Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Para quem gostou do prólogo, está aí o primeiro capítulo! Espero que gostem!



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Tobias

Cinco anos se passaram. Hoje faz exatamente cinco anos desde a morte de Tris. Cinco anos desde a pior dor que já senti, desde o pior vazio, desde a pior fase da minha alma.

As cinzas de Tris foram jogadas na cidade, assim que eu desci na tirolesa. Assim que fiz uma coisa para honrá-la, algo que sei que ela se orgulharia. Sendo assim, não sei como passar esse dia. Eu deveria levar flores ao seu túmulo? Ela não tem um túmulo. Nem um memorial. Ela foi toda e completamente espalhada pela cidade. A cidade em que ela cresceu, pela qual ela lutou, pela qual ela morreu. Minha ideia é ir para meu apartamento, ficar sozinho e lembrar.

Lembrar-me da primeira a pular. Lembrar-me de perguntar seu nome e dizer que ela poderia mudá-lo se quisesse. Lembrar-me de chamá-la de careta, da tortura que foi ver Peter a espancando, de vê-la sofrer pela morte de seus melhores amigos. Lembrar-me de como eu via nela não só a garota frágil da Abnegação, mas como uma Audaciosa digna. Lembrar-me da subida na roda gigante, das nossas paisagens do medo, do nosso primeiro beijo, de quando eu disse que a amava, de quando eu consegui ouvir sua voz mesmo estando em uma simulação, de como ela salvou minha vida, e de como eu salvei a dela. Algumas vezes.

Mas não vou poder deixar de repassar em minha mente as vezes que não pude salvá-la, das vezes que a deixei, das vezes que discuti com ela. E do dia que recebi a notícia de que falhei com ela, de que ela estava morta, de que eu não consegui protegê-la.

Enquanto penso nela, não posso deixar de notar como tudo mudou nesses últimos cinco anos.

Eu virei algo como um vice de Johanna Reyes, que se tornou a prefeita da cidade, aquela que nos representa ao Governo. George continua treinando a força policial, enquanto Amar e Zeke encontraram altos postos na mesma. Cara continua com as pesquisas ao lado de Caleb no Centro, mas foi morar em Milwaukee, onde estava junto de Peter.

Peter e Cara começaram um relacionamento, fiquei totalmente abismado quando pude ver com meus próprios olhos a mudança de Peter. Ele foi uma das pessoas que mais odiei, que tive vontade de matar, principalmente por machucar Tris. Mas ele escolheu esquecer seu passado, ele escolheu recomeçar do zero e escolhi dar um crédito a ele.

Depois de um tempo, começamos a nos encontrar periodicamente, eu, Zake, Amar, George, Cara, Shauna, Christina, Caleb e Matthew, para conversarmos. Funciona como algum tipo de grupo de apoio, por mais que não gostamos desse nome. Às vezes conversamos sobre as coisas que tem acontecido ultimamente, sobre coisas boas, mas às vezes nós conversamos sobre nossas perdas, nós nos lamentamos e apoiamos um ao outro. Lembramo-nos de Uriah, de Lynn, de Marlene, de Tori, de Al, de Will. Nos lembramos de Tris.

Apesar de ser difícil falar sobre todos: Zeke sofre ao falar de Uriah, principalmente, Christina ao falar de Will, Shauna ao falar de Lynn, falar sobre Tris era uma das coisas mais difíceis para todos nós, porque ela não estava no fogo cruzado quando morreu, ela devia apenas ter sido menos altruísta, ter deixado seu irmão ir. E por ela ter ido no lugar dele, encarar Caleb era uma das coisas mais difíceis que tinha de fazer, mas eu fazia, tinha de superar de alguma forma. Ela tinha sido parte de uma grande evolução, ela tinha tudo para viver, mas não. Ela, que era um símbolo de coragem e superação, morreu, e era difícil achar coragem sem ela, achar inspiração, achar uma maneira de encarar os fatos da vida. Da vida dura e difícil.

Em um desses encontros, Cara me perguntou se podia levar Peter. Eu disse “não” automaticamente, porém ela me explicou que ele era outra pessoa. Ele ajudava os outros, ele trabalhava e não sabia sequer como pegar em uma arma. Cara me contou que ele acha que perdeu a memória em um acidente na Centro, mas ninguém disse detalhes sobre as coisas que ele fez, só contaram o necessário para ele viver.

Decidi dizer que sim e tentar ter o máximo de paciência com ele, afinal, ele tentou matar Tris uma vez, porém ele a salvou em outra ocasião. E mesmo que ela esteja morta agora, ele me proporcionou mais um tempo na presença dela, e sou abençoado por ter tido todo o tempo possível com ela, e devo parte disso a ele.

No dia de sua visita, estávamos tensos porque nenhum de nós tinha afeição por ele. Esperávamos por um garoto rude e prepotente, achávamos que mesmo sem sua memória, a personalidade e caráter de Peter fossem os mesmos.

Estávamos redondamente enganados. Quando Cara chegou com ele, e apresentou quem ele não conhecia, ele conversou amigavelmente conosco sobre o trabalho, sobre a cidade, sobre a fronteira e outras coisas. Não havia nenhum vestígio de maldade, de sagacidade, de inveja ou de afronta em seus olhos. Ele era inocente, como uma criança descobrindo um novo mundo, sem nenhum passado, mas ansiando por um novo futuro. Um futuro bom, honesto, feliz. Era o tipo de olhar que eu nunca veria no Peter que orientei na iniciação da Audácia. Era uma nova pessoa. Era alguém que valia a pena.

De repente eu consegui me ver feliz, como eu não estava há muito tempo. Vi que tomar o soro da memória não foi uma atitude covarde da parte de Peter, foi uma atitude corajosa e até sábia, ele tinha muito que esquecer, e depois que o fez, pôde construir seu presente e plantar bons frutos para seu futuro, ele estava bem, e feliz, e bom. E Cara estava feliz com ele, ela estava o ajudando. Ela conheceu o verdadeiro Peter, e ajudou a formar o novo.

Depois desse episódio, Peter fazia eventuais visitas para nós e ficávamos felizes com sua presença.

Todos mudaram, não foi só com o Peter. Toda a situação de uma guerra fez com que todos mudassem. Um mais, uns menos. Mas todos mudaram.

Antes de ir para meu apartamento para passar em paz o final do dia em que se marcam 5 anos após a morte de Tris, porém, eu estava na minha pequena sala, organizando uns papéis. Aparentemente o lado de fora da Cerca estava exigindo muito de Johanna. De nós, já que eu participava arduamente de todas as decisões.

Aos poucos nossa cidade foi se tornando mais que um experimento, fomos nos tornando pessoas normais, sem distinção de genes, e isso foi, em grande parte, obra de uma líder de primeira. Apesar de sabermos que existiam pessoas que mesmo depois desse tempo estavam furiosas na fronteira por causa da desigualdade que aconteceu por muitos e muitos anos.

Arrumo alguns papéis em pastas e me preparo para sair quando ouço a voz de Johanna gritar:

— Tobias! Tobias! — não é um grito muito alto, mas é audível e soa aflito.

Corro para a sala dela e a encontro suando muito e com a mão sobre o peito.

— O que aconteceu?

— Prometa que vai assumir a cidade — ela diz.

— Mas o que aconteceu, Johanna? — repito.

— Prometa!

— Mas Johanna...

— Prometa! — ela agora sussurra.

— Eu prometo.

Dito isso, Johanna me olha uma última vez e vai caindo em meus braços, fechando os olhos. Tento ligar para unidade médica duas vezes até que me atendem, mas quando começo a dizer onde estamos e o que está acontecendo, coloco a mão no pescoço de Johanna e não encontro batimentos. Já é tarde demais.

A Prefeita está morta, e não sei o que me assusta mais: a ideia de não ter mais Johanna, uma pessoa com quem já me afeiçoei, ou se é a perspectiva de cumprir com minha promessa e governar a cidade.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Gostaram? Não gostaram? Comentem aí!



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