Os Demônios de Mara escrita por Clementine


Capítulo 2
Capítulo 2




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O demônio chega mais perto.
Ele é homem, tem asas grandes e negras que se entendem ao lado do corpo magro. Seus cabelos louros e a pele pálida, o corpo bem definido o deixam quase atraente.
Mas sinto que vou vomitar.
Demônios exalam uma aura inconfundível. Sinto cheiro de sangue derramado, sinto cheiro de pecado e de corações corrompidos.
Demônios gostam de hospitais.
Eles vem e vão, com esperança de chegarem antes da gente para levarem os bebes. Os doentes.
E é claro, aqueles que morrem e não vão para o céu.
Eles sempre vão a algum lugar.
Os demônios pegam as almas, eles as acorrentam, a arrastam para baixo e mais para baixo, onde queimarão por tanto tempo que só de pensar na dor meu corpo inteiro treme.
Não me lembro da dor mas posso imaginar. E não posso não posso não posso permitir que Mason passe por isso.
– Você não vai leva-lo. – Rosno de volta. – Não vou permitir.
O demônio ainda sorri para mim.
– Assista. – Ele pisca mais uma vez seus olhos negros, e só então, ataca.
Eu bato minhas asas bem a tempo. O ar que elas movem faz um tufão que o arrasta para trás.
Começo a correr.
Não o deti, apenas o atrasei, mas não tenho muito tempo.
O bebe em meus braços ainda chora com toda a força que pode, e eu envolvi minhas asas ao redor dele e do meu corpo para poder correr melhor. Eu corro corro corro o mais rápido que posso.
Preciso achar um lugar seguro para abrir o portal. Preciso correr.

Atravesso a porta que diz “ala infantil” e não paro.


Lá esta vazio, como eu achei que estivesse. As paredes pintadas com um azul pastel e o tapete com estampa oriental e colorida confirma que de fato, crianças tinham estado ali.
Mas não é assim que eu sei.
Como anjo, eu consigo sentir a aura das coisas. Sinto a aura inocente do bebe, sinto a aura maligna dos demônios e consigo também ser sensível para a aura dos lugares. Ali, por exemplo, posso ouvir os risos das crianças que um dia estiveram espalhadas naquele chão, brincando, mexendo carrinhos.
É o lugar perfeito para abrir um portal para o céu.
Fecho os olhos e me apresso. Imagino a luz descendo, imagino imagino e imagino. Continuo sentindo o riso das crianças, seu cheiro de bebe e de repente eu sinto.
Sinto cheiro de sangue, e sei que o demônio esta chegando.
Desesperada, continuo tentando abrir o maldito portal mas é impossível. Mason – que tinha se acalmado – começa a se remexer em meu colo, pronto para chorar de novo.
De repente, não há mais tempo para nada. O cheiro fica mais forte e eu posso sentir, eu sei eu sei eu sei com todos os meus ossos que estamos ferrados.
Se ele chegar aqui não vou poder lutar contra ele. Só posso fugir e atrasa-lo, mas nunca dete-lo de verdade. E ele não vai cansar de me perseguir.
Cada segundo a mais que eu permaneço nesse plano me cansa. Me consome. Ainda mais carregando uma alma indefesa que só a energia necessária para isso é demais para mim. Sua alma pertence ao céu e a cada segundo fica mais e mais pesada.
Caio de joelhos, sem esperanças, e envolvo meu corpo com minhas asas como um casulo. Uma proteção, uma ultima proteção e espero. Espero pelo pior.
Pode correr – cantarola a voz demoníaca muito muito perto – Mas não pode se esconder.
Me aperto mais, fecho os olhos e então, quando quase posso senti-lo ao meu lado....
Nada.

De repente, não há mais cheiro de sangue, nem aura demoniaca, apenas o riso das crianças que ecoam em minha mente.
Afasto minhas asas quando ouço passos.Levanto os olhos e eles se prendem a um homem de cabelos escuros e bagunçados que esta parado diante de mim. Não deve ter mais de 18 anos, vestindo um suéter marrom, calças jeans e allstars surrados. Ele tem os olhos azuis mais brilhantes que já vi.

E olha diretamente para mim.

Olho para trás, procurando quem mais ele pode estar olhando, mas sou a única aqui.
Humanos não podem me ver, não podem. Sou invisível para eles.
Porém, o garoto ainda me olha, e afasta um pouco os lábios pra falar.
– Eu o atrasei para você.
Se eu tivesse um coração, ele estaria pulando de surpresa.
– Você o que...
– Rápido, você não tem muito tempo.
Ele diz, e eu sei que provavelmente não tenho mesmo, mas não sei explicar aquela situação.
Você pode me ver? - Pergunto, a voz cheia de confusão.
– Claro que posso! Agora vá, rápido, rápido.
Como? - não consigo me impedir de perguntar.
– Isso não importa! Apenas vá.
Eu obedeço. Fecho os olhos e assim que invoco o portal, ele vem.
Um feche de luz se fecha a minha volta, cai em cima de mim como um holofote e me envolve.
E depois me leva embora.


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