Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 36
Capítulo 35


Notas iniciais do capítulo

A história está na reta final, espero que continuem gostando! Muito obrigada por estarem lendo.
Aproveitem o capítulo!



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Tobias

Depois que Liv e Derek vão embora, Christina, Tris e eu também não demoramos. Christina vai para seu apartamento enquanto eu vou com Tris para o de minha mãe. Chegando lá, encontro um bilhete dela dizendo que passará a noite no hospital porque vai passar por um tratamento que precisa de observação médica. Esse bilhete me mostra como tenho dado tão pouca atenção à minha mãe.

— Ela entende que você precisa dar assistência à cidade — Tris diz depois de ver minha expressão.

— E que assistência é essa que tenho dado? — olho para ela.

— Muitas pessoas morreram, mas eu tenho certeza de que sem você aqui as mortes seriam muito maiores.

— Você pode ter razão — falo —, mas isso não muda o que estou sentindo.

— Como eu disse sobre mortes...

Tris começa a andar pela sala impacientemente, parece que tentando se decidir, até que volta a falar.

— Preciso contar uma coisa a você — ela finalmente se senta no sofá e vou para o lado dela.

— O que foi? — pergunto.

— É sobre Johanna.

— Estou ouvindo.

— Eu a matei.

Perco o ar por alguns segundos. Não sei como reagir a isso. Eu sei que ela matou meu pai, e nem por um segundo fiquei bravo com ela, não posso ficar agora.

— Você estava sendo manipulada por Nita.

— Sim, eu estava — ela diz, e suspira antes de continuar. — Mas Nita disse que o seu informante, que agora sabemos que é Matthew, descobriu que Johanna sofria de uma doença do coração.

— Mas ela nunca disse nada, eu nunca a vi tomando algum remédio...

— Deixe-me terminar — ela pede. — Ela se consultou fora de Chicago e, ao que parece, os médicos disseram que a doença não tinha cura, e nem tratamento, que o máximo que ela podia fazer era evitar emoções fortes.

Então me lembro. Pouco tempo depois que eu comecei a trabalhar com Johanna, ela saiu da cidade por quase uma semana. Ela não disse o motivo, e eu não me atrevi a perguntar, achei que estaria me intrometendo em sua vida. Então ela foi fazer exames. Minha chefe estava perto da morte e eu sequer percebi.

— Nita já tinha planos de matar Johanna — Tris continua —, mas ela ainda não tinha certeza de como. Eu... dei a ideia de como matá-la. Johanna conhecia a minha voz, e eu liguei para ela no dia em que morreu. Disse a ela coisas horríveis sobre como a cidade iria perecer, fiquei falando até que ela largou o telefone e ouvi ela gritar o seu nome.

Penso em quanta coisa poderia ter evitado se tivesse tentado rastrear aquela ligação, como eu disse que faria.

— A última coisa que ela disse... Foi que você não merecia isso e que me amava — ela termina.

Ouvir isso é muito para mim. Levanto do sofá e começo a andar de um lado para o outro como Tris estava fazendo há pouco. Depois de um bom tempo assim, viro-me finalmente para ela.

— Por que está me contando isso agora?

— Porque... — ela hesita. — Eu tinha que contar, mas não encontrava coragem desde o dia em que recuperei minha memória. Mas depois de ver Zeke, e pensar no que pode ter acontecido com ele, e no que pode acontecer a nós dois a qualquer momento, não posso morrer sem que me perdoe.

— Não era você — não consigo sentir muito certeza em minha voz. Sei que Tris não tinha consciência da verdade, mas está sendo um pouco mais difícil de aceitar isso agora.

— Mesmo assim, você trabalhava com ela, e tinha admiração por ela — ela diz. — E, além disso, quero que me perdoe por todas as outras mortes que causei, morte de gente que você nem conhecia, mas sei que como um bom prefeito você sentiu. Eu não tinha minha memória, mas eu devia saber que matar todas aquelas pessoas era errado. Na verdade, eu sabia.

— Dizer isso não ajuda em nada.

Saio da sala sem dizer mais nada, tomo um rápido banho e deito na cama. Amanhã de manhã posso perdoá-la. Agora eu preciso de um tempo para absorver tudo que Tris fez. Sei que a culpa é de Nita, e sei que ainda quero passar o resto da minha vida com Tris, mas ela tem sangue nas mãos, sangue de gente inocente, e preciso descobrir como lidar com isso, só por essa noite.

No entanto, minha noite não dura muito, acordo com o celular tocando, é Liv.

— Alô, Liv — falo, com a voz afetada pelo sono.

— Precisa me encontrar na força policial — ela diz. — Agora.

— O que houve?

— Muita coisa, apenas chegue aqui rápido.

Levanto-me depressa e acordo Tris, que fica confusa por um momento mas entende que precisamos ir. Ela troca de roupa, assim como eu, e saímos. Não conversamos sobre tudo que falamos antes de dormir. Mas vamos ter tempo para isso mais tarde. Ou pelo menos espero que sim.

— O que aconteceu na força policial? — ela pergunta.

— Liv apenas me disse para chegar lá rápido — respondo. — Não sei o que aconteceu, mas ela não parecia desesperada.

— Espero que seja algo bom, então.

— Só nos resta esperar que seja — falo.

Tris vira a cabeça para a janela e não falamos mais nada até chegarmos. Não sei se ela está triste comigo ou consigo mesma, e prefiro não perguntar.

Quando chegamos lá, subimos direto até a sala de Amar e ninguém nos impede, provavelmente já foram avisados da nossa visita. Encontramos apenas Liv e Derek na sala, eles parecem discutir. Aparentemente não é o melhor dia para nenhum de nós.

— Mas eles foram nos ajudar! — Liv exclama. — Você não tinha o direito!

— Eles mataram várias pessoas! — Derek respode.

— Você matou várias pessoas! — Liv grita e logo depois nos vê.

— Desculpe se estamos interrompendo... — falo.

— Não, não estão interrompendo nada — Derek e diz e começa a andar na nossa direção —, vou chamar Amar.

— Está tudo bem? — pergunto para Liv depois que ele sai.

— Vocês se lembram de Mary e Rafi? — ela faz a pergunta, ignorando a minha.

— Sim — Tris responde.

— Eles apareceram no meu apartamento essa noite, contaram algumas coisas importantes para nós, e Derek ligou para Amar, agora eles estão presos.

— Eles não estavam ajudando Nita? — pergunto.

— Eles ajudaram-na a formar o exército que invadiu Chicago — Liv explica —, mas depois Nita não fez mais contato com eles. A força policial estava próxima deles, então nos encontraram, contaram tudo e iriam sumir.

— Muita gente morreu na invasão da cidade — Tris lembra.

— Muita gente morreu no ataque aos membros do Governo — Liv replica, e Tris fica calada.

Derek volta junto com Amar, carregando várias pastas cheias de papeis.

— O que está acontecendo? — pergunto.

— Sente-se, é uma longa história — Amar diz e todos nos sentamos em volta de sua mesa, onde foram adicionadas várias cadeiras.

— Bom — Liv começa —, como já expliquei a vocês, Mary e Rafi foram no meu apartamento contar coisas sobre Nita.

Liv então explica sobre os seis homens que foram presos no dia em que Anthony morreu, que eles deixaram o bilhete de Nita lá sem que ninguém percebesse, o que explica muita coisa. E também que os homens são de fora de Chicago, e podemos encontrar algumas respostas úteis com eles.

— Pela manhã eles serão trazidos aqui — Amar diz.

— Ótimo — falo. — Isso era o máximo que eles sabiam sobre Nita?

— Não — Derek fala —, eles nos disseram que Nita tinha uma coisa sobre o presidente, o que ela usaria caso seu plano fosse adiante.

— E o que é? — Tris pergunta.

Liv aponta para as pastas.

— Anos e anos de pesquisas e procedimentos terríveis envolvendo as cidades experimentos. Muitos deles assinados pelo atual presidente.

— Então quer dizer que estamos olhando para o possível fim definitivo das cidades experimento? — pergunto.

— Mais que isso, Quatro — Amar diz —, para a possível mudança de Governo dos Estados Unidos.

***

Passamos as horas seguintes lendo todos os papeis. No decorrer da noite nossos amigos vão chegando: Christina, Shauna, George, Trevor, Sarah e, mais tarde, Peter e Cara.

Até Sarah está aqui porque a toda a equipe do programa Ressurgente está em um avião nesse exato momento para cá, onde vamos gravar um quadro especial para expor toda essa história para as pessoas, ao vivo. Cada um de nós será entrevistado sobre os danos que os experimentos causaram à nossa vida.

Cara faz café para todos nós e é assim que conseguimos enfrentar a noite em claro e diante de tantas atrocidades. Os arquivos só pioram, relatos de médicos sem nenhuma compaixão, usando pessoas como se não sentissem dor, como se não sentissem absolutamente nada.

— Achei! — Shauna exclama e começa a ler o papel que está nas suas mãos. — “Hoje, depois da última reunião com o presidente, chegamos à mesma conclusão que chegamos em todas as outras: pessoas Geneticamente Danificados não podem mais ser tolerados em nosso país. Ganhei autorização do Governo para colocar em prática minha ideia. Posso finalmente começar os preparativos para as cidades experimento.”

— Isso vai ser ótimo para o programa — Cara diz —, mesmo que não tenha sido o atual presidente que escreveu isso.

— Tem mais — ela diz. — “O presidente me garantiu que os sucessores dele terão a obrigação de apoiar os experimentos enquanto a população não estiver limpa.”

— Contrariar isso seria um ótimo começo para você ser presidente, Tobias — Sarah diz.

— Ela tem razão — Amar fala. — Vamos começar o programa com isso. Continuem procurando coisas interessantes, ou horríveis.

Já temos depoimentos revoltantes de pessoas que foram tiradas de suas famílias para servir de cobaia para testes dos soros, pessoas que ficaram loucas, pessoas que foram resultados de falhas desses soros. São terríveis.

Ninguém deveria ter o direito de mexer com a vida das pessoas dessa forma, foram mais de um milhão de vítimas. E o que dói mais é saber que tantos amigos meus estão entre esse milhão, não deveríamos ter sido arrastados para dentro dessa guerra — que descobri ser muito maior que Nita ou Chicago, envolve todo um país. E é esse país que pretendo liderar, um país cheio de pessoas cansadas e machucadas por essa guerra. Preciso dar esperança a eles.

— Tobias — Tris me chama —, acho que encontrei uma coisa muito boa.

Quando pego o papel que ela me entrega, vejo ao final da folha a assinatura do presidente.

Começo a ler o relatório e é perturbador, sobre um novo plano, mais cruel que os anteriores.

— Pessoal — chamo a atenção de todos —, ouçam isso. É o projeto mais recente, aprovado pelo presidente, depois do aparente fracasso das cidades experimento. “Todas as crianças que nascerem de uma união entre uma pessoa Geneticamente Pura e outra Geneticamente Danificada deverá ser submetida a um exame para se designar GP ou GD. Caso a criança seja GP, deverá ser tirada da tutela dos pais para que seja criada em um ambiente predominantemente GP. Assim, as chances de que ela se relacione com um indivíduo GD e tenha filhos com o mesmo dano é quase inexistente. Indivíduos GD devem ser impedidos de reproduzir entre si, e devem ser mantidos juntos em alguma área específica que será futuramente estipulada. Esses indivíduos devem crescer, envelhecer e morrer, e os Genes Danificados devem morrer com eles.”

— Isso é terrível — George fala.

— Isso é segregação — Cara diz. — Não podemos deixar que isso aconteça. Eles querem isolar os GDs.

— Não vamos deixar isso acontecer — Derek afirma.

— Não — concordo. — Depois de mostrar tudo isso ao mundo, eles não poderão fazer mais nada.

— Pronto para ser chamado “senhor presidente”? — Sarah pergunta, e não posso deixar de notar o tom de sarcasmo em sua voz.

— Se tiver que ser assim... — respondo. — Minha mãe sempre disse que eu tenho jeito para a política.

Rimos um pouco nesse momento de tensão até cada um voltar a ler os relatórios. Mais ou menos três horas depois de amanhecer, ouvimos o barulho de pessoas chegando, e então alguém bate na porta.

Amar se levanta para abrir e quem entra é Jasper, o apresentador de Ressurgente, com uma grande equipe atrás de si. Com todo o seu carisma, ele se nos cumprimenta.

— Olá! Prontos para jogar toda essa verdade na cara do presidente?


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Notas finais do capítulo

Quero saber o que estão esperando sobre esse programa! Contem para mim lá nos reviews.
Xoxo



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