Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, sei que fiquei em falta semana passada com vocês, me desculpem, estava em uma crise criativa (e talvez as maratonas de Supernatural tenham algo a ver com isso).
Espero que gostem!



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Liv

Saímos todos depressa do apartamento de Cara, deixando Peter e as possíveis vítimas de assassinato — e consequentemente as pistas que pudessem levar a Derek — para trás, indo em direção ao hospital.

Tobias está desesperado, mas seu desespero é silencioso. Aprendi a identificar isso com Derek. A única pessoa com quem ele consegue falar sobre seus sentimentos sou eu, mas até ele conseguir confiar em mim para isso, tive de aprender a interpretar suas expressões para saber quando ele estava com medo, com raiva ou triste. ­­

Agora, no carro, Tobias está inquieto. Mexendo as pernas num ritmo constante, roendo as unhas e olhando discretamente para os lados.

Não sei como é ficar nessa dúvida, quando minha família morreu, eu vi com meus próprios olhos, não precisei esperar para saber notícias, deve ser torturante. Ele tentou ligar para o hospital, mas ele não podia receber informações pelo telefone. Ela está viva, essa é a única coisa que Tobias sabe. Mas sobre o estado dela ou se pode morrer daqui a segundos, ele está totalmente no escuro, todos nós estamos.

Tobias seria, com toda certeza, capaz de me matar agora mesmo se soubesse o que fiz enquanto fingia ser a boazinha que proporcionou o momento dele com seus amigos.

Assim que liguei para Zeke e disse o que tinha acontecido, fui para nosso prédio. Lá, Nita disse que seu informante — que até hoje não sabemos a identidade — contou que eles já tinham chegado ao apartamento de Tobias, e ela mandou que Derek fizesse a ligação.

— Ele não vai conseguir fazer com que Anthony mude de opinião — eu disse para Nita enquanto Derek ligava para Tobias. — Não viu o homem, ele está irredutível.

— Eu sei — Nita disse simplesmente.

— Então qual é o objetivo de ameaçar ele para que faça algo impossível?

— Digamos que isso é apenas um pretexto para que ele acredite mais nas nossas ameaças.

— Creio que ele já acredita — retruquei.

— Não está em posição de decidir isso.

— Você quer combater desigualdade com covardia.

— Pergunte sobre covardia para as pessoas que negaram remédios para sua mãe e comida para seus irmãos — ela disse, encerrando a discussão.

E ela falava a verdade. Justiça para meus irmãos e minha mãe, é a única coisa que me motiva, me faz ficar ao lado de Nita e participar desse banho de sangue.

Saí de perto de Nita e fui procurar Derek, que já tinha acabado o telefonema, mas ele disse que tinha treinamento na força policial com Trevor, e se despediu de mim com um beijo rápido.

Então fui para meu quarto e tentei descansar, mas não durou tanto quanto gostaria. Estava com a esperança de tirar um bom cochilo, já que as últimas noites têm sido conturbadas. Porém, depois de mais ou menos meia hora, ouvi um barulho estranho no quarto ao lado, o quarto de Abby. Parecia que ela estava passando mal ou algo assim.

Bati algumas vezes na porta e entrei quando não obtive resposta. A porta do banheiro de Abby estava aberta e ela estava no chão, perto da privada, vomitando.

— Está tudo bem? — perguntei.

— Eu pareço bem? — ela me olhou, estava muito pálida.

— O que houve? — digo enquanto ela se vira novamente.

— Nita... — ela disse, tentando se levantar. — Eu estava treinando com Beatrice e disse que ela era fraca demais. Aparentemente Nina ouviu, ela disse que preferia Beatrice, magra, rápida, inteligente, do que eu, que peso como um elefante e luto como uma tartaruga. E que, para eu vencer isso, preciso ser como ela, Liv, como a Beatrice, Nita joga isso em nossas caras todos os dias.

— E por isso passou mal? — perguntei, ajudando ela a ficar de pé.

— Eu meio que me fiz passar mal — ela admitiu. — Ando muito estressada, e não tenho comido desde ontem, o que não é nem um pouco normal, meu corpo não estava acostumado com isso...

— Está nos destruindo — eu disse muito mais para mim mesma do que para que Abby ouvisse.

Elas estavam nos destruindo. Nita, Beatrice e essa maldita vingança. Abby querendo parecer com a garota que odeia? Derek matando uma garota inocente? Isso não pode estar certo, eu não posso achar isso normal. Está nos destruindo. A todos nós.

— O que disse?

— Nada. Olhe, isso não é sobre ser igual à Beatrice, você sempre foi ótima nos treinamentos, não importa o que a Nita pense. Comparar você a Beatrice? Ela é um fantoche nas mãos da Nita.

— Como se não fossemos — ela comentou, se sentando na cama.

— De qualquer forma — continuei —, você não me parece o tipo que cede a isso.

— Tenho feito tantas coisas que nunca pareciam meu tipo... — ela disse. — E, se tenho que emagrecer, me parecer mais com Beatrice para sobreviver, vou pagar o preço. Preciso sobreviver até o fim, Liv, preciso ver que a vingança valeu a pena.

Isso soou tão idiota, principalmente vindo de Abby. Achar que ser igual Beatrice, fisicamente, faria ela sobreviver é loucura, não tem fundamento.

— Você precisa comer.

— Preciso descansar.

— Mas você...

Meu celular tocou e revirei os olhos quando vi que era Tobias.

— Péssima hora — murmurei antes de atender.

Ele queria que eu fosse ao apartamento de Cara, disse que o namorado dela, Peter, tinha achado pistas.

— Vou precisar sair — disse para Abby. — Mas quero-a forte amanhã. Coma algo, por favor. Vai é morrer mais rápido se continuar assim, e não vai durar para ver o resultado de nenhum dos seus esforços.

Dei as costas para Abby e voltei ao meu quarto, peguei minha bolsa e desci dois lances de escada até dar de cara com Beatrice. Eu poderia ter jogado ela da escada naquele momento se ela estivesse em degraus suficientemente longes do chão.

— Onde está indo? — ela perguntou.

— Não tem nada a ver com isso — retruquei.

— Ah, mas eu tenho — ouvi a voz de Nita, vindo do pé da escada.

— Tobias me ligou. Peter achou algumas pistas, preciso ir ao apartamento de Cara — expliquei. — Agora.

— Ligue para Evelyn, a mãe do prefeito, antes de sair — ela disse. — Quero-a no apartamento do filho assim que ele sair.

— Para quê?

— Não acha que fiz ameaças vazias, acha?

— Quer que eu ligue e atraia ela para a morte?

— Não é burra.

— E se algo falhar, e se ela não morrer? No momento em que ela abrir os olhos vai contar quem a chamou para o apartamento dele.

Se ela sobreviver, o que é uma possibilidade muito remota, não vai se lembrar de nada, ou vai estar com a memória confusa. Caso se lembre, você pode dizer que ela bateu a cabeça, que nada aconteceu, se ela persistir, dê um jeito de terminar o trabalho.

— Tudo bem — concordei, sem disposição para uma discussão que perderia. — E como eu faço isso?

— Dê uma desculpa, faça uma voz meiga, tanto faz.

Disquei o número dela que já tinha no meu celular, por ordem de Nita, e esperei.

— Alô? — Evelyn disse do outro lado da linha.

— Sra. Evelyn? — eu disse. — É a Liv, vice-prefeita de Tobias.

— Olá, querida. Posso te ajudar em alguma coisa?

— Sim, na verdade. Teria alguma possibilidade da senhora ir ao apartamento de Tobias daqui a... meia hora, talvez?

— Aconteceu alguma coisa, querida?

— Não exatamente, mas a cidade está para ficar um pouco conturbada, deve ficar em maior segurança em seu apartamento. Pelo menos por hoje.

— Por que Tobias não me ligou?

— Ele é o prefeito, está muito ocupado.

— Aposto que está — ela soltou um risinho —, até para a mãe. Mas é a vida, não é? Obrigada por avisar, querida.

— Por nada.

Desliguei o telefone sabendo o que ia acontecer, e o que seria minha responsabilidade. Mas não havia saída, de qualquer modo.

Agora, sem saber se ela viverá ou morrerá, finjo estar preocupada, mas como pode um assassino se preocupar com sua vítima?

***

Quando chegamos ao hospital, antes de descermos do carro, avistamos alguns repórteres. Tobias faz cara feia.

— Não tenho tempo para eles — diz.

— Ninguém vai chegar perto de você, somos seis para ter dar cobertura, não precisa responder nada — Zeke garante.

Enquanto caminhamos, eles aproximam seus microfones, mas ninguém consegue chegar perto de Tobias, que está no centro de um círculo que é encabeçado por Zeke e fechado por Christina. Shauna segue mais lentamente atrás de nós. Mas isso não os impede de fazer perguntas:

— Por que sua mãe estava sozinha no seu apartamento? — perguntou uma.

— Como se sente quando um ataque com certeza direcionado a você não teve sucesso?

— Quem fez isso?

— Tem suspeitos, prefeito?

Depois que Chicago deixou de ser um experimento, atraiu tantos repórteres, que pareciam achar assunto muito interessante qualquer coisa um pouquinho fora do normal que acontecesse na cidade.

Finalmente conseguimos entrar, e como somos um grupo razoável de pessoas, atraímos olhares curiosos. Tobias para na recepção e pergunta para uma atendente loira com agradáveis olhos cor de mel.

— Onde posso ver minha mãe? Seu nome é Evelyn.

— O se-senhor é o pre-prefeito Tobias, não é? — ela gagueja, aparentemente surpresa de o prefeito estar se dirigindo a ela.

— Sim, preciso saber da minha mãe.

— Ela está recebendo os devidos socorros, o senhor pode se dirigir à emergência. No final desse corredor, vire à direita — ela aponta para o corredor.

— Obrigado — ele diz, e, sem perder tempo, segue na direção que a atendente mostrou.

Quando percebo que os outros não se moveram atrás de Tobias, paro também, mas Zeke faz sinal para que eu continue.

— Vá com ele — diz.

Aperto o passo para alcançar Tobias, e viramos à direita onde uma placa diz “EMERGÊNCIA” em letras vermelhas.

— Não podem ficar aqui — se adianta um enfermeiro, colocando uma das mãos no ombro de Tobias, que a tira com violência.

— Sou o prefeito, preciso ver Evelyn, minha mãe.

— Ah, sim, senhor — o enfermeiro diz, embaraçado, e depois me olha. — Só a família, por favor.

Tobias me olha, mas, por fim, segue com o enfermeiro, me deixando para trás.

Volto à recepção, para Zeke e os outros.

— Acham que ela vai sobreviver? — Christina indaga.

— Vamos torcer para que sim — diz Cara. — Se ele perder Evelyn, não quero ver o que vai acontecer.

Ninguém diz mais nada até que Tobias volta, ele tem a expressão ainda mais preocupada, se é que isso é possível.

— Ela está... — Shuana começa — viva?

— Sim — ele responde. — Mas vai para cirurgia agora, eles não me disseram o que houve, apenas que acham que há algo errado com a cabeça dela, e fora isso ela está machucada, queimada e inconsciente.

Não posso dizer que não estou aliviada. Duas vezes aliviada. Primeiro, Evelyn não está morta, pelo menos não por enquanto, e, segundo, ela está com algo na cabeça, isso pode significar que ela não vai lembrar de nada.

— Ela vai ficar bem — Cara diz.

— Espero que sim — ele parece exausto. — Amar me ligou quando saía da emergência.

— O que ele queria? — pergunto.

— Anthony pediu algo para George, ele está treinando força policial em quantidade extra.

— Não entendo — diz Zeke —, não vi nada de diferente.

— Está de férias, Zeke — Shauna diz.

— Mesmo assim, eu seria comunicado...

— Ninguém foi. Amar ficou sabendo da quantidade real só hoje, por isso me ligou. Anthony disse a George que ele não podia contar a para mim. Parece que Amar não segue à risca as regras da cidade como George.

— O que ele quer fazer com um... — Christina parece escolher a palavra mais adequada — exército?

— Proteger a cidade dos rebeldes, acho — Tobias diz. — Ele quer que eu vá ver o treinamento agora, mas disse que não vou sair antes da cirurgia da minha mãe acabar...

— Eu posso ir — digo, mais animada do que teria planejado soar. — Quero dizer, acho melhor ver com o que estamos lidando logo. Eu posso ver como estão as coisas e passar tudo para você. Para isso serve a vice, certo?

Tobias pensou por um instante, mas não estava realmente querendo recusar.

— Tudo bem, sabe onde fica a base da força?

Sim, é lá que o amor da minha vida está, queria poder gritar.

— Sim, já passei por lá.

— Ótimo — ele diz. — Seu carro ficou no apartamento de Cara, vou chamar um táxi.

Como tínhamos vindo todos no carro de Tobias, que era muito grande e comportava todos nós, sento novamente e fico esperando o táxi. Mas, quando Tobias desliga o telefone, pede para que eu levante.

— Podemos conversar lá fora por um instante antes de o táxi chegar?

— Claro — respondo, e o sigo para o lado de fora.

— O que foi? — pergunto.

— Avisei para Amar que está indo no meu lugar. Quero pedir que tome muito cuidado. Observe, faça perguntas tanto quanto necessário, mas tome cuidado, eu não sei o que esses rebeldes querem, não sei nem o que Anthony quer. Pode estar correndo risco de ir até lá.

Lembrando de que, acima de tudo, tenho um personagem a representar, fico na ponta dos pés e beijo Tobias levemente nos lábios.

— O que foi isso? — ele pergunta.

— Queria que tivesse certeza que vou tomar cuidado.

— Não é tão simples, Liv — ele diz, colocando uma mão em meu rosto.

— O que é que está te perturbando tanto sobre eu ir lá?

— Guerra. Amar usou essa palavra — os pelos da minha nuca se eriçam quando ele acaricia meu rosto. — Anthony está se preparando para uma guerra.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? O que acham que vai acontecer daqui para frente?
Vejo vocês nos reviews, kisses!



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