Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Esse capítulo é um dos que eu imaginei o final desde o início da fic, então eu espero sinceramente que gostem.
Quero logo desejar uma feliz Páscoa a todos vocês, que vocês se lembrem do verdadeiro sentido desse dia, que é a morte e ressurreição de Cristo, que foi pra que eu e você pudéssemos estar vivos hoje.
E chocolate também porque ninguém é de ferro! E quem quiser mandar chocolate pelo correio pra autora, eu passo meu endereço pra vocês ;)
Aproveitem!



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Tobias

— Não consigo acreditar, Anthony! — digo. — Acabou de perder oficiais e já vai fazer um grande evento para toda a cidade?

— Exatamente por isso — ele responde. — Já mandei comunicarem a imprensa, vamos ter muitas pessoas. Quero que o senhor faça um discurso lá, então esteja descansado e se vista bem.

— Não é possível que esteja preocupado com o que vou vestir — falo, incrédulo.

— Precisa passar tranquilidade para as pessoas, a certeza de que a situação está sob controle.

— A última coisa que está é sob controle.

— Mas não se melhora as coisas tornando isso público.

— Anthony — tento entrar em um consenso com ele —, existem medidas que podem ser tomadas em silêncio. Uma apresentação pública pode...

— Mostrar aos rebeldes que eles não ficarão impunes.

— Pode arriscar toda a cidade.

— Sei o que estou fazendo — ele diz.

— Tanto faz — desisto. — O que quer que eu diga?

— Que a cidade está totalmente segura, mas que pedimos a colaboração de todos para entregarem os rebeldes — ele explica. — Ah, e diga a todos que a punição para a traição, nesse caso, será a execução.

— Não acha isso um tanto radical? — pergunto.

— Não era assim na Audácia? — ele retruca.

— Sim, mas agora os tempos são outros...

— Sangue deve ser pago com sangue — Anthony diz, encerrando a discussão e saindo de perto de mim.

Volto-me novamente para Liv, que não está com uma cara boa.

Não sei o que realmente aconteceu. Ela estava ao meu lado, e, de repente, o clarão, o barulho, a correria. E ela não estava mais lá.

— Como se sente? – pergunto.

— Bem — ela diz, tentando se levantar, mas falhando miseravelmente. — Mais ou menos.

— Eu posso levá-la para casa — me ofereço.

— Não, eu realmente preciso de um tempo sozinha. Foi totalmente irresponsável o que fiz, e preciso de um tempo para saber o que estava se passando na minha cabeça — entretanto, por algum motivo, não acredito no que ela está falando.

— Não posso deixá-la sozinha, e muito menos aqui — digo, agora a ajudando a se levantar. — Não nesse estado.

Ela parece exausta, e não discute.

— Posso levá-la para meu apartamento?

— Nós não vamos... — ela parece ficar desperta de repente.

— Não me entenda mal! — falo. — Só não quero ficar sozinho.

— Não acho que é uma boa ideia.

— Por favor — peço.

Sei que Liv vai ser a única que não vai me fazer perguntas nesse momento. “O que vai fazer?”, “o que vai falar?”, “precisa de ajuda?”, “quer falar sobre isso?”. Mesmo com as melhores intenções, sei que meus amigos farão perguntas, e não quero respondê-las, e, por outro lado, se eu ficar sozinho, terei que responder às minhas próximas perguntas. Mesmo sem falar, a presença de Liv vai me distrair.

Ela me olha, pensa por um momento, mas consente.

— Só preciso falar com a enfermeira.

Ela sai e troca algumas palavras com a enfermeira, que está na ambulância adjacente, e logo volta com uma cartela de comprimidos na mão.

— O que é isso? — pergunto.

— É um remédio que tenho de tomar duas vezes ao dia na próxima semana.

— Quem mandou tentar ser a heroína de hoje? – tento brincar.

Ela apenas sorri de volta bem fracamente. Não estamos em clima de brincadeiras e sorrisos hoje.

Assim que chegamos ao meu apartamento, Liv vai direito ao assunto:

— Onde posso dormir?

— Na minha cama — respondo.

— E onde você vai dormir?

— Acha mesmo que vou conseguir?

Acompanho-a até o quarto e ela cai na cama sem cerimônias. Pego papel e caneta e tento esboçar um discurso na escrivaninha.

Depois de alguns minutos, Liv já começa a ressonar baixinho, mas algo me diz que ela está mesmo é chorando.

“Na hora as coisas fluem”, lembro-me que foi o que Richard me disse antes do meu discurso de posse da prefeitura. Na ocasião, tentei acreditar com todas as minhas forças, mas agora não é bem assim. Meus pensamentos não conseguem deixar Tris. Gostaria de saber se a ideia da bomba foi dela, e tento me apegar a ideia de que não foi.

Passo horas sentado, andando de um lado para outro, tomo banho, como, e o papel continua em branco. A invasão e todo o resto aconteceu de manhã e pegou parte da tarde, e, mesmo sendo quase dez da noite agora, Liv dorme, provavelmente com o efeito dos remédios, porém ela parece que está tendo um pesadelo agora.

— Não! — ela grita e chora ao mesmo tempo. — Fique, por favor! Não, não!

Levanto da escrivaninha, vou em sua direção e sacudo levemente.

— Der... — ela começa a dizer, mas acorda assustada. — O que...?

— Está tudo bem — tranquilizo-a —, foi só um pesadelo.

— Desculpe-me — ela diz, tentando se levantar, mas não deixo. Coloco sua cabeça no meu colo.

— Não se desculpe, acontece — eu que o diga.

Ela volta a dormir pesadamente logo depois.

Já dormi com Liv, e deveria sentir pelo menos desejo por ela novamente, ela está tão próxima. Mas não sinto nada além de querer protege-la de seus pesadelos, mas isso está fora do meu alcance.

Agora que Tris está de volta, sei, mais forte do que nunca, que não a esqueci, mesmo querendo fazer isso algumas vezes. Nunca realmente desejei Liv.

Ficamos assim até amanhecer, com Liv dormindo e eu me preparando para o dia que está vindo. E nunca pareceu tão certo estar com Liv, como amigos, e não amantes.

***

— Não está indo para uma festa! — Liv grita para mim uma última vez.

A manhã está avançando e não consigo decidir o que vestir, porém estou é procrastinando para sair, não quero participar de nada disso. Mas me obrigo a sair, Liv já está me esperando no sofá, ainda não cem por cento, mas muito melhor que ontem.

— Que tal? — pergunto, olhando para meu terno.

— Se se arrumasse mais, teria dito que contratou um estilista — ela revira os olhos. — Vamos.

Fazemos nosso trajeto em silêncio até o centro de Chicago, perto do novo prédio da prefeitura.

— Ele não fez isso... — Liv começa a dizer assim que descemos do carro.

— Ele fez — confirmo para meu próprio terror.

Parece que todos trabalharam muito durante o dia e a noite de ontem. Há um palanque no meio da rua, e uma mesa gigantesca com comida ao lado direito. Pessoas e mais pessoas enchem a rua.

— Prefeito! — ouço um grito e olho para cima do palanque. Anthony está me gritando de lá. — Suba!

Olho para Liv e subimos, sem termos outra escolha.

— O que é tudo isso? — pergunto.

— Um grande evento, prefeito, um grande evento — ele diz, cheio de si. — Por que demorou tanto?

— Levei muito a sério o que disse sobre eu me vestir bem.

— Fico feliz. Preparou o que vai falar?

— Na hora as coisas fluem — cito Richard, e sinto a falta imensa que ele faz. Penso em como tudo seria diferente, e até se eu estaria aqui se Richard tivesse sobrevivido. Com certeza não estaria.

— Espero que sim — Anthony fala. — Vou falar brevemente, anunciar a entrada do exército e passar a palavra a você.

— Tudo bem — digo.

Sento-me com Liv nas cadeiras dispostas no palanque e esperamos.

— Acha que isso fará efeito? — Liv pergunta.

— Só podemos esperar que sim.

Ficamos em silêncio até que Anthony coloca-se na frente do microfone.

— Bom dia, Chicago! — ele exclama, e as pessoas na rua vão, pouco a pouco, se calando. — Muito obrigado por comparecerem a esse evento, sei que os dias têm sido difícil, e que sair de casa pode ser uma atitude até corajosa. Mas hoje apresentarei a vocês os homens que guardarão estas ruas com suas próprias vidas, e que protegerão você a todo custo contra as ameaças de rebeldes.

“Como sabem muito bem, ontem, numa operação mal sucedida, perdemos um bom número de oficiais, e gostaríamos de honrá-los.”

E quando ele fala isso, aproximadamente dez oficiais, com Zeke entre eles, levam um caixão, simbolizando todos os que morreram. Eles colocam um tecido branco sobre o caixão e se colocam em posição de sentido.

E Liv desaba novamente, começando a soluçar.

— Meu... meu — ela tenta se explicar.

— Está tudo bem — abraço-a discretamente.

— Meu... meu... p-pai m-morreu a-assim — ela gagueja.

— Oh... — fico sem reação por um momento, e entendo por que ela agiu daquele jeito ontem.

Anthony termina a cerimônia com mais um discurso fútil e anuncia o exército. E tenho que admitir, é uma linda visão. Muitos e muitos oficiais, todos marchando em direção ao palanque.

Quando param, a cidade explode em vivas e aplausos. Sinto-me orgulhoso por pelo menos alguns instantes.

Anthony aponta para mim e os aplausos recomeçam. Pego o microfone e me dirijo às pessoas.

— Muito bom dia — começo —, esses são, como Anthony disse, os homens que os protegerão, e morrerão por vocês se preciso for. E aqueles que morreram ontem, como os que morreram no ataque à prefeitura, não morreram em vão. Terão justiça pelas mãos de seus amigos de trabalho, e nunca serão esquecidos. Nossa cidade estará segura, mas para isso precisamos contar com a ajuda de todos vocês, para denunciarem qualquer suspeita de ação rebelde que possam ter, e...

Anthony me interrompe e pega o microfone da minha mão.

— Desculpe, senhor prefeito, mas alguns oficiais que estavam fazendo a ronda na cidade acabaram de deter seis rebeldes!

Antes que eu tenha a oportunidade de processar o que ele está falando, alguns guardas sobem no palanque com seis pessoas presas, que são colocadas de joelhos de frente para o público.

— Muitos de vocês tinham familiares no Governo que morreram no primeiro ataque, outros, entretanto, perderam seus entes queridos ontem. Vocês querem justiça?! — Anthony incita o povo.

Gritos de concordância começam e fico inquieto, sem saber o que Anthony está prestes a fazer.

— Vocês provavelmente não têm consciência, mas as traições aqui serão pagas na mesma moeda. A punição para traição será a morte! — Anthony exclama. — E vocês, meus amigos, decidirão hoje o destino desses seis traidores.

No primeiro momento, o silêncio reina entre as pessoas, que ficam sem reação. Mas, de repente, uma pessoas mais corajosa eleva voz:

— Morte!

E, como se uma onda tivesse atingido todos depois dessa pessoa, a população de Chicago fala em uníssono:

— Morte! Morte! Morte! Morte!

— Anthony... — digo. — Não vai matá-los aqui, vai?

— Claro que não, e nem vou matá-los em lugar algum — Anthony me segreda. — Preciso interrogá-los.

Sinto um pequeno alívio, mas ainda não consigo ficar tranquilo.

Anthony faz um sinal para que as pessoas parem de falar e elas o fazem.

— Terão sua vingança, e, após serem interrogados, esses traidores não ficarão vivos até amanhã!

As vivas recomeçam e os guardas tiram os acusados do palanque. Anthony diz para a população que a cerimônia está devidamente encerrada e que todos podem se servir e comemorar pelo início da vitória contra os rebeldes.

— Anthony — chamo antes que ele tenha a oportunidade de descer.

— Esqueci-me de informá-lo, teremos nossa própria confraternização na prefeitura.

— Aqueles eram realmente rebeldes? — vou direto ao ponto.

— O que acha? — ele parece ofendido.

— Sinceramente não sei, pode muito bem ter sido apenas uma cena.

— Não foi, prefeito, eles foram pegos na frente do prédio que pegou fogo e admitiram ser rebeldes.

— Fácil demais, não acha?

— Aceite que podemos ganhar isso, prefeito.

— Está sendo imprudente.

— O que ganhou em ser prudente até hoje?

Anthony adora me lembra por que o odeio. Tento ignorar o que ele disse.

— Preciso estar nessa confraternização? — pergunto.

— Se não quiser, é claro que não precisa — ele diz. — Mas se tomarmos alguma decisão, não pode reclamar depois que foi sem o seu consentimento.

— E desde quando você me consulta para tomar decisões?

— As decisões mais enérgicas que tive de tomar, como essa — ele faz um gesto indicando o evento —, fiz por conta própria, mas acho que deveríamos discutir sobre nossas táticas daqui para frente.

— Vamos, então — decido, tentando acreditar que posso interferir positivamente nessa situação.

Chamo Liv e caminhamos juntos até a prefeitura.

— Não sabia sobre seu pai, me desculpe — falo para ela durante o curto percurso.

— Eu não falo muito disso, de qualquer forma, está tudo bem — ela diz, parecendo desconfortável, e não falo mais nada.

A prefeitura está tão arrumada quanto a rua. Fico agradecido por Liv estar comigo, já que ela e Anthony são as únicas pessoas que conheço.

Aperto algumas mãos e recebo alguns elogios de membros do Governo que nunca vi na vida, mas logo o champanhe começa a ser servido e Anthony, usando a janela de vidro do meu escritório como fundo, pede a atenção de todos.

— Muito obrigado por terem vindo, e por estarem ajudando o futuro dessa cidade. Antes de começarmos a discutir assuntos de guerra, proponho um brinde pelo início da nossa vitória e pela prisão dos primeiros rebeldes!

E então tudo acontece muito depressa.

O barulho.

O vidro se estilhaçando.

Anthony caindo no chão.

Os gritos.

Abaixo-me atrás da mesa junto com Liv e tento organizar meus pensamentos. Deve ter um ataque acontecendo, mas não ouço outros tiros.

Depois de muito tempo abaixado, tento me levantar, mas Liv segura em meu braço.

— Não vá! — ela pede.

— Acho que está tudo bem — respondo, e ela me deixa ir.

Passo por Anthony, que tem um buraco na cabeça, e confirmo que está morto. Não posso dizer que lamento, mas ele não merecia isso.

As pessoas começam a se levantar também, e tudo parece estranhamente calmo novamente.

Junto aos cacos de vidro da janela, vejo um pedaço de papel, que com toda a certeza foi jogado dentro do escritório na hora da confusão.

Não paro para analisar como a carta parou aqui, já que não estamos no térreo, mas a vontade de ler é maior que minha confusão.

“Há um exército do lado de fora da Cerca. Atenda minha ligação e se renda em paz, sem mortes, ou tomaremos a cidade.

Atenciosamente,

Sua velha amiga,

Juanita."

Nita. Sinto arrepios ao lembrar-me dela. Então ela está por trás dos rebeldes? Por trás do que aconteceu com Tris?

Meu celular toca e o desespero toma conta de mim. Tenho alguns segundos para tomar a maior decisão que provavelmente já tomei. Preciso escolher entre usar o tão indesejado exército de Anthony, ou deixar que os rebeldes tomem minha cidade.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Se gostaram, se não gostaram, ou se simplesmente quiserem falar que me amam hasuahsuahu os reviews estão aí para isso, até lá!
Xoxo.



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