Kaos - A Chave de Davy Jones escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 4
Libertando o Espírito


Notas iniciais do capítulo

Jack era o deus dos nativos, mas estava preso em sua forma carnal, então, nada melhor do que lhe dar a liberdade queimando-o, não é mesmo? Kaos também tem que ir, afinal, ela é a parceira espiritual de Jack.



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Ali, sentada na perna de Jack, sem poder fazer nenhum movimento brusco, eu consegui ver a paisagem de onde estávamos, estávamos numa montanha bem alta, onde o vento batia de maneira agradável, mas quase tudo era feito de ossos humanos. Por que eles acreditavam que Jack era um deus, eu ainda não sei, mas mantendo-nos vivos, era o que importava.

De repente, alguns guerreiros chegaram carregando um pedaço de bambu reforçado, pelo menos eu acho que era bambu, era meio dobrável. Tentei ver o que estava amarrado no bambu e percebi que era um homem. Fiquei um pouco assustada e Jack me cutucou. Olhei para ele e ele estava sério. Tentei me manter tão séria quanto ele. O guerreiro principal se aproximou à nossa frente e disse uma coisa estranha. Olhei rapidamente para Jack e ele estava bem sério e dessa vez sua mão não estava no meu bumbum e sim no encosto de braço da cadeira de ossos.

Os outros guerreiros viraram o bambu e eu pude ver Will pendurado nele acabando de acordar e apertando os olhos por causa da luz. Ele olhou para nós dois meio confuso e depois ficou aliviado.

– Jack? Kay? - ele sorriu e nós permanecemos sérios e um pouco com medo dos nativos entenderem algo. - Sinceramente posso dizer que estou contente em vê-los.

Jack me cutucou para que eu me levantasse. Obedeci e fiquei ao lado do trono de ossos enquanto Jack se levantou e começou a andar devagar e com pose superior. Jack se aproximou de Will e começou a cutucá-lo como se estivesse conferindo se ele era suculento o suficiente. Ai, pelos deuses, estamos numa ilha de canibais. O que aconteceu com os outros? Nossa, esqueci de perguntar sobre isso. Relaxe Kay, tudo vai ficar bem, temos um plano, espero que tenhamos um plano, pensei enquanto tentava permanecer séria e não destacar meu medo.

– Jack! Sou eu! Will Turner! - ele olhou pra mim e falava com voz de piedade. - Kay! Sou eu! Seu amigo do mar de Port Royal - eu o olhava seriamente com as mãos cruzadas na frente e piscava com indiferença. Desculpe Will, sou tão prisioneira quanto você, pensei.

Jack então começou a conversar com o líder da caça naquela língua estranha. Talvez isso deve ter feito ele ser considerado um deus, mas... como diabos ele sabe aquela língua?

– Ordene que me ponham no chão! - pediu Will.

Ai, ai Will, você acha que Jack tem esse poder todo? Aposto que ele é tão prisioneiro quanto nós dois. Jack voltou a falar com o líder guerreiro e o máximo que eu entendi foram os "no"'s. Pelo visto ele dizia que Will não servia para alguma coisa. Jack olhou a parte de trás de Will e eu estranhei aquele momento, que invasão de intimidade. Então ele falou alguma coisa e fez o sinal de tesouras e eles pareceram entender. O guerreiro que estava ao meu lado olhou pra mim e fez "aaah..." e eu fiz com ele, como se tivesse entendido também. Ele disse que Will era castrado?

– Jack, a bússola! É tudo de que preciso. Elizabeth está em perigo. Fomos presos por tentar ajudar você e a Kay. Ela vai ser enforcada! - disse Will em desespero.

Opa... por nos ajudar? Precisa fazer alguma coisa Jack, pensei.

Então Jack voltou a falar com o líder guerreiro, uma conversa séria. No fim ele fez um sinal de despejo na direção de Will e disse uma palavra estranha e o guerreiro gritou alto a mesma palavra e toda a tribo começou a repetir a palavra. Até eu gritei a palavra sem saber o que significava. Jack se aproximou e sussurrou algo para Will, que ficou olhando-o assustado. Jack voltou, se sentou no trono e eu sentei na perna dele.

– O que você disse? - perguntei baixinho olhando Will ser levado. Will gritava por ajuda e pela Elizabeth enquanto era levado e Jack e eu permanecíamos sérios.

– Disse para ele ser servido com os outros de sobremesa - disse Jack como se aquilo fosse algo insignificante.

– O que? - sorri para ele como se tivesse ficado super feliz, mas na verdade eu estava assustada.

– É o seguinte: como eles pensam que sou um deus, eu serei queimado para me libertar da minha forma carnal. Você está aqui comigo e não com os outros porque eu disse a eles que você era minha parceira espiritual e deveria seguir ao meu lado, que eu deveria carregar sua alma comigo para o meu lar.

Comecei a dar risinhos de nervoso, mas eu fingi que estava tudo bem. Olhei para ele e comecei quase a chorar durante o riso.

– Então nós vamos morrer - eu ri ainda mais, como se ele tivesse contado uma piada.

– É - ele riu comigo. - Mas vamos tentar fugir antes, okay?

– Okay - nós continuamos a rir quase chorando.

Então os tambores começaram a tocar. Jack e eu tentamos ficar sérios e felizes, quando na verdade estávamos em pânico, eu comecei a sua frio de medo. Eles começaram a dançar enquanto fazia a fogueira. Eu me levantei e quando algum nativo animado passava perto de mim eu sorria animada. Jack pegou a minha mão e sorriu, como se estivéssemos prontos para seguir nosso caminho junto pela eternidade. Ele chegaram perto de Jack e de mim e colocaram em nossos pescoços colares com dedões humanos. Fiquei com nojo, muito nojo, mas tive que sorrir. Eles estavam preparando a nossa enorme fogueira.

– Hey! Não, não! - disse Jack se aproximando dos que estavam preparando a fogueira e sem soltar a minha mão. - Mais madeira! Grande fogueira! Grande fogueira! - ele esticava a outra mão que não pegava a minha. - Eu sou o chefe, quero grande fogueira! - Hey, você! - ele apontou para um que estava atrás de nós. - Vamos, ajude, mais madeira!

E então, enquanto eles estavam distraídos com a madeira, Jack começou a correr e me puxou junto, depois ele soltou minha mão e eu comecei a correr atrás dele. Aquilo era muita loucura, muita mesmo. Nós íamos morrer mais rápido do que pensei! Corremos sobre uma ponte de ossos que balançava muito, depois descemos o morro e eu caí, me apoiando nas costas de Jack, ele me deu a mão ainda correndo e chegamos em um outro caminho de terra. Continuamos a correr olhando para frente. De repente Jack parou e eu bati em suas costas, ele pendurou para o penhasco e eu o peguei pela blusa e o puxei com força de volta. Olhamos para o penhasco.

– E agora? Agora a gente morre? - perguntei ofegante.

– Não, não... eu tenho um plano. Calma! - ele gritou comigo a última palavra e eu gritei de volta apenas um "A".

Jack pegou um bambu e balançou, era até um bom plano mas, eu não sabia dar esse salto usando bambu. Ele desistiu da ideia sem eu precisar falar isso, o que me deixou aliviada. Ele entrou na cabana e eu entrei atrás dele. A cabana era cheia de armas afiadas e objetos de navios que vinham de realezas como Port Royal, haviam moscas e fedia à sangue podre. Jack então achou uma corda e um pote de pimenta. Ele olhou o símbolo no fundo da embalagem e decidiu levar. Ele voltou sem olhar para frente e trombou em mim.

– O que você tá fazendo aqui dentro? - ele perguntou.

– Vindo com você.

– Kaos, era pra você ficar lá fora vigiando.

– Eu não vou ficar sozinha.

Jack achou ruim e saiu da cabana. Eu saí logo atrás e enquanto desviava de alguma coisa no chão, eu acabei trombando nele, que estava parado olhando para o outro lado. Quando olhei para onde ele olhava, quase todos os nativos que estavam arrumando a fogueira estavam lá apontando suas lanças para nós.

Jack jogou a corda de lado, sorriu, abriu a tampa do pote de pimenta e começou a jogar embaixo do braço como se fosse um desodorante.

– Tempero - ele sorriu e jogou um monte na minha cara. Dei umas piscadas e depois sorri, confirmando que gostávamos de tempero.

Eles então nos amarraram num bambu. Jack em baixo e eu em cima, minha coluna estava bem no meio do bambu, quando ele balançava, minha coluna doía.

– Belo plano de fuga, Jack! - eu gritei olhando para o céu amarrada.

– Tinha alguma ideia melhor? - ele gritou lá em baixo.

– Claro que sim. A ideia de nunca parar em uma ilha desconhecida!

– Calma, vai dar tudo certo.

– Ah claro, vai mesmo, aham - eu estava super irônica, aquilo não tinha nada para dar certo.

Nós fomos colocados em um suporte, como se fossemos animais no espeto. Então um cara chegou correndo com uma tocha e gritou uma coisa, todos os outros começaram a gritar com ele.

– Jack? - perguntei para saber o que estava acontecendo, eu estava e pânico.

– Foi legal te conhecer Kaos, nos vemos no mundo espiritual - ele disse.

Ai, não, não, não. Minha vida de pirata está acabando tão rápido. Não, por favor... fechei os olhos implorando para que não nos deixasse morrer. Então escutei um nativo falar algo repetidamente e todos os outros pararam de gritar. Olhei para o dono da voz e quando ele terminou de falar todos olharam em nossa direção.

– Andem, vão lá buscá-los! - ordenou Jack.

Eles gritaram e foram todos atrás de alguma coisa. Como eles eram burros, todos ao mesmo tempo, isso era muito bom.

– Não, hey! Não, não! - Jack começou a gritar.

– Jack, deixe eles irem!

– Não é isso. O cara deixou o fogo cair perto de nós!

– O quê? - gritei em desespero.

Ai não... estava bom demais pra ser verdade. Jack então começou a soprar o fogo que vinha em nossa direção.

– Jack! Para de soprar! - gritei.

– Oh-oh - ele disse soprando mais.

– Para de soprar! - fiquei nervosa e tentei lhe dar uma cotovelada, o que balançou o bambu.

– É isso! - disse Jack.

– O quê? - perguntei ainda olhando para o céu.

Jack começou a balançar o bambu para cima e para baixo.

– Isso está detonando a minha coluna! - reclamei.

– Anda Kaos, você vai ficar bem, me ajuda a balançar!

Nós balançamos o bambu para cima e para baixo, cada vez mais forte, até que o bambu saiu do apoio e nós fomos lançados para o lado, caindo com força no chão. Jack soltou os pés e eu também. Ele então girou, me colocando por cima.

– Jack, me deixa sair primeiro - eu reclamei com as pernas para o ar.

– Não dá tempo!

– Você não vai aguentar correr comigo nas suas costas.

– Você é gorda por acaso? Claro que não garota. Eu sou forte - ele disse começando a correr e eu indo pra cima e pra baixo seguindo suas corridas.

Passamos pelo mesmo caminho, pela ponte, pelo morro que ele deu um leve tombo e eu gritei assustada. Posso dizer que estava até começando a ficar um pouco confortável aquilo e eu poderia comer uma maçã verde tranquilamente. Então chegamos no barranco de novo.

– Vamos lá Kaos, temos que nos soltar daqui.

Jack começou a balançar e eu também. Estava bem complicado conseguir se soltar dali, não estávamos trabalhando em perfeita harmonia até que de repente Jack parou.

– O que foi? - perguntei em desespero.

Jack andou.

– Um garotinho pronto para nos comer. Peguei a faca dele pra tirar a gente daqui.

– Ah! Aos deuses - dei uma suspirada super aliviada.

Jack começou a cortar a corda.

– Oh-oh - ele disse.

– O quê? - revirei os olhos, quando íamos conseguir finalmente ir embora dali? Jack virou de costas e eu vi duas nativas segurando cestas de frutas - Oh-oh - repeti.

Jack saiu correndo e gritando e eu fui gritando com ele também, passamos por elas e Jack enfiou o bambu em alguma coisa. Fiquei encarando elas, com medo, eu estava como o alvo fácil agora. Jack então virou de repente e quando vi, ele havia enfiando o bambu em cocos.

– Oh-oh - ele disse.

– O que foi dessa vez? - disse quase chorando.

– Ela agarrou o coco.

Arregalei os olhos, estávamos ferrados com força. As mulheres começaram a jogar frutas na gente e Jack desviava e batia em algumas para desviar. Quando vinha em minha direção, ou eu gritava ou dava um chute na fruta, despedaçando no ar e me sujando toda. Até que Jack começou a encaixar as frutas no bambu, tanto abaixo de nós quanto acima e eu senti um miolo de mamão escorrer para o meu cabelo. Tadinho do meu cabelo.

– Parem! - Jack gritou e elas realmente pararam, estávamos cheios de frutas.

Jack então saiu correndo e gritando de novo e eu gritei junto. Então o bambu enfiou em alguma coisa de novo, mas dessa vez começamos a ir para o ar e eu comecei a gritar de verdade, o céu aparecia em algum momento e depois o buraco enorme abaixo de nós. Giramos umas duas vezes até que Jack conseguiu pousar do outro lado. Ele começou a rir e eu também, não acreditei que tinha dado certo. De repente, comecei a sentir o bambu puxar meu corpo pro penhasco.

– Jack? - gritei tentando ir para trás.

– Vem pra trás! Vem pra trás! - ele gritou.

– Estou tentandooooo....

Começamos a cair e eu gritei ainda mais, pois eu estava de cara para o barranco. Jack também gritava, mas o meu grito era fino e muito de garotinha, me irritava, mas meu medo de morrer estava maior. O bambu raspou nas montanhas que se afunilaram, girou e então parou e nós dois fomos desenrolando e caindo morro abaixo. A corda segurou Jack pelo pé e eu continuei caindo. Jack pegou o meu pé, me fazendo dar uma parada brusca e lá estávamos nós, pendurados de cabeça pra baixo.

– Você está bem? - ele perguntou gritando.

– Não. Meu cérebro tá ficando pesado! - gritei ofegante. E eu também estava tonta. - E então, o que a gente faz agora? - perguntei e o bambu começou a escorregar.

– Por que você perguntou?

– Desculpaaaaaa....

Voltamos a cair gritando. Jack me puxou para ficar ao lado dele e então batemos de costas numa ponte e vimos o bambu virar e apontar em nossa direção. iríamos morrer na queda livre pelo menos, seria menos doloroso que a morte pelo bambu. Mas nossa queda estava sendo freada pelas pontes em que batíamos. Jack me puxou para cima dele enquanto só as costas dele batiam na ponte e eu fechava os olhos e tentava proteger meu rosto para nenhum pedaço de madeira voar em meus olhos, até que finalmente caímos no chão, a queda foi forte o suficiente para nos fazer parar de gritar por uma breve falta de ar. Jack segurou minha cabeça ao lado da dele, eu estava olhando pro chão e ele para o céu. Coloquei minhas mãos no peito dele, para começar a me levantar, mas ele me segurava. e então senti algo bater ao lado das nossas cabeças e dei um grito. Logo em seguida várias batidas na grama no chão. Ele aliviou minha cabeça, olhei para o lado e vi o bambu enfiado na terra. Me apoiei no peito dele e olhei para ele ainda encima dele. Nos olhamos assustados. Jack ainda segurava meu corpo. começamos a rir ao mesmo tempo com nossos rostos próximos.

– Nós quase morremos - eu ri freneticamente e ele me acompanhou.

– Na verdade, não sei como não morremos - ele começou a rir muito.

Fomos parando de rir e ficamos sorrindo um para o outro, olhando nos olhos e depois olhei para os lábios de Jack e meu coração disparou.


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