Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 38
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Tenho muito orgulho, e um pouco de tristeza também, de dizer que esse é o penúltimo capítulo! Já vou agradecendo desde já, porque vocês são demais, cada um que leu, comentou e/ou recomendou, e até cada visualização da história, que eu comecei a escrever sem pretensão nenhuma, mas parece que tem muita gente gostando realmente e me elogiando muito, o que acho incrível. Portanto, obrigada, de coração.
Vou agradecer especialmente, como sempre faço, à Ally Cullen por ter recomendado a história recentemente, muito obrigada!
Espero que gostem do capítulo, aproveitem bastante, tá acabando!



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Tobias

Jogo Tris no chão alguns segundos antes dos homens começarem a atirar no lugar onde estávamos. Corremos, ainda abaixados, e nos protegemos atrás da mesa, onde um dos membros da equipe de filmagem está caído, e não tenho certeza de que está respirando.

— O que está acontecendo?! — Cara aparece ao nosso lado, puxando Amar, que já foi baleado na barriga.

— Como eles invadiram o prédio sem que ninguém soubesse? — Tris pergunta.

Ninguém tem a chance de responder, porque Sarah se joga com força ao nosso lado.

— Vocês têm armas? — ela acena com a dela e por um momento penso que vai atirar em nós.

Quase que simultaneamente, todos colocamos a mão em algum lugar que carregamos uma arma. Aprendemos a não andar sem uma. Sarah solta um sorrisinho.

— Vamos sair daqui.

— Não podemos — Cara olha para Amar.

— Não vão esperar a morte atrás dessa mesa por causa de mim — ele diz —, e não vão deixar eles morrerem.

Amar tem razão. Trevor, George, Christina e todos os outros estão lutando, e não posso deixar que enfrentem quem quer que essas pessoas sejam sozinhos.

— Vamos acabar com eles, depois pegamos você — digo para Amar.

— No três — Sarah fala. — Um, dois, três!

Ao ouvir isso, nos levantamos com as armas nas mãos.

Tenho tempo para olhar brevemente para toda a sala, e ver quais são as nossas chances. Poucas, constato.

Deve haver, pelo menos, cinquenta pessoas armadas, homens e mulheres, de roupas simples e rostos expostos. Isso contra doze de nós. Onze, corrijo-me mentalmente, não posso contar com Amar. A equipe de Ressurgente que veio para cá mais cedo tinha pelo menos 15 pessoas, mas posso ver muitas delas no chão. Mortas ou morrendo. E não acredito que os cabelereiros e produtores de TV que sobraram são bons lutadores.

Atacamos os homens corajosamente e até com um pouco de sincronia, eu diria. De repente, me sinto na Audácia novamente. Toda a raiva que eu descontava nos treinamentos da iniciação — raiva do meu pai, das facções, de mim mesmo — parece voltar com força. E então, torcer o braço de um homem que segura uma arma ao mesmo tempo que atiro com precisão em outro não parece tão difícil.

Tento procurar Tris em meio à confusão, mas isso acaba fazendo com que me derrubem no chão. Entretanto, consigo vê-la. Tris está lutando ao lado de Christina, e a cena consegue ser até mesmo reconfortante. Luto com o homem que me derrubou por alguns segundos, mas logo o derrubo, logo percebo que poucos deles são bem treinados, eles podem só estar oferecendo uma distração. Esse pensamento aumenta minhas preocupações. Levanto-me e, quando ele tenta pegar a arma que caiu ao seu lado, piso sem pena em sua mão. Ele grita de dor e pego minha arma. Aponto para sua cabeça, mas não atiro. A cena que vejo não é nem um pouco parecida com a de Christina e Tris.

Sarah e Jasper, nosso simpático apresentador, estão sendo encurralados contra uma parede por três mulheres e um homem. Eles estão desarmados, e todos estão ocupados demais para ajudá-los.

— Mate-a — Sarah diz para mim quando percebe que estou olhando, e parece que tudo para por um segundo. — Vou ter que me contentar em torturá-la no inferno.

Quando consigo me mover, é tarde demais. Duas das mulheres atiram, mais de uma vez, espalhando sangue por todos os lados. Corro para perto deles, e vejo que Christina aparece logo atrás de mim, já sem Tris. Acabamos com eles com muita facilidade. Raiva é a única coisa que está me impulsionando agora.

Não consigo ver nenhum resquício do carisma que Jasper tinha, ele apenas apresenta feições assustadas e um olhar vazio. No rosto de Sarah, porém, parece que ainda consigo ver um leve sorriso sarcástico, esperando para se gabar de alguma coisa.

— As duas Stanford morreram por minha causa, tirei duas garotas de seus pais — falo mais para mim do que para qualquer outra pessoa, e depois me viro para Christina: — Ninguém mais morre hoje.

— Precisamos sair daqui, então — ela diz.

— Eles são inexperientes, Nita deve ter mandado eles. Podem ser só uma distração. Você sabe o que vem depois de uma distração.

— É, eu sei. Fogo.

Nita com certeza vai explodir esse lugar.

— Vamos terminar logo, então — falo, e voltamos à luta.

Atiro na cabeça do homem que derrubei agora há pouco sem hesitar. Por Sarah, Jasper e todos os outros. Enquanto isso, Christina vai para cima de duas mulheres e as imobiliza rapidamente, mas não as mata. Vejo a luta terminando em várias partes das espaçosa sala.

Depois de mais alguns disparos, todos as pessoas que invadiram a força policial estão mortas. Com exceção de um homem. E este está com Tris, seu braço prendendo com força seu pescoço e uma arma apontada para sua cabeça.

— Largue ela — aponto minha arma para ele.

— Se atirar, ela já era — ele está suando muito, e sua mão treme. Sua voz soa desesperada. — Todo o seu esforço vai ser para nada. Sua vidinha vai estar morta.

— Tem uma bomba no prédio, não tem? — indago.

— Eu aplaudiria sua inteligência se não estivesse com as mãos ocupadas.

— Está disposto a morrer por Nita?

— Vão me matar de qualquer jeito — ele fala. — Mas se eu morrer, levo essa aqui junto — ele aperta mais um pouco o braço em torno do pescoço de Tris. — Ela não vai sair daqui viva, então escolham. Ou vocês morrem junto com a gente ou talvez ainda tenham a chance de correr. No momento, a garota é mais valiosa para Nita morta — ele ri com escárnio —, assim como eu.

Então passa por minha cabeça que ele pode ser minha melhor chance de chegar até Nita.

Sem ninguém saber o que fazer, Amar — que continua onde o deixamos, mas a mesa foi arrancada dali — diz para mim:

— Não faça o que todos esperam que faça, inclusive o seu inimigo.

De repente, uma enxurrada de memórias toma conta de mim.

Há muitos anos, quando eu era apenas um adolescente em uma nova facção, todos os iniciandos da Audácia se surpreenderam quando um dos instrutores me prendeu pelo pescoço, exatamente como Tris está agora, e apontou uma arma para minha cabeça.

— Existem ocasiões — Amar falara naquele dia, ficando de frente para mim e o instrutor que me prendia —, em que nenhuma das opções é favorável. Se eu atirasse no meu inimigo, seria um milagre se este não fosse rápido o suficiente para atirar na vítima — ele então mostrou uma arma para todos nós e piscou para mim. — Como perder a vítima não é uma opção, não faça o que todos esperam que faça, inclusive o seu inimigo.

De volta à cena atual, sussurro “Desculpe” para Tris, e, ainda com a arma na mão, abaixo e dou um tiro na perna dela.

O homem fica muito confuso e assustado, deixando Tris cair no chão. Liv corre para pegá-lo e o desarma.

— Não mate ele — peço enquanto corro para pegar Tris. — Ainda.

— Eu pensei que ia morrer — ela diz. — Mas não pensei que atiraria em mim.

— Era o único jeito — falo —, ou pelo menos era o mais rápido. Estamos correndo contra o relógio, não temos tempo de argumentar com ele que existe uma vida lá fora e ele ainda podia ser um homem bom se te soltasse.

— Obrigada — ela diz, e faz uma careta de dor quando pego-a em meu colo e mexo em sua ferida.

— Sobre ontem à noite, Johanna e tudo mais que fez, eu te perdoo — digo. — Não posso morrer e nem te ver morrer sem falar isso.

— Acha que vamos morrer? — ela pergunta.

— Vamos logo — Cara diz, e não tenho tempo para responder à pergunta dela.

Vejo que Derek pegou Shauna no colo porque ela não pode correr, e é isso que precisamos fazer. George e Peter servem de apoio para Amar poder andar, depois de muita insistência por parte dos dois e reclamações de Amar.

Corremos o mais rápido que podemos, com várias pessoas machucadas e os membros restantes da equipe de Ressurgente apavorados, em pânico. Cara fala palavras animadoras para todos eles não pararem. Faço bom uso delas para me tranquilizar também. Existem soltados mortos por todos os lados, o que explica porque ninguém nos avisou sobre nada, não deixaram, havia mais gente aqui.

Quando chegamos aos elevadores, George diz que é muito arriscado sair pela saída principal, então nos direciona até a escada de incêndio, e a parte mais difícil do nosso trajeto começa.

Não somos capazes de descer muito rápido segurando pessoas, o que acaba por atrasar o grupo inteiro.

Entretanto, conseguimos descer razoavelmente rápidos, e só faltam três lances de escadas para sairmos quando ouvimos um barulho. Peter, Amar e George rolaram alguns degraus.

Posso ver que Amar está inconsciente, e isso é péssimo. Ele é muito pesado e está com os trajes da força policial, ninguém vai conseguir carregar ele.

— Precisam tirar essas roupas pesadas — uma mulher de meia idade da equipe de Ressurgente diz.

O homem que estava ameaçando Tris, que estava apenas descendo as escadas calado até agora, limpa a garganta. Todos olham para ele.

— Pelas minhas contas — ele mostra um relógio em seu pulso — temos mais ou menos um minuto para sair.

Afinal de contas, ele deve ter desistido da ideia de morrer.

— Podem ir na frente — George diz. — Ele pode ter feito as contas erradas, e posso ter tempo de tirar ele daqui.

— George... — falo.

— Ele é meu oficial, o homem que mais acreditou em mim nesse mundo. Não vou deixá-lo. Mas você tem uma cidade para salvar. Vá.

Sem ninguém mais discutir, todos vão se afastando e logo estamos correndo novamente. A esperança de que ele pode conseguir mesmo sair de lá paira no ar, tanto que ninguém se despediu, mas sei que não é assim que as coisas acontecem. Tris também achava que conseguiria sair do Laboratório de Armas...

Finalmente alcançamos a última escada, e estamos muito próximos da porta quando ouvimos um estrondo muito grande. No entanto, sentimos seu efeito primeiro. Fomos praticamente jogados para fora do prédio, que agora está em chamas. Todos estão caídos no chão.

Amar está morto. Assim como George, Sarah, Jasper e mais tantos que nem sequer sei o nome. Meu corpo parece que age por si mesmo, com tanta raiva e remorso que sinto. Minhas mãos estão trêmulas, mas isso não parece impedir que eu me levante e comece a socar o homem que Nita enviou para matar os meus amigos. Faço isso até que não consiga ver seu olho, que está inchado e com uma coloração meio vermelha, meio roxa.

— Onde ela está?! — grito. — Onde?!

Sinto as mãos de Derek me tirarem de cima do homem e deixo que ele faça isso.

— Levem Tris para o hospital, e quem mais precise — digo simplesmente, depois de me sentar novamente no chão. Aponto para o homem que acabei de bater: — Ele vem comigo para a prefeitura. Vou fazer ele falar onde Nita está. Não vai ser bonito.

Shauna está com um ferimento feio no braço e outros mais leves pelo resto do corpo, assim como mais da metade da equipe de Ressurgente — metade daqueles que não morreram, é claro — e Peter se disponibiliza para levar todos ao hospital, mas todos os outros ficam. Antes de ir, Tris me olha séria, com um olhar de pura determinação.

— Ela é minha — lembrou. — Nita é minha.

***

Chegando à prefeitura, amarro Josh — descobri ser seu nome no caminho para cá — em uma cadeira e penso em maneiras de fazê-lo cooperar comigo. Nada que penso parece humano, então paro e respiro fundo, tentando me acalmar e colocar meus pensamentos no lugar. Mas a única pessoa que pode me acalmar está longe de mim.

— O que teria feito? — Josh pergunta, olhando diretamente para mim desde que o espanquei na saída do prédio. — O que teria feito se eu tivesse realmente matado ela?

— Você não estaria aqui, eu tenho certeza — falo.

— Iria só me matar?

— Não acha suficiente?

— Por matar o amor da sua vida? Não. Se alguém matasse Judy....

Não sei quem é Judy, e não me importo.

— O que você faria?

— No mínimo? — ele sorri um pouco, sadicamente, eu diria. — Torturaria a pessoa até ela implorar para ser uma cobaia das cidades experimento.

Sem tempo para responder ou pensar no que ele acabou de dizer, Cara chama a minha atenção.

— Vocês precisam ver isso — ela está com a televisão ligada.

Não entendo muito bem o que se passa assim que começo a olhar para a tela, vejo apenas várias multidões em lugares diferentes. Então uma repórter, em um estúdio de gravação em algum lugar começa a falar.

— As repercussões do último programa Ressurgente continuam alarmantes — ela diz. — Depois da invasão do prédio onde o programa estava sendo gravado, não se sabe até agora se houveram sobreviventes. Vamos ver um pouco do que está acontecendo nas ruas com o repórter Henry Black.

A imagem então muda, e mostra uma multidão de pessoas ao redor da Casa Branca, onde eu estive há algum tempo falando com as pessoas, até que focam em uma mulher.

— O que a senhora tem a dizer para todos os rebeldes que foram para a rua depois do programa de hoje? — o repórter pergunta.

— Se Tobias Eaton está morto agora — ela começa, parece ser uma mulher de meia idade, e parece cansada também, mas do tipo que não foge à luta — ele morreu para me lembrar de que tenho direitos, e que não é por causa de uma diferença nos meus genes que eu ser tratada como lixo, como estava sendo até agora. Portanto, o que eu tenho a dizer é: não parem de lutar. Por Tobias e por todas as pessoas que possivelmente morreram naquele lugar.

— Muito obrigado — o repórter diz —, voltamos com você, Dany.

— Como todos sabem, depois do ataque ao líder rebelde, milhões de pessoas foram às ruas reivindicar seus direitos. Como resposta do Governo, o presidente ordenou a prisão de Lauren. Seu nome verdadeiro é Juanita, ou Nita, e altas recompensas em dinheiro estão sendo oferecidas em troca de informações que levem à sua prisão. No entanto, o povo não se contentou, e continuam nas ruas, sem previsão para acabar com esse protesto em massa. Mais informações no próximo jornal. Boa tarde.

— Ual! — Christina exclama, e sei do que está pensado.

— Somos seus mártires — falo.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Espero as respostas de vocês nos reviews.
Vou avisar logo que essa semana, o último capítulo vai ser postado no Natal, então não vão precisar esperar muito, então estejam aqui dia 25!
Xoxo



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