Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 84
O Funeral


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal... Uau.. como foi intenso escrever esse capítulo, depois de tanto tempo. Queria dizer que o escrevi em dedicação a uma pessoa especial, que me acompanha aqui pelo no Nyah. Vi uma mensagem que ela me mandou pelo amor doce em Junho e acabei reescrevendo o capítulo essa noite. Confesso que com tudo acontecendo no mundo e algumas coisas pessoais, eu havia pensado em abandonar tudo. Mas, não sou do tipo de pessoa que abandona sem dar o devido fim. E essa fic foi uma parte significante na minha vida e acredito que quem me acompanha, merece um final digno. Dessa forma, segue o talvez penúltimo capítulo de Diamante Bruto. Espero que gostem. Leiam com o coração aberto, pois, NADA É APENAS O QUE PARECE E, APROVEITEM A VIDA, POIS ELA É CURTA. Que deixemos nosso orgulho morrer e nos entreguemos ao que faz bem ao coração ♥ Boa noite e até o próximo capítulo! Gratidão ^^



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                Não. Não podia ser.

                Ela mal conseguia fechar as mãos geladas e dormentes. Mal conseguia pensar. Ou respirar. Só sentia as batidas ruidosas do próprio coração. Rápido, insolente, doloroso. Parecia que ia morrer. Uma crise de pânico.

                Abriu a porta do carro num ímpeto impensado. As pernas trêmulas cambalearam e ela tropeçou nos próprios pés. Rendeu-se ao chão imundo do posto de gasolina abandonado. Ela queria fechar os olhos, contar até dez e abri-los novamente, na esperança de ter sido apenas um pesadelo. Mas era palpável, por Deus, como era palpável. Ouvia o nome dele repetidamente em sua cabeça. Firme e claro. Era ele. Sentiu as mãos tocarem o chão frio, enquanto tentava encontrar forças para retirar o corpo do chão. Nada parecia efetivo, seu corpo só queria se entregar, ficar ali até o amanhecer, quando chuva passasse e a noite não parecesse mais tão ruim.

                A dor no peito espalhava para o pescoço, meu Deus, ela se lembrava muito bem daquela dor. Era a mesma que a visitou, quando seus pais se foram. E aquela visita se prolongou por anos, destruiu-a por completo e adiou seus sonhos. Depois daquela dor, Natsumin nunca mais foi a mesma. Nunca pensou que a encontraria novamente, tão precocemente. Levantou o rosto e olhou o céu. Apesar da tempestade, a lua brilhava como nunca, por entre algumas nuvens, era possível perceber seu brilho. Será que ainda era amaldiçoada? Será que ainda não acabou?

                Natsumin apoiou-se na porta aberta do carro e então se levantou. Mirou a estrada e saiu do posto, encontrando novamente. A chuva. No meio da pista, apenas olhou a lua, deixando as lágrimas quentes fundirem-se às gotas frias que vinham do céu. Seus braços se arrepiavam de frio, seus dentes batiam. Porém, Natsumin apenas olhava para a luz, os olhos azuis buscando respostas. Queria gritar, perguntar o por quê, mas não conseguia. Ela apenas fechou os olhos e respirou fundo, recebendo aquela água gelada como se pedisse pelo fim de toda aquela maldição.

                — Ele não tinha culpa... — Natsumin murmurou tão baixo que mal ela pôde ouvir. — A maldição era minha.

                Sem pena, a chuva a lavava. Caía forte e rápida, chegava a doer os pingos em seu corpo. Sua roupa estava encharcada, o cabelo grudava no rosto, nas costas e ombros.

                E então, naquele momento, a resposta para todas as perguntas que não fez pareceu chegar imediatamente. Um par de faróis avançava pela estrada, mas freou imediatamente, ao encontrar sua silhueta, como uma aparição. Natsumin mal se abalou, era como se não estivesse ali. De alguma forma, no fundo de seu coração, ainda esperava acordar daquele pesadelo. Abraçar o seu filho numa cama quentinha e assistir algum filme naquela noite chuvosa.

                Depois de um longo tempo parado, o carro voltou a andar, os vidros escuros levantados. Pelo visto mal se importou com ela. Ou talvez, tivesse pensado que era uma aparição e tivesse medo de passar por ela. De fato, com aquele corpo gelado, sentia-se como uma. Ou melhor, a verdade era que não sentia mais nada. O choque paralisara seus nervos. Ela só via a lua. E a forma como brilhava acima de sua cabeça. Não mais a incomodava a estrada, o frio, ou a dor. Ela só esperava respostas da lua. Já não era mais forte. Estava cansada de fingir. Baixou os olhos, mirando o horizonte através da estrada. Havia na escuridão, um lugar de quietude. A noite não era tão espantosa, o vazio pareceu reconfortante. Era como se refletisse o que ela sentia naquele momento. Após a dor, o choque, mas então...

                Então, o viu.

                Translúcido, embaçado por seus olhos molhados. A mesma silhueta da qual se recordara, a silhueta que não via há mais de um ano. Sua presença era fria e espiritual. Será que estava morta e ele vinha busca-la? Vestia preto, como a morte, os cabelos antes de um rubro luxuoso, estavam escuros, ensopados, quase pretos. Será que quando morremos voltam as cores naturais dos cabelos? A neblina era sepulcral. Natsumin, no entanto, não teve medo.   

                Castiel.

                Novas lágrimas formaram-se em seu rosto. Quentes caíram por sua pele e lembraram-na que ainda estava viva.

                — Vá embora... — ela pediu entre lágrimas. Ele se aproximava em silêncio, um espírito. — Me deixe.... Não apareça pra mim.

                — Natsumin... — ele pronunciou numa voz melodiosa. Até a sua voz já não era mais a mesma. O espírito de Castiel, no entanto, não a assombrava. Apenas a deixava com mais dor. Reafirmava o que ela sempre sentiu por ele, mas mentiu para si mesma por todos esses anos. A vida, de fato, era curta. Ela queria poder tê-lo dito tudo enquanto ele ainda era pele, carne e ossos. Agora era só uma aparição. Não podia mais tocá-lo.

                — Vá embora. — ela pediu mais uma vez. Dessa vez um pouco mais incisiva, pois ele se aproximava sem pudor.

— Natsumin. — ele repetiu. A voz dele era rouca, adocicada. Arranhava na garganta como um pigarro. Causava borboletas em seu estômago como se ela ainda fosse uma adolescente.

Natsumin fechou os olhos e começou a contar até dez. Esperava abri-los e ele já ter desaparecido. Porém, antes que pudesse terminar, sentiu as mãos dele em seus ombros.

— Olha pra mim. — ele pediu. O rosto dele estava muito próximo do seu. Sua boca emitia um hálito frio e inodoro.

Natsumin abriu os olhos lentamente e o azul dos seus encontrou o escuro dos dele. Era impossível voltar à apatia depois de encontrar aqueles olhos alongados e profundos. Olhos de coiote. Não havia sorriso, no entanto, de nenhum dos lados. Ela queria encontrar o calor de seu peito, mas os dois estavam frios. Era quase como se ela estivesse morta também.

— Por favor, Castiel, siga em paz. Não me assombre. Vá para casa. — ela disse, imóvel, as lágrimas tomando seu rosto. — Não era para ser assim... — ela já não enxergava mais nada direito, seus olhos embaçaram, mas o rosto dele ainda estava muito próximo.

A chuva apertou. Natsumin fechou os olhos, na esperança de, dessa vez ele realmente desaparecer. Porém, ela ouviu apenas uma risada abafada e tão longo sentiu seu abraço. A chuva caindo por cima dos dois, a noite parecia silenciosa.

— Você precisa sair da chuva. — ele pronunciou enquanto se afastava e segurava sua mão, guiando-a de volta ao posto de gasolina.

— Não! — ela soltou a mão dele, tão fria, sem vida. Ela só queria que aquela assombração acabesse. — Vá embora, por favor! Me perdoe! Eu queria poder evitar, queria que você estivesse aqui... mas você não está!

O espírito de Castiel franziu o cenho. Era como se não entendesse nada do que ela falava. — Natsumin, o que diabos...

— Você está morto! — ela esbravejou. — Só me deixa em paz!

— É O QUE? — ele se aproximou dela mais uma vez. — Natsumin, olha pra mim. — ele pediu mais uma vez, mas ela evitava olhá-lo nos olhos. — Natsumin. — ele pegou a mão de Natsumin gentilmente e levou para o lado esquerdo de seu peito, sob a jaqueta de couro.

Natsumin arfou, rapidamente puxando a própria mão para si. O coração dele batia e seu peito estava quente.

— Que porr... — antes que ela pudesse terminar, Castiel balançou a cabeça e começou a andar em círculos. Natsumin não conseguia refletir, era como se sua cabeça não pudesse pensar em nada, encontrar uma solução.

Até que ele finalmente olhou para ela.

— Isso só pode ser brincadeira. — ele passou a mão nos cabelos mais uma vez, jogando-os para trás. O sorriso era de canto, o mesmo sorriso de coiote que ela conhecia.

Natsumin, no entanto, não sorria. Estava completamente confusa e desestabilizada. Que palhaçada era aquela? Será que ele armou alguma coisa? Ela não falou mais nada. Apenas saiu dali da estrada, despiu aquele papel de palhaça e caminhou de volta para o posto, irritada. Uma coisa era certa: Aquilo só podia ser brincadeira.

— Natsumin! — Castiel a gritou enquanto tentava alcança-la. — Ei... — Castiel tocou seu ombro assim que os dois chegaram à cobertura silenciosa do posto abandonado. Natsumin apenas se limitou a virar o rosto para ele com uma das sobrancelhas suspensas.

— Você acha que a culpa é minha? — Ele indagou, indignado.

Natsumin apenas o devolveu um olhar sério. O corpo tremia de frio.

— Olha, Natsumin. — Natsumin passou a mão pela testa, dessa vez, sério. — Um idiota apareceu no meu camarim, roubou minha carteira e meu celular e eu fui atrás dele com o meu carro, até descobrir que o desgraçado também roubou as chaves. Peguei uma carona pra ir pro Lysandre, mas aí encontrei uma aparição na estrada, muito parecida com uma velha amiga... — e dizendo isso, ele esboçou novamente um sorriso, mas Natsumin ainda não achava graça nenhuma. — Eu não tô entendendo nada, Natsumin. Eu juro. Que porcaria é essa que eu morri?

Natsumin finalmente suspirou. Dessa vez, ela fez um sinal com a cabeça para que ele a seguisse até o carro.

— Tira a roupa. — ela murmurou, séria. Não sabia se tinha mais raiva, ou tristeza... a verdade era que nem sabia mais o que sentia.

Castiel levantou as sobrancelhas imediatamente.

— Os bancos são de couro. — ela completou, antes de seguir para o porta-malas e abri-lo.

Sem contestar, o ruivo tirou a jaqueta, a calça e as botas molhadas. Natsumin começou a tirar as roupas molhadas, ficando apenas com a lingerie. Ao lado da porta aberta do carona, Castiel a observou por uns instantes. Ainda era a mesma Natsumin que conhecia, apesar de bem mais madura. Ele observava seu corpo ser iluminado pela luz da luz, a mesma silhueta que ele bem conhecia. Sentiu um aperto no peito ao vê-la balançar os cabelos enquanto tirava a blusa e expunha a lingerie. Os olhos dela encontraram os dele e Castiel logo desviou o olhar. Natsumin revirou algumas bolsas, vestiu uma camisa alguns números maiores que o seu e então jogou para Castiel uma camisa, como a dela, seca. Castiel logo percebeu ambas eram camisas masculinas. Vestiu a dele sem pestanejar. Segurou a calça, jaqueta, camisa e sapatos molhados e levantou os ombros para Natsumin, como se perguntasse qual era o próximo passo. Natsumin apontou com o queixo para o porta-malas. Castiel se aproximou e jogou as roupas molhadas ali. Um frio miserável vinha daquela notie chuvosa e ele, finalmente encontrou o conforto do banco do carro assim que fechou o porta-malas e seguiu Natsumin.

Natsumin, por sua vez, nada falou. Assim que fechou as portas e ligou o aquecedor, para alívio dos dois, apenas ligou o rádio e esperou.

(voz 1) estamos ao vivo..

(voz 2) É isso mesmo, caro ouvinte, ainda não sabem o paradeiro dele, mas foi feito reconhecimento pelos demais membros da banda e nenhum deles reconheceu o...

(voz 1) Corpo, Juvenal.

(voz 2) É, corpo, como sendo do queridinho do país.

(voz 1) A boa notícia é que nesse momento os Tríades estão tomando a internet e só se fala em um nome: Castiel Hayes!

(voz 2) A identidade ainda é do nosso querido músico e a polícia não tem informações de como foi parar lá. Ou melhor, alguém pegou o carro do músico mais queridinho do país e acabou morrendo num acidente terrível.  

(voz 1) É, pessoal, parece novela mexicana, mas nesse caso é vida real..

(voz 2) Outros objetos foram identificados.. o celular e a carteira do músico. Ainda assim, não há nenhum sinal dele.

(voz 1) A polícia acaba de identificar o corpo. É de Angelo Thompson, um rapaz de 22 anos.

                Natsumin fez menção de desligar o rádio, mas Castiel tocou sua mão, para que esperasse.

(voz 1) Ângelo era conhecido por tietar muitos artistas, mas também... por roubar seus pertences. Dessa vez, o final não foi feliz.

(voz 2) No meio disso tudo, meu amigo, só nos resta responder uma pergunta: Onde está Castiel Heyes?

                Castiel retirou a mão de cima da de Natsumin, deixando na moça uma onda de choque que logo tomou todo seu corpo. O ruivo olhava o painel, sério e estatizado. Até que respirou fundo.

                — Essa é a rádio mais sensacionalista que eu já ouvi.  — Castiel murmurou, aborrecido.

                Natsumin suspirou. — Droga. — ela crispou os lábios. — Me desculpa.

                Castiel suspirou. — Bom, acho que tô tão feliz por saber que não to morto que nem vou me preocupar com o fato de você quase ter me matado só porque eu estava vivo.

                Natsumin deixou escapar um riso abafado.

                De repente, o silêncio se instaurou ali. Havia uma conexão eletrizante que conectava aqueles dois naquele momento, vestindo cabeças velhas e compridas, de uma antiga viagem a um resort no litoral. Aquelas camisas estavam no carro de Natsumin há meses. Sempre esquecia de deixar na casa de Ayuminn e Lysandre. Afinal, foram eles que deixaram as caixas com ela depois da lua de mel. Apesar de se olharem em silêncio, nenhum dos dois se moveu. Castiel e Natsumin estavam tão confortáveis, olhando-se no escuro, que nada parecia abalá-los. Exceto é claro, um baita de um trovão.

                — É... não vai passar. — ele olhava para a chuva na estrada.

                — É... não... — Natsumin inspirava o ar lentamente. As mãos estavam frias, mesmo que ela não sentisse mais frio. — Ainda tá longe, não é? — ela murmurou. —          

Castiel balançou a cabeça positivamente. — Ainda vai ter que subir a serra.

— Tsc. — Natsumin mordeu os lábios. — Eu passei por uma cabana aqui perto. Tá há uns 200 metros pra trás.

— Você que manda. — Castiel levantou os ombros. Enquanto Natsumin voltava com o carro para a estrada, Castiel apenas a observava em silencio. Ainda estava apaixonado, era essa a verdade. Talvez até mais do que antes. A diferença era que agora, conseguia admitir para si mesmo. Talvez, de fato, como dizem os poetas, loucos ou românticos, a distância realmente fizesse perceber que de fato importa para você. Saudade é um sentimento estranho.

***                        

                Sentia em seu corpo, o calor oriundo do fogo que crepitava na lareira. Embalada por ninguém menos que Elvis, sua noite voltara àquele estágio de sonho. Aquele calor, aquelas cores quentes da cabana, as almofadas macias do compartimento de frente para a lareira... tudo parecia um sonho. A cabana era pequena e confortável. Ela se deliciava sozinha, a tomar um vinho, enquanto uma vitrola retrô tocava um dos discos escolhidos por ela. Não conhecia todas as faixas de Elvis, mas a que ela mais gostava era uma das últimas.

                Quando Lysandre e Ayuminn atenderam o telefone, estavam em prantos. Na recepção do pequeno hotel... se é que se podia chamar assim, afinal era só um prédio anexo a algumas cabanas disponíveis na estrada, a mulher, uma senhora com caras de poucos amigos e uma verruga no queixo, olha para os dois como se fosse dois malucos, vestidos apenas com camisas iguais. Ela hesitou quando Natsumin pediu para utilizar o telefone, mas Castiel fez questão de dizer que eram apenas um casal cujas férias haviam dado muito errado e agora só precisavam relaxar e reatar. Afinal, estavam extremamente apaixonados. Quando ele disse isso, os olhos inevitavelmente encontraram o de Natsumin e, naquele momento, Lysandre atendeu o telefone.

                — Não, Lys...É... É confuso..., Mas ele tá aqui. Vai falar com você. — Natsumin passou o telefone para Castiel. Era um daqueles cujos números no teclado você pressionava girando. Com certeza aquele telefone era mais velho que ele.

                — Olha quem não morreu... — Castiel emitiu um sorriso, mas logo o desfez, quando os olhos encontraram o rosto da mulher da recepção, que o olhava como se fosse mata-lo, se não fosse breve na ligação. Castiel pigarreou. — Olha, meu amigo. Até agora também não entendi nada. O cara simplesmente apareceu no camarim, me deu um whisky de presente e depois que brindei e tirei umas fotos, não vi mais nada. Quando acordei ele tinha levado tudo, inclusive meu carro. Mas tô bem, tô bem. Quer dizer. — ele olhou Natsumin brevemente. — Estou ótimo. — o ruivo suspirou. — Dê um beijo em Ethan. Se alguém perguntar por mim, diga que sumi.

                O ruivo entregou o telefone à mulher e os dois seguiram para a cabana sem pestanejar, ou reclamar da única cabana disponível, reservava à casais. Foi aí que surgiu a história do casal apaixonado. Não que fosse muito distante da realidade.

                Sentada no sofá, Natsumin se recordava daquele momento. Deixara o celular no carro e, além de não ter carregador, não se importava com o aparelho naquele momento. Não quando, de repente, saiu o ruivo do banheiro, vestindo apenas um roupão, como o dela, e cheirando à colônia do banheiro. Natsumin sorriu.

                — Você está parecendo a minha tia Ágatha. — ela bebeu mais um gole de vinha, notando Castiel sorrir.

                — É o que acontece quando você morre... mas sobrevive. — Castiel abriu um sorriso de coiote, antes de se sentar ao lado dela, de frente para a fogueira. O compartimento nada mais era do que uma escadinha de uns cinco degraus, que dava para uma espécie de sofá subterrâneo, bem criativo, por sinal, adornado com almofadas e cobertores quentinhos, que recebiam o calor diretamente da lareira. — Hum... isso é bom. — Castiel encostou-se numa pilha de almofadas macias, sentindo o conforto daquele tecido grosso.

                Natsumin apenas sorriu e ofereceu-o uma taça vazia. Castiel aceitou sem pestanejar e então Natsumin despejou o vinho ali. Os dois pareciam trocar mensagens em silêncio, tamanha a conexão que aquele momento proporcionava. O silêncio se instaurou mais uma vez, mas, antes que Natsumin pudesse falar alguma coisa relacionada a Ethan, que era o que estava pensando, sua música preferida do disco começou a tocar: Can’t Help Falling in Love. Como se adivinhasse seus pensamentos, o ruivo apenas apoiou o vinho em um dos degraus de cima do compartimento e se pôs de pé naquela espécie de sofá subterrâneo. Em seguida ofereceu a mão para Natsumin, convidando para uma dança, com um sorriso de coiote.

                — Essa pede. — ele murmurou. Natsumin reparou que seus olhos analisavam o rosto dela, mas, principalmente, seus lábios.  

                — Ainda não esqueci que falou meu nome em rede nacional. Revelou minha identidade sem a minha permissão. — ela o olhava de volta e, embora resistisse, aquela introdução a envolvia. A voz de Elvis amaciava seu coração e ela só queria dançar com ele naquele momento. A noite foi tão intensa, a possibilidade de perde-lo foi tão real, que aquela dança era tudo o que ela pediria sob a chuva.

Wise men say, only fools rush in

But I can't help, falling in love with you

Shall I stay? Would it be a sin

If I can't help, falling in love with you?

 

                Natsumin finalmente parou de resistir e permitiu-se ser guiada por ele. Castiel passou a mão por sua cintura e Natsumin sentiu a energia quente vinda de seus dedos. A outra mão dele tomou a sua e Castiel a guiou com calma, a passos lentos, como pedia a música. Havia uma paz ali. Uma paz desconhecida. Por um instante, Natsumin lembrou-se da dança na formatura, mas logo dissipou as lembranças ruins que ela trazia. Agora, o ruivo, com os cabelos que secavam aos poucos, tão lisos que começavam a cair de volta na face dele, a olhava com um desejo reconhecível nos olhos. Um desejo que ela sabia que também sentia.

Like a river flows, surely to the sea

Darling, so it goes somethings are meant to be

Take my hand, take my whole life too

For I can't help, Falling in love with you

                Natsumin permitiu-se deitar a cabeça no peito nu de Castiel, entre o roupão. Sentiu a mão do ruivo apertar o corpo dela contra ele, e então sua voz grave e melodiosa, entoar os últimos versos daquela dança.

Like a river flows, surely to the sea

Darling, so it goes somethings are meant to be

Take my hand, take my whole life too

For I can't help, Falling in love with you

 

                Natsumin fechou os olhos, ouvindo o coração dele bater forte, acelerado. Ele também provocava isso nela, embora ela tentasse esconder. Embalados naquela canção, parecia que não existia mais o mundo lá fora. Parecia que os adolescentes complicados, jovens perdidos que foram, foram substituídos por duas pessoas, no auge de toda beleza e juventude que naquele momento esbanjavam, apreciando o silêncio de um momento, os corpos quentes e nus sob o roupão, a suar de desejo.

                Antes que a música pudesse terminar, Natsumin levantou novamente o rosto, ao sentir a mão dele acariciar seu cabelo. Castiel esboçou um sorriso de canto, sem mostrar os dentes e seu polegar desceu para o queixo de Natsumin, contornando seu lábio. Natsumin nada disse, apenas colocou-se na ponta dos pés e se aproximou.

                Aquilo o surpreendeu, ela pôde sentir. O peito de Castiel palpitou e o ruivo deixou escapar um suspiro. Tão logo, ele entrelaçou os dedos nos cabelos de Natsumin e seus lábios tocaram os dela. Iniciaram o beijo lentamente, mas a paixão ardia e era imediata e instantânea. Seus corpos se juntaram mais, ela sentia a mão dele deslizar por sua lombar e ele se arrepiava com o toque das mãos dela em se pescoço. O beijo tornou-se mais intenso, carnal. As línguas brincavam uma com a outra, os lábios deslizavam com gana. E então, quando o ruivo desceu a boca para o pescoço dela, Natsumin arrepiou-se por inteiro. Ele sentiu, pois deixou escapar um sorriso quente. Natsumin respirava ofegante, mas suas mãos logo desceram para o laço na cintura dele, feito pelo roupão. Castiel voltou os lábios para os dela, sorrindo abafado.  

                — E eu... que achava... que fosse tarde demais... — Natsumin pronunciou entre beijos.

                — Nunca é tarde. — Castiel afastou o rosto para olhá-la por segundos tão intenso que pareceram longos minutos. — A não ser que alguém morra. — ele levantou os ombros e quando se aproximou para beijá-la novamente, Natsumin o empurrou, rindo.

                — Você cortou o clima. — ela balançava a cabeça para o lado.

                Castiel a olhava de forma tão intensa, que Natsumin sentiu-se completamente nua. Apesar de saber que não ia demorar para que aquilo acontecesse. Castiel parecia tão diferente. Aquele tempo afastados, de fato o fizera bem. Não parecia o mesmo do palco de, quem diria, essa noite. Tudo fora tão intenso que parece que aquele um ano passou nessa mesma noite. Uma aura deferenciada envolvia o ruivo. Era como se ele, finalmente, se libertasse das próprias amarras.

— Me perdoa. — Castiel pronunciou, enquanto acariciava o rosto de Natsumin. De fato, ele se libertava de amarras. Estava cansado de negar os próprios sentimentos a si mesmo. Cansado de tanto orgulho. De fato, percebera naquele instante, olhando aquela menina de cabelos negros a caírem em ondas, que orgulho não era absolutamente nada. Que a música os conectava e que quando estava com ela, era como se nada mais existisse.

Natsumin ergueu um dos cantos dos lábios. Ah, Deus, como queria ter ouvido isso há tantos anos. Que noite era aquela? Algo, de fato morrera naquela noite, algo além do rapaz anunciado no rádio. Talvez o orgulho. Talvez a própria maldição. Natsumin passou a mão por dentro do roupão de Castiel, descendo até a sua cintura, sentindo a pele macia do ruivo arrepiar-se sob o pano. Ela desfez o laço e expôs o corpo nu dele, mas mal teve tempo de apreciar a visão, pois Castiel já a puxava novamente para um beijo, dessa vez ainda mais apaixonado. Era raro que o ruivo estivesse sem palavras, mas, naquele momento estava. Só que também não precisava dizer mais nada, pois as músicas que cantara mais cedo, já falavam por si só. E o ruivo sabia que Natsumin tinha conhecimento disso.

Enquanto a beijava, passeava a mão pelo corpo da jovem que antes era apenas uma menina em suas lembranças. Estava louco por ela. Louco para tirar aquele roupão, tirar os obstáculos que separavam suas peles e, finalmente, depois de tantos anos, entregarem-se como deveriam, sem dor, sem sofrimento, sob a calmaria de uma fogueira. Era como se o passado tivesse, de fato ficado para trás naquela noite. O disco de Elvis acabara e o silêncio parecia ainda mais delicioso. Com a chuva lá fora, ouviam apenas as próprias respirações e os suaves gemidos que emitiam, em desejo de um pelo outro.

Castiel finalmente baixou as mangas do próprio roupão, deixando a peça cair e ficando completamente nu diante de Natsumin. Seus cabelos de fogo, brilhavam ainda mais com a luz que vinha da lareira. Natsumin olhou-o da cabeça aos pés antes de beijar seu peito e voltar a seus lábios. Castiel ficara ainda mais bonito com o passar dos anos. Dessa vez, a barba estava por fazer, trazendo ao ruivo um charme ainda mais particular. Seus cabelos lisos secaram e agora, mais compridos, caíam por seus ombros com suavidade. Os olhos pequenos e alongados, o deixavam com o olhar de um felino, um um lobo e o corpo comprido e musculoso brilhava com o suor daquele momento.

Ele também a olhava de volta, dessa vez, como se pedisse permissão para despi-la. Mal precisava, pois aquele olhar já a despia. Natsumin assentiu com a cabeça e sorriu e ele logo a tomou para mais um intenso beijo e, enquanto a beijava, desfazia o nó que ela fez no roupão. Castiel sentia como se aquela noite no chão fosse uma realidade distante, como se Natsumin ali em seus braços, fosse apenas uma ilusão. Sonho ou não, ele preferia aproveitar aquele instante. Aproveitar a pele macia que tocava, os seios, agora expostos, que beijava, arrancando dela um gemido baixo. Finalmente ele derrubou o roupão de Natsumin e seus beijou foram descendo pela barriga da amada, até pararem em sua região íntima. Quando ali chegou, Castiel a sentiu se arrepiar, mas logo se pôs novamente de pé e pegou-a no colo, deitando-a com agilidade entre as pilhas de almofadas e cobertores que compunham aquele compartimento. Castiel voltou a beijá-la com paixão e desejo, já sentindo a excitação aparente em seu próprio corpo.

Castiel espalhou mais beijos em seu pescoço, Natsumin esfregava as pernas no corpo dele, respondeundo ao desejo, enquanto ele brincava com os dedos em sua região íntima. Castiel voltou a passear a boca em seus seios, até que desceu novamente para sua virilha e Natsumin não pôde mais conter os gemidos. O ruivo ficou ali por um tempo, sua língua fazia um trabalho intenso e maravilhoso enquanto suas mãos acariciavam seu corpo e brincavam com seus seios. Natsumin curvou o corpo em desejo e finalmente pediu-o para parar.

Quando seus corpos finalmente se uniram, era como se o tempo não tivesse passado. A sintonia era a mesma de quando era apenas adolescentes, exceto que agora eram muito mais experientes. Os corpos suavam, a dança intespetuosa durou um tempo que parecia uma eternidade prazerosa. Natsumin forçou o corpo para o lado, pondo-se por cima do ruivo e a dança voltou mais ágil e intensa e, dessa vez era ela quem arrancava gemidos do parceiro, enquanto ele acariciava suas nádegas, suas costas suadas e beijava a sua boca e seus seios.

Quando ambos finalmente chegaram ao auge, estavam exaustos. Ficaram deitados ali, abraçados por alguns minutos, despidos e sem cobertores. Os corpos ainda ficaram quentes por longos minutos. Natsumin sentia os dedos longos e ásperos do ruivo acariciarem a extensão de sua coluna até a lombar. Aquilo a arrepiava. Os calos ásperos dos dedos que tocavam a guitarra deixavam uma sensação energizante em seu corpo. Ela não queria interromper aquele silêncio, ou aquele momento, jamais.

E Castiel, então, beijou a cabeça de Natsumin. A mesma cabeça agora deitada em seu peito. A mão dela sobre seu peito sentia diretamente seu coração bater acelerado. Nunca nos mais loucos de seus devaneios, o ruivo adivinharia que sua noite terminaria daquela maneira. Era mais fácil ele terminar, de fato, morto, do que nos braços da pessoa por quem estava apaixonado. E foi naquele instante, que o ruivo resolveu falar alguma coisa, porém, quando percebeu, Natsumin estava adormecida em seu peito e dormia um sono suave, tão suave, que ele não quis acordar. Com cautela, o ruivo puxou um cobertor e cobriu aos dois. Não haveria funeral no dia seguinte. A única coisa quem parecia enterrada, naquele momento, era o orgulho. Com um sorriso nos lábios, o ruivo também fechou os olhos.


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Notas finais do capítulo

Eu disse que não era para se desesperarem, né? ♥



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