Mosca acordou minutos depois, novamente no quarto dos meninos no orfanato raio de luz. Havia saído do cristal. E para sua surpresa alguém o esperava lá, parado em sua frente, o espírito maligno de Brian, que o observava com amargura.

***

– Está feliz com o que viu? – Perguntou o espírito o encarando. Mosca nada disse. Então Brian continuou. – Eu fiz uma pergunta! – Gritou.

– Não! – Exclamou Mosca.

– E o que aprendeu com isso? – Perguntou Brian.

– Não sei… – Disse Mosca.

– Mas eu sei! – Afirmou Brian. – Você viu, o que pode acontecer num momento de raiva? Somos capazes de tirar a vida das pessoas, sem pensar duas vezes. – Afirmou Brian. Mosca novamente ficou em silêncio. – Então acho que você só confirmou o que eu já havia lhe dito antes, somos iguais Felipe, e um dia você vai matar todos que entrarem no seu caminho! Até mesmo aqueles que ama! – Completou.

– Você tá enganado. – Discordou Mosca. – Não somos iguais. – Completou.

– Claro que somos, afinal você me matou! – Lembrou Brian, sarcástico.

– É eu matei… – Confirmou Mosca. – Mas isso não me torna igual a você, porque eu fiz isso pra defender minha irmã! – Completou. – Já você fez porque foi fraco! – Afirmou. Nessa hora Mosca despertou a fúria de Brian que o atacou, e dessa vez para a surpresa de Mosca, o espírito conseguiu o atingir.

– Eu tava me defendendo! – Afirmou Brian.

– Matando a Olive, e a própria mãe? – Perguntou Mosca.

– Como ousa debochar disso? – Perguntou Brian, afastando-se. Nessa hora Mosca notou que o espírito pareceu abalado.

– Não tô debochando! – Disse Mosca. – Na verdade eu entendo você. – Completou, surpreendendo Brian. – Sua vida não foi nada fácil. Crescer carregando a culpa pela morte da irmã, sendo desprezado pelo pai, pelos colegas, foi um abalo emocional grande. – Afirmou Mosca. – Você só explodiu da forma errada.

– Não preciso da sua pena! – Gritou Brian.

– Eu não tenho pena de você! Você tentou estuprar minha irmã caralho, e só porque ela se parece com a garota q você amou! Mesmo que isso não faça o mínimo sentido! Eu não me arrependi de ter me vingado de você, mas sei que também agi de forma errada. Porque ninguém é digno de tirar uma vida. – Disse Mosca. – E é por isso que eu não guardarei rancor, por que a vida só nos dá o que merecemos. Se eu te matei, foi porque você tinha que morrer, e eu aprender uma lição. Então eu te agradeço Brian…

– Como é que é?! – Perguntou Brian, surpreso.

– Você me mostrou que não podemos resolver nada com ódio no coração. – Concluiu Mosca, deixando Brian sem saber o que dizer. – Eu perdoo você Brian, e peço perdão por ter tirado sua vida. – Disse.

– Mas eu não te perdoo por ter me matado! – Afirmou Brian, irritado.

– Você devia perdoá-lo Brian… – Disse uma terceira voz, surpreendendo ambos. Mosca identificou como aquela mesma voz doce que sussurrava em seu ouvido nas lembranças de Brian, que por sinal, a voz de uma garota.

– Ísis?! – Exclamou Brian, estático.

– Olá, meu irmão… – Cumprimentou Ísis, com um discreto sorriso.

Minutos antes…

Após conversar com Mosca, Ana resolveu subir para o quarto das meninas, para descansar um pouco sua mente. Ao chegar lá, a mesma foi para frente do espelho e passou a desfazer seu penteado. Porém, enquanto mexia no cabelo, a mesma sentiu algo estranho, um clima diferente, logo decidiu olhar para trás, porém nada viu, mas quando virou para o espelho novamente, levou um grande susto, ao ver que atrás de seu reflexo havia outro.

– Ai minha nossa senhora! – Exclamou, com a mão no coração, ao ver que se tratava do espírito da garota, Ísis.

– Eu não quis assustar você. – Disse Ísis. – Só queria conversar.

– Conversar comigo? – Perguntou Ana.

– Tá vendo mais alguém aqui? – Perguntou Ísis.

– Calma, é que fiquei surpresa, já que você foi bem rude agora a pouco. – Disse Ana.

– Peço desculpas, é que eu estava chateada, por causa do meu irmão… – Afirmou o espírito.

– Irmão? – Perguntou Ana surpresa. – Você tem um irmão?

– Tenho, e ele já tá me fazendo perder a paciência com esta história! – Confirmou Ísis, porém em vez de esclarecer as coisas, esta apenas confundiu a cabeça de Ana ainda mais.

– Espera, eu não tô entendendo nada! – Perguntou Ana. – Será que primeiro pode me explicar quem é você? E o que está fazendo aqui? E quem é esse seu irmão? – Pediu.

– Tá, não precisa ficar estérica. – Disse Ísis. – Eu já disse quem eu sou, sou Ísis. – Lembrou. – De início eu vim aqui pra vigiar o meu irmão, e tentar leva-lo comigo, mas aí a Maria acabou me vendo, e como eu não queria assustá-la dizendo que sou uma fantasma, preferi fingir que era a sua boneca, e tava sendo bastante divertido brincar com ela, mas isso acabou me desviando da tarefa de buscar meu irmão caçula.

– Mas espera, quem é o seu irmão? – Perguntou Ana assustada.

– É o Brian. – Respondeu Ísis.

– Como assim caçula? – Perguntou Ana. – Ele é adulto e você uma criança! – Reparou.

– Nem sempre foi assim. – Disse Ísis. Logo esta tocou no braço de Ana e a revelou o dia e a forma como morreu. Ao ver aquilo, Ana ficou chocada, e sem entender. Logo Ísis explicou tudo o que aconteceu, após o dia de sua morte. Porém explicou que sozinha, não conseguia se comunicar com Brian, pois ele estava rodeado de trevas, e precisaria da ajuda da mesma. – E então, você sabe como me ajudar?

– Eu acho que sei… – Disse Ana. – Vem comigo! – Exclamou correndo.

Agora…

Brian não conseguiu acreditar no que via diante de seus olhos, aquela era realmente sua falecida irmã, a qual havia morrido à duas décadas atrás, e por sua culpa.

– Não consigo acreditar… É você mesma? – Perguntou Brian, ainda em choque.

– Sim Brian, sou eu mesma… – Falou Ísis, o encarando. Nessa hora Brian não se conteve, então foi em direção a irmã e ajoelhou-se, passando a chorar em seus pés. – Me perdoa Ísis! Eu não queria que tivesse acontecido tudo isso. – Implorou aos prantos.

– Eu sei… – Disse Ísis, emocionando-se. – Levante-se, por favor… – Pediu. Brian levantou-se, passando a chorar mais ainda, logo, Ísis decidiu abraçá-lo. – Fique calmo Brian, tudo vai ficar bem agora…

– Eu não sabia sobre a asma! – Exclamou Brian, soluçando.

– Eu sei… – Repetiu Ísis. – Você tá perdoado. – Revelou.

– Mentira! Você me odeia, porque eu matei você, o Bernardo, nossos pais e a Olive! – Disse Brian.

– Não, eu não odeio… – Disse Ísis.

– Eu queria poder concertar tudo! – Exclamou Brian. – Queria voltar ao dia em que devia ter te salvado! Tudo seria diferente! – Afirmou.

– E você pode. – Disse Ísis. – É só desejar… – Completou. Nessa hora Brian a encarou confuso. – Estou falando sério, tente… – Pediu sua irmã. Logo, o mesmo acalmou-se, e fechou os olhos tristemente, desejando voltar ao dia do acontecimento que mudou sua vida. E como um passe de mágica, Mosca viu o espírito transformar-se em uma criança, de quatro anos, o qual Ísis pegou no braço.

– Tá tudo bem meu irmãozinho, agora podemos ser felizes… – Disse. Então, o pequeno Brian sorriu e abraçou a irmã. Nessa hora Ana entrou no quarto. Então Ísis sorriu para a garota, que sorriu e assentiu, logo Ísis e Brian, foram envolvidos em uma luz branca, que os levou. Deixando apenas Ana e Mosca no quarto.

Mosca ficou surpreso com toda a situação, direcionando o olhar para Ana, confuso.

– Não se preocupa Mosca, ela o levou para o outro lado, onde ele vai fazer um tratamento de purificação, para que sua alma possa reencarnar outra vez. – Explicou Ana, deixando Mosca ainda mais confuso.

– Então quer dizer que, acabou? – Perguntou Mosca.

– É Mosca… A maldição foi quebrada! – Confirmou Ana. Nessa hora, Mosca abriu um sorriso expressando alívio, e em seguida abraçou Ana, emocionado.

– Eu nem consigo acreditar Aninha… – Disse aliviado.

– Pode acreditar, você tá livre. – Disse Ana, feliz pelo amigo.

***

No dia seguinte…

Todos tomavam o café para ir à escola em seguida, com exerção de Mosca, Ana, Mili e Bia. Sendo as duas últimas chamadas por Mosca que decidiu contá-las as ótima notícia no pátio.

– E então Mosca, o que você tem pra contar? – Perguntou Bia.

– Vocês não vão acreditar… – Disse Mosca, sorrindo.

– É algo extraordinário! – Disse Ana, também sorrindo.

– Você já sabe Ana? – Perguntou Bia, surpresa.

– Sim eu sei. – Disse Ana.

– Mas quem vai falar sou eu. – Disse Mosca.

– Ai, conta logo Mô! – Pediu Mili, curiosa.

– A maldição do Brian foi quebrada! – Exclamou Mosca, deixando as garotas surpresas.

– Mentira!!! – Exclamaram as duas.

– Verdade! – Disse Mosca. Logo o mesmo contou tudo o que havia acontecido na noite anterior, surpreendendo as garotas mais ainda.

– Nossa, eu to passada! Mas, essa é uma ótima notícia Mosca! – Disse Bia, feliz pelo amigo.

– Eu sabia que você ia conseguir… – Disse Mili, abraçando o namorado.

– Obrigada por confiar em mim. – Disse Mosca, retribuindo. – E tem mais, eu serei eternamente grato a Ana, e a sua mãe, porque se não fosse a ajuda de vocês, eu não teria conseguido. – Acrescentou, direcionando-se a Ana.

– Não tem de quê, você também fez muito por mim. – Disse Ana.

– Que bom que tudo acabou bem! – Disse Bia.

– Pois é, hoje nada pode estragar minha felicidade… – Disse Mosca sorrindo. Porém, mau sabia que…

– Mosca… – Interrompeu Pata chegando no pátio.

– Oi Pata! – Atendeu o garoto.

– A Carol quer falar com a gente antes agora. – Avisou. Logo o garoto seguiu a irmã até a diretoria.

Na diretoria…

– Chamou a gente Carol? – Perguntou Mosca.

– Chamei. – Disse Carol.

– Aconteceu alguma coisa? – Perguntou Pata.

– Bom Crianças, o motivo que eu os chamei, é o seguinte… – Iniciou Carol. – O pedido de guarda da tia de vocês foi aceito, vocês terão de se mudar pra casa dela. – Avisou, deixando ambos desconfortáveis com a notícia. Mosca nada disse, apenas ficou pensativo, então pata perguntou.

– E quando, teremos que ir? – Perguntou Pata.

– Amanhã mesmo… – Respondeu Carol.