Tipos de amigo escrita por Ana C Pory


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Achei essa fanfiction num momento de inspiração. Não sei se posso nomeá-la de fanfic, mas mesmo assim a publicarei. É engraçado o fato de que, no momento em que escrevi ela, a achei muito ruim e não publiquei, mesmo sendo de um desafio do Nyah!. Mas agora a publico, em parte porque mudei minha opinião, em parte porque eu ainda estou no meu momento de inspiração e talvez seja mais um passo para escrever mais histórias e voltar à meu antigo hábito.
Agradecimento à besta feliz da Ana Elisa.



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A sala de aula ainda estava vazia quando passo pela porta e pouso minha mochila e meus livros em cima da última mesa, sempre a perto da janela. Chegar cedo não era opção minha: o único ônibus daquela hora era sempre as sete e quinze, então trinta minutos antes eu estava sempre na sala de aula.

Retiro o livro de leitura obrigatória da mochila e tento lê-lo: nunca fui fã de leitura, apesar das pessoas dizerem que me expresso bem. Mas que pessoa que se expressa bem provavelmente vai pegar um resumo do livro na internet, só para tirar um mísero seis e meio no trabalho mais importante do ano?

Para convencer a mim mesma que as pessoas estavam certas, tento enfiar a minha cara nesse livro. São só cem páginas, Annelise. Cem páginas. Você pode ler.

Bato o livro na minha cabeça, pensando num cenário em que as palavras voariam dele e entrariam na minha mente. Desvio meu olhar para a janela, pensando o quão estúpida sou por pensar isso, e encaro o relógio passar com seus ponteiros. Não, os ponteiros não passam. Eles se arrastam.

Quinze minutos depois, começa a chegar os colegas. Primeiro, a Julianna, que se enfia num canto e não fala com ninguém, mas todos sabem que tem uma paixonite pelo Bruno, palhaço da sala. Pensando nele, ele já chega à sala, e ao vê-la com somente eu (tentando enfiar minha cara dentro do livro) e ela, dá um sorriso provocador. Julliana se encolhe na cadeira e finge não notar.

Logo após muitas tentativas do Bruno puxar a conversa, que propositadamente estava na frente da Julianna, chega mais gente: Rebeca, Gabriela. As duas estão sempre grudadas, com as mesmas roupas, mesmo estilo, mesmas opiniões, lendo os mesmos livros, vendo os mesmos filmes. Quando elas se posicionam, uma ao lado da outra, começam a debater sobre uma maquiagem, só que é claro ficaram sem assunto, pois têm as mesmas opiniões.

Então chega Rafael, que se senta perto do Bruno e os dois começam a conversar tranquilamente enquanto Julianna está agarrada no caderno de Geografia como se fosse a última esperança de sua vida, com o rosto completamente corado. Logo, chega o Rodrigo, que se senta na frente da sala e fica olhando para a porta, como se não houvesse ninguém de interessante ali. Ele não deu um mísero oi aos garotos ao seu lado, que começaram a zombá-lo.

Uma garota cujo nome se chama Natália chega à sala, rodopiando, como se o ar fosse algo muito divertido. Ela larga as suas coisas em cima da mesa e começa a desenhar no seu caderno, sem falar com ninguém, mas com um ar muito alegre. Fica ali até olhar para Rodrigo e chamá-lo, para começar a tentar envolvê-lo no clima da sala de aula. Ele parece estar meio rabugento, então não liga muito para ela.

Bruno começa a bater o pé no chão e chamar atenção de Rodrigo, então começo a observar a briga aguçada entre os dois garotos: comédia misturada com lógica (irracional, é claro). Não sei quem eles querem enganar, pois já os vi trabalharem juntos muito bem.

O que percebo é que ninguém me nota, ali, no fundo da sala, encostada com a cabeça na janela e observando todos de um jeito que poderia ser considerado constrangedor. Todos estão ocupados com os outros, e quase não percebem a minha presença.

O sinal bate e entra mais o resto da sala, como sempre, como todos os dias. Os últimos alunos, apressados, chegaram à sala correndo e vermelhos de suor. Jogam suas coisas de qualquer jeito em cima da mesa e se viram, sorrindo abobados e com o cabelo bagunçado, como se chegar atrasado à aula fosse a coisa mais engraçada do mundo.


Depois dos incríveis longos períodos, quase todo mundo da sala sai com uma rapidez que não se mostrava aparente na hora dos exercícios, e só sobra os “mais lentos”, ou seja, os que estavam saindo da sala em um ritmo normal. Entre eles, eu, a Julianna, o Gustavo do canto da sala, Rodrigo e mais um garoto que não soube identificar, pois saiu quase correndo da sala de aula após perceber que seus amigos já tinham passado. Eu pego o livro de leitura obrigatória e estou subindo as escadas do terceiro andar quando uma mão toca meu ombro.

— Caramba! — grito, jogando o livro para cima, o que com certeza não fez muito bom à ele. Bateu em cima do teto e saiu rapidamente em direção ao chão, e por puro azar o dono da mão estava bem no lugar. O livro bate com força na cabeça dele, que se apoia no corrimão e o recolhe do chão.

— Ahn, desculpe-me, Annelise. Eu só queria falar com você. Se quiser, compro um livro novo — ele diz, e percebo que se trata de Gustavo. Olho para ele, tiro o livro de sua mão de qualquer jeito e solto despreocupada:

— Na realidade, eu ficaria feliz se você se livrasse dele mesmo. Não estou com saco para lê-lo, apesar de ser leitura obrigatória. Agora, se me der licença...

— Ahn... Ah, lembrei. Annelise, por que você está indo ao terceiro andar? — pergunta Gustavo, massageando a cabeça com a mão.

— Estou indo à biblioteca — digo. — Tentando ler o livro. E preciso fazer isso logo. — Quando ele se dá conta, já estou subindo novamente as escadas e abro a porta da biblioteca.

A biblioteca está quase sempre vazia, sem quase ninguém. Porém, quando abro a porta, vejo duas presenças no fundo da biblioteca. Eles aparentam ser alunos, e estão rindo de alguma coisa. Não ligo e enfio minha cara no livro.

Estou quase terminando o quarto parágrafo quando a risada novamente me perturba. Com raiva, bato o livro em cima da mesa e olho para quem está rindo tanto.

Dois amigos, um garoto e uma garota, estão apontando para o livro de Filosofia e inventando apelidos estranhos para os pensadores da época medieval. Zombam do rosto deles e de como parecem “modestos” nas fotos. Como um clarão, lembro que o trabalho de Filosofia sobre a amizade também era para hoje, e rapidamente vou à última página do livro — em branco — e pego uma caneta emprestada com os tais alunos. Encaro a folha, tentando pensar como eu descreveria a amizade.

Suspiro, arranco uma página do caderno e escrevo com a letra meio torta:

“Amizade é algo engraçado de se ver: pode ser tanto aqueles amigos que no fundo se gostam ou amigos exatamente idênticos. Além de tudo, ainda podem ser aqueles amigos que conversam tranquilos e são cúmplices de tudo. Há, inclusive, como se não bastasse tanto, aqueles amigos que brigam e brigam, e que todos dizem que nunca vão se dar bem, mas no fundo ambos sabem que são amigos, mesmo não admitindo. Amizade é algo engraçado, algo fora do comum, algo mágico. Amizade é pra se preservar, amizade é para se levar para a vida inteira.”

Escrevo ainda por cima, no fim da folha “Por que então eu não tenho amigos?”, mas acabo por pegar minha caneta e rabiscar a frase. Bem, pelo menos agora eu sei o que escrever no trabalho de filosofia. Fecho o caderno e olho para a mesa, e o livro que tentei ler ao início do dia parece ficar de puro enfeite em cima da classe.

— Nossa, que coisa mais depressiva — eu escuto alguém dizer e meu instinto imediato foi guardar o livro embaixo da mesa e olhar ao lado. Gustavo está ao meu lado, com um sorriso sem graça no rosto.

— Há quanto tempo está aí?

— O suficiente para ver a frase rabiscada — ele responde, e eu o fulmino com o olhar.

— Não ouse dizer uma palavra pa... — começo, mas ele revira os olhos. Suas mãos estão escondidas no bolso do casaco, então não posso detectar seus sentimentos. Há poucos anos, eu e Bruno descobrimos que suas mãos tremem quando ele fica nervoso, e desde então ele as têm escondido no bolso do casaco.

Garoto esperto.

— Deixa de irritar, Anne — diz ele, bagunçando meu cabelo e sentando-se na classe de trás. De repente, lembro que esqueci de uma parte: como Rodrigo e Natália. Escrevo na folha de caderno “Como pode ser apenas um pessoa a puxar a amizade entre dois, e no fundo sabemos que aquela amizade pode significar algo tão próximo de amor quanto à simpatia”.

Gustavo lê a frase e esboça um sorrisinho.

— Ou como nós — diz, e posso ver uma pequena tremedeira por trás de seus bolsos. — Mas eu apostaria no amor.


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