Living escrita por Absolutas


Capítulo 23
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Hey, leitoras!! Demorei, eu sei, mas não por falta de inspiração, é a típica falta de tempo para escrever mesmo; espero que entendam. Com o fim do ano se aproximando, meus afazeres vão só aumentando. Mas, sem mais delongas, espero que gostem.
Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/551016/chapter/23

Capítulo 18

As explosões já haviam parado há algum tempo, mas eu mantinha meu escudo envolta do grupo entristecido a minha frente. Não podia negar minha tristeza mediante ao ocorrido, ainda que não convivesse tanto assim com Kiara, eu a admirava. Ela era uma garotinha incrível, com um futuro brilhante como guerreira. Katherine, Josh e Lorena eram os mais abalados, embora Taylor não ficasse muito atrás. Elliot apenas me olhava com uma expressão triste e confusa. Eu sabia que ele sentira a morte de Kiara, não tanto quanto restante de nós, nem perto; mas ele era bom o suficiente para se comover com a morte de uma criança.

– Dorothea, chegou antes do que prevíamos. – sussurrou.

– Sim. – respondi. – Bem antes.

– Só estou estranhando a pausa... – murmurou.

– Eu também. – mordi o lábio inferior. – Ou as bombas dela acabaram, ou está se preparando para outro ataque.

– Acredito que seja a segunda hipótese.

Eu assenti e me aproximei mais dos outros. Lorena e Josh estavam ajoelhados ao lado do corpo de Kiara, a qual tinha a cabeça repousada nos joelhos da irmã que chorava desesperadamente. Suas mãos tremiam enquanto acariciavam os cabelos ruivos de garotinha falecida. Jeff e Chloe haviam se juntado ao grupo e olhavam a cena com descrença. Eu podia ver Ian ao longe, com vários ferimentos pelo corpo e a camiseta que um dia fora branca estava esfarrapada e suja. Seus olhos estavam arregalados e fixos no corpo inerte de Kiara no chão. Já fazia um tempo que ele estava assim e eu começara a achar que estava em transe.

– Kathie. – chamei, agachando-me para estar da mesma altura que ela. – Temos que sair daqui. Tem um porão na casa do meu tio, precisamos entrar lá antes que comece outro ataque.

Katherine nada disse, apenas me lançou um olhar desolado e deu de ombros antes de se voltar novamente para a irmã.

– Katherine, vamos! – pedi novamente.

– Não! – ela gritou, a voz embargada. Seus olhos estavam inchados e vermelhos de tanto chorar. – Eu vou ficar aqui. Com ela. – acrescentou, o tom de voz mais baixo e suave.

– Vai morrer se continuar aqui! – falei.

– De que me importa? – ela perguntou, virando-se para mim com um olhar totalmente torturado, um sorriso sarcástico brotando em seus lábios. Ela parecia um pouco louca. – De que me adianta viver se ela se foi? Eu vivi todo esse tempo por essa garota, aguentei tudo por ela. Para ser uma irmã forte para ela. – ele soluçou. – Mas isso não faz mais sentido! Eu não faço mais sentido. Então deixe-me ficar aqui, com ela. Vão vocês. – sua voz falhou na última frase e ela fungou, voltando-se para o corpo ferido e sem vida de Kiara.

– Ela tem razão, Kathie. – disse Josh, colocando a mão em seu ombro.

– Não quero deixa-la. – ela murmurou, inclinando-se para Kiara.

– Temos de ir.

– Não posso deixa-la. É o mínimo que posso fazer. Ficar com ela até o fim.

– Já é o fim. – acrescentou Jeff, aproximando-se. – Ela não iria querer que você se ferisse. Vamos? Por favor.

– Ela nunca mandou em mim...

Jeff riu de leve e se agachou ao lado de Katherine, segurando sua mão.

– Vamos, Kathie? Por favor. – ela o olhou e desviou o olhar para Kiara.

– Eu te amo. – murmurou ela, beijando a testa ferida da irmã. – Sinto muito não ter falado isso mais vezes, enquanto você ainda podia me escutar. E sinto mais ainda por ter falhado com você. – então, com um último suspiro ela se deixou levantar por Jeff, o qual a apoiou enquanto a levava em direção a casa do meu tio.

– Vamos. – falei para os outros, os quais foram se levantando aos poucos, lançando olhares tristes para o corpo de Kiara estendido na grama. Peguei a mão de Elliot e estávamos prestes a segui-los quando notei um movimento pelo canto do olho. Ian se aproximava. Seus cabelos louros estavam uma bagunça e os olhos brilhavam pelas lágrimas. Estando mais próxima, notei que havia uma queimadura séria em seu braço e perna esquerda; várias bolhas cobriam-lhe a pele que agora tinha uma aparência asquerosa em tom de vermelho. Nesse momento ele parecia ter mais que seus catorze anos de vida.

Ele se agachou ao lado do corpo de Kiara e segurou-lhe a mão direita, a única que ainda estava inteira.

– Por que não deixou aquela maldita bomba me acertar, sua pirralha idiota? – ele soluçou. – Por que teve que tentar me tirar o caminho? Por que Kiara? – e ele estava aos prantos. – É uma droga isso, sabia? – ele parecia irado. – Você era como a irmã caçula irritante que eu nunca tive. Eu deveria cuidar de você e não o contrário. Se soubesse a raiva que sinto de mim agora, teria me deixado morrer, só para eu não ter que passar por isso.

Olhei para Elliot com lágrimas nos olhos, o qual mantinha seu olhar fixo na cena de despedida a sua frente.

– Ela se sacrificou por ele? – ele perguntou, ainda sem me olhar.

Eu assenti.

– Eles eram muito amigos.

Elliot continuou encarando Ian e Kiara por tempo antes de, inesperadamente, soltar minha mão e ir até onde Ian estava.

– Ei cara! – ele o chamou, quando estava a menos de metro de distancia. Ian se virou com os olhos marejados e um olhar cauteloso.

– Quem é você? Nunca te vi por aqui.

– Sou Elliot, cheguei hoje com Sarah, Josh e Taylor. – ele explicou. – Vamos, temos de sair daqui antes que as bombas voltem.

Ian o encarou por um minuto antes de assentir e ficar de pé. Elliot lançou um olhar por sobre o ombro e eu fui até eles.

Não demorou muito para alcançarmos os outros, eles não se encontravam tão à frente. Procurei estar bem próxima deles para que o escudo os alcançasse – ainda me sentia cautelosa com a breve trégua, e sinceramente, não acreditava que Dorothea estivesse ponderando deixar alguns de nós vivos.

Nem todas as casas haviam sido destruídas e a do Tio Jerry, por sorte, fora uma das menos afetadas. A parede lateral direita estava com um buraco enorme e havia pilhas de destroços ao redor, mas fora isso, estava intacta. Nós tivemos de pular alguns pedaços de concreto e telhas que estavam entre os degraus de entrada e o quintal. Notei que, um pouco mais a direita, os restos mortais de um corpo jazia em meio aos entulhos. Meus olhos se arregalaram com tal visão; eu não queria que ninguém morresse e agora já eram dois. Duas mortes. Olhei em volta e tive de me corrigir mentalmente. Sete mortes, a julgar pelos corpos que estavam em meu campo de visão. Eu tremi e apressei o passo até estar mais próximo dos outros; Elliot e Ian vinham logo atrás de mim.

Alguém abriu a porta da frente e todos entramos. A casa parecia vazia, contudo tinha certeza de que haveria mais gente lá embaixo.

– Venham. – falei, tomando a frente do grupo e guiando-os até a porta do armário embaixo da escada. É claro que aquele não era um armário comum, havia um tapete puído no chão que encobria o alçapão. Um a um, todos foram descendo as escadas de metal. Resolvi ficar por último, e Elliot permaneceu comigo. Quando Ian pisou no primeiro degrau, Elliot se virou para mim. – O que foi?

– Não gosto de vê-la assim. – falou.

– Assim como? – perguntei. Ian já estava lá embaixo à essa altura.

– Não tente me enganar. Você está escondendo tudo o que sente, mas sei que está abalada. – e como sempre, ele adivinhou. Revirei os olhos.

– Isso não importa agora. – rebati. – Temos que encontrar um jeito de revidar, não poderemos ficar lá embaixo para sempre.

– Sim, eu sei. – ele suspirou.

– Vamos. – falei virando-me para descer.

– Espera! – ele pediu, colocando a mão em meu ombro.

– O que... – não pude concluir a frase, Elliot sequer me deu tempo de piscar. Ele se aproximou num átimo e me tomou nos braços, os lábios famintos buscando os meus. Não protestei. Por mais que estivesse com pressa para reunir a todos e discutir estratégias eu também precisava disso. Retribuí o beijo com o mesmo fervor que ele. Quando suas mãos acariciaram minhas costas, eu arfei em seus lábios. Isso só fez com que ele me pressionasse ainda mais contra seu corpo. O beijo não durou tanto quanto eu gostaria, mas ainda podia sentir o um calor subindo por meu corpo quando ele se afastou.

– Desculpe. – falou, interpretando mal meus olhos arregalados. – Eu sei que não é melhor momento, mas eu precisava disso.

– Tudo bem. Eu também precisava de qualquer forma. – murmurei minha resposta assim que consegui regularizar minha respiração.

E então descemos, eu na frente, pois ele ainda estava um pouco inseguro sobre estar aqui. Não que Elliot fosse um homem inseguro, mas ele tinha razão em temer que alguém o reconhecesse e o quisesse matar por ter trabalhado para a psicopata. Principalmente após esse ataque.

Como eu desconfiava, o porão estava cheio. O burburinho de vozes era audível mesmo antes de descer os degraus de metal. Havia muita gente. O que era bom, na verdade, pois era sinal de que muitos ainda estavam vivos e que nada estava totalmente perdido. Boa parte da massa de gente que ocupava o porão estava ferida. Eram visíveis as queimaduras, os arranhões e os hematomas.

Assim que desci o último degrau virei-me para trás, aguardando Elliot me alcançar – confesso que à essa altura, não seria prudente deixa-lo desprotegido, então não hesitei em projetar meu escudo físico sobre ele. É claro que, tal como Taylor, Lorena o reconhecera; mas devo admitir que sua reação foi melhor do que eu esperava, – talvez por ainda estar sob o efeito da morte de Kiara, ou talvez não o culpasse realmente por nada do que houvera no passado – penso que sua capacidade de perdoar foi uma das coisas que atraíram Nathan.

Nathan. Não o vira desde que cheguei e temia que ainda estivesse lá fora, eu ainda não estava segura de que Dorothea havia parado, pois, o que ela teria a perder afinal? Este ataque aéreo já havia nos abalado o suficiente para que ela considerasse a “guerra” ganha. Eu consideraria pelo menos.

Segui com Elliot em meio a multidão de integrantes da Academia Não-Humanos, procurando por meu tio, Nathan ou qualquer um que pudesse me indicar onde eles estavam. Por vezes pessoas trombavam em meu escudo e olhavam abismadas antes de me reconhecer e assimilar meu dom.

Ian já havia encontrado um canto solitário para ficar e pareceu irritado quando Jeff se juntou à ele, com Katherine ao seu lado. Aproximei-me, rebocando Elliot comigo.

– Vocês viram meu tio? Ou Nathan?

– Sarah? – eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Tio Jerry.

– Tio! – soltei-me de Elliot e o abracei. Sabia que não era o melhor momento, mas eu não pude deixar fazê-lo, eu sentira sua falta. – Estava te procurando. É bom saber que está inteiro, há tantos corpos lá fora... – nesse breve momento, deixei a preocupação que estava reprimindo transparecer, permiti-me ser apenas humana e não uma lutadora, uma guerreira.

– Está tudo bem, eu não sabia que já havia voltado. Também não sabia que Josh havia ido te buscar. – mencionou.

– Na verdade ele só foi me visitar e eu pedi para que não dissesse à ninguém.- admiti.

– Nem ao seu tio? – ele arqueou uma sobrancelha.

– Espero que entenda. – falei, abaixando a cabeça. – Não queria voltar e ...

– Tudo bem, o que importa é que está bem. – ele sorriu. – Embora, devo admitir, num momento como esse, preferia que não tivesse aqui, ao menos saberia que estaria segura.

– Sim, mas esse foi exatamente o motivo que me fez retornar. – falei.

Meu tio me olhou com a testa franzida. Ele parecia alguns anos mais velho do que realmente era, a preocupação trouxera algumas rugas extras ao seu rosto.

– Como assim, você sabia?

– Descobrimos, e... – parei de falar ao notar que seus olhos estavam em Elliot, parado ao meu lado, olhando-nos.

– Acho que nunca te vi por aqui... – verbalizou. Notei pela visão periférica que Elliot parecia tenso. – Sou Jerry, dono da academia, tio da Sarah. – ele estendeu a mão e Elliot a apertou, parecendo minimamente mais calmo.

– Elliot Jones. – ele se apresentou.

– É um prazer, Sr. Jones. Sarah o trouxe como novo integrante? – meu tio perguntou, com um sorriso.

A boca de Elliot se abriu mas não saiu nem um som e ele olhou para mim, com um olhar indagador.

– Sim. – respondi em seu lugar.

– Gostaria de conversar com você depois, apresenta-lo aos outros, mas receio que não seja a melhor hora; espero que entenda. – disse meu tio, com um sorriso amarelo.

– Ah, claro. Compreendo. – ele sorriu de volta.

– Mas, já que estamos aqui – começou meu tio. – permita-me saber: qual o seu dom Elliot?

Engoli em seco. Essa, definitivamente não era a melhor hora para essa conversa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Espero os comentários...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Living" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.