Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, me desculpem por demorar mais que o normal para postar. Espero que gostem desse capítulo, e espero que, como planejado, vocês fiquem querendo mais!



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Tobias

Eu realmente não estou acreditando em tudo que aconteceu. Em uma hora, Johanna estava lá, tão bem, e em outro, ela está morrendo em meus braços, implorando para que eu tome a frente da cidade. Como o mundo dá voltas.

Estou sentado no hospital, esperando que os médicos me informem o motivo da morte de Johanna. Eu nunca soube que ela tomava remédios, nem que tinha problemas sérios a ponto de morrer assim, do nada. Mas se essa morte não foi natural, se alguém estava por trás disso...

— O que houve? — uma voz alarmada me tira de meu devaneio. Christina. Ela foi a primeira pessoa para qual liguei assim que cheguei ao hospital.

— Johanna... Ela está... — quase não consigo terminar a frase — morta.

— Morta?! — ela se senta ao meu lado. — Como assim morta? Como aconteceu?

— Ela simplesmente gritou meu nome, pediu para que eu tomasse conta da cidade e fechou os olhos. Ela morreu bem na minha frente.

— Eu sinto muito. Mesmo. Deve ter sido um grande baque depois desses anos, depois que Tris...

— Senhor Tobias Eaton? — alguém me chama, interrompendo Christina.

— Sou eu — me levando e vou até o médico com uma prancheta na mão que me chamou.

— O senhor sabe informar sobre algum parente da senhora Reyes? — ele pergunta.

— Não, acho que sou a pessoa mais próxima de Johanna. Sou vice-prefeito da cidade, trabalhava com ela.

— Bom, Johanna Reyes teve uma parada cardíaca como motivo de seu óbito — ele diz.

— Mas ela nunca... — começo, mas sou interrompido pelo som de meu celular. Olho e vejo que é Richard, um dos representantes do Governo.

— Com licença — digo para o médico. — Alô?

— Tobias? — ele chama. — Preciso falar com Johanna, ela não me atende, e precisava...

— Desculpe, mas... Ela não poderá atendê-lo. Johanna acabou de falecer.

— Como?! — ele exclama. — O que houve? Alguém fez isso?

— Foi um problema de saúde — digo —, até onde sei.

— Sinto muito — ele diz. — E me desculpe por ter que tocar nesse assunto nesse momento delicado, mas a cidade acabou de se estabilizar, vocês eram um experimento há apenas cinco anos, Chicago não pode ficar sem um líder. Você precisa assumir, Tobias, e logo.

— Logo?! Johanna acabou de morrer em meus braços, como quer que eu resolva isso rápido?

— Eu entendo...

— Não, não entende!

— Tobias! — ele diz quase gritando, mas sem perder sua compostura tão característica. — Se não assumir logo, o Governo vai mandar um representante nosso, e ele vai saber muito menos da sua cidade que você, estariam correndo o risco de ele não ligar para as pessoas. Ninguém pode governar uma cidade ex-experimento sem ter vivido na cidade quando ainda era um experimento. Você sabe do que essas pessoas precisam, Quatro, as pessoas viviam em facções e você sabe como era, e sabe como precisam viver daqui para a frente.

— Não estou dizendo que não vou assumir. Eu vou. Mas não podemos fingir que nada aconteceu com Johanna por uns dias? Só preciso me situar.

— Não temos mais dias, desculpe. A cidade sofrerá a Fiscalização amanhã, Johanna teria que demonstrar os resultados da cidade nesses últimos anos para nós...

— Ah, droga — digo quando, finalmente, me lembro do motivo de eu ter ficado até tarde no escritório. A Fiscalização. Um procedimento de praxe que acontecia de cinco em cinco anos em cidades ex-experimento. Johanna estava nervosa, mas não escondia a ansiedade de mostrar para o Governo a evolução da nossa cidade. — O que eu faço, Richard?

— Você precisa ter acesso a todos os arquivos de Johanna, você tem?

— Sim. Mas o que quero dizer é: como eu faço? Como vou, de uma hora para outra, governar a cidade?

— Faça tudo o que Johanna fazia, vocês passavam o dia inteiro juntos. Sei que pode fazer isso. Tobias, na verdade, não vejo ninguém melhor para assumir esse cargo. Não precisa ser tão bom quanto ela, basta dar os mesmos passos, que conhece muito bem.

— Tudo bem — digo sem muita certeza.

— Bom, já que você tem os arquivos de Johanna em seu poder, tive uma ideia: já que os representantes do Governo estarão aí amanhã, aproveitaremos a Fiscalização para uma pequena cerimônia, no escritório, para apresentarmos você, Tobias Eaton, como novo prefeito para a cidade, e podemos também dizer algumas palavras sobre Johanna. Eu posso falar com meus superiores sobre a substituição. E logo darei um jeito de colocar isso na TV, para que as pessoas da cidade apareçam.

Televisão. O meio de comunicação com o lado de fora da Cerca que as pessoas mais rápido se adaptaram. Eu nunca gostei, e agora apareceria lá.

— Entendi, nos vemos amanhã, então. Obrigado, Richard.

— Por nada, e desculpe por te impor a isso, não o faria se não fosse totalmente necessário — ele diz. — Esteja amanhã no escritório às oito da manhã.

— Eu sei que não faria. Combinado.

Eu gosto de Richard, entre os cinco representantes do Governo que têm Chicago sob sua responsabilidade, o meu favorito.

— Boa sorte, Tobi... Não, quero dizer, senhor prefeito. Até amanhã.

Desligo o celular e sinto um pequeno sorriso se formando devido à forma de Richard me chamar. Não que eu quisesse isso, muito menos nessas circusntâncias, mas prefeito, quem diria?

Caminho em direção à Christina, que me espera sentada.

— O que o doutor disse? — pergunto.

— Ele perguntou se Johanna teve alguma emoção forte antes de morrer, eu disse que não sabia, então ele respondeu que essa era a teoria dele para sua morte. Eles não têm uma resposta concreta, ainda não terminaram de examinar o corpo dela. — Christina explica.

— Estranho, Johanna nunca foi de se estressar fácil. Se bem que...

Agora a cena se forma claramente em minha cabeça. Os gritos de Johanna, eu correndo para ajudá-la, o telefone pendurado, fora do gancho.

— O telefone! — exclamo.

— O telefone? O que quer dizer?

— Ela deve ter recebido um telefonema antes de morrer.

— O que seria tão perturbador assim?

— Não sei, mas preciso que rastreiem as ligações dela. Mas não tenho condições de fazer esse pedido para a polícia hoje, e muito menos amanhã.

— É claro, você precisa de um tempo. Mas eu podia fazer isso...

— Não é essa a questão. O telefonema que recebi era de um representante do Governo, serei apresentado amanhã como novo prefeito.

— Amanhã?!

— Sim, não tive escolha, longa história. Será uma cerimônia pública, está convidada. Se quiser ligar para Cara, Zeke e mais alguém por mim, eu agradeceria, iremos falar sobre Johanna também. Não esqueça de ligar para minha mãe, por favor, eu não estou com cabeça para explicar tudo o que aconteceu novamente.

— É claro, onde será?

— No escritório, assista à televisão, mostrarão o horário que começará.

— Ok — ela assente. — Amanhã será um dia longo, Quatro.

— Nem me diga.

— Se Tris estivesse aqui seria mais fácil...

— Se Tris estivesse aqui talvez eu nunca teria trabalhado com Johanna, tudo seria diferente.

— Tem razão. Boa sorte, de qualquer forma.

— Obrigado, sei que vou precisar.

***

Fui para casa me iludindo, achando que iria conseguir dormir. Como eu disse, me iludindo. Não consegui pregar o olho por um minuto. Que ótimo. O prefeito já vai começar seu primeiro dia com olheiras.

Pensei até em ir ao escritório de Johanna, talvez descobrir de onde veio a ligação que a matou, mas então me lembrei de que não faço a mínima ideia de como rever ligações telefônicas, seria perda de tempo.

Então, veio à minha mente o que eu quis desde o início do dia: eu havia planejado honrar Tris apenas me lembrando dela, e jurando nunca esquecê-la. Finalmente me deitei e olhei para o teto, imaginando seu rosto se formando na tinta branca.

O engraçado foi que, com tantas memórias boas de Tris e com Tris, a primeira a passar por minha cabeça foi de um de nossos piores momentos: quando Tris me contou que o plano do qual eu participei tinha acarretado em um acidente com Uriah, uma das vezes em que me senti mais envergonhado.

E essa lembrança acarretou várias e várias outras, que vieram como uma avalanche e que, aparentemente, me fizeram dormir.

Acordo com o som do despertador, assustado. Levanto-me e vou para o banho. Deixo que a água leve todos os meus medos e incertezas sobre o dia de hoje, sobre tudo o que está para acontecer.

Escolho uma roupa nem tanto casual mas nem tanto formal, sem muita certeza do que era apropriado. O relógio marca sete e quinze quando saio de casa.

***

Quando chego, tenho um susto. O escritório de Johanna foi totalmente limpo. Seus móveis de escritório, seus armários cheios de arquivos e todos os pertences da sala foram retirados. No lugar, um palanque improvisado foi colocado, com um microfone no centro e uma grande foto de Johanna no lado esquerdo.

Sorrio ao ver a foto. Espero que Johanna, onde quer que esteja, goste dessa foto.

— Senhor Eaton? — alguém me chama e me viro. Uma moça, de estatura média, grandes cabelos castanhos e olhos da mesma cor, me encara.

— Tobias, por favor — digo. — Posso ajudar?

— Senhorita Williams — Richard chega por trás dela. — O que eu lhe disse sobre não importunar sobre o emprego?

— Ela não estava me importunando — falo. — De que emprego está falando?

— Nada importante, Tobias. Vamos, precisa vir comigo.

Lanço um olhar sem graça para a moça, como se me desculpando, mas logo sigo Richard.

— Marquei a cerimônia para nove horas, preciso que pense em algo para dizer. Sobre Johanna e sobre ser o novo prefeito — ele então coloca uma prancheta com uma caneta e uma folha de papel em minhas mãos.

— Quer que eu pense no que falar em uma hora? Por que não pediu para que eu escrevesse ontem?

— Nada que é de coração precisa de mais tempo que isso. Não te disse ontem porque não queria nada muito ensaiado — e ele sai, me deixando sozinho.

Sento-me na escada que leva ao palanque e tento pensar em algo. Não consigo nem uma linha.

Dez minutos já se passaram.

Trinta. As pessoas começam a chegar.

Cinquenta, o espaço, que ficou surpreendentemente grande sem as coisas do escritório, já está cheio.

Uma hora.

— Tobias, com licença, preciso subir — Richard diz, para que eu saia da escada.

— Não consegui nada — digo ao me levantar.

— Na hora as coisas fluem.

— Não tenho tanta certeza — mas Richard não me ouve, já está ajustando o microfone à sua altura.

Viro-me e bato de frente com uma pessoa.

— Desculpe — dizemos juntos, automaticamente.

Porém, quando olho a pessoa, vejo uma figura familiar. Um rosto que eu gostaria tanto de esquecer. O mesmo rosto que maltratava sua esposa e filho. Ali estava ele. Marcus. Meu pai.

— O que está fazendo aqui?

— Johanna era uma amiga também — ele diz simplesmente.

Eu havia deixado meu pai ir há muito tempo, eu não precisava vê-lo novamente.

— Bom dia, senhoras e senhores, cidadãos de Chicago. Todos aqui devem ter conhecimento da perda de uma líder política que Chicago tanto apreciou, um problema de saúde que nos levou Johanna Reyes — Richard começa, desviando minha atenção de meu pai para ele. — Todos nós sentimos muito, e...

Paro de prestar atenção no discurso de Richard e me viro novamente para Marcus.

— Se me lembro bem, você não podia mais voltar aqui — digo rispidamente.

— As coisas mudaram, quem deu essas ordens foi Evelyn, e ela não está mais no comando da cidade, a propósito, você é quem estará no comando daqui a alguns minutos.

— E minha primeira ação será conseguir sua proibição de voltar à cidade — digo. — E você poderia prestar suas condolências à sua amiga de casa. Ela não está aqui, de qualquer modo.

Ele me olha, e, por um longo tempo ele fica assim, e não falamos nada. Se passaram dois minutos, mas equivaleram à eternidade, quando ele recomeça a falar:

— Não acreditaria se eu dissesse que estou aqui porque vai se tornar prefeito.

— Não, eu não acreditaria. Já que não é como se você fosse um pai exemplar...

— É a sua deixa — ele me interrompe, apontando para o palanque. Todos estão olhando para mim.

Olho para Marcus uma última vez antes de me virar. Subo devagar, e quando chego Richard aperta minha mão e me dá um abraço.

— Fale o que sentir vontade — ele sussurra.

— Bom dia — começo, e dou uma olhada geral nas pessoas ali. Todas com um olhar curioso. — Eu gostaria que todos vocês tivessem tido a oportunidade de trabalhar com Johanna Reyes, ela era uma das pessoas mais incríveis que já conheci, uma líder que nunca teve medo de proteger as pessoas, seu povo. Hoje deveríamos apresentar os resultados da nossa cidade para o Governo, mas Johanna que deveria fazer isso, já que foi por sua causa que essa cidade evoluiu, por isso que podemos estar aqui hoje. Johanna não deixou nossa cidade desmoronar, porque ela colocou sobre os próprios ombros o peso de tudo. Provavelmente nunca poderei governar à sua altura. Porém, como prefeito, prometo seguir todos os passos da melhor líder que Chicago já teve, espero que confiem em mim para tanto. Muito obrigado.

Richard sobe no palanque novamente com um sorriso de satisfação e coloca a mão em meu ombro.

— E esse é Tobias Eaton, seu novo prefeito, Chicago! — ele exclama.

Olho para as pessoas e posso ver os sorrisos tristemente orgulhosos nos rostos de meus amigos. Por mais que me quisessem como prefeito, não era com a morte de Johanna. Todos eles aplaudem: minha mãe, que chega nesse momento, atrasada, Cara e Peter, Christina, a garota que se apresentou para mim hoje mais cedo, Zeke, Shauna, Amar, George, Tris...

TRIS?!

Então tudo acontece como um flash. Desvio meus olhos de Tris — ou melhor, da pessoa que achei ser ela — por causa de um barulho muito forte bem perto de mim. Viro para o lado e um buraco originado por uma bala está no centro da cabeça de Richard, e ele desaba no chão.

O largo ali e corro, sabendo que já é tarde demais para ele,

— Tobias! Venha logo, corra! — alguém grita. É Zeke, ele está ajudando Shauna, que mesmo conseguindo andar com as próteses na perna, não é capaz de correr.

— Tire Shauna daqui. Rápido — grito de volta e corro na direção oposta, tentando chegar ao meu escritório, que tem outra saída, quando percebo o que está realmente acontecendo.

Pessoas normais estão sendo deixadas para sair, mas políticos estão sendo barrados — e mortos — na saída. Não é um ataque aleatório, é um ataque ao Governo.

Amar e George, com outras pessoas da força policial já sacaram as armas e estão tentando conter a situação, o que parece estar sendo complicado.

Esbarro em alguém, é Christina, e ela está correndo ao lado de Caleb, que eu não havia percebido estar ali.

— Preciso que saiam daqui — digo.

— E por que diabos você está correndo na direção oposta à saída? — Christina pergunta.

— Só saiam daqui, não discutam — digo rispidamente.

— Tobias... — Christina começa.

— Por favor — falo, e então começo a correr novamente.

Quando chego ao meu escritório, o que foi estranhamente fácil, alguém já está lá dentro. Vejo cabelos castanhos compridos, e depois ouço uma voz que ouvi mais cedo, ela está segurando uma arma.

— O que está fazendo aqui? — a moça, senhorita Williams, como Richard dissera, fala. — Para quê foi enviado? Diga a não ser que queira morrer.

— Me mandaram para matar Tobias Eaton — um homem baixo, de meia idade, confessa.

E, simplesmente, sem hesitar, a garota atira. Bem no meio do peito do homem.

— Quem é você? — pergunto. — E o que pensa que está fazendo?

— Sou Olívia Williams, mas pode me chamar de Liv — ela se vira para mim. — E estou tentando salvar sua vida.


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Notas finais do capítulo

Depois desse capítulo, eu queria ler teorias. O que vocês acham que vai acontecer? Espero que tenham gostado, se não gostarem, comentem também! Beijos, e até o próximo capítulo.



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