Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 40
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Notas iniciais do capítulo

O ultimo capitulo da história!



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Vi os primeiros raios solares pairarem através dos prédios de Berlim. O céu estava azul. Completamente limpo. As nuvens estavam róseas. Os meus olhos continuavam semicerrados devido à intensidade da luz. Anne continuava dormindo sobre o meu peito. O pingente da Cruz do Sol foi logo para as minhas costas, mas não dou a mínima para isso. Ainda lembro das mãos da Anne tocarem a Cruz. Isso foi no momento em que ela acabara de suturar a minha ferida. E bem antes de cairmos no lago, onde nós beijamos.

Anne também acordou. Ela ergueu o rosto para mim, me olhando nos olhos.

– Bom dia, Richie. - ela falou.

Eu a olhava contente e feliz. Lhe falei a mesma coisa. Nenhum pesadelo neste dia. Tampouco estresse pós-traumático. Mas sinto que a situação poderá piorar a cada momento. Posso até estar errado, mas tenho impressão de que isso não está cheirando muito bem.

São oito horas da manhã. Anne se levantou para se espreguiçar. Eu fiquei um pouco tenso. Os fãs que ganhamos, a fama que conquistamos, a nova vida... Tudo vai ser diferente no exato momento em que a gente pisar no solo bávaro. Em Munique.

Ouvimos batidas na porta. Me levantei da cama para ver quem era. Uma voz feminina respondeu:

– Sou eu. - era a Margot.

Abri a porta. Ela estava toda arrumada.

– Vocês irão partir daqui às onze horas. - Onze horas? Só agora que ela fala. - Precisam se apressar. As lemitzes virão arrumar o quarto de vocês.

E fechei a porta. Antes disso perguntei:

– E aonde você vai?

– Eu vou falar ao Gen. Bertrand sobre a volta de vocês e o trem aonde estarão.

E assim fechei. Imediatamente me viro para a Anne.

– Como a nossa sorte mudou. - foi o que ela falou.

Lhe ofereci o quarto, enquanto eu me trocava no banheiro. Escolhi uma camiseta azul escuro, uma calça jeans, um tênis (um Adidas azul índigo que acabei de ganhar de uma fã, ontem à noite) e um casaco preto.

***

Logo que terminamos de arrumarmos a bagagem e de nos vestir, descemos pelo elevador. Anne estava belíssima com uma camisa rosa, calca cáqui, bota de camurça marrom e um cardigã vermelho.

Logo que a porta do elevador se abriu, Margot nos escoltou até a porta, onde - novamente - havia uma multidão de fãs gritando, cujo no cartazes erguidos estava escrito "Heinrichanne, nós amamos vocês!"; "Vocês são uns fofos!", etc, etc.

Estamos em um Fox novamente. Os fãs corriam atrás de nós, gritando, embora as janelas do carro estejam fechadas. Me encosto no assento e fico refletindo sobre como as coisas vão mudar. Deixaremos a nossa antiga casa na periferia para uma nova casa na cidade. Não que sejamos pobres, mas somos da classe média. Não há distinção de hierarquia, mas de etnia.

Como eu dizia, Hitler II planeja fazer uma espécie de limpeza étnica.

Chegamos à estação ferroviária. A velocidade do carro foi o suficiente para despistar os fãs. Mal saímos do carro, já tinha um trem Maglev à nossa espera. Um trem só para nós. É uma pena que Margot não possa vir conosco, pois além de trabalhar aqui, ela mora aqui.

Enquanto os carregadores colocavam as nossas bagagens no trem, Margot se despedia da gente. Eu lhe fiz uma pequena charada:

– A pergunta que não quer calar: quando nós nos veremos outra vez?

Nós três rimos. Margot respondeu:

– Assim que tudo der certo. - e nos abraçou. - Estejam bem. Um dia nós nos veremos outra vez, ok?

Anne e eu assentimos.

– E obrigada por nos orientar antes do Reality. - agradeceu Anne.

Vi uma lágrima sair do olho direito da Margot, borrando o delineador.

– Assim fica feio. - brinquei. Anne me deu uma cotovelada. - Qual é, foi só uma brincadeira!

Nós três caímos em gargalhada. Fomos mais uma vez envolvidos no abraço bem confortável. Tive impressão de que estivesse perdendo alguém tão querido para mim. Sibilei afagado no abraço de Margot.

– Escreverei para você.

– Obrigada, Richie. - até Margot me chamou de Richie.

Ouvi o condutor gritar:

– TODOS A BORDO!

Sabe, largar-se de um abraço de uma pessoa tão querida me deixa um pequeno vazio dentro de mim. Anne também deve ter sentido isso. A mesma coisa que fiz com a minha família e com os meus amigos, sobretudo a Elise. Até me lembro dela correndo com o trem em movimento.

Assim que a porta se fechou, procurei me sentar. Anne ficou inerte diante da porta. Um vagão só para nós! Bem mais espaçoso que aquele da ida. Esse daí é de Primeira Classe. O condutor nos aconselhou a sentar, pois a velocidade do trem pode variar. No centro do compartimento, há uma "árvore de bandejas", contendo inúmeras opções de iguarias. Pego um cupcake de chocolate com um glacê de baunilha com gotinhas de chocolate sobre ele. Anne pegou apenas um dounut de chocolate.

Vi Berlim se afastar de nós, desaparecendo sob pequenos prédios de subúrbio. Eu mal posso esperar para chegar em casa e encontrar a minha família unida. E abraçar a Elise. E Edith e Moe. E os demais colegas da escola e da vizinhança. Anne está pensativa, olhando pela janela. Me sento ao seu lado.

– Pensando na vida? - puxei um assunto.

– Apenas refletindo sobre ela. - Anne respondeu, indiferente.

A sua atitude me fez sentir culpado e constrangido. Mas não tardou para ela se preocupar comigo.

– Desculpe se eu te ofendi. - ela se desculpou, constrangida.

– Não, - falei. - Não tem problema nenhum. Eu é que não devia ter te incomodado.

– Não tem problema, Richie. Às vezes reflito sobre o que vai acontecer depois de um bom tempo isolados em um floresta. Depois de ganharmos fama, fortuna, inclusão social... Mas o que vai ser dos demais? Continuarão sendo tratados como lixo.

Essa reflexão me fez pensar em Edith. Ela é uma judia. E eu, um ex-judeu. Ela ficaria em quarentena para o resto da vida, se dependesse de Hitler II no poder. Mas a Guerra poderia ou não ser uma esperança.

Todo sofrimento é passageiro. Ainda penso nas palavras de Sophia, quando ela estava morrendo.

Anne se recostou em mim. A ouvi falar:

– Tomara que esse pesadelo acabe.

– Eu também. - murmurei.

Após uma hora de viagem, o trem fez uma parada para colocar combustível. Fomos autorizados a sair do trem para esticarmos as pernas. Em um posto particular para trens Maglev, há uma loja de conveniências.

Aproveitei a oportunidade para comprar umas coisinhas. Até perguntei se ela queria uma coisa, mas ela recusou gentilmente. Assim que entrei na loja, ninguém me reconhecia. Ufa, ainda bem. Vaguei pela loja, até encontrar um pacote de rosquinhas de chocolate com gotinhas de chocolate. Elise adorava aquilo. Ela iria gostar, com toda certeza.

Comprada o pacote de rosquinhas, voltei direto para o trem, onde encontrei a Anne sentada ouvindo música. O fundo musical vinha dos alto-falantes de teto. Eu reconheci a letra. Era aquela música, Still loving you. Me sentei ao seu lado, para apreciar a letra e a música que passava. À medida que o refrão passava, uma mão tocou as costas da minha. Percorri o olhos até encontrar os da Anne. Olhos grandes e verdes se encontrando com os olhos grandes e azuis.

***

Depois de quatro horas de viagem, não levando em conta a parada para botar combustível, chegamos ao nosso destino. Não havia ninguém nos recepcionando, a não ser um taxista da prefeitura de Munique.

As malas foram postas no porta-malas do carro e seguimos rumo à periferia. Aliás, pra que rumamos à periferia, se daqui a uma semana, não estaremos morando lá? Mas ela será uma lembrança para mim e para a minha família.

Vejo as ruas de Munique movimentadas por parte dos arianos. Eles estavam olhando para mim. Assim como para a Anne. Parecia que estavam dizendo, apontando para nós como, "Olha eles aqui!"; "São eles!"; "Eles voltaram para nós!"... Eu nem preferia tocar no assunto.

Depois dos maus bocados pelos quais passamos até sermos famosos, isso deve explicar um bocado. Parece que o boato do nosso beijo subaquático deve circular bem mais rápido do que as notícias da Guerra. Ouvi dizer que a Alemanha tomou o Piemonte, na Itália, como uma vingança da Primeira e Segunda Guerras, ambas por ter deixado a Alemanha na mão.

O taxi parou em frente à minha casa. Anne morava bem depois da minha. Daqui a uma semana, eu irei morar bem próxima da dela. Enquanto o taxista descarrega a minha bagagem, eu peço à Anne para conhecer a minha família.

– A menos que você esteja com pressa. - falei. Mas ela aceitou.

Então, voltei para o motorista:

– Moço, você não faz questão de esperar mais um pouco, porque ela vai descer comigo?

O homem era muito simpático. Sempre sorridente.

– Não, sem problema. - ele respondeu. - Eu não tenho pressa. Trabalho para a prefeitura.

Sorri de volta. Anne desceu. Na hora em que eu abri o portão, lá estava o encorajamento que a Elise fez. Anne se surpreendeu.

– Belo encorajamento, heim? - disse. - Foi alguém da sua família que fez? - Na verdade, foi a minha irmã mais nova.

– Ah, você tem uma irmã? - ela se surpreendeu. - Claro. Somos do tipo "pseudogêmeos fraternos". Somos muito parecidos um com outro. Apesar de eu ser quatro anos mais velho que ela.

Anne riu. Eu bati na porta, silenciosamente. Toc toc. Nada, a não ser que a tenham deixado no trinco. Abri cuidadosamente, pois quero fazer-lhes uma surpresa.

Ao entrar, ouço murmúrios vindos da sala de estar. Avanço pé ante pé, sem fazer um gesto em falso. Pedi à Anne que esperasse. Logo, encontrei a minha família reunida na sala de estar, discutindo sobre a minha chegada para cá. Fiquei escorado à esquina do hall da entrada com a sala. Deixei que conversassem à vontade, até eu fazer uma simples pergunta:

– Com licença, tem alguém aí em casa?

E com isso, em uma súbita alegria, Elise veio correndo em minha direção para pular nos meus braços.

– HEINRICH! Você voltou! - e ela pulou nos meus braços, para um abraço apertado.

Minha mãe vinha acompanhada do meu pai, para me abraçarem também.

– Oh, meu filho! - minha mãe chorava me abraçando. - Graças à Deus! Você voltou!

– Mãe, eu senti muito a sua falta! - minha voz começava a ficar embargada. Imagina a da minha mãe, então.

– Eu sabia que você iria voltar para nós.

Eu assenti. Era muito bom sentir o aconchego da família bem perto de você. Senti uma mão tocar o lado esquerdo doombro. Era o meu pai.

– Filho... - disse.

Eu o encarei por alguns segundos. Depois o abracei profundamente.

– Pai, muito obrigado por me dar força. Por me motivar.

Causei uma grande emoção nele. Nunca o vi tão emocionado daquele jeito.

– Eu sabia que você iria contar com isso, filho. - ele falou. - Sabia que você nunca desistiria.

– E eu sabia que nunca iria decepcioná-lo. - falei, ao olhá-lo no rosto.

– Eu estou tão orgulhoso de você, Heinrich.

– Obrigado, pai.

Nós desfazemos o abraço aos poucos, até a Elise perguntar:

– Quem é ela? - ela se referia à Anne.

– Ah, - já ia me esquecendo da presença da Anne aqui na nossa casa. - Elise, mãe, pai, esta é a Anne. Anne, estes são os meus pais. E ela é a minha irmã, Elise.

– Olá, Anne. - minha mãe.

– Oi Anne. - meu pai.

– Olá, Anne - Elise.

– Ah, - Anne disse. - bem que o seu irmão tinha razão. Vocês dois meio que aparentam ser gêmeos.

Elise riu. Os meus pais também.

– Todo mundo fala isso. - falou o meu pai.

– Até as minhas amigas. - Elise completou com um sorrisinho.

Todos nós rimos. Sinto um cheiro gostoso vindo da cozinha. Era uma torta de limão. Nham nham!

– Vamos pessoal, a torta já está a caminho! - disse a minha mãe. - Ah, e fique a vontade, Anne.

– Obrigada, sra. Holger.

– Pode me chamar de Hanneli.

Anne sorriu. Todos nós fomos até a sala de estar. Exceto eu, que retirei o pacote de rosquinhas que comprei para a Elise e fui direto para o seu quarto, onde o escondi na primeira gaveta da sua cômoda. Depois, ao invés de descer para cear, fiquei parado, divagando. Divagando, não. Ponderando. Sobre o futuro.

– É só isso?


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Notas finais do capítulo

Pode parecer que é muito triste a história acabar. Mas aguardem a segunda fic da trilogia Survival Game: O Pesadelo!
Bjos e até 2015!

P.s.: a música mencionada no capitulo é da banda alemã Scorpions.