Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 22
21




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/551910/chapter/22

Agora as pequeninas manchas escarlates passaram a ser urticantes. De coceiras à queimação. E o pior, se tocar, arde, mas não tanto assim.

– Agora eles deram para nos perseguir... - resmunguei.

– Vamos dar o fora! - Otto gritou. Nós pusemos a correr.

Enquanto corremos pela longínqua floresta, pude perceber que os raios solares iluminavam a trilha. Percebi pela luz no meu rosto. Corremos a plenas pernas, na esperança de que os marimbondos se dispersassem o mais cedo possível, na esperança de que eles morressem. Em meio a essa correria, ouvi um grito de Lewis. Parece que ele acabou de ser picado. Pude ver que ele esconde a picada no pescoço com a mão direita.

– Pessoal, ajude o Lewis! - gritei, carregando-o com o braço dele passando por sobre o meu pescoço. Os outros vieram em nosso socorro, porém todos nós estamos exaustos, principalmente eu, que fiquei a madrugada toda de vigia.

Tropeçamos galhos, troncos caídos, na tentativa de escapar dos marimbondos teleguiados e urticantes. Vi que era o fim da linha, o nosso fim, através de uma moita gigante, que poderíamos nos esconder, mas seria tarde demais, pois os marimbondos iriam saber o nosso paradeiro. Também, nossas pernas já não agüentavam mais correr, pois doíam demais e se tirássemos as botas, só veríamos carne-viva no lugar de tornozelos. Esperei pelo fim. Até Lewis e Hermann se despediam um do outro. Com um saldo incontável de manchas urticantes nas extremidades do corpo, fechei os olhos e esperei a morte chegar, o que realmente não aconteceu: os marimbondos passaram a voar para o alto e explodiram em fogos de artifícios, tornando o céu roxo um espetacular clima de Ano Novo, ou um Oktober Fest no amanhecer.

Suspiramos fundo e caí em um tapete de musgo. Observei as minhas mãos. Elas estavam deploravelmente repletas de caroços escarlates, até os punhos. Tive certeza de que até o meu corpo inteiro estava manchado e encrespado.

– Essa foi por pouco! - suspirou Hermann, que apresentava poucas partes manchadas. Mas o de Lewis foi bem pior: tinha no pescoço e no queixo.

Quis encontrar um remédio ou uma pomada para picadas, mas não encontrava, a não ser bisturis, alicates, tesouras e curativos. Mas, por outro lado, encontrei um lago bem pequeno, bem perto dali. Como as minhas pernas estavam praticamente mortas, fui rastejando até o lago e quando vi o meu reflexo, gritei de susto. Os marimbondos também atingiram o meu pescoço. Malditos marimbondos teleguiados e urticantes! Talvez a água possa curar essas minúsculas feridas, pensei, mas hesitando.

– Heinrich, o que você vai fazer? - Otto perguntou.

Respirei fundo e me arrisquei a colocar a mão na água, o que me causou uma desagradável ardência, o que me forçou a berrar de dor. Mas a foi passageira, pois a minúscula mancha sumiu de uma hora para a outra. Esfreguei a mão na outra.

Dei a notícia para eles.

– Pessoal! A água retira as manchas e os caroços! - mas lamentei. - Apesar de ser um procedimento bem doloroso, é claro.

O pessoal relutou em fazer isso, é claro, mas sorte nossa que a água é doce, porque se fosse salgada ou salobra, seria a mesma coisa que mergulhar um ferimento em uma salmoura. Arderia pra caramba! Mas tiveram que enfrentar a dor.

Retirei o casaco, desabotoei a camisa de baixo. Ao verificar, não tinha nada! A não ser a Cruz do Sol entre as pontas das clavículas. É, só pegou as extremidades do corpo.

Abotoei de volta e vesti o casaco, em seguida. Otto e Hermann se queixavam de dor, mas Lewis ficava parado, com medo de enfrentar a dor.

– Ah, meu Deus! - Lewis se pelava de medo.

– Não seja medroso, Lewis! - Otto reclamou. - Quer morrer envenenado pela urtiga dos marimbondos?

– Prefiro morrer a ter que mergulhar a ferida na água! - rebateu.

– Calma, não precisa ficar apavorado. - tranqüilizei. - É só não olhar, fique tranquilo, tá bom?

Lewis duvidou, mas logo aceitou. Peguei-o pela mão que estava saudável, pois eu suspeitava de que o caroço poderia ser contagioso. Levei a mão com calma e a megulhei rapidamente, pois se fosse lento, o procedimento seria extremamente doloroso. Não deu outra, Lewis gritou de dor.

Trabalhoso demais, mas deu pro gasto. As manchas das regiões afetadas pelos marimbondos já se dispersaram e Lewis ficou curado, embora um pouco encharcado.

– Você quase me mata! - ele sibilou.

– Mas devia me agradecer por ter salvo a sua vida. - censurei. Ele sorriu.

Ouvi um grito feminino. Um grito agudo. Veio lá de cima. O que será que houve ali? Temi que esse grito fosse da Anne. Quer dizer, embora que eu fique de mal com ela, depois de tudo que ela fez ontem de manhã, não quero que nada de mal aconteça a ela. Me arrisquei para ver de onde veio o grito, escalando uma trincheira natural, repleta de musgos, briófitas, pteridofitas e rochas. Apesar de ser muito íngreme, não era tão difícil de escalar. No momento em que cheguei ao topo, me deparei com uma coisa assustadora, muito fora do normal.

– Pessoal, vocês precisam ver isso aqui. - chamei, fazendo um gesto para subirem.

Eles vieram e tiveram a mesma reação que eu. Atrás de um pinheiro, havia uma figura escarlate inchada. Uma arte surrealista, a meu ver. Ou abstrata. Fui adiante, pé ante pé, até o meu coração sofrer um impacto profundo. Tomei um grande susto ao saber que aquele grito era da Stella, que outrora era uma garota. Agora seu corpo estava horrivelmente desfigurado. O cabelo com a mecha cor-de-rosa, agora um couro cabeludo em carne-viva. O corpo, eu nem vou mencionar, de tão horrível que estava. Basta só tocar no inchaço, que el estoura em questões de segundos. Stella agora era uma imensa massa vermelha em decomposição, de sangue, é claro, quando de repente, Anne apareceu na minha frente. Ela parecia aflita.

– O que você está fazendo aqui? - ela perguntou, apontando o indicador direito para mim, enquanto a outra mão segurava o arco.

– Eu é que pergunto, o que você está fazendo aqui? - eu rebati, chutando a massa vermelha, que foi a mão, para o lado.

– Eu estava fugindo! - ela respondeu. - Você devia fazer a mesma coisa!

– Ah, essa é boa! Primeiro me parte o coração, ao se aliar ao bando da Frieda, agora tem a cara de pau de me proteger! - tirei satisfações com ela.

– Para o seu governo, eu me aliei para salvar a sua vida. - ela replicou.

– Para salvar a minha vida? Ah, conta outra, Anneliese!

– Escute aqui, - brigou comigo, apontando o indicador na minha cara. - pode até parecer inútil para você, mas você não sabe o que eu passei na minha vida, desde a morte dos meus pais!

– Ah, sei sim... - fui interrompido pela chegada repentina de Desmond, que estava com o rosto cortado.

– Anne! Heinrich! Ainda bem que encontrei vocês! Vocês não sabem o que aconteceu! - ele parecia ofegante. - um exercito de marimbondos quase mata montão de gente aqui, chega que as marcas eram urticantes!

Ele também sentiu! Ele também foi atingido!

Eu também fui atingido. - falei.

Desmond não conseguia acreditar. Anne levou a mão à boca, aflita com o que eu terminei de dizer.

– Mas a água doce pode curar. - conclui, por fim.

Anne e Desmond se entreolharam, mas pude ver que uma das mãos dela foi atingida pelos marimbondos.

– Anne, - alertei. - dê uma olhada na sua mão.

Anne obedeceu, mas seus olhos se esbugalharam com o caroço escarlate. Fiz de tudo para protegê-la, mas ela olhou para a frente. Passei a mão na sua frente para acordá-la, mas do nada, gritou para eu correr. Eu não entendi.

– Obedeça! - me ordenou. - Frieda já sabe de tudo! Corre!

Foi logo que virei o rosto, que Frieda apontava uma faca na minha direção.

– Traidora... - murmurou Frieda, apontando a faca não para mim, mas para a Anne. - Eu já entendi tudo que se passava entre você e sardentinho. - ela referiu sardentinho a mim.

– Foi um simples... - antes que eu pudesse continuar, ela me cortou.

– Cala a boca, garoto! Eu entendi que a sua namoradinha se infiltrou no nosso bando para te proteger!

– Namoradinha?! - Anne e eu indagamos em um coro uníssono.

– Eu entendi perfeitamente o que ela quis dizer com o "deixar eles morrerem". - Lorne veio, com uma arma na mão. - Só para proteger o namorado.

– Nós não estamos namorando! - Anne debateu. Poxa, eu bem que queria estar namorando com você, se não fosse por isso!

– Eu tenho uma ideia bem melhor! - Frieda falou, com os olhos semicerrados.

– E qual é? - Lorne foi preparando a arma.

– Mate os dois!

Tudo bem, essa, com certeza, é a hora perfeita para correr. A puxei pelo braço e juntos, pulamos a trincheira. Otto, Lewis e Hermann também foram. Desmond nos seguiu. Aí, começa uma verdadeira corrida pela sobrevivência.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Survival Game: O Começo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.