Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 71
Capítulo Vinte e oito - Veludo Rubro


Notas iniciais do capítulo

Esse é um momento crucial.
Escutem a música "All I Want", do Kodaline quando a letra aparecer no capítulo. Ajuda bastante a entender o que quis passar.
Por favor me deixem a opinião de vocês e boa leitura!
PS: Responderei aos comentários em breve ♥



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Ele a observou por tanto tempo que não soube determinar quanto.
Dormia, desconfortável, mas tão dopada que sequer tinha noção de onde estava e por quanto tempo. As costas nuas estavam para cima por causa da pomada que Rosa aplicara, os cabelos também foram improvisadamente amarrados por Rosa, ele definitivamente não tinha jeito nenhum para aquilo e acabaria fazendo vergonha. A cabeça dele doía principalmente pelo estresse de ter de lidar com o fato de que queria ter matado aquele bandido quando teve chance, mas não pôde. Ele não conseguia tirar da cabeça a imagem ferida, cansada e fraca, caindo no piso imundo daquele celeiro no meio do nada. Ele conseguira segurá-la a tempo, tentara deixá-la consciente, mas vê-la esvaindo-se daquela maneira era a pior imagem que podia ter tido.
Não suficiente, os policiais ainda ameaçaram bater nele quando se recusou a soltá-la. Havia um criminoso no chão, mas era claro que a culpa cairia sobre ele. Era ele a pessoa diferente, afinal. Como se tivesse cara de marginal. Como se não pudesse piorar, fora salvo por ninguém menos do que o representantezinho e a patota. Por sorte, se é que poderia dizer que havia sorte em tudo aquilo, Lysandre estava junto para provar que ele era amigo e não inimigo, mas os incompetentes insistiam que ele deveria acompanhá-los. Dane-se! Ele não acompanhara ninguém que não fosse ela naquele momento.
Como se não bastasse, teve de lidar com o fato de ter de dividi-la com o bab*aca do amigo dela, que não se afastava em nenhum momento. O cara alugou um quarto de hotel por mais de uma semana para mantê-la "recuperada e longe de qualquer ameaça", já que sua tia não conseguiu retornar de viagem. Hipocrisia. A culpa daquilo tudo era dele e o idiota sabia. Não precisava tê-la envolvido naquela merda, era óbvio que ela não seria útil em investigação nenhuma, era só uma garota.
Enquanto ele fazia o depoimento, no dia posterior, o Viktor verdadeiro - sinceramente, ele odiava esse nome - ficou com ela todo o tempo e a parte mais sensível - podemos dizer assim - ficou com Rosa, quem trocou as roupas dela e passou a pomada nas costas depois que levou alta do hospital. Por sorte, ela não ficara muito tempo internada, no máximo três dias em observação e soro constante.
E em dois dias ele sequer conseguiu entrar naquele trinta e dois.
Levara a droga de uma rosa amassada e ela só pode ter visita no último dia, antes de ter alta. Sempre que ele tentava entrar, havia alguém lá dentro e, normalmente criavam empecilhos, provavelmente por causa da sua aparência. O olhavam com olhos tortos e seu temperamento não o ajudava a resolver problemas. Era um hospital de riquinhos, afinal. Ele foi embora e não voltou depois daquele dia. Preferia estar ao lado dela, daquela maneira. Sozinho.
Dessa vez, tinha um presente melhor no bolso. Não precisava de detalhes, suas costas doíam bastante por causa daquela cadeira imbecil e, apesar de o sofá chamá-lo naquela suíte imensa, ele só queria esperá-la acordar.
"Aproveite o tempo que tiver com ela e, não importa o que ela diga, não a deixe."
Ele ainda tentava entender essas palavras de Rosa. Ela provavelmente sabia mais do que deveria, mas isso não o incomodou como esperava. Ela e as outras meninas ficaram o dia anterior inteiro com Natsumin e chegaram a dormir aqui. O filhinho de papai teve de resolver alguns problemas, provavelmente relacionados ao roubo de sua identidade e no momento não poderia atormentar sua paz com Natsumin. Que dó.
Castiel teve de esperar sua vez pacientemente até que finalmente chegou o dia de as meninas irem embora e o deixarem em paz com ela naquele quarto de hotel. Alexy e outros amigos se revezavam para não deixá-la sozinha e quando ele se ofereceu, foi surpreendente a mudança no olhar de todos. Ele não entendia a surpresa, não poderia se importar com ela também?
Tsubaki, aquela menina maluca que ele não conseguia entender, havia feito a idiotice de dar dois comprimidos do que ela estava tomando. Natsumin apagou desde então. E ele estava ali, esperando-a.
E ela parecia que não ia acordar nunca.
Até agora.
Ele estava ao seu lado na cama, sentado numa cadeira velha e desconfortável que insistiram para que o dono do hotel que, olha que interessante, também era amigo do mauricinho, colocasse no quarto. As mãos estavam sobrepostas e os cotovelos apoiados no joelhos, a cabeça cansada pendia para baixo, a testa apoiada nas mãos. Ele notou o movimento sutil nos lençóis e levantou o rosto. Ela tinha a expressão serena e apertava os olhos para enxergá-lo, provavelmente.
Ele não demorou para avançar em sua direção, tomando a mão dela, esticada na lateral do colchão, na sua. Ela respirou fundo e tentou se ajeitar na cama, estava de bruços e aquela posição era muito desconfortável. Seu pescoço, com o rosto virado para o lado, doía.
— Hmmm. — ela tentou pronunciar algo, mas estava ainda um pouco grogue depois dos analgésicos. Tsubaki sem querer deu duas vezes e a menina desmaiou por horas. Estúpida.
— O que? — ele pegou sua mão, caída para o lado da cama.
— Sua boca está machucada. — ela fez um biquinho e sorriu. Havia tido um sonho ruim, na verdade, eram fragmentos de poucos dias atrás, aqueles fragmentos que ficaram armazenados em partes que sua memória não conseguia identificar. Ela se lembrava do corpo de Castiel caído em seus braços no jardim. De ter tentado sair para pedir socorro, mas Debrah segurou seu braço e Viktor aproximou-se por trás com um pano embebido em um líquido que a apagou. Lembrou-se de Castiel falando com ela enquanto seu rosto ia apagando lá no celeiro. De como Viktor entrou correndo no meio daquele cenário impressionista.
— Você é uma ótima observadora. — ele apertou levemente os dedos dela e continuou segurando sua mão. Ele abrira o lábio com o soco do barman, mas já estava sarado. — Está bem?
Ela assentiu com a cabeça.
— A sua amiga inteligente te deu dois comprimidos do mesmo remédio. O médico falou que não tinha problema, já que estava tomando um comprimido, mas disse que, dobrando a dose, você dormiria o dia inteiro.
— Não a culpe, ela é emotiva demais. — ela sorriu.
— Percebi. — ele crispou os lábios.
Ela o notou com os olhos baixos. Castiel estava diferente, mais sério. Havia algo naquele cenho franzido, algo por baixo da crista rubra que ele escondia. Ah, como queria desvendar aqueles pensamentos.
— É a primeira vez que o vejo. — ela quebrou o silêncio. Não se lembrava de tê-lo visto por lá.
— Você está com amnésia? — ele franziu o cenho com um sorriso de canto de boca.
— É que não te vi no hospital. — ela não disfarçou a expressão triste.
Mas ele esteve lá. Ficara o dia inteiro, chegara a dormir naquela sala com a televisão irritante. Não teve muitos ferimentos, apenas a mão ficou enfaixada por alguns dias e o lábio sarou sozinho. Tentou, mas queria ficar sozinho, queria poder ter privacidade suficiente para beijá-la, abraçá-a e fazer tudo o que tinha vontade, mas reprimia esse tempo todo. Só o conseguiu depois que ela veio para esse quarto de hotel.
— Te visitei em alguns dias, mas estava sempre cheio. Você é muito requisitada.
Ela não disse nada. Apenas o olhava e com ternura infinita. Queria poder levantar-se a abraçá-lo naquele exato momento, aconchegar-se naqueles braços sob a jaqueta de couro e pedir para ficar ali para sempre.
Mas não podia. Aquele não era o momento. Não podia forçar nada, Castiel iria embora logo e ela não poderia ser tão egoísta a ponto de impedi-lo.
— Obrigada. — ela finalmente disse, levantando a mão que ele segurava para seu rosto. Ela tocou o rosto dele e acariciou rapidamente. Castiel ficou olhando-a naquele gesto por um tempo, ironicamente mais bonita do que nunca, escondida entre os lençóis e os colchão.
— Queria tentar me... — ela apoiou a mão livre na cama e foi levantando o tronco, mas o lençol foi caindo aos poucos e revelando que ela estava nua do quadril para cima. A sorte é que estava de bruços, então o máximo que ele viu foi suas costas nuas até o quadril, o que já havia visto antes graças ao decote do vestido que usou no baile. — Oh... ... — ela abaixou-se novamente, recolhendo-se sob o lençol.
— Calma, garota. — ele subiu o lençol pelas costas dela, cobrindo-a até a cabeça. — Sei que estamos sozinhos num quarto de hotel, mas não é para isso que estou aqui. — dessa vez ele abriu aquele sorriso que ela gostava, o de coiote traiçoeiro e encantador.
— Engraçadinho. — ela soltou uma risada baixa entre aqueles panos finos, escondendo o rosto ruborizado, e ali, notou que usava uma lingerie vermelha e de renda, cheirava a perfume e hidratante, estava com o corpo muito bem cuidado, com exceção de faltar o busto da lingerie e ela ter de se preocupar em esconder os seios. Sentiu o rosto queimar. — Q-quem tirou minhas roupas? — ela tirou só a cabeça de debaixo dos lençóis, trazendo a ele uma cena engraçada que o arrancou uma risada. Não lembrava-se de dormir nua nos dias anteriores. Rosa normalmente a ajudava a vestir um pijama leve antes de dormir.
— Seu amiguinho. — ele alfinetou, sério.
Ela revirou os olhos. Sabia que Viktor não tiraria sua roupa e a deixaria só de langerie vermelha, pronta para encontrar Castiel. Isso tinha cara de Rosa, com toque de Tsubaki e Ayuminn.
Ela retirou a cabeça novamente, como uma tataruga tímida e ruborizada. — Eu falo sério.
— Não curto necrofilia, Natsumin. — ele abaixou um pouco o lençol para ver mais de seu rosto. — Rosa tirou suas roupas e passou pomada nas suas costas hoje também, apesar de você estar em um submundo qualquer.
— Hmmm... — ela relaxou um pouco mais, soltando um riso com toda aquela história. A ideia de apenas um fino lençol separá-la dele a perturbava, mas, estranhamente, não a reprimia.
O silêncio imperou naquele momento. Ela tinha o corpo extremamente rígido sob os lençóis e a posição de bruças a pasosu a incomodar um pouco, principalmente com o olhar pausado dele no rosto dela. Demorou um pouco para os dois distraírem-se da intensidade daquele momento.
— Foi ele quem fez isso com você? — ele pigarreou antes de falar, a mão esfregava a própria nuca, os braços estavam apoiados nos joelhos, o corpo curvado próximo à ela. Num surto de bipolaridade, as expressões dele eram mais rudes.
— Não... — ela notou que ele se referia às marcas roxas em suas costas. — Eu fiquei batendo com as costas na parede para tentar sair.
— Ideia besta. — ele franziu o cenho.
— Poderia ter sido pior. — ela respirou fundo.
— As paredes tinham uma camada de cimento por trás da madeira. Você não ia conseguir.
— Ah.. — ela desviou os olhos dele, aquela seriedade dele mudara um pouco o bem-estar dela. Sentia-se nervosa de uma maneira ruim. Provavelmente era a partida iminente dele.
Mensagens subliminares pairavam pelo ar naquele momento e o desejo de um pelo outro só se intensificava com o passar dos minutos. Castiel tinha o olhar no rosto dela, passando pelas curvas que seu corpo formava no lençol fino rapidamente. Por Deus, tinha de afastar aqueles pensamentos, ela estava debilitada.
— Eu queria matá-lo. — ele pronunciou com a voz estupidamente séria. — Só de pensar no que ele queria fazer com você..
— Ele tentou muita coisa, Castiel. — ela o devolveu um olhar intenso. — Mas não conseguiu.
— Você se defendeu. — ele não sorriu.
— Dei um chute daqueles. — ela sorriu.
— Aprendeu com o melhor. — ele não resistiu e sorriu.
— Não mesmo. Você que deveria aprender comigo. — ela sorriu novamente.
— Como professor, estou orgulhoso. — ele acariciou o rosto dela, o rosto sério.
Naquele momento ela desmanchou o sorriso e passou a fitá-lo, tão diferente. Castiel realmente se preocupava com ela e a olhava de uma forma diferente naquele momento. Como um menino. Poderia ser verdade, então. Quando dizem que as pessoas mudam depois que perdem. Ou quase perdem.
— Como está se sentindo? — ele ainda tinha muitas perguntas.
— Normal. — ela sorri.
— Isso é bom. Sinal de que já raciocina direito. — ele voltou o rosto para o lado, para a escrivaninha e abriu a primeira gaveta. — Eu comprei mais anti-inflamatórios daqueles que o médico receitou e mais tarde você pode tomar.
Ela assentiu. — Cade a Rosa?
— Foi embora. Está arrumando coisas para você. Não me pergunte o que.
— E você? — pela forma como não tirava os olhos dele, parecia interessada.
— Já fiz minha parte. Agora ninguém me tirará do seu lado. — ele virou o rosto novamente para a escrivaninha e se certificou da hora. — Tome. — tirou um dos anti-inflamatórios da gaveta. Agora ela já podia tomá-los e aliviar aquela dor maldita.
— Ah, eu... — ela levantou os olhos para ele. — Vou me virar.
— Eu te ajudo. — ele pegou uma garrafa de água mineral na gaveta e pôs sobre a escrivaninha antes de virar-se para ela. A menina apoiou as duas mãos na cama antes de envolver-se nos lençóis como um vestido. Depois, o ruivo acabou segurando -a pela cintura para ajudá-la a se sentar sem forçar muito as pernas e o toque das mãos dele em sua pele nua das costas a causou arrepios. Ela sentou-se de frent epara ele, o lençol tapando seus seios, mas as costas estavam descobertas. Sorte ele não poder ver. A visão dela, coberta no lençol era provocativa e o ruivo se segurou para não fazer um comentário afiado.
— Daqui dá pra ver claramente que posso passar minhas blusas em você. — ele resolveu falar exatamente o contrário do que estava pensando. — Com esse lençol branco em cima, está uma excelente tábua de passar.
— Quando eu estiver melhor, vou ser eu quem vou passar minhas roupas em você. E de costas ainda. — ela sorriu e tomou as goladas da garrafa. Ela deitou-se lentamente na cama, as marcas roxas estavam ficando mais escuras, sinal de que estavam melhorando. A próxima fase seria amarelarem. O corpo estava tão sensível que parecia que tinha levado uma surra e os pulsos ainda sentiam os grilhões que já não estavam lá há três dias. Era uma sensação horrível. Ela tentou dissipar as lembranças ruins daquele celeiro imundo, da boca daquele bandido em seu pescoço, da mão dele na sua coxa. Meu Deus, era horrível, ela nunca se esqueceria daquele trauma. Por sorte não acontecera pior.
— Queria poder sair daqui. — ela suspirou depois de um tempo novamente naquele silêncio.
— Se ficar boa logo, sairá. — ele levantou os ombros.
— Não parece você falando. — ela sorri.
— Não dá para brincar com uma situação dessas, Natsumin. — ele levantou o rosto para ela, muito sério. — Você tem ideia do que ele poderia ter feito com você, não é?
— Eu sei. — ela sentiu a região entre os olhos e o nariz arder. As lágrimas vinham sem seu consentimento.
— Eu não quis... — ele ajoelhou-se ao pé da cama, levando uma mão à coxa dela. A menina tinha os joelhos dobrados sobre a cama e sentava-se sobre os próprios pés. — Me desculpe. — ele tocou seu rosto, enxugando uma lágrima. — Não há ninguém na sua casa, Natsumin. Sua tia ainda não voltou de viagem, Viktor está resolvendo zilhões de coisas e suas amigas... — na verdade ele não sabia porque elas queriam que ele cuidasse dela naquela noite. — Eu não vou te deixar sozinha. Vou dormir no sofá.
— Castiel...
— Não foi uma sugestão. — ele desviou o olhar, aquilo era incomum de sua parte.
— Tá... — ela abaixou a cabeça.
— Me espera aqui alguns segundos, vou te buscar algumas roupas da lavanderia. Não posso ficar aqui com você... Desse jeito. — ela notou que ele ruborizava ligeiramente e sentiu o próprio rosto queimar. Ele era homem, afinal de contas.
— Tá bem. — ela balançou a cabeça positivamente.
— Volto já. — ele levantou-se e dirigiu-se à porta. Rapidamente saiu por ela e fechou.
Naquele pouco tempo, Natsumin mudou as expressões. O quarto, dotado de veludo rubro em sua composição estava sendo iluminado apenas por um abajur de luz dura e amarelada. Ela sentiu o coração disparar, desde o que acontecera com Viktor, a ideia de ficar sozinha a atormentava. Ela fechou os olhos e tentou jurar a si mesma que era mentira, ela não podia estar com medo, aquilo era coisa de criança, mas o aperto no peito só crescia e ela via sombras de homens nas paredes, ela via o rosto dele em sua cabeça, sentia sua mão passar por suas coxas nuas, sentia um frio percorrer a espinha.
— Castiel! — ela manteve os olhos fechados e o corpo rígido. Uma mão segurava o lençol, a outra tapava a própria boca, não podia ter medo, ela já era quase adulta, pelo amor de Deus.
Mas ela abria os olhos e tudo o que ela via eram sombras projetadas no veludo rubro da primeira metade das paredes, a segunda era pintada de bege, tendo alto contraste na composição.
— O QUE ACONTECEU? — mal sabia que bastou um grito seu e ele já estava lá no quarto novamente. Hesitara ao descer, não podia deixá-la sozinha, mesmo que para pegar roupas. Não naquele horário, não com a chegada da noite naquele hotel de poucos hóspedes. Ele mesmo temia que alguém pudesse vir atrás dela.
— Eu... — ela olhou para cima, havia um espelho acima da cama. Forçado pelo olhar dela, o ruivo fez o mesmo, mas acabou olhando mais do que deveria. As costas nuas dela e a calcinha vermelha.
— Eu entendi. — ele desviou o olhar e esfregou a própria testa. Que diabos, como era difícil resistir. — Eu não vou te deixar sozinha, garotinha. — levantou o rosto para ela e sentou-se ao seu lado na cama. — Vou estar aqui do lado, no sofá. — ele apontou para a sua direita, com a cabeça.
— Fica até a dor passar. — ela o queria por perto, como estava naquele momento. Pegou a mão dele na sua e apertou levemente enquanto a outra segurava o lençol sobre os seios, barriga e virilha.
— Natsumin, vai ser difícil para mim, você está... — ele devolveu o aperto em sua mão com uma carícia no polegar. Ao mesmo tempo, parecia tentar não olhá-la.
— Acho que vou deitar novamente, então. — à medida que ela deitava o corpo, o lençol tentava escapar de sua pele e ele viu uma parte de seu seio por microsgeundos. — Vou ao banheiro. — ele distanciou-se, sério, e fechou-se atrás da porta escura.
Ficou um bom tempo e ela fechou os olhos. Abriu-os com o barulho da maçaneta.
O ruivo nada disse, apenas a lançou um olhar antes de ir para a sala. Ela deitou-se de lado, ainda com o lençol tapando a parte da frente do corpo e as costas expostas e nessa posição sentiu-se mais confortável. Devolveu-o o olhar e cerrou as pálpebras.
Castiel dirigiu-se ao sofá com parte dos cabelos molhados e um cheiro de perfume maravilhoso. Ele tentou controlar-se no banheiro, respirando fundo e contendo-se com água morna. Saiu vestindo já o próprio moletom e camiseta preta, os tênis nas mãos. Deitou-se no sofá grandiosamente rubro e confortável, tentando não pensar no que previamente algumas pessoas poderiam ter feito ali, ou na Natsumin quase nua há poucos metros. Fechou-os.
***
Hold on to the thread
The currents will shift / Glide me towards
You know something's left…
Eram duas da madrugada quando o despertador de seu celular tocou ao som de Oceans de Pearl Jam. Ele xingou um palavrão antes de pegá-lo, até uma da manhã não conseguira dormir, a imagem de parte do seio de Natsumin era clara em sua mente e seu desejo só se intensificava com a chegada da madrugada. Ele virava de um lado a outro do sofá, levantara para beber água, voltava a dormir. Quando finalmente conseguiu, essa merda de despertador toca. Levantou-se e pegou o celular, que estava na escrivaninha, ao lado da cama. "Pomada", estava escrito no lembrete.
Castiel suspirou e passou as mãos pelos cabelos rubros. Droga.
— Você não dormiu. — ele virou o rosto para o lado ao ouvir sua voz.
— Dormi sim, por cinco minutos. E foi fantástico. — ele levantou os ombros e bufou. Evitava olhar para ela diante do cabelo bagunçado e seu corpo virado de lado, para ele. Parecia que ela o estava instigando de propósito.
— Por que essa cara? — ela franziu o cenho.
Ele levou o rosto para o lado. M*rda, ela definitivamente não o ajudava, mantendo-se sentada novamente daquela maneira, com pouco de pano tapando parte do corpo, lençol que quase caía pelos dedos, os cabelos desgrenhados e o olhar curioso como se o chamasse para junto dela, os dedos vermelhos de tanto apertar o pano entre eles .
Ele se sentou ao lado dela na cama, resmungando e suspirando. — Deixa eu ver suas costas.
— Castiel... — a menina pronunciou com a voz baixa e doce, como quem alerta a uma criança.
— Vire, Natsumin. Por favor. — ele estava ficando impaciente. M*rda, como a queria naquela madrugada.
Lentamente, ela desdobrou as pernas e girou o corpo, tomando cuidado para não deixar tão exposto seu corpo. A rebelde, descansada em seus pensamentos e ferida pela lava e pela falta de ar dos dias anteriores, despertou com os olhos atentos. Era uma oportunidade perfeita. E ele iria embora dali logo. Ela já não sentia as dores, estava se recuperando rapidamente. Podia sim, devia. Sentiu um frio na barriga ao se virar, droga, o queria naquele momento demais.
Sério, Castiel abriu o pote redondo e colocou a tampa sobre o colchão. A mão direita encontrou a substância cremosa e Natsumin arrepiou-se ao sentir o gelado em suas costas. Ela o olhava levemente de perfil, cabelo mal preso estava caindo então tentou jogá-lo sobre o ombro para não atrapalhar o processo.
— Não vou dizer que não é agradável pra mim. — ele sorriu às suas costas, o que a fez ruborizar. — Mas não se contraia tanto, vai te deixar com mais dor. — ele pronunciou enquanto com as pontas dos dedos iam levemente espalhando aquela matéria viscosa em suas costas.
Ela assentiu e tentou relaxar. De fato, estava tão nervosa que a cada toque dele, seu corpo arrepiava-se por inteiro.
Castiel foi passando calma e delicadamente o produto nas marcas roxas. Ele girava a palma em círculos e aquilo não doía, mas a provocava sensações que ela não podia explicar. Seriam demais. Ele desceu a mão, passando por sua cintura, até o final de sua coluna e ela estremeceu. Natsumin virou o rosto para trás, notando a expressão dele, concentrado no que estava fazendo. O ruivo tinha o cenho duramente franzido e os dentes trincados e parecia estar prendendo a respiração. Ele notou que ela o olhava e levantou os olhos.
— Eu sei, garotinha. Já estou acabando. — pronunciou com a voz baixa.
Ela voltou-se para a frente, mas droga, como queria que ele a beijasse naquele momento, ainda mais com a iminência da sua partida. Abaixou a cabeça para frente, tentando dissipar aqueles pensamentos, mas era impossível. Ela só conseguia pensar nele passando aquelas mãos firmes em suas costas.
Mas, como se percebesse suas intenções e lesse seus pensamentos, o ruivo pousou os lábios levemente em seu pescoço. Depois, deitou a a testa no seu ombro, soltando um suspiro em sua pele, que a fez sorrir. Ela não soube como reagir naquele momento, então enrijeceu o corpo. Ele levantou o rosto rapidamente.
— M-me desculpe. — ele se afastou rapidamente, fechando a pomada e deslocando-se para colocar o objeto sobre a escrivaninha. Ele foi novamente para o banheiro, dessa vez não fechou a porta e da cama ela podia vê-lo lavando as mãos. Ele suspirou quando acabou e apoiou ambas as mãos no mármore branco da pia do banheiro, respirou fundo por alguns segundos, o cabelo caindo para a frente. Esfregou a nuca, levantou o rosto, enxugou as mãos. Saiu de lá passando as mãos nos próprios cabelos.
Ela sabia que ele também a queria.
Mas, tudo aquilo que acontecera com o falso Viktor, todo aquele trauma que ela passou, só a lembrava de que precisava cumprir sua maldição. Precisava deixá-lo partir e ter sua oportunidade, porque ela teve a sua. Apesar de as palavras estarem na ponta da língua, Natsumin trancou-as naquele momento e deixou-o ir direto para o sofá, sem falar nada com ela, nem mesmo um boa noite. Ela suspirou, lembrando-se de pequenos flashes de Viiktor tocando seu corpo, da iminência do que ele iria fazer com ela e Natsumin queria substituir aquelas lembranças ruins, queria sentir novamente as vibrações que sentiu quando Castiel tocou suas costas há poucos minutos. Queria poder burlar a maldição e entregar-se a ele pelo menos uma vez, para por fim deixá-lo partir para sempre.
E era isso que a rebelde pedia.
Ela gritava, girava, rasgava as entranhas de Natsumin tentando sair. Ela queria trocar de lugar com a marionete, aprisioná-la por uma noite, fazê-la ver que o bom da vida era viver o que tinha para hoje, porque o passado e o futuro não passavam de assombrações que repercutiam no presente. Ela queria mostrar que quando o coração fala mais alto é preciso ouvir. É preciso sentir. É preciso entregar-se.
Natsumin deitou na cama de lado, fechando os olhos e tentando esquecer esses pensamentos. Era impossível. A rebelde gritava em sua cabeça, quebrava tudo ao seu redor, dizia que ela nunca mais teria essa oportunidade, que Castiel iria embora em dois dias e que aquele seria o fim. A rebelde bagunçava seus pensamentos, arranhava sua garganta, sua barriga e depois que Natsumin abriu novamente os olhos, já sabia que era a hora.
De a rebelde trocar de lugar com a marionete.
Em silêncio, ela sentou-se novamente na cama, colocando os pés para fora até tocarem o chão. Levantou-se sem fazer barulho, ainda segurando o lençol à frente do corpo, as costas e pernas nuas expostas na parte de trás, mas ela não se importava. Caminhou sobre o carpete bege, sentindo a sutileza do tecido sob os pés, era quase reconfortante. Passou pela pequena divisória entre a saleta e o quarto, prendeu a respiração ao vê-lo deitado com ambas as mãos abaixo da cabeça, o rosto virado para o lado, os olhos abertos.
— Castiel.
Ele a ouviu. Não demorou para virar-se, o coração batendo rapidamente, uma pressão no peito irritante. Sob o arco que formava a divisória entre o quarto e a sala, ela parecia uma capa de CD do Nirvana, útero, em imagem mistificada. A pele alva fundia-se ao pano que segurava, os cabelos negros meio presos, meio soltos a deixavam mais sexy, ela ainda fazia o favor de morder o lábio inferior. As bochechas estavam coradas, ela o olhava com intensidade.
— Ainda está com medo? — ele tinha os olhos arregalados quando levantou o tronco para sentar-se no sofá. — Vem cá. — ele esfregava a própria nuca, nervoso. O pareceu errado chamá-la para junto dele naquele momento, mas ele mal se importava com certo ou errado. Só a queria de alguma maneira. Não precisava ser exatamente da forma que queria, sob o seu corpo, ele sabia muito bem que ela estava debilitada e não faria nada que pudesse machucá-la. Importava-se demais com ela para ser egoísta assim.
Ela nada disse a ele, apenas continuou a fitá-lo intensamente. Mordeu o próprio lábio, as mãos apertavam fortemente o lençol entre os dedos. Ele captou a mensagem, mas não reagiu.
Até ela fazer tudo ficar ainda mais claro, como se precisasse.
Ele passou o olhar pelo corpo dela. Sob a luz mais forte da sala, as curvas ficavam mais claras, ele engoliu em seco e a fitou nos olhos.
E então, ela soltou o pano.
Tímida, mas com determinação, ela soltou o pano que os separou durante toda aquela noite. Castiel franziu o cenho, controlando o desejo, claro em seu rosto. Ele não parou de fitá-la, até aquele pano cair e seus olhos passarem por seus seios, seu corpo nu, que trajava apenas uma calcinha vermelha. Ela manteve os braços caídos na lateral do corpo, contraído, o peito levantando e descendo rapidamente com aquela respiração forte. Os olhos dela, confusos e tímidos, olhando-o, os seios expostos, a barriga, as pernas..
Ele suspirou, passando a mão pelo rosto. Respirou fundo.
Levantou-se.
Andou tão rápido que mal deu-se conta de que em segundos estava parado à sua frente, o rosto bem próximo ao dela. Os narizes tocaram-se os lábios pediam um pelo outro, mas ele apenas agachou-se à sua frente, tentando ao máximo não olhá-la nua diante de seus olhos. Pegou o lençol no chão, levantou-o, envolveu-a nele, em seguida a abraçou, sentindo o corpo rígido dela em seus braços. Estava nervosa, o ruivo pôde notar, as mãos dela que passaram pelo pescoço dele estavam geladas.
— Você não tem ideia... — Castiel levou os lábios à orelha dela, os lábios arrastando-se naquela pele, provocando-a arrepios, enquanto as mãos rígidas envolviam a cintura dela naquele abraço. — Do quanto está me deixando louco.
Castiel se forçou durante os anos a relacionamentos instáveis, às vezes de apenas uma única noite. Mas, de pouco tempo para cá, o desejo, sim, desejo, por Natsumin intensificava-se cada vez mais e ele não admitiria, não queria admitir porque não tinha certeza dela, mas a queria, como queria. De uma forma maior do que o desejo. Paixão era coisa de garotinhas, mas o que ele sentia por ela, afinal? Era forte de alguma maneira, a ponto de bastar uma palavra dela para que ele adiasse ou deixasse para sempre a ideia de viajar com Debrah. Na verdade, depois de tudo o que acontecera, depois de vê-la ali junto àqueles babacas, ele sequer queria olhar na cara dela.
— E eu entendi seu recado. — ele afastou o rosto do dela, mostrando um sorriso de canto de boca, travesso. Natsumin estava na ponta dos pés para que ele não tivesse de se curvar e nesse momento os abaixou, apenas devolvendo-o um olhar triste e decepcionado. — Mas não é mais a noite de formatura. Seu corpo está machucado. — ele desmanchou o sorriso, deixando uma expressão levemente triste no lugar.
— Me aperta. — ela disse, convicta, o que o arrancou um sorriso.
— O que? — ele franzia o cenho enquanto sorria.
— Me aperta forte, vai ver que não dói. — ela estava engraçada, envolvida naqueles lenções da maneira como ele a envolveu, parecendo uma lagarta no casulo.
— Não precisa me provar nada. — ele aproximou o corpo do dela repentinamente, o que a fez recuar levemente. Eles passaram pelo arco de divisão entre os ambientes e Castiel mantinha os olhos sérios nos dela, como quem brigava com uma criança. — Eu não posso, Natsumin. Não é tão simples, seu corpo precisa de...
Ela tinha o cenho franzido e os olhos estavam fixos nos dele. Castiel notou que ela já se desenrolava novamente do lençol, provocando-o. Ele não conteve o olhar e baixou para seus ombros nus, em seguida para o lençol que descia por seu peito. Castiel tentava não olhar, mas era impossível. Ela deixou o lençol cair novamente e distribuiu beijos em seu pescoço que o estavam deixando louco, a ponto de querer mudar de ideia.
— Natsumin... — ele fechava os olhos e engolia em seco enquanto ela punha-se na ponta dos pés para beijar suas têmporas, seus olhos, o canto de seus lábios.. — Natsumin... — ele insistia, mas ela não parava de distribuir aqueles beijos, descendo para seu pescoço, a mão acariciando seu pescoço, os lábios descendo para seu peito.. — Dane-se. — ele cansou de lutar contra si mesmo e sustentou o pensamento de que essa poderia ser a última vez que teriam uma oportunidade dessa. Tirou o rosto dela de seu peito e trouxe para o seu, os lábios apertaram-se nos dela demoradamente, o que a fez largar o lençol e ele sentir o peito dela em seu corpo. — É melhor estar certa do que quer. — a abraçou, os lábios em sua orelha.
— Não poderia estar mais certa. — ela tomou o rosto dele nas mãos, depois levou os lábios aos dele mais uma vez. Castiel sorriu com os lábios nos dela, depois beijou-a intensamente, as mãos descendo por suas costas, sentindo a pomada seca até chegar à sua calcinha, onde ele levemente acariciou seu glúteo. Sem parar de beijá-la, ele desceu mais as mãos, passando por trás das pernas dela, a menina envolveu as pernas na cintura dele e o ruivo foi carregando-a até a cama.
Sentou-se na ponta, com ela em seu colo. Passou os lábios para seu pescoço e ela entregou-se, mantendo os olhos fechados enquanto ele acariciava a nuca dela.
— Prometo não reclamar das suas perninhas finas. — ele pronunciou, depois sorriu com os lábios ainda no pescoço dela. Quando ele levantou o rosto para olhá-la, ela novamente tapou os seios e aquela visão já o estava enlouquecendo ainda mais.
— E eu de seu peito cabeludo. — ela sorriu, apontando com a cabeça para a camisa dele. Seu coração estava acelerado, ansioando e ao mesmo tempo temendo pelo que poderia estar para acontecer. Aquele nervosismo era inerente, ela sabia, já havia passado por uma situação dessas antes. A diferença era que dessa vez ela estava sóbria e que seu coração dizia para fazê-lo e não a influência alheia.
O ruivo deu um sorriso de canto de boca, mas o olhar ainda parecei preocupado. Ele tinha as mãos nos quadris dela sentados em seu colo, o olhar olhava o horizonte, ele engoliu em seco e baixou os olhos.

All I want is nothing more
To hear you knocking at my door
'Cause if I could see your face once more
I could die as a happy man I'm sure

— Castiel.... — ela cortou o silêncio acariciando o rosto dele e beijando seu olho direito. — Se é um adeus, que seja memorável.
Castiel nada disse, seus dedos apenas apertaram levemente a cintura dela. Ao retornar o olhar para ele, a menina notou as pupilas dilatadas, os olhos sérios e os dentes trincados. Ela sentia uma ardência no estômago, o corpo trancava-se para o que estava prestes a acontecer e ela tentava se concentrar para conseguir fazer o que tanto queria nesta noite. Ao mesmo tempo, seu coração apertava e doía por saber que seria a primeira e última vez com ele.

When you said your last goodbye
I died a little bit inside
I lay in tears in bed all night
Alone without you by my side

Castiel finalmente a olhou. Havia algo de diferente no par de ônix que ela admirava. Não sabia o que definir, talvez nem mesmo ele quisesse partir. Mas ambos sabiam quer era preciso. Ela sentira na pele o que era perder uma oportunidade e até hoje sofria reflexos do que a acontecera. Não queria isso para ele. Não queria que Castiel desistisse de tudo por ela para depois com o tempo sentir remorso e todo aquele sentimento ser substituído por frustrações. Não tinha cem por cento de certeza da forma como ele veria aquela noite, mas queria que fosse a melhor de suas vidas.

But if you loved me
Why did you leave me
Take my body, take my body
All I want is and all I need is
To find somebody
I'll find somebody 

Com e cenho franzido, ele acariciou o cabelo dela que agora caía pelas costas. Com firmeza, tomou os lábios dela para os seus, beijando-a de forma tão intensa que lhe tirou o fôlego. Ela correspondia com a mesma intensidade e ele pôde sentir os dedos dela na base de sua camisa, aqueles dedos frios subiam, passando por sua pele que as poucos ficava exposta. Ele parou o beijo e a ajudou a retirar a peça, depois jogou-a em qualquer lugar, no limbo se fosse preciso.
Ao retornar o rosto para ela, a menina mordia o lábio, nervosa.

Ooh oh
Ooh oh
Ooh oh
Ooh oh

Castiel puxou o lábio que ela mordia com os seus, arrancando-a um sorriso nervoso. Ele acariciou suas costas nuas e levantou-se com ela ainda em seu colo para com cuidado virá-la para a cama. Nesse momento, a menina deitou a cabeça em seu ombro e ele beijou sua cabeça antes de, com muita calma, deita-la sobre o colchão coberto de rubro veludo da colcha. Respirando fundo, ele pôs-se por cima dele, notando com detalhe a menina deitada sob ele, tapando os seios com os braços, mas os olhos, ah, aqueles belos olhos azuis claros, fitando-o sem pudor. Ele trincou os dentes enquanto seu coração acelerava de ansiedade e excitação. Ela crispou os lábios e levou os olhos para baixo e Castiel captou que era para sua calça. Ele não deixou de dar um sorriso malicioso antes de sair de cima dela, retirar a calça de moletom e pôr-se por cima novamente, dessa vez usando apenas uma box cinza.

'Cause you brought out the best of me
A part of me I'd never seen
You took my soul wiped it clean
Our love was made for movie screens

Naquele silêncio intimidador e diante daquele olhar intenso, ela lembrou-se de como estava amaldiçoada. Seus olhos vagos, azuis como a tristeza cederam ao acaso e deixaram tímidas lágrimas caírem pela lateral. Castiel abriu suas pernas e sentou-se entre elas antes de pegar os braços da menina e passar por seu pescoço. "Aperte firme, vai ficar tudo bem", ela o ouviu murmurar e fez como pediu. Ele trouxe seu tronco para cima e eles ficaram abraçados por um tempo naquela posição. Ele acariciava suas costas e a deixava chorar, enquanto ela pronunciava diversas vezes para si mesma que depois acertaria as contas cujo débito apareceria essa noite. Era tão estranho e inconsequente cobrar-se num momento como aquele, mas a culpa a perseguia a todo momento e, mesmo ali, não conseguia deixar de pensar nos pais mortos por sua necessidade de alcançar seu sonho de se tornar cantora. Sonho esse, enterrado junto com eles.

But if you loved me
Why did you leave me
Take my body, take my body
All I want is and all I need is
To find somebody
I'll find somebody

Droga, estava apaixonada. Não queria admitir para si, mas já era óbvio. A rebelde sufocava a marionete sob as colchas enquanto tentava pôr-se em sue lugar, uma batalha intensa dentro daquela menina cheia de mágoas e arrependimentos. Mas ela queria, por deus, como o queria naquela noite, como estava perdidamente apaixonada por ele. Justo Castiel, justo o Diamante Bruto que enquanto ela tentava distanciar-se da música, ele só a trazia para mais perto, para o mundo que ela jurou abandonar. E, como ela amava aquele mundo, como queria ir com ele naquela turnê, presenciar momentos com os quais ela sempre sonhou, ser aplaudida, elogiada, mostrar sua voz. Momento que por enquanto, ela tinha certeza que nunca presenciaria.

♪♫♪♫

Vendo-o abrir o preservativo, ela ligeiramente sorriu. Aquele momento poderia não significar nada, poderia significar muito. Poderia deixar marcas que não se apagariam, poderia passar despercebido. O importante foi que, pela primeira vez, ela resolveu dar ouvidos à rebelde e a sensação era ótima. Por dentro, sua companheira inseparável, recentemente emudecida pelos acontecimentos, gritava, dava pulos de emoção e, como ela, chorava. A marionete estava amordaçada com sucesso e Natsumin fechou os olhos, entregando-se pela primeira vez depois de tanto tempo.

Ooh oh
Ooh oh
Ooh oh
Ooh oh
Ooh ah
Ooh oh

Ela cedeu às suas vontades e seu corpo queria fechar-se contra àquilo, mas ao senti-lo espalhar beijos por sua pele nua, acariciá-la em todos os lugares possíveis, por mais que fosse parecer peculiar, ela apenas tentou relaxar e concentrar-se no par de ônix que seguia os movimentos de seu corpo e as mãos dele que, impetuosas como aquela noite, desciam com cuidado sua roupa íntima.
♪♫♪♫
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O rosto dela observava os reflexos que as luzes do abajur provocavam, os corpos dos dois como um só. A metáfora nunca a pareceu tão verdadeira e ele tocava seu rosto e virava para ele, insistindo em fazê-la olhá-lo enquanto consumavam uma paixão que jamais foi pronunciada, apenas sentido. E ela cedia àqueles movimentos, suportando a dor literal e sentimental e o peso que sustentava de tantas emoções. E ela notava o balançar dos cabelos dele, os cuidados com que ele a preenchi, como nunca sentira-se preenchida em anos.

If you loved me
Why did you leave me
Take my body
Take my body
All I want is
All I need is
To find somebody
I'll find somebody
Ooh oh
Ooh oh
Ooh ah

***

Ela acordou com uma sensação distinta.
Sentia-se bem. Tão bem que era estranho.
O corpo estava enrijecido, parecia que havia dormido na mesma posição a noite toda.
Melhor, a madrugada toda.
Ela sentiu-se ser puxada por um momento e ouviu uma espécie de grunhido baixo. Não abriu os olhos, mas pôde sentir seu rosto no peito dele, as mãos dele acariciando sua lombar sob os lençóis. Suspirou, depois abriu lentamente os olhos. Notou os cabelos rubros como a colcha que não retiraram na noite anterior. Não precisou se esforçar muito, apenas olhou para cima, para o espelho no teto que os filmava. Virou-se para deitar-se de costas. Sentiu-se bela naquela manhã. A cabeça dele estava enterrada nos cabelos dela e ele estava deitado de bruços, mas um braço ainda a envolvia, cobrindo seus seios expostos. Ainda de olhos fechados, ele puxou o lençol para cobri-la e ela sorriu. Era engraçado como ele se esforçava para não acordar. Ainda do espelho, ela o fitava. Levantou uma mão e, acompanhando pelo reflexo, acariciou o rosto dele com a ponta dos dedos. O lençol envolvia o rapaz do quadril para baixo e diante daquela imagem dos dois, ela só conseguia lembrar-se das imagens e sensações que guardou com carinho da noite anterior. Ela não resistiu e virou o rosto para o lado, preenchendo os olhos com a visão dos olhos fechados dele, a franja ruiva caindo sobre o rosto, o cabelo desengonçado, os lábios retilíneos. Droga, ela o adorava tanto.
— Muito cuidado com onde coloca a mão. Posso não te largar depois.
Surpresa, ela retirou rapidamente a mão que acariciava a barriga dele e afastou-se em resposta. Meu Deus, o que acontecia com ela quando estava com ele?
— Está tomando o cobertor, garotinha. — ele finalmente abriu os olhos, fitando-a com intensidade. Os olhos dele eram tão negros e profundos que ela podia jurar que se perderia neles. — Chega mais perto, Natsumin.
Ela respirou fundo antes de se aproximar timidamente de volta. Dessa vez, ele a chamou com tamanha ternura que seu peito inflou de paixão. Num único gesto, o rapaz a puxou para perto, encaixando-a em seus braços, o rosto da menina novamente em seu peito nu.
— Pode continuar. Suas mãos estavam macias. — ele beijou sua testa, depois a ponta de seu nariz.
Natsumin mordeu o lábio. Ela sentia vontade de ficar ali para sempre. Tocou novamente o peito dele e Castiel fechou os olhos ligeiramente. Estava realmente gostando daquilo. Ela desceu a mão para a barriga dele e avançou beijando seu queixo, seu rosto. Castiel resistiu por pouco tempo e em instantes a deitou para o lado e pôs-se em cima dela num único movimento. A menina ficou ofegante e seu coração acelerou, e havia um sorriso nos lábios dele.
— Se continuarmos assim, nunca sairemos daqui. — ele tocou os lábios nos dela.
— Tranque a porta então. — ele levantou as sobrancelhas ao ouvir a resposta dela.
— Eu vou. — ele pressionou os lábios nos dela, iniciando mais um da série de beijos intensos. Aquele beijo rapidamente se espalhou de seus lábios para seu pescoço, sua orelha, seus ombros. E então ele levou as mãos para baixo do cobertor, para o corpo dela.
— Café.
Bateram na porta e ambos sorriram. Castiel pôs o indicador nos lábios de Natsumin e ela nos dele.
— Mas que m*rda. — ele deitou-se ao seu lado na cama novamente, sorrindo. — Tem mesmo que atender?
— Tem. — ela levantou o tronco, sentando-se na cama e segurando o lençol para tapar o corpo.
— Se formos nós dois nus, será que ela vai parar de atrapalhar? — ele sorriu maliciosamente.
— Castiel... — ela sorria embora balançasse a cabeça para os lados.
— Tá. — ele levantou-se e nu direcionou-se à porta, deixando Natsumin com uma visão privilegiada. Da cama, ela o observava em silêncio esconder o corpo atrás da porta e pegar a bandeja do café enquanto agradecia, depois trancava a porta.
Sentada, ela observava cada passo dele de volta, memorizando suas particularidades. Ela não queria esquecer-se dele de maneira nenhuma, mas já estava decidida a deixá-lo ir. Não poderia interferir, apesar de saber bem quem Debrah era, ainda acreditava ser ela o caminho dele para o sucesso. Esse era umd os tipos de coisas que na vida ninguém sabe explicar, mas que, de vez em quando era preciso ouvir.
— Vamos comer primeiro. — ele pegou a cueca no chão e a vestiu, olhando para Natsumin enquanto sorria. Ela ainda estava distraída com os próprios pensamentos. — O que foi? Ainda impressionada com meu físico? — ele sorria maliciosamente enquanto se aproximava dela, logo depois de colocar a bandeja do café na mesa de centro da saleta.
Ela sorriu depois de voltar para a terra. Castiel era demais.
— Eu sei que a sua fome é outra, mas para isso precisa de energia. — o ruivo estendeu a mão para ajudá-la a se levantar e ela deixou-se ser puxada num impulso que a puxou direto para ele. Foi tão rápido que ela acabou deixando o lençol cair. Com um sorriso de coiote no rosto, ele puxou a boca dela para a sua, num beijo rápido,mas tão intenso que a deixou tonta. Pousou a testa na dela e com os olhos fixos nela, foi acariciando a lateral do corpo nu da menina.
— Toma. — ele entregou sua camisa para que vestisse. — Sei que não vai ficar à vontade até nos acostumarmos com isso.
"Até nos acostumarmos com isso", ela memorizou bem aquelas palavras. Quisera poder acostumar-se, cansar-se disso, mas ela sabia que não teria tempo para isso, não poderia programar nada com ele, enquanto não se desfizesse da maldição, não poderia enxergar nada mais à frente. A iminência da partida dele doía, mas era o melhor que ela poderia fazer.
Ela vestiu a camisa em silêncio com a expressão triste, depois vestiu a calcinha que estava sobre a cabeceira e caminhou para a saleta na suíte em que estavam hospedados, sentando-se no sofá de frente para a mesinha de centro onde ele colocara a bandeja do café. O ruivo vestiu rapidamente a calça de moletom e sentou-se no sofá em frente ao dela. Ela olhava para ele e, quando ele retornava o olhar, fingia que estava olhando a comida. Ele notou.
— Não gostou? — ele perguntou sério.
— Hm? — ela murmurou com um pedaço de pão na boca.
— Você ouviu, Natsumin. — ele mordeu mais um pedaço de pão e tomou um gole de suco.
— Eu adorei. — ela tomou um gole de suco, desviando os olhos. — Foi muito bom. — deixou escapar um sorriso
— Foi ótimo. — ele a corrigiu com um sorriso malicioso.
— Sim. — ela reafirmou na inocência. — Nunca comi desses pãezinhos recheados daqui.
— Não se faça de desentendida. — ele sorria aquele sorriso del coiote enquanto mordiscava seu pão.
Ela sorriu de volta. Sabia bem o que ele queria dizer com aquilo. Ela limpou a garganta. — Queria ver seu presente. — pediu, levando os olhos como os de um gatinho abandonado para ele.
— Está mudando de assunto? — ele sorriu enquanto tomava um pouco de suco.
— De maneira alguma. — ela resolveu entrar no jogo de ironias dele. — Só estou ansiosa pelo meu grandioso presente.
— Não garanto muita coisa. — ele ficou sério de repente.
— Vindo de você, qualquer coisa é válida. — ela disse mesmo aquilo?
Castiel devolveu-a um ollhar penetrante. Levantou-se e do bolso da calça retirou algo. Era uma cartela daquelas tatuagens que se fazia com água, como adesivos. Havia uma grande, uma clave de sol preta e bem delineada.
— Quando eu puder, encontro algo melh...
— Eu quero colocar. — os olhos dela brilhavam como os de uma criança no natal.
— Eu coloco em você. — ele deslocou-se para sentar-se ao lado dela no sofá. — Onde quer? — ele ainda a olhava com aquele olhar matador. Um olhar de desejo.
— Aqui. — ela apontou para o braço e levantou a manga da camisa dele. Castiel pegou a cartela de tatuagens e mostrou a ela.
— Essa. — ela apontou para a clave de sol grande, depois olhou para ele. O rosto dele estava muito próximo e havia um ar de coiote em suas expressões que a fazia estremecer.
O ruivo destacou a clave de sol, em seguida a examinou por um momento. Natsumin sem querer ruborizou mais uma vez e ele aproximou-se para beijar seu pescoço.
— Você fica bonitinha quando está corada. — pronunciou em sua orelha, depois espalhou beijos por seu pescoço.
Ela sorriu. Depois, quando ele ia tirando o rosto de perto dela para pegar a tatuagem, ela o pegou em suas mãos e colou os lábios nos dele, iniciando um beijo rápido, mas intenso. O ruivo correspondeu com ainda mais intensidade, acariciando a coxa dela e pondo-se por cima dela até que a menina foi deitando-se no sofá com ele por cima. Ela sentou-se de volta, acariciando o peito dele e ele seu rosto, sua coxa, até pegar na base da camisa e ir puxando-a para cima. Ela levantou os braços e ele jogou a camisa no chão.
— A tatuagem. — pronunciou com os lábios nos dele.
— Que se dane a tatuagem. — ele continuou a beijá-la, passando por seu pescoço, seus seios, sua barriga...
— Vamos, Castiel. — Ela sentou-se no sofá de lado, estendendo o braço.
O ruivo bufou e sorriu.
— Vem cá. — levantou-se e apontou com a cabeça para o banheiro.
Ela não hesitou.
Vestiu novamente a camisa dele, muito envergonhada por estar naquele estado e seguiu-o.
— Precisa de água, não é? — ele apontou para a banheira branca e quadrada com a cabeça.
— Você é impossível. — ela sorriu.
— Vai te ajudar a relaxar. — ele sorriu mais uma vez, depois ligou a banheira, que encheu rapidamente. Ele começou a abaixar a calça jeans e ela tentou não olhar, mas era impossível. Ele tinha um corpo belíssimo e ela perguntava-se como ele conseguia aquele físico.
— Vamos, garotinha. — Ele aproximou-se, beijando o pescoço dela e pondo as mãos novamente na base de sua camisa. Ela levantou os braços e ele retirou-a por completo, agarrando a nuca dela com as mãos antes de dar um beijo rápido e intenso e pegá-la no colo.
— Castiel! — ela sorriu.
— Vamos ver quem se afoga primeiro. — ele puxou a calcinha dela para baixo e beijou seu queixo antes de levá-la à banheira. Sentou-se com ela rapidamente, espirrando água para todos os lados, o que provocou alguns risos da parte dela. — Agora tem água suficiente para essa porcaria. — apontou com a cabeça para a cartela que deixara na pia, depois voltou o rosto para ela. Olharam-se por poucos segundos, mas tão intensos que pareceram horas. Ele puxou seu corpo por debaixo da água, a mão em seus quadris e a colocou em seu colo. A partir dali, voltaram à dança impetuosa que praticaram durante a noite.

***

Quando terminaram, o banheiro estava enxarcado. Ela estava sentada ao lado dele, a cabeça em seu ombro e ele tinha a cabeça deitada sobre a dela. Do lado oposto, o largo espelho acima do mármore branco da pia refletia os dois, que se observavam. A imagem provava o quão bonito casal formavam. Castiel desceu a mão da cintura dela e acariciou seu quadril.
— Quando você vai embora? — ela finalmente perguntou, ajeitando a cabeça no ombro dele. Aquela dúvida a estava perturbando desde o baile, no dia em que teve certeza de que ele não estava blefando, ou hesitando. Castiel iria mesmo embora atrás de seu sonho e ninguém o impediria.
— Não vou. — ele respondeu com a voz séria, os olhos na imagem dos dois no espelho.
Até ela ouvir isso.
Por mais que a doesse a ideia de vê-lo partir, ao mesmo tempo Natsumin não queria que ele dessitisse de tudo. Sabia o quanto a música era importante para Castiel, ela se lembrava de ouvi-lo compor à noite no pouco tempo que moraram juntos, sabia que ele colocava muito do que nunca demosntrou para ninguém naquelas músicas. Colocava sentimento, paixão e sua voz ao cantar era tão profunda que tocava seu coração com vivacidade.
— Castiel... — ela levantou a cabeça para olhá-lo.
— Não há discussão. — ele permaneceu com o rosto de perfil, as expressões sérias.
— Castiel. — ela tomou a mão dele que acariciava sua coxa nas suas e deu um beijo terno e demorado. — Você vai, ou nunca mais vou olhar para você. — ela o lançou um olhar sério.
— Que merda, Natsumin! — ele socou o mármore na lateral da banheira, o que causou um estrondo que a fez estremecer. — Você nunca me fala nada de você e ainda quer que eu faça todas as suas vontades? O que diabos aconteceu com você, afinal? O que a faz me afastar sempre que algo dá certo entre nós?
Mas a menina nada disse, apenas manteve-se séria e impassível. Ela não só não queria impedir o sonho dele, como também não se sentia pronta para entregar-se por completo. Abandonar a própria maldição. O que aconteceu com os dois foi maravilhoso, mas só aconteceu por causa da iminência da partida dele. Ela não podia voltar a ser aquela marionete com Castiel por perto. E ela precisava da marionete, por mais que a rebelde gritasse e esperneasse. Precisava terminar o próprio castigo. Sozinha.
E o tempo afastada dele a ajudaria a crescer. Estava decidido.
— Castiel, realmente não dá pra discutir com você. — ela olhou para a mão dele fechada em punho.
Castiel nada disse, mas pelo seu rosto com cenho duramente franzido, sobrancelhas direcionadas para o nariz e dentes trincados, ele não gostara nem um pouco do comentário. Não se moveu, mas relaxou a mão, abraçando-a. Aquilo era realmente um sinal de que não queria discutir. Ficou ali por um tempo, minutos, poderia jurar. Em silêncio.
— Eu nunca machucaria você. — a voz dele era baixa e séria ao quebrar o silêncio.
Naquele momento, Natsumin sentiu um forte aperto no peito. Sabia das farpas do próprio comentário e se arrependeu de ter dito aquilo.
— Eu não quis dizer que machucaria. —ela acariciou a mão dele em seu ombro. — Desculpe.
Castiel nada falou. O silêncio dele era agonizante.
— Castiel... Você vai, não é?
— Não vou, Natsumin. Droga! — Ela o tinha irritado de verdade. Não queria chegar àquele nível de estresse, mas não pôde se controlar e, da forma como estava naquele momento, não a queria por perto. Natsumin era uma garota teimosa demais e ficariam naquela discussão o dia inteiro. Levantou-se com raiva, pegou uma das toalhas penduradas nos suportes na parede e envolveu-a na cintura. Desceu os três degraus da banheira e parou de frente para a pia, onde apoiou ambas as mãos no mármore, a cabeça baixa enquanto respirava.
Ela ficou ali, parada, olhando aqueles ombros tensos, sentindo por estar sendo uma idiota. As lágrimas surgiram rapidamente em seus olhos, deixando o rosto vermelho. Ela tentou escondeu a voz baixa que saía com o choro, mas não conseguiu. Levantou-se para pegar uma toalha e o ruído da água ao ela se levantar o fez observá-la pelo espelho.
Castiel olhou-a pelo reflexo no espelho. Não conseguiu resistir à imagem dela nua, com a cabeça baixa, de pé na banheira. M*rda, ela era linda. Respirou fundo e virou o rosto para trás. Natsumin levantou o rosto. Ela chorava.
— Não quero discutir. — ele a tomou nos braços enquanto ainda estava na banheira, retirando-a dali, ainda molhada, o corpo nu no dele de toalha. Abraçou-a, tomando cuidado para não machucá-la, naquele momento ela o pareceu tão frágil, que jurava que podia quebrá-la.
Ela afagou o rosto dele com o seu, sentindo de perto aquele cheiro memorável de Castiel, o cheiro de seu Diamante Bruto.
Ele pegou outra toalha e a envolveu nela, em seguida apertou forte o corpo da menina no seu, num abraço reconfortante.
— Castiel... — ela murmurou com os olhos fechados, a cabeça deitada no peito dele e os lábios formando ligeiramente um biquinho.
— Que m*rda você está fazendo comigo, garota, que não consigo ficar irritado com você por mais de vinte segundos?
Ela abriu os olhos. Sorriu.
Ele beijou aquele sorriso e devolveu outro.
— Obrigada, Castiel. — ela o fitou intensamente, os olhos azuis hipnotizando-o.
— Pelo que? — ele tirou os braços dela para virar-se de frente para ela, olhá-la no rosto.
— Por hoje. Por ontem. — ela beijou o rosto dele. De alguma forma, já estava se despedindo.
— Eu sei que você me ama, garota. — ele levantou o canto dos lábios num sorriso torto. — Não precisa agradecer.
Ela sorriu, nada falou. Apaixonada estava. Muito, demais. Não tinha certeza se o amava. Mal hoje entendeu que sabia o que era o amor.
Ele não resistiu àquele olhar e tomou-a para mais um beijo. Os lábios moviam-se em sintonia, um com sede do outro o tempo inteiro, parecia não acabar. Ele passou a mão pela coxa dela, subindo por dentro da toalha, e ela parou o beijo, sorrindo.
— Se continuarmos assim, não vamos sair daqui. — ela pronunciou nos lábios dele.
— Quem te disse que vou sair daqui? — ele continuou o beijo, levando a mão à toalha que a envolveia, abrindo-a e tirando-a do corpo dela apra depois jogá-la nos degraus da banheira. Ela sorriu mais uma vez com os lábios nos dele, levando as próprias mãos à toalha na cintura dele e retirando-a tal como ele fez com ela. Ainda trocando carícias, ambos voltaram para a banheira, onde se sentaram sem cessar os beijos.
— A tatuagem. — ela lembrou entre beijos.
Ele revirou os olhos e passou a mão no próprio cabelo.
— Você é impossível. — ele levantou-se, deixando-a com a visão dele de costas, Castiel tinha um belo traseiro, tinha de confessar. Ela mordeu o lábio com o próprio pensamento, enquanto ele votlava com a tatuagem numa mão e uma toalha de rosto na outra. — Está rindo de que? — ela prendeu o riso quando ele voltou a sentar-se do seu lado e indicou com o olhar onde queria a tatuagem. Castiel beijou mais uma vez seus lábios, sabia muito bem o que ela olhava e por que estava com aquele sorriso malicioso e, tinha de admitir, gostava daquilo. Destacou na cartela a clave de sol e voltou-se ao braço dela, enxugando a região entre seu ombro e antebraço levemente. Ela ficou ali, rindo e olhando-o com ternura. Ele pegou uma toalha menor, de rosto e passou delicadamente entre seu ombro e antebraço. Depois, aproximou-se com a tatuagem. Colocou-a no local, molhou a mão na banheira e passou de volta para o braço dela. Lentamente, soprou o local por alguns segundos, e, depois, com uma delicadeza que mal cabia à ele, retirou-o.
— Voilá. — ele sorriu.
— Linda, não? — ela fez graça, sorrindo enquanto ajustava a postura na banheira.
— Como a dona. — ele a tomou nos braços mais uma vez, os lábios prendendo-se aos dela instantaneamente, depois deslizando para seu pescoço.
— Precisamos parar um pouco. Arrumar as coisas. — apesar de estar adorando o momento e os poucos dias que passou com ele, Natsumin não podia desistir tão facilmente de fazê-lo ir.
— Não tenho por que arrumar nada. Não vou sair daqui. — ele pronunciou com os lábios ainda no pescoço dela, passando pela clavícula, ombro...
— Seu ônibus sai amanhã. — ela fechou os olhos e suspirou, tentando parecer o mais impassiva possível. — Não sou boba, investiguei isso.
— Droga. — Castiel afastou-se dela, passando as mãos no cabelo ruivo enquanto balançava a cabeça. — Natsumin, não quero discutir com você, já falei. — ele virou o rosto para ela, as expressões duras, o cenho franzido, as narinas ligeiramente infladas.
— Mas eu quero. — ela o olhou, decidida. — Eu quero porque não quero que você fique aqui e, se ficar, não haverá nada entre nós dois. — ela segurou as lágrimas que se formaram em seus olhos, os braços nas laterais do corpo, as mãos fechadas em punho.
Ele a retornou os olhos pasmos.
— Se isso não significou nada pra você, tudo bem, eu vou embora. — ele aproximou-se com as expressões duras, por baixo d'água as mãos apertavam sua cintura, forçando-a contra ele. — Agora diz olhando em meus olhos que isso não significou nada para você, Natsumin. Diz agora que eu saio por aquela porta e nunca mais nem olho para você. — a voz dele estava alta, Castiel quase gritava.
— Não vou dizer que não significou nada para mim. — agora ela devolvia o olhar duro, uma lágrima petrificada no canto do olho caiu sem sua permissão. — Não posso mentir.
— Então por que diabos você é assim? — ele soltou-a e as mãos molhadas passaram para o próprio cabelo, jogando a franja rubra para trás e expondo seu belo rosto irritado e preocupado.
Ela ficou em silêncio por um momento. Castiel precisava entender o quanto ela se importava com ele, como sabia que ele precisava ir atrás daquilo para conseguir o que sempre quis.
— Você não consegue ver? — ela pegou o rosto dele com a mão, forçando-o a olha-la, indignada. O ruivo devolveu-a um olhar surpreso, ligeiramente arregalado. — Eu quero isso porque quero o seu bem, Castiel. Quero que conquiste o seu sonho. Uma oportunidade como essa não surge tão facilmente assim.
— E por que tenho de ir atrás da forma mais fácil? Isso é ridículo! — ele tirou o rosto da mão dela e respondeu de imediato, o cenho duramente franzido.
— Porque a forma mais difícil às vezes pode ser muito mais dolorosa. — dos olhos dela brotaram as lágrimas duras. Ela desmoronou porque como um peso distante a rebelde afastou-se e deu lugar novamente à marionete, as lembranças de seus pais tomando-a como se ela tivesse voltado à realidade mais uma vez. Lembrou-se de como soube daquela notícia, quando estava quase conseguindo uma carreira diante daquele show de talentos em outro país. De como em questão de segundos perdeu tudo e tornou-se a marionete orgulhosa diante dele.
— Eu não quis... — ele a abraçou forte e nada mais disse. Natsumin aproveitou aquele abraço para descarregar as mágoas que sofreu por muito tempo, droga, como queria contar tudo a ele, mas como sabia que de anda adiantaria se ele iria embora amanhã. — Você precisa me contar o que aconteceu com você. — ele posiiconou o queixo no topo da cabeça dela, depois deu um beijo na sua testa.
— Não é o momento. — ela enxugou as próprias lágrimas com uma mão e ele ajudou, limpando-as com os polegares.
— Para mim é. E eu não vou te deixar sair daqui enquanto não me contar o que diabos aconteceu com você. — por baixo d'água, ele envolveu o braço na cintura dela, segurando-a contra ele e impedindo-a de se mover.
— Castiel... — ela balançava a cabeça.
— Natsumin, eu só irei embora se tiver um motivo de verdade para ir. Se o motivo que me prende aqui continuar sendo mais forte, não importa se você vai querer estar comigo ou não. Que se dane com quem você possa estar, com o riquinho, o viciado, dane-se! Eu vou ficar aqui e enfernizar sua vida, porque eu não sou idiota e sei que você me quer como eu te quero. E isso é mais do que suficiente.
Ela arregalou os olhos.
Aquelas palavras duras dele foram o suficiente para ela notar que não era só ela quem tinha dificuldades, mas ele também. Castiel era um Diamante Bruto, afinal, seu Diamante. Guardava tudo para sim e ela nunca esperou que um dia fosse a contar algo. Naquele momento ele lhe pareceu tão verdadeiro, tão autêntico, que seu coração doeu por ter de deixá-lo partir. Mas era mais urgente deixá-lo ir. Ela só aprenderia a amar alguém quando conseguisse ficar de bem consigo mesma, quando conseguisse quebrar a maldição a que se condenou para o resto da vida. Naquele momento, pela primeira vez, ela teve esperança de um dia se livrar daquele peso nos ombros, da bigorna que a atava ao chão. Ao mesmo tempo, no entanto, sabia que aquilo levaria tempo e que no momento não estava preparada. Poderia estar quando ele voltasse, ele poderia já ter outra pessoa, pior, poderia ser outra pessoa. Mas ela, pelo menos, saberia e guardaria em seu coração a certeza de que um dia aprendeu muito com um rapaz que era um bruto diamante e que nunca se lapidou, mas que a lapidou. Que a ajudou a se recuperar. Uma pessoa que lhe deu muito mais que carícias, alguém que a ensinou melhor sobre sonhos do que poderia imaginar. Alguém que em toda a sua capa de brutalidade escondia a fragilidade que tinha dentro de si. Ela notou pela maneira como ele fora carinhoso com ela na cama, como cuidou dela, como a salvou. Seria grata ao seu eterno Diamante Bruto por todo o sempre. Aquilo já seria suficiente.
Suspirou, beijou o rosto de Castiel enquanto ele acariciava sua perna nua por baixo d'água com uma mão e com a outra enxugava as lágrimas que caíam por seu rosto. Ela fechou os olhos, apreciando o toque de seus lábios na pele dele, sentindo o carinho que ele a passava de maneira única, da forma que nunca sentira com ninguém. Quando abriu os olhos e afastou um pouco o rosto para olhar no dele, ele a olhava com olhos doces. Castiel realmente gostava dela, podia sentir. E era tão bom sentir essa reciprocridade. Em silêncio agradeceu aos pais por terem sido anjos em seu ano de sofrimento mesmo sendo ela a causadora de sua perda. Tinha certeza de que foram eles, sempre cuidando dela, que colocaram sem seu caminho esse ruivo problemático e intenso, que escondia sua preciosidade abaixo daquela casca grossa, dura e quase nociva. Ela tomou coragem e respirou fundo antes de finalmente contá-lo sua história.
— Era vinte de dezembro do ano passado, quando um avião da Thera* caiu em terra.

*Thera = Companhia Fictícia de Avião.


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Notas finais do capítulo

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