— Por aqui. E ele me acompanha novamente, agora até a parede que dá para a porta de entrada. Retiro um quadro de paisagem para mostrar aquela portinha cheia de alavancas.
— Engenhosa sua ideia!
— Não gosto disso. Tenho medo!
Ele ri, e a abre com uma desventura como fosse pegar algo na geladeira. Para ele é algo tão simples como abrir a porta do elevador.
Assim que ele desliga o disjuntor, vira para mim e brinca:
— Viu? Ainda estou vivo!
Não sei se rio ou mando à merda.
E ele volta para o banheiro e o Mozart o segue. Na porta, me avisa:
— Ah, a escadinha!
— Perai!
A acho no vão entre a máquina de lavar e a parede. E quando estou chegando perto da porta.
— Por que você não pediu que pegasse?
— Ela não é pesada!
O fotógrafo hipster, na sua faceta de atendente do Pra que marido?, retira das minhas mãos e faz um tsc. Que raiva disso! Enquanto isso, o Ernesto está sentadinho na poltrona com uma cara... Caramba, às vezes, ele pensa que ele que manda em mim e não ao contrário.
Júlio segue para o banheiro e o Mozart o acompanha. Parece uma sombra do dono. Aproveito a deixa e chego perto do Ernesto e digo:
— Faz o favor de ser um pouco mais simpático! Seu mal educado! reclamo sussurrando.
E por que deveria ser, humana? Francamente, como ela é devagar! Não vê que são dois intrusos?, mio. E viro as costas.
Respiro resignada, volto ao banheiro e pergunto:
— Você precisa de alguma coisa?
E ele me responde de forma atrevida, enquanto retira o chuveiro do cano.
— A única obrigação da senhorita é fazer nosso jantar, combinado?
Ah, é! Fazer o jantar. O que vou fazer mesmo? E aí o Júlio me traz a realidade com:
— Gi, a resistência que deve ter queimado. Você que quer faço uma gambiarra ou prefere comprar um novo?
— Vamos comprar um novo! respondo sem pensar. Também, né? Aquela ducha na casa dos meus pais é para deixar qualquer um com inveja.
— Então vamos juntos a uma loja que conheço por aqui perto e você escolhe à vontade!
Pouco tempo depois, estamos na tal loja. Ela é enorme e quase me perco. E o Mozart atrás, mesmo sobre os protestos do segurança. Mas deixa-lo sozinho com Ernesto não era uma boa ideia.
Fico meio perdida com tantos corredores e seções. E aí sinto sua mão guiar-me até o local onde estão os chuveiros e duchas.
— Pronto, pode brincar à vontade. fala se divertindo.
De cima abaixo há várias opções: grandes, pequenos, até com luzes de led coloridas, em formatos esdrúxulos. Fico sem saber o que escolher.
— Jú... Eu... Bem... Na casa dos meus pais Tento completar a frase para o fotógrafo hipster, mas por que fico envergonhada com ele? Isso é ridículo!
— O que tem?
— Tinha um que sei lá. Ele é meio torto assim e a água vinha numa pressão...
— É ducha! me responde. Pode ser essa aqui. e me mostra uma bem moderna.
— É cara? pergunto.
— Bem, Gi, esses itens são caros. Mas pensa, é um investimento.
Ele mostra mais algumas opções. E escolhemos uma que como Júlio me revela:
— Essa é que se comporta melhor lá. Afinal, a água no seu prédio não vem com tanta pressão!
Como ele sabe, não sei. Não entendo dessas coisas.
Chegamos em casa e o Júlio faz o serviço tranquilamente. Enquanto isso, dirijo-me à cozinha para preparar o nosso jantar. O rádio está sintonizado em uma emissora que adoro e agora está tocando Ink do Coldplay. Gosto da banda, e quando revelei isso no jornal, bem, o Felipe me chamou de hipster também. Posso?
O armário me revela duas latinhas de tomate pelado. Na geladeira um bom pedaço de bacon. E é isso! Macarrão com bacon! Tenho salsinha picada, óleo de azeite extra-virgem.
Vou até o banheiro e pergunto para ele:
— Você gosta de bacon, certo?
Ele para o que está fazendo e... Está sem camisa! Caramba, o Júlio é o falso magro. E do nada dá uma tremedeira nas pernas. Disfarço e me forço a continuar olhando, como não estivesse sentido nada.
— Você se incomoda? ele me indaga.
— Com quê? pergunto tentando ser natural.
— Que eu fique sem camisa? Está calor, tudo bem?
Bem, tirando que ele está de bermuda. Quando eu voltar ele vai estar de cueca? E me pego pensando em que tipo de cueca ele usa. De onde tirei isso?
— Nããão... Não! - respondo.
— Bem, o que você me perguntou mesmo?
Ele tem até o peitoral definidinho. Não é aquela coisa de garotos ratos de academia, longe disso. Até porque o Júlio não tem cara que puxa ferro. E aí me forço a voltar à conversa e perguntar:
— Você gosta de bacon, não é?
— Adoro! me mostra o sorriso. E do nada o Mozart dá uma ganida. Ele tá querendo também?
— Desculpe, Gi. É que o Mozart é meu companheiro nessas horas. informa meio acanhado.
— Você oferece comida para ele? Não pode, sabia? Por isso que ele perde pelos!
Ele mexe os ombros e fala:
— Gi, somos só eu e ele.
— Bem, mudando de assunto. Você gosta de macarrão com bacon?
— É molho vermelho?
— Feito com tomate pelado. respondo. E por que as minhas bochechas arderam agora?
— Oba! Eu quero! Pode ir fazendo que logo, logo termino aqui.
— Tá certo.
Volto para cozinha e o Mozart me acompanha agora. Enquanto o Ernesto só nos observa. Lavo as mãos no lavabo, volto para cozinha, e coloco água no fogo para o macarrão. Opto pelo espaguete. Corto o bacon em fatias fininhas. Trago a latinha do tomate pelado para pia e abro a geladeira para apanhar a salsinha. E logo mais, mãos à obra!
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E aí, será que a Gi vai se sair bem no macarrão? Hum...E duvido que tem gente pensando em besteirinha ... ( ͡ ͡° ͜ ʖ ͡ ͡°)
Bem, vamos aos agradecimentos: Obrigada à Factory girl e à Nay Drobnjakovic e à Mayu Yagami que favoritaram, à Ihrisa e à Vampira anônima, que estão acompanhando. Beijos e muito obrigada! Façam como elas, mostre que você acompanha ou favorita a história que você ganha beijos.
E vamos ao glossário Chamem os bombeiros!
(...) até com luzes de led coloridas – não sei se alguém aqui tem as manhas de entrar naqueles sites Made in China. Pois é, há chuveiros com luzinhas led e tem o poder de cromoterapia. Se funciona? Não sei...
Ink do Coldplay – é um dos singles da banda considerada hipster por excelência, cujo álbum leva esse mesmo nome.
garotos “ratos de academia” – São aqueles bombadinhos viciados em academia. O termo lembra rato de biblioteca.
puxa ferro – malhar, fazer academia ou mesmo musculação.
E o próximo capítulo... Nem te conto ...