Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 80
Capítulo Seis - Hábitos ruins devem morrer


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem desse capítulo bem intenso...
Prometo postar o próximo mais rapidamente. Já estou trabalhando nele :)
PS: As músicas de Castiel no capítulo são todas músicas minhas. Um dia gravarei e as colocarei no youtube :)



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Sua cabeça doía a ponto de sequer conseguir abrir os olhos. O corpo pesado sentia a colcha e as mãos tateavam o próprio corpo e notavam que ainda vestia as roupas pesadas e molhadas. As botas de couro ainda estavam nos pés, sujando o colchão de terra, o peito nu estava suado, a calça jeans desabotoada, o cabelo cobria a própria face.

Mas ele ainda não conseguia abrir os olhos.

Parecia que havia dois tijolos sobre as pálpebras, ele tentava, mas elas insistiam em continuarem coladas daquela forma. Ele virou o corpo para o lado com dificuldade, sentindo-se mais pesado do que de costume. A cabeça doía tanto que jurava que naquele leito de luta e solidão, poderia explodir.

Mas ele não conseguia abrir os olhos.

Não quis mais insistir, queria voltar para aquele submundo dos sonhos, algo em seu subconsciente o dizia para permanecer ali e nunca mais acordar, uma angústia crescia em seu peito a ponto de ter raiva de si mesmo.

E então ouviu um pigarro feminino.

E seus olhos se abriram. E a visão que teve, apesar de agradável, só apertou mais o seu peito.

— JESUS CRISTO.

Ele passou a mão pelo rosto.

***

Fazia um mês que ela não o via. Não admitiria, muito menos para ele, mas, de alguma forma, sentira sua falta. Com a rotina do último semestre menos apertada depois que saiu do emprego de garçonete, Natsumin sofria com uma ansiedade repentina, pequenas crises que assolavam seu coração e tomavam seus pensamentos em minutos e a atormentavam por um dia inteiro. O casamento de Ayuminn estava cada vez mais perto e ela seguiu sua rotina se dedicando completamente a Ethan e à música, como se tentasse recuperar o tempo perdido. Mas um mês não era nada, ela aprendera com o tempo, os dias e as semanas passavam tão rapidamente e em alguns anos, um ano também não seria nada. Um ano não mudaria vidas, não seria a visão de um novo futuro. Um ano seria apenas um ano. E pensar nisso a apavorava.

Com a música sendo lançada nas rádios e no spotify em breve, ela finalmente iria se encontrar com a cantora que a comprou e, quem sabe, estabelecer uma parceria para as composições. Mesmo que na voz de outra pessoa, seria a sua música que ouviria. O fruto de seu trabalho e , por mais que tentasse muito, se pensasse nisso há alguns anos, nunca acreditaria que seria verdade.  E Castiel....

E Castiel voltaria da semana de shows no outro estado hoje.

Ele estava conquistando seu espaço de forma cada vez mais rápida. De uns tempos pra cá, ele desapareceu das mídias, antes ele era apenas o guitarrista gato de uma banda bem ruim que, por ventura, a vocalista era sua ex e atual namorada ao mesmo tempo.

Hoje ele faz turnê com a própria banda, eles são sucesso nos estados próximos à sua cidade natal e, com essa turnê de início, logo seriam sucesso mundial. Faltaria bem pouco para o sucesso mundial. E Natsumin acreditava que isso aconteceria. As músicas de Castiel eram diferentes. Não eram apenas romance adolescente, depois do retorno dele e a viagem para os primeiros dias de turnê nesse mês, ela se pegou ouvindo algumas. A profundidade de cada uma em letra e melodia, dialogavam com a intensidade das mudanças bruscas que vinham acontecendo em sua vida.

“Bad habbits may die” se referia claramente ao Castiel antigo e seu relacionamento com Debrah e a forma como ele sugeria que “os hábitos ruins deviam morrer” era uma história impressionante. Desde do jovem Castiel distante e irritadiço, solitário, sem atenção dos pais quase sempre ausentes, que encontrou abrigo no colo de uma garota que acreditou ser segurança, quando foi castigo... Era belíssimo e íntimo. “A man’s journey” era a que Natsumin mais gostava. Tinha uma intensidade tão forte e resumia o crescimento pessoal do ruivo de uma forma inexplicável. Era linda. Linda demais. Mas uma a intrigou, de certa forma. “Those eyes”. Falavam de olhos que o assombravam todas as noites. Olhos que nunca o permitiram abandonar o passado. Olhos com os quais ele sonhava. Ele chamava na letra de ‘olhos de marquise”, “olhos de inverno”. Olhos que queriam “se proteger”. Natsumin sentia um impacto diferente quando ouvia essa música. Era como se um dedo apontasse para ela diretamente. Doía, mas também trazia nostalgia e apertos no coração.

Quando saiu de seu quarto no quinto andar e pressionou o botão do elevador, seu coração apertou um pouco. Tinha acabado de deixar Ethan na escola, a aula de hoje havia sido cancelada.... Não seria uma má ideia dar apenas uma passada no quarto dele. Quer dizer, ele não voltou exatamente hoje, voltou ontem à noite, na verdade, mas ela não poderia aparecer de madrugada na porta de seu quarto para dá-lo boas-vindas. Soaria estranho e, pelo jeito que eles se viram da última vez... as coisas poderiam ficar pior. Ela havia se atirado nos braços dele praticamente naqueles trajes de coelhinha, beijara a ponta de seu nariz e... Cristo, se não tivesse tão bom autocontrole, poderia ter ido para a cama com ele. Seria rápido e esquecível, como seus pensamentos daquela noite.

Ou como ela tentou o esquecer durante esse mês em que ele esteve longe.

Mas era estranho. Por quase quatro anos conseguiu se esforçar para tirá-lo de seus pensamentos e seguir em frente e em questão de dias, ele voltava a assombrá-la repentinamente e de meses, a provoca-la. Esse afastamento deveria tê-la deixado na defensiva, mas só provocou ansiedade e pensamentos diversos.

Talvez tenha sido a rebelde.

Talvez tenha sido a visão da rebelde a repudiando naquele salão, aqueles olhos que choravam e a diziam adeus, como se ela estivesse vendendo a própria alma por conforto. Mas não, não era isso. Diferente de Castiel Viktor estava lá. Viktor esteve perto no momento em que ela mais precisou. Castiel sequer ligou para perguntar sobre ela. Ela também não ligou, mas..

Ah. Tanta coisa acontecera, ela esteve decidida a seguir em frente, mas, com as viagens de Viktor tornando-se cada vez mais frequentes, parecia que a forçava a se afastar dele. E ver Castiel agindo como pai pela primeira vez, sua interação com Ethan era tão linda e aconteceu de forma tão natural... Natsumin nunca permitiu Viktor dizer à Ethan que era seu pai, pois ele tinha um, não importava onde estivesse, ele merecia a verdade. Aquela interação naquele pouco tempo, a aproximação...

Sétimo andar.

O elevador falou em alto e bom som, o coração de Natsumin apertou enquanto passava por aquela porta e via aquele corredor. Ela respirou fundo e tentou esvaziar a própria mente enquanto carregava uma guitarra nas mãos. Era a guitarra dele que deixaram com Ethan na noite em que saíram para a despedida de solteiro.

Antes de viajar, Castiel insistira para ela e Ethan o acompanharem, mas ela tinha suas aulas, sua vida e não permitiria que Castiel levasse Ethan sem ela. Mas, o que doeu mais, na realidade, era que ela sabia que aquele seria um passo longo demais. E a companhia dele num trailer.... Ela sabia o quão solitária a viagem de músicos poderia ser. E o tanto sexual também.

E então, diante desses pensamentos, ela parou diante da porta dele.

Mas não precisou bater.

— É claro, você! Tinha que ser você!

Primeiro, um vulto de coisas voou em sua frente, caindo no chão rapidamente. E então Sandy atravessou a porta do quarto de Castiel enfurecida. Vestia calça jeans e no caminho terminava de fechar o casaco. Por baixo dele, estava apenas de lingerie.

Natsumin olhava para aquela bela mulher naqueles cabelos loiros e embaraçados, os lábios grossos e os olhos inchados de uma noite mal dormida.

Logo atrás dela, o ruivo sem camisa, segurava a porta.

 Qualquer pensamento ansioso se dissipou da mente de Natsumin naquele momento.

***

Alguns minutos antes...

Seus olhos olharam a linda, mas muito enfurecida mulher sentada na cadeira diante dele, como se o tivesse encarado a noite inteira, esperando-o acordar. E as olheiras não mentiam.

— Você me chamou...  — ela engolia a própria saliva enquanto limpava as lágrimas de raiva do rosto. — de Natsumin a noite inteira. — o resto das palavras saíram entre o ranger de dentes.

Ele olhou as narinas infladas dela, os braços cruzados, o belo corpo trajando apenas uma lingerie rosa....

Castiel limpou a garganta.

— Olha, eu...

Sandy se levantou da cadeira e andou para a cama, sentando-se entre aqueles lençóis, curvando o corpo para a frente, para que ele notasse seu decote.

Castiel passou a mão pelo rosto e suspirou.

— Eu sinto muito. — ele evitava olhar para os seios dela que, propositalmente saltavam do sutiã.

— Diga que continuaremos a fazer isso. — Sandy pegou a mão de Castiel e passou em seus seios, forçando-o a tocar os mamilos que ela expunha propositalmente. — Diga e eu esquecerei de tudo rapidamente.

Castiel tirou a mão dele e se levantou, fechando as calças.

— Por favor... vá embora. — o ruivo o ruivo soltou um longo suspiro e esfregou a nuca.

Sandy o encarou com um olhar diferente. Rejeição. A rejeição que nunca tivera antes.

— Você não pode...

— A noite foi... — ele passou a mão pela cabeça, não conseguia se lembrar de um flash sequer da noite anterior.

— E como foi a noite? Me diz! — ela deu um forte empurrão no peito dele e começou a recolher as próprias coisas espalhadas pelo quarto.

Castiel permaneceu controlado e impassível.

— Me diz Castiel Hayes! — ela vestia os jeans e tentava seduzi-lo mesmo após a rejeição. — O que você lembra?

— Garota... — ele esfregou o próprio rosto antes de olhar sério para ela. — Você precisa sair...

— Pois eu me lembro muito bem. — ela praticamente cuspia no rosto dela de tão enfurecidas que as palavras passavam por sua boca. — E eu nunca vou esquecer de você me tocando, me beijando e me tomando nessa cama aqui.... — ela acariciou e beijou o pescoço dele. — Enquanto me chamava de Natsumin. — Sandy cuspiu no rosto dele, mas errou o alvo e a saliva parou no ombro de Castiel.

O ruivo trincou os dentes e respirou fundo para não fazer alguma besteira. Ele andou em direção à porta e abriu com força. Sandy não queria passar para irritá-lo, mas ele pegou as coisas dela e jogou no corredor, sem dá-la muita escolha.

E então Natsumin apareceu.

— Pode ficar satisfeita! — Sandy praticamente cuspia aquelas palavras enquanto batia os saltos com força no chão. Castiel tapava os ouvidos, aquilo piorava sua dor de cabeça. — É o seu nome que ele chama quando tá na cama com outra.

Um silêncio constrangedor se instaurou naquele momento entre os dois, dando espaço para o barulho irritante dos saltos de Sandy no corredor, em seguida para os socos que ela dava no botão que chamava o elevador.  O ruivo segurava a porta, olhando Natsumin, os olhos não olhavam diretamente nos olhos dela.

O elevador chegou e diante de urros, chutes e gritos mimados, Sandy entrou, mas não sem antes gritar “eu te odeio” alto o suficiente para que algumas pessoas saíssem de seus quartos, não deixando escolha para Natsumin a não ser entrar rapidamente.

O silêncio persistiu, Castiel permaneceu de pé e sério, os braços cruzados sobre o peito nu. Até que ele finalmente disse alguma coisa.

— Natsumin...

— Não precisa. — ela o interrompeu.  Embora algo em seu peito urrasse, ela comprimia essa raiva pois sabia que não podia impedi-lo de viver a própria vida, assim como ela vivia a sua. Não podia esperar. — Até onde eu sei, não há voto de castidade. — ela levantou os ombros e pôs a guitarra sobre o sofá no cômodo ao lado.

Castiel balançou a cabeça como quem concordasse, mas seu olhar não era muito convidativo e o crispar de lábios denunciava a ironia.

— Quer... beber algo? — ele esfregava o próprio pescoço.

Natsumin sorriu, contrariando as expectativas do ruivo. — Se não for me meter demais, não acho que você deveria.

 — Seria pra você, não pra mim. — ele andou até o balcão da cozinha, onde achou uma garrafa de uísque pela metade. Olhando a garrafa, também notou a cuspida no próprio ombro e suspirou.

Natsumin o olhava com os braços cruzados como se o analisasse.

— Se incomoda se eu tomar um banho? — ele andava aos poucos até o banheiro do outro lado do cômodo, próximo à cama.

— Eu já tô de saída. — Natsumin sorriu amarelo enquanto dava de ombros. — Tenho de....

— É bem rápido na verdade. — Castiel olhava para ela como um cão olha para o dono. — Por favor.... Quero saber do Ethan.

Natsumin mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça positivamente. Castiel atravessou o cômodo como uma flecha para o banheiro e Natsumin aproximou-se do balcão. Colocou uísque num copo. Cheirou. Era bem forte. Bebeu de uma vez.

No chuveiro quente, Castiel tentava reconstruir as próprias memórias enquanto xingava ao vento o momento oportuno em que Natsumin foi aparecer. Ele fechou os olhos, sentindo o alívio da água quente tomar seu corpo, passando pelas tatuagens nos braços, o rubro dos cabelos, o corpo bem construído, os membros... Ele foi reconstruindo as imagens em sua cabeça, o momento em que começou a beber no ônibus depois do show, como era de costume, a forma como George entrou no ônibus com uns saquinhos esquisitos e então, a forma como eles brigaram porque Castiel sabia bem o que era aquilo, aquele maldito pozinho que estavam usando ultimamente. Ele lembrou que, apesar de tudo, todos da banda cheiraram aquela merda e ele estava bêbado demais para dialogar.... Então reconstruiu o rosto dela... Sim. Sandy. Sandy chegou com George, mas não demorou muito para sentar no seu colo e começar a se atirar para cima dele. Ele era homem e solteiro, ela era uma mulher linda, é claro, embora outra domasse seus pensamentos. Sentada no colo dele, Sandy separou a droga sobre a própria palma e cheirou com um canudinho de papel. E então... então ele pediu que ela colocasse um pouco no copo dele. MERDA! O ruivo socou a parede com força. Depois disso ele não se lembrava mais de nada.

— Desculpa, acho que demorou um pouquinho, mas...

Não que esperasse diferente, mas... ao sair do banheiro, ela havia ido embora sem deixar nenhum rastro de toda aquela confusão que acabara de acontecer.

***

Quando chegou em casa, ela se jogou nos lençóis da própria cama. Estava sozinha e havia um choro preso na garganta, ela tentou dissipar aquele bolo entregando-se àquela tristeza e permitindo-se chorar.

E então ela a viu.

Mais uma vez Natsumin viu a rebelde. Vestia lingerie preta, maquiagem escura, batom da mesma cor e estava parada na porta do seu banheiro. Ela não chorava dessa vez, não a olhava em reprovação. Apenas a encarava. De maneira profunda, como se não precisasse acrescentar mais nada pois Natsumin já sabia o que acontecia com ela naquele momento. Natsumin levantou da cama e correu para o banheiro, tentou tatear aquela visão que se dissipou em suas próprias mãos. Entrou no banheiro e lavou o rosto no banheiro. Seu reflexo mostrava seu rosto jovem e bonito, os olhos azuis se destacando nas ondas do cabelo preto. Com o tempo e o corte repicado que fizera esse mês, o cabelo ganhara curvas, como seu corpo após a gravidez.

Ela suspirou.

Disse a si mesma que era loucura sentir o que estava sentindo, mas que aceitaria aquele sentimento que o universo oferecia e o devolveria em forma de amor. Amor ao seu filho, amor a quem ela era e a quem foi. Dessa forma ela jurou que, da próxima vez que visse a rebelde, a cumprimentaria. E a receberia de volta. Como o passado que ela deveria deixar morrer. E o futuro que deveria aceitar. Ela olhou a aliança no dedo por um tempo. A retirou para olhar mais de perto e então..

Ela caiu.

O buraco da pia estava destampado. E a aliança caiu bem fundo. Poderia ser um sinal do universo, ou resquícios de ser apenas uma desastrada. Mas naquele momento oportuno, a campanha tocou e ela hesitou, indecisa quanto ao que fazer, tentar pegar a aliança ou abrir a porta, mas pegar a aliança, apesar de tentador, poderia piorar as coisas. Ela abriu a porta sem pretensão senão a de alguém que pudesse ajudar e então...

Era ele lá.

***

                Ele não parecia muito bom no que fazia, mas havia insistido tanto para não chamar um encanador ou o serviço do hotel, que ela acabou atendendo. Quando ele entrou, não trocaram muitas palavras. Ela não o deu tempo de falar e mencionou o que aconteceu à aliança. Sem muitas explicações ele quis tentar e, agora, mais ou menos trinta minutos depois, os dois suavam tentava abrir o encanamento de forma que não quebrassem nada.

                — Acho que mais um pouco a gente conseg...

                Castiel não teve muito tempo para terminar a frase. Em instantes, ambos estavam ensopados devido à quantidade de água que jorrou do cano perfurado.

                — Acho que encontramos... — Natsumin perseguia a aliança que boiava no chão, nadando até o ralo do banheiro mais próximo.

                — Não! — Castiel e Natsumin se jogaram para buscar a aliança, mas as coisas deram um pouco errado e eles acabaram se emaranhando ensopados no chão. Se olharam por um tempo que pareceu infinito.

                — Consegui. — Natsumin quebrou o silêncio e levantou o anel. Um pouco sem graça, ambos se afastaram e Natsumin deslocou-se para o telefone, de forma a ligar para a administração.

***

                — Obrigada. Daqui a duas horas então. E, me desculpe novamente.

                Natsumin desligou o telefone, observada pelo ruivo que a olhava intensamente. Ela não sabia, mas Castiel a olhava ao longe, percebendo cada detalhe, gravando em sua memória cada pedaço dela que um dia teria de aprender a esquecer. Ela também não sabia o que o levara a levar Sandy para a sua cama, a experimentar a droga que acabou com a sua noite. Ele aos poucos tinha alguns flashes, mas mais do que imagens, ele lembrava da sensação. Da força daquele pó passando pelas suas narinas, a ardência, então a completa sensação de êxtase.

                Mas ela também não sabia o que se passava com ele.

                Não sabia o quão desiludido ficou com a turnê, com a vida de música, com tudo o que sempre sonhou. Ele havia abandonado não só Natsumin com o filho, mas também seu melhor amigo. Embora seu relacionamento com Lysandre não tivesse mudado, a vida de Lysandre tomou um rumo diferente e em breve estaria casado e segurando o primeiro filho, observando seus passos, vendo-o crescer.

                Tudo o que ele não teve com Ethan e, provavelmente não teria com mais ninguém.

                Natsumin se apaixonou e em breve também teria sua família.

                Castiel, ele próprio, por sua vez guardava um segredo mas tinha que esperar o momento certo, isso o consumia. Ele queria continuar compondo músicas como “a Man’s journey”, a jornada de um homem, ou “Bad habbits may die”, mas a produtora continuava a pressioná-lo a lançar mais músicas como “That ass” (aquele traseiro) e “Let’s end the world”, pequenas baladas que flertavam com o pop que os outros rapazes ajudaram a compor já que sua mente se recusava a lança-las. Nos shows, as mulheres que o seguiam, as pessoas a quem ele era apresentado... os próprios colegas de banda... Ele estava ficando cansado. E tudo isso o impactou naquela noite. Enquanto cantava “Those eyes” nos shows, eram aqueles olhos azuis ao telefone que ele lembrava. Quando cantava sobre a morte dos hábitos ruins, ele se lembrou do tempo que perdeu sem conhecer seu filho, sem contatar os amigos, sem contatar os pais. E agora, ele se sentia mais sozinho do que nunca.

                Nunca pensou que sua carreira musical fosse seguir esse caminho.

                Ele fumava e bebia cada vez mais e, depois de ontem, também flertava com drogas e levava garotas atraentes, mas completamente irritantes para a cama para que no dia seguinte o irritassem. Era definitivo. Se os hábitos ruins não morressem sozinhos, ele teria de mata-los sozinho.

                — Você quer assistir algo? — Castiel apontou com a cabeça para o sofá, convidando Natsumin a sentar-se ao seu lado.

                — Não precisa. — ela respondeu rapidamente e se sentou um pouco afastada dele no sofá.

                O silêncio constrangedor se restaurou, mais por palavras que eles suprimiam do que por falta de assunto. Castiel tinha os olhos direto nela e Natsumin olhava para frente, pensativa.

                Sem nada falar, Natsumin se levantou e caminhou para o outro lado do cômodo, próximo à cama. Pendurados na parede, havia dois violões e uma guitarra.

                — Você tocou com essa em sweet amoris. — Natsumin pousou os dedos no corpo da guitarra vermelha e branca com nostalgia.

                Castiel hesitou por um momento, tentando assimilar a situação. Ele limpou a garganta e se levantou.

                — Sim.

                — Não me lembrava de como ela era. — Natsumin virou o rosto para ele, há alguns passos de distância. Havia lágrimas em seus olhos.

                — Tá tudo bem? — ele se aproximou, mas pela colocou a mão na frente para afastá-lo.

                — Você também sente falta de algo que não sabe? — ela voltou os olhos para os instrumentos novamente.

                — O passado, você diz? — ele ofereceu a mão à ela, que aceitou, então ele a guiou para se sentar na cama, logo abaixo dos instrumentos pendurados.  

                — Não. — Natsumin se sentou. — Bom, não importa.

                Castiel permaneceu de pé diante dela e esfregou a nuca. Naquele momento era como se ele enxergasse a Natsumin que ele conheceu. Apenas uma menina. Um passarinho que nasceu em cativeiro e tem medo do mundo.

                — Eu sinto falta de algumas coisas. — ele se sentou ao lado dela, mas a uma distância respeitosa. Natsumin o olhou, esperando-o terminar. — Sinto falta de pessoas de verdade ao meu redor. De amigos. De família.

                — Os caras contigo não...

                — Curtimos bastante juntos, fazemos um bom som. — ele olhava firme para ela. Como sempre, Castiel era preciso no que falava. Ele raramente hesitava. — Mas não é como...

                — Como o que fazia com Lysandre. — ela o completou, séria.

                — É. — Castiel balançou a cabeça.

                Natsumin também balançou a cabeça e voltou a olhar os instrumentos. O violão à esquerda da guitarra ela conhecia bem. Havia visto Castiel tocar “I will crumble” nele diversas vezes, inclusive no hotel em que ela ficou depois de ser ferida e onde eles...

                Onde eles dormiram pela primeira vez.

                “I will crumble” era o principal hit do CD dos Tríades, mas, apesar de todas as lembranças que ela trazia, por muito tempo Natsumin repudiou tanto essa música para se afastar das memórias dele que, agora, ela nem mais gostava dela.

                — Quer pegar? — Castiel apontava com o violão para a cabeça.

                — Como? — ela virou o rosto para ele.

                — Quer tocar? — ele oferecia com os olhos fixos nela.

                — Não.. — ela sorriu de forma contida. — Faz tanto tempo que não toco violão.

                Castiel não disse nada. Apenas se levantou e pegou o violão preso no suporte na parede e se sentou ao lado dela novamente. Virou o corpo para ela, de forma que estivessem de frente. Ele começou a dedilhar e Natsumin reconheceu que era “bad habbits may die”, mas permaneceu em silêncio, observando.

                — Que horas o Ethan sai? — ele perguntou enquanto parava o dedilhado para afinar as cordas.

                — Hm? — Natsumin por um momento se perdeu naqueles dedos que acariciavam as cordas.

                — O Ethan. Sai às seis, não é? — ele sorriu e continuou a afinar as cordas.

                Natsumin pigarreou. — Ah, claro. Hoje é às oito, por causa do passeio.

                — Você deixou ele ir a um passeio sozinho? — Castiel deitou o violão no colo.

                — Não entendi a pergunta. — Natsumin ficou séria.

                — Desculpe. — Castiel sorriu e levantou novamente o violão, dessa vez checando as cordas para verificar se já estava afinadas. — É que eu acho ele muito pequeno e..

                — Ele vai fazer quatro anos no final do ano. — Natsumin levantou os ombros. — Tive que aceitar que meu bebê tá crescendo.

                — É. — Castiel voltou a dedilhar. — Você cortou o cabelo também.

                — Hm? — ele falara tão baixo, que Natsumin mal pôde ouvir. Sua cabeça ainda pensava nele achando que ela não tinha direito de autorizar o filho dela a ir onde ela quisesse deixar que ele fosse. Ao mesmo tempo, sua cabeça também dizia que aquilo era só Castiel aprendendo a ser pai.

                — Seu cabelo tá diferente. — ele parou de dedilhar e olhou para ela fixamente, como se a admirasse. — Realmente, as coisas mudam.

                — É. — ela balançou a cabeça. — Olhe também pra você.

                — Eu não mudei nada. — ele empurrou o ombro dela com o seu.

                — Cabelo grande, tatuagens nos braços, mais um relacionamento fracassado...

                — Essa doeu. — Castiel sorriu. — Além disso, não conta se for um relacionamento que já existiu.

                — Você diz... — algo mudou no rosto de Natsumin. Mesmo que nas entrelinhas, mencionar Debrah a feria amargamente.

                 — Não vou mentir. — ele quebrou o silêncio que ameaçava voltar. — Eu tentei fazer dar certo. Mas não chegou a um ano.

                Natsumin permaneceu em silêncio. Então eles tinham voltado mesmo.

                — Só que chega um momento que você precisa respeitar o seu limite. — ele apoiou o braço no violão sem tocar. — Eu tava forçando uma barra que não era mais pra mim e...

                — Hábitos ruins devem morrer. — ela mencionou o nome da música o que o impressionou.

                — Você ouviu? — ele voltou os olhos completamente para ela.

                — Algumas. — ela balançou os ombros. — São boas.

                — Obrigado. — ele balançou a cabeça.

O silêncio, teimoso e irrefreável, voltou se instaurar entre os dois. Havia tanto a se falar, tanto a questionar e era tanto que era melhor não dizer nada. Castiel queria mencionar que não suportava mais Debrah e tudo o que conheceu de novo dela. Não suportava vê-la tentando forçar o relacionamento dos dois para a mídia só porque ele ficou famoso na internet, em seguida em programas de fofoca por causa de uma foto dele sem camisa que chamou a atenção de algumas pessoas que não tinham o que fazer. Natsumin não sabia, provavelmente, mas depois de um ano em shows com Debrah, ele ficou um ano e meio isolado para que sua imagem desaparecesse das mídias, deixou a barba crescer, se tatuou e conheceu George e James que tocavam e um bar e precisavam de um vocalista depois que o primeiro foi preso por ferir um cara com uma garrafa quebrada. Uma briga de bar qualquer. Castiel só aceitou cantar em troca de também tocar guitarra e compor músicas novas porque as deles eram horríveis. Em pouco tempo um produtor os contratou e assim nasceu o primeiro single “I will crumble” e as demais faixas. Essa turnê que começava agora, foi de última hora.

— O que faz aqui, Castiel? — Natsumin finalmente perguntou, seus lábios sentiam sede por aquelas palavras desde que ele apareceu na cidade.

— Meu melhor amigo vai casar, não é? — ele levantou os ombros como se fosse óbvio.

— Ah, claro. — ela não disse mais nada, apesar de ter certeza de que ele não respondera a sua pergunta. Não justificava ele voltar à cidade muitos meses antes e ainda mais com uma turnê acontecendo. — E por que saiu da banda da Debrah?

— Flagrá-la com o produtor responde a sua pergunta? — Castiel sorriu para ela. Apesar do sorriso, também havia tristeza e ressentimento.

— Eu lembro que você.. gostava muito dela.

Castiel suspirou. Natsumin não entendia nada mesmo.

— Gostei. — ele  disse com firmeza. — Uma vez e bem antes de...

— Hm? — ela o esperava continuar.

— Bem antes de você. — ele manteve o olhar fixo nos dela. — A segunda vez foi um erro do qual me arrependo muito. Talvez eu devesse ter sido fiel aos meus sentimentos, afinal de contas. Me pouparia de muita coisa.

— Um dia isso vai morrer. — Natsumin deixou o corpo cair para trás, deixando na cama. Castiel não disse nada, mas seus olhos passearam pelo corpo dela que vestia um vestido simples de malha e alças e estava sem sutiã, dava pra ver pelas marcas no tecido.

— O mesmo vale para você. — ele parou os olhos nos lábios dela.

— É. — ela sorriu. — Mais fácil falar do que fazer, né.

— Pior que sim. — ele voltou a dedilhar, tentando tirar a atenção do corpo dela em sua cama.

Natsumin fechou os olhos e apenas permitiu-se ouvi-lo tocar. O dedilhado, dessa vez, era de “Those eyes” e Castiel começou a cantar um trecho da música.

As perguntas e as memórias surgiam na cabeça dela à medida que ele cantava, seu peito explodia para que dissesse algo. Até que ela disse.

— Essa música era sobre mim? — Natsumin abriu os olhos e ao abrir, viu que ele olhava diretamente nos dela. Castiel não disse nada, apenas voltou a dedilhar.

Natsumin parou e prestou atenção nele por um momento. Castiel começou a cantar.

Those eyes forgot me once

Please, eyes forget me again

I cannot close my heart with the memories of the pain

Cause when I close my soul you see me again

Aquela voz bela e rasgada atravessou os ouvidos dela, atingindo seu ponto fraco. Ela esqueceu do episódio de mais cedo, esqueceu da aliança, esqueceu de tudo. Só escutava aquela voz em seus ouvidos.

When I was Young and fool I saw you

The first was a just a bet Then it took me after that

Now I Wake in the night and I see you there

                Natsumin sentou-se na cama e o olhou por um tempo. Castiel fechou os olhos enquanto cantava.

Those eyes are like the sunset

Eyes of sunroom

Keeping distance in the shadows..

                Natsumin resolveu acompanha-lo e sua voz entoou aquela melodia junto à dele.

Those eyes forgot me once

Please, eyes forget me again

I cannot close my heart with the memories of the pain

Cause when I close my soul you see me again

                Repentinamente, Castiel se levantou e foi para a janela. Castiel estava numa suíte presidencial com cobertura, cortesia do hotel por conta dos shows que estava fazendo pelas cidades próximas e os shows que acordou de fazer no próprio hotel para o casamento e para chamar hóspedes. Ele abriu as janelas e retirou o maço dos bolsos. De fato, estava fumando muito mais do que antes. Ele tragou por um longo tempo, a fumaça invadindo seus pulmões, aquele gosto seco e amargo desceu por sua garganta, preencheu o vazio em seu peito, se dissipou e saiu novamente. Natsumin fechou os olhos, sentada na cama. Ela sabia que não devia fazer nada, devia deixa-lo ali e sair, mas suas mãos que tremiam, seu coração que disparava todo o seu corpo e sua respiração pediam para que fosse até ele. E então ela apareceu.

                Mais uma vez, a rebelde apareceu. Estava difícil se habituar à rebelde deixar de ser uma pequena coisinha, como um bonequinho em seus pensamentos e tornar-se uma ilusão de seu tamanho e estatura. Uma lembrança de quem ela queria ser um dia. A rebelde segurou as mãos de Natsumin e a levou até ele. E ele notou sua presença se aproximar, mas não virou para trás. Sabia que estava em um terreno perigoso.  

Please eyes don’t ever ever see me

Cause I know that when you see me

you take a part of me

This part I lose forever

And man I cannot get my pieces together

With the missing of you

                Natsumin cantou o trecho final da música enquanto se aproximava. Merda, como aquilo trazia lembranças, como cantar com ele a fazia bem. Por um momento ela deixou a razão de lado e seguiu apenas a rebelde e o instinto.

                Ele virou para ela e a olhou tão profundamente que não havia palavras que pudessem descrever aquela intensidade furtiva. Era desejo, amor, solidão.

                Ela parou ao lado dele e pegou o cigarro de sua mão. Tragou também, olhando-o nos olhos intensamente. Castiel não pôde se segurar. Em instantes trouxe os lábios para os dela. Abriu os lábios sobre os dela e os dela também abriram. Na intensidade daquele momento, seus corpos se abraçavam como se nunca mais fosse sem ver novamente. As línguas buscaram uma à outra e se encontraram numa dança única e impetuosa. As mãos de Castiel desceram pelo vestido de Natsumin e agarraram sua bunda por debaixo do vestido. O beijo se tornou mais rápido e intenso, reflexo da sede que estiveram um do outro por todo esse tempo.

— Castiel, não... — Natsumin se afastou, ofegante.

— Eu sei. — Castiel esfregou a mão no próprio rosto com força.

                Eles se olharam mais uma vez. E mais uma vez se jogaram nos braços um do outro.

                O beijo era muito intenso, as bocas se abriam e fechavam os lábios trocavam mordidinhas e as línguas carícias. As mãos dele passavam pelo corpo dela, as dela entravam na camisa dele.

                E então ela se afastou de novo.

                — Eu não posso, eu segui minha vida. Você também deve seguir a sua. — dessa vez ela se afastou para a porta.

                — Eu não lembro de nada. — Castiel acendeu mais um cigarro e tragou e soltou profundamente. — Merda, eu queria lembrar mesmo que fosse para me arrepender depois. — ele tragou novamente. — Mas eu não lembro. — ele soltou o ar fortemente.

                — O que está falando? — ela parou e franziu o cenho.

                — Da Sandy.

                — Ah, claro. — ela balançou a cabeça para os lados. Era como se tivesse levado um golpe dado por si mesma.

                Os dois ficaram em silêncio mais uma vez.

                — Eu tenho que ir. — ela se distanciou rapidamente.

                — Natsumin.

                — Esse é mais um hábito ruim que você deve deixar morrer. — ela abriu a porta com força. — Ou eles vão matar você. — ela saiu por aquela porta, deixando-o sem palavras para trás mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de me dizerem o que achou, por favorzin ^^



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