Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 64
Capítulo Vinte e um - Conversas a Dois


Notas iniciais do capítulo

Maratona!♥



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— Oi, Natsumin.
Ela não respondeu. Os olhos azuis observavam o pátio de Sweet Amoris de uma forma vazia e desabitada. Naquele momento ele lembrou-se da antiga Natsumin, tão cheia de vida e fugaz. As madeixas agora longas eram curtas na época, na altura dos ombros, ela normalmente usava sempre a mesma blusa, uma preta com o símbolo do batman na frente e sua mãe vivia reclamando que ela estava sempre com a mesma roupa, embora a lavasse todos os dias. Eram tempos um pouco difíceis para ele, mas ao lado da pequena menina morcego, como ela se chamava, tudo parecia mais fácil. Ele passou a adorá-la por isso. Natsumin também costumava cantar e tocar flauta pelos corredores e alguns alunos a odiavam por isso, apesar de cantar bem, irritava alguns mal humorados de vez em quando. E, agora, observando-a neste estado - raramente a via comer, tinha sempre o olhar perdido, nunca mais a vira cantar - perguntava-se o que havia acontecido de verdade, não a via há tanto tempo, não sabia como chegar e falar. Apesar de estarem quase se formando, ela mudou de colégio justamente no último ano do ensino médio, ele não teve coragem de conversar com ela sobre isso, na verdade, amaldiçoava-se todos os dias por ser tão covarde.
Mas hoje ele foi decidido. Não conseguia para de pensar nela desde o dia em que o ruivo humilhou-o agarrando-o pela camisa. Ele não pôde resistir, não porque não era páreo, claro que não, se quisesse, ele acabaria com Castiel, sim. É. Sim. Mas... Numa coisa ele estava certo. Algo estava acontecendo com ela. Ele preferiu pensar nisso por um tempo antes de agir instintivamente, seu próprio pai sempre o aconselhara a pensar antes de agir e ele achava que já havia pensado o suficiente. Mas ela não notara sua presença.
— Natsumin. — ele repetiu, os olhos verdes um pouco tensos, sentindo-se ora idiota, ora iludido, ou uma combinação dos dois, por pensar que, pelo menos uma vez, poderia conversar com ela como antes.
— Hm? Oh, Kentin, desculpe, não te vi. — ela virou apenas o rosto par ao lado para vê-lo, mas rapidamente voltou-o novamente para frente. Havia um par de olheiras atrás dos doces olhos azuis, o cabelo estava desgrenhado.
— Está tudo bem com você? — ele sentou-se ao lado dela na grama, ambas as mãos apoiadas nos próprios joelhos dobrados sob a calça militar.
— Sim. — ela olhou-o mais uma vez, mas logo desviou o olhar. Hoje usava apenas uma regata preta, shorts jeans e chinelos. Natsumin parecia não estar ligando para mais nada, tinha o olhar caído e a aparência também.
— Bom, não parece. — ele não conseguia tirar os olhos do rosto dela. Tão vazio... quase mórbido.
Ela apenas respondeu com um suspiro. Pelo que Kentin ainda compreendia dela, significava que não queria conversar sobre o asssunto. Preferiu respeitar, por enquanto.
— Você sabe de Tsubaki e Ayuminn? — o rapaz pigarreou antes de falar e acabou soltando também um suspiro. Voltou o olhar para o céu, tentando não deixa-la intimidada com um olhar tão direto, apesar de inevitável. Estava cinza e coberto de nuvens. O céu e ela. A chuva estaria por vir.
***
— Nathaniel? Uh!... Hm... Me desculpe.
Seu semblante mudou assim que abriu a porta do vestiário. Obviamente fora imprudente e agira completamente sem pensar. Não esperava ver esse tipo de coisa, mesmo tratando-se de um vestiário. Droga, droga, agora nunca mais iria tirar a imagem de sua cabeça. Seria algo que a perturbaria para sempre. Nathaniel... o que diabos estava acontecendo com ele?
— Tsubaki.... — ele apoiou a mão na própria testa após vestir a camisa rapidamente. — O que você faz aqui?
— Foi mal, Nathaniel. — ela tinha as sobrancelhas tristes e desconfiadas ao mesmo tempo, voltadas para baixo. — E-eu...
— Não, não diga nada. — ele tinha as expressões duras e a voz falava firme com ela, eram como tapas de tão rudes. Aquilo apertou o coração mole da menina. Tsubaki não conhecia Nathaniel muito bem, também não estava há muito tempo em Sweet Amoris, mas ver aquilo... Meu Deus, presenciar aquilo já era demais. Ela queria saber o que dizer pra ele, mas sua garganta travou, ela não conseguia tirar o dorso nu de Nathaniel repleto de marcas roxas novas e algumas maiores bem recentes. Ela não imaginava, não podia...
— Nathaniel. — ele recolhera suas roupas sujas rapidamente, retirando-as do banco de mármore do vestiário e colocando-as na mochila, esquivando-se da menina para atravessar a porta, mas Tsubaki segurou-o firme pelo braço, fazendo-o parar. — Nathaniel, olha pra mim.
O rapaz deixou escapar um suspiro profundo, mas não se virou. Tsubaki impôs-se puxando-o para dentro, o que a fez logo soltar seu braço e trancar a porta do vestiário rapidamente.
— Eu não vim aqui para saber da sua vida se é o que está pensando. — ela se viu sendo rude, apesar do coração apertar e Nathaniel tinha uma cara de pouquíssimos amigos naquele cenho franzido e dentes trincados. Bem diferente do representante doce que conheceu a princípio. O rapaz evitando olha-la nos olhos, apenas esperou para saber o que, afinal, ela queria.
— A diretora me pediu para procura-lo. Eu perguntei à Kim que disse que a Violette sabia, que disse que a Melody sabia, mas ela disse que não e eu acho que na verdade ela sabia mas não quis me dizer e então...
— Você pode ir direto ao ponto, por favor? Tenho algumas coisas a resolver. — o rapaz colocou novamente a mochila sobre o mármore e sentou-se, ainda sem olha-la diretamente.
— Bom, eu acabei falando com a sua irmã em troca de cinco pratas e ela me disse que você estaria aqui. — ela fugiu da luz da janela que vinha diretamente em seus olhos. Acabou ficando mais próximo dele.
— O que ela fez? E por que você aceitou? — ele olhou-a nos olhos pela primeira vez, a mão novamente na testa, a cabeça balançando para os lados, como quem diz que ela não tinha jeito mesmo.
— Calma, são muitas perguntas ao mesmo tempo. — ela tinha ambas as palmas voltadas para baixo e balançando em movimentos verticais, como quem tenta acalmar um animal enjaulado.
Finalmente ele deixou escapar um sorriso. Aquilo a aliviou, tinha que confessar. Não conhecia Nathaniel muito bem, mas não gostara de vê-lo tenso daquela maneira, apesar do inconveniente que acontecera entre os dois na academia, ela o considerava muito. É. Isso, havia se enganado, não estava apaixonada por Nathaniel, apenas o considerava. E ele precisava de ajuda então ela sentia que deveria e iria fazer algo.
— Por que você está aqui, Tsubaki? — ele voltou o olhar mel finalmente para ela e Tsubaki notou que seus olhos, na verdade, eram tão claros que chegavam a ser amarelos, como os seus. Nathaniel era tão bonito. O cabelo loiro estava desgrenhado pela primeira vez, já que acabara de sair do banho. Estava um calor, a propósito, não?
— Mais uma pergunta? Você é impossível! — ela balançou a cabeça, fazendo-se esquecer de todo o papo de "gelo" que planejava dar em Nathaniel e ele sorriu novamente. — Bom, eu te trouxe esse papel pra você assinar minha punição de hoje à tarde. Eu te procurei desesperada porque a diretora Shermansky quase me matou porque era pra eu ter te entregado na sexta e hoje já é segunda. — ela retirou do bolso da calça jeans, em péssimo estado, um papel dobrado diversas vezes e amassado e ofereceu-o ao rapaz.
— Mas o que você fez para ser punida? — ele pegou o papel de sua mão, o olhar no dela, realmente parecia interessado em ouvi-la, apesar de estar devidamente escrito tudo no papel.
— Mais perguntas! — ela revirou os olhos e ele sorriu mais uma vez. Ela estava adorando fazê-lo sorrir. Ainda mais depois daquilo tudo.
— Vamos, Tsubaki. Me responda a pelo menos uma delas. — ele tinha o semblante um pouco mais sério agora.
— Tá, tá. — ela sentou-se ao lado dele. — fica bem aí porque a história é longa.
***
— Sim, sim. — ela virou o rosto para ele e levantou o canto dos lábios num pequeno e sereno sorriso. Kentin franziu o cenho, ela não estava sem falar com as garotas?
— E está tudo bem? — o rapaz fez mais uma pergunta e Natsumin parecia perdida, o olhar vago olhava para a frente novamente, as mãos abraçando os próprios joelhos levantados. Kentin seguiu seu olhar e notou Castiel e Lysandre ao fundo conversando em frente ao ginásio. — Natsumin?
— Ah, desculpe. — ela virou o rosto para ele mais uma vez, os olhos desviando-se dos dele. — O que você disse?
— Perguntei se está tudo bem entre vocês agora. — ele apertou os olhos pelo fato de o sol estar indo diretamente neles. Belos, ficavam ainda mais claros sob o sol.
— Sim, sim. — ela balançou a cabeça e sorriu para ele novamente. Kentin sentiu um alívio nesse momento por dois motivos. — Nós estamos nos falando.
— Isso me deixa muito feliz, Natsumin. — ele sorriu de volta para ela. Um sorriso doce, de menino. Natsumin levantou os olhos para os dele naquele momento, sorrindo dessa vez mostrando os dentes. Ainda podia ver o antigo Kentin nele tão sutil... Ele era um grande amigo, ela o tinha como irmão. Incrível como o tempo que estiveram longe, como o tempo que ela permaneceu isolada de alguma qualquer socialidade escolar não tirou o carinho que ela tinha por ele e sabia que pra ele era recíproco.
O silêncio tornou-se rei naquele momento e eles ficaram ali trocando sorrisos, o que de maneira alguma incomodava. Ela se sentia bem conversando com Kentin e naquele momento perguntava-se porque fora tão egoísta a ponto de dividir suas dores e arrependimentos consigo mesma e esquecer-se de pessoas à sua volta. De ter se aproximado, se apaixonado por Castiel e não por Kentin. Mas logo lembrou-se que apaixonar-se não era parte de seus planos, na verdade, era o que os estragaria. Ela merecia o que estava passando, ironicamente, seus planos estavam indo bem, deveria sentir-se feliz. E não, não poderia magoar Kentin assim como magoou Castiel. Acontece que foi inevitável, as coisas aconteceram tão rápido, ela se apixonou tão rápido e agora sofria por também ter magoado Castiel. Ela não conseguia se esquecer do que aconteceu na casa dele, como fora intenso, como quebrara suas regras defendendo-o daquela maneira. Mas fora puramente instintivo, ela estava perdidamente apaixonada, limitada. E havia magoado o rapaz que amava. Não! Amar não. Amar é muito forte, amar é eterno. Ela estava apaixonada e aquilo iria passar. Precisava que aquilo passasse.
— E como vai sua vida amorosa, Kentin? — ela empurrou o ombro dele com o seu. Kentin arregalou os olhos e ruborizou naquele momento.
— P-por que a pergunta? — ele esfregava a nuca e desviava o olhar.
— Ah, não sei. — ela sorria novamente aquele sorriso vazio, sem alegria. Não era falso, só não havia felicidade em seus olhos. — Ah, sei lá... Acho que tentei cortar o silêncio.
— Você nunca foi muito boa cortando silêncios. — ele sorriu.
— Pois é, tenho que melhorar isso. — ela sorriu de volta. — Mas oras, me responde, vai. Eu sempre soube que Tsubaki foi o seu primeiro amor.
Kentin arregalou os olhos. — Ah, então havia um motivo sim. — ele deu um leve empurrão no ombro dela e Natsumin cambaleou sorrindo.
— Sempre há. — ela o empurrou de volta. — Agora responda, vai.
— Eu gostei de ver novamente aquela maluca. — agora era ele quem olhava para frente, divagando. —Mas Tsubaki não foi meu primeiro amor. — ele voltou os olhos para Natsumin.
— E quem foi? — ela franziu o cenho.
— Kathy. — ele respondeu, mas ela manteve o cenho franzido. Não lembrava-se de nenhuma Kathy. Kentin soltou um suspiro. — Lembra, do pré, uma garotinha de cabelos loiros bem cacheadinhos e olhos castanhos?
— Hm hm. — ela balançou a cabeça negativamente.
Kentin revirou os olhos. — Kathy dentinho.
— Ah, você gostava da Kathy dentinho? — Natsumin sorria com os lábios entreabertos e agora seu semblante parecia menos opaco. — Ela era tão lindinha.
— E vocês deram esse apelido a ela só porque ela perdeu o dente na escola e começou a chorar.
Natsumin deixou escapar uma risada nesse momento. — Nossa, crianças podem ser cruéis.
— É verdade. — Kentin desviou o olhar mais uma vez e ficou sério. Natsumin recorodu-se de como o menino era perseguido quando criança e implicavam tanto com Kentin que ela, Tsubaki e Ayuminn tiveram de defendê-lo várias vezes. Tsubaki marrenta como sempre até corria e batia em alguns. Natsumin lembrava-se de ter se aproximado dele pela primeira vez logo após notar um grupo de cinco rapazes pegando no pé dele por causa dos óculos redondos. Ela apresentou-se e disse que seria amiga dele a partir daquele dia. Lembrava-se de detalhes como ele ajeitando o óculos e respondendo quando ela perguntou seu nome. "Kentin, mas pode me chamar de Ken". O rapaz virou seu melhor amigo a partir daquele dia e Kentin também a considerava sua melhor amiga. Logo que conheceu Tsubaki, Kentin apaixonou-se por seu jeito extrovertido e principalmente pela grande bondade e coração mole que ela escondia. Acontece que ele nunca se declarou. Natsumin o ajudou a fazê-lo, mas no dia Tsubaki começou a namorar um garoto da sala deles, Richard, pelo que lembrava. Kentin teve que superar isso mesmo Natsumin aconselhando-o a declarar-se independente disso. Com o tempo e o inevitável afastamento de Tsubaki pelo namoro, Natsumin e Kentin tornaram-se muito próximos e ele superou Tsubaki apaixonando-se por ela. Mas muita coisa aconteceu depois e Kentin não conseguiu se declarar e ao menos confessou para Ayuminn que gostava de Natsumin. Só ele sabia e quando tomou coragem, ela sumiu da antiga escola e de sua vida e diante da tristeza, seu pai resolveu "torná-lo homem" enviando-o à escola militar.
— Sabia que ela me adicionou no facebook? — dessa vez foi ele quem quebrou o próprio silêncio.
— Jura? — Natsumin sequer lembrava-se de qualquer rede social. Logo depois de tudo excluíra a sua conta, mudara de telefone, fizera diversas estratégias para desaparecer. — Como ela te achou?
— Sei lá. — ele balançou os ombros e sorriu.
— Pela sua cara, ela continua linda, não é? — ela bateu novamente o ombro no dele.
— É. - ele soltou uma risada.
— Por que não fala com ela? — Natsumin sugeriu.
Era sua chance. Sim, teria de falar agora. Precisava dizer que era ela. Natsumin era o motivo, sempre foi. No entanto, nesse momento Kentin lembrou-se da imagem da menina olhando o ruivo. A forma como ela olhava para ele era diferente. E pela preocupação dele naquele dia, havia algo. Havia algo sim. Kentin não queria saber, não precisava. Não que tivesse medo de Castiel, não, que isso, claro que não. Só não queria que acontecesse o que aconteceu com Tsubaki uma vez. E sentia que seria rejeitado, Natsumin poderia ter carinho por ele, mas nada mais que um amigo. Ela estava tão distante desde que se reencontraram e nos últimos meses mais ainda, que mal falava com ele nos corredores. Sempre tão aérea, sozinha. Mal falava com Rosa; Alexy e Armin disseram que era por causa de Tsubaki e Ayuminn, mas agora elas... Elas eram amigas de novo, ele não entendia, não conseguia entender o que poderia estara acontecendo. Queria muito saber, mas ela não iria falar, tinha certeza.
— Sei lá, a gente nao se vê há tanto tempo. — dispersando-se de seus pensamentos, ele levantou os ombros.
— Ah, não custa dar um oi. — ela retirou os braços das pernas e ajeitou-se na grama do pátio para ficar de frente para ele. — Além do mais foi ela quem te adicionou primeiro. Ela deu o primeiro passo.
Kentin fez como ela e voltou-se para o lado, para ficar de frente para Natsumin. — Tem razão. — ele balançou a cabeça verticalmente depois olhou para o lado rapidamente, antes de voltar à ela — Vou falar com ela.
***
— E... fim.
Tsubaki estava parada de frente para ele com ambos os braços estendidos para o lado e esperando uma resposta. Nathaniel tinha uma das mãos na testa, mas dessa vez sorria. Nunca conhecera alguém com tanta energia - e memória - como ela. Contara detalhes de tudo, desde onde a informação surgira, segundo ela, souber por Kim, que disse à Violette, que transmitiu à Kentin, Iris, Rosa, Ayuminn e por fim Ambre, por quem soube diretamente através de provocações. Sua irmã a chantageou em troca de informações sobre o fato de a diretora a estar procurando e posteriormente sobre ela ter de procurar Nathaniel.
— Toma, Tsubaki. — Nathaniel retirou do bolso da calça jeans uma nota de cinco.
— Por que? — a menina recusou e franziu o cenho.
— Você citou em toda essa história que Ambre pegou cinco reais de você em troca de informações. — ele continuou segurando a nota.
— Por isso mesmo. Ela me chantageou, não você. — ela sentou-se novamente ao lado dele. — Não precisa encobrir os erros dela. — ela levantou os ombros. — E, nesse caso, o meu também porque pela pressa aceitei.
— É, você pode ter razão... — ele passou a mão pelo belo rosto. Nathaniel parecia um príncipe recém-arrancado dos contos de fadas. O rosto era doce e gentil, o corpo era atlético, o sorriso era belo. — E você foi imprudente.
— Culpada. — ela levantou a mão direita.
Ele sorriu.
— O que faz aqui, Tsubaki? — Nathaniel finalmente colocou o papel que ela o havia entregue dentro da mochila junto com o dinheiro e empurrou-a para longe. Tsubaki gostara daquilo.
— Putz. — ela suspirou. — Eu já te disse, a diretora...
— Não, Tsubaki. — ele a interrompeu. — Eu quis dizer.... Por que resolveu mudar de colégio em quase meados do último ano letivo.
— Isso é um interrogatório do Sr representante? — ela franziu o cenho.
— Não. — ele passou a mão pela testa mais uma vez e, droga, ele ficava lindo quando fazia isso. — É que...
— Você vê muito CSI, não é? Ou então BONES. — Ela parou e suspirou. — Nossa, BONES é vida, eu juro pra você. BONES e Booth são perfeitos e toda a equipe do Jef..
— Tsubaki. — Nathaniel a interrompeu mais uma vez. — Você não respira para falar? — ele sorria um sorriso tão doce e difícil de resistir. Mas, naqueles olhos amarelos de menina, ela ainda tentava esconder algo que a incomodava. Não conseguia tirar a imagem daquelas costas roxas e tinha certeza de que não era em razão da luta. Bom, sabia pela quantidade de séries policiais que via. Eram tantas que já estava quase perita. — Ah, desculpe. Eu te ofendi? — Nathaniel notou a mudança no rosto da menina, apesar de mal desconfiar do motivo.
— Não, não. — ela balançava a cabeça voltada para baixo, a franja no rosto tapando seus olhos cor de um sol numa manhã límpida. — Você gosta de romances policiais? — ela tentou disfarçar.
— Eles são os meu preferidos, pra ser sincero. — ele parecia um pouco incomodado, mas preferiu não argumentar. A conversa estava agradável de qualquer maneira.
— Bom, vou ser bem sincera com você, eu gosto de ler romances policiais, mas ainda acho ver séries policiais mais... — ela tentava procurar palavras para definir a sensação que tinha quando via, mas aquele cenho franzido e o sorriso amarelo denunciavam que não conseguiria.
— Eu entendo você. — ele pousou a mão na dela. — Me sinto assim também, mas em relação aos livros. — retirou a mão.
— Eu gosto de ler, mas acontece que... Sei lá acho que acabei me acomodando. — ela levantou os ombros.
— Eu entendo perfeitamente. — ele sorriu. — Mas talvez isso aconteça porque você não leu os romances investigativos do Augustus Carson. Ele traz na série suas experiências em casos de quando ele foi agente do FBI. Muitos baseados em casos reais. Vou te emprestar o primeiro exemplar. Tenho toda a coleção.
— Nossa, obrigada. — ela sorriu. — Minha mãe diz muito que eu preciso ler mais e etc, mas eu fiquei com uma paixão tão grande por séries. Na verdade, pra ser sincera, tudo começou com BONES. Na verdade, começou quando a minha avó colocou a tv a cabo na...
— Tsubaki. — ele pôs a mão direita sobre seus lábios. — Onde eu desligo você?
***
Ela ficou por um tempo ali, parada, olhando-o. Naqueles olhos azuis em cor e tristeza agora havia expectativa também.
Kentin franziu os cenhos e levantou os ombros, como quem pergunta "o que foi?".
— Faz agora. — ela disse antes que ele pudesse perguntar.
— Que? —ele comprimiu os olhos e apertou os lábios com o indicador e polegar da mão direita, onde também apoiava o cotovelo no joelho levantado.
— Vai, Ken, tenta agora, quero ver. — ela aproximou-se, pressionando-o mais, o rosto bem perto do seu e os olhos apontando para a sua mochila ao seu lado.
— Kentin. — ele corrigiu-a e ao virar o rosto para fazê-lo, ficaram bem mais próximos.
Ela revirou os olhos e sorriu.
— [i]Vamos Kentin[/i] — frisou bem ao pronunciar com força o nome dele, zombando. — Vou te ajudar.
Kentin cedeu no momento que virou os olhos como duas esmeraldas para a mochila. Logo depois, abriu-a e retirou o aparelho celular de porte médio, sem capas, preto e simples, mas um smartphone em bom estado. Olhou para ela antes de fazer outro movimento. A menina balançava a cabeça positivamente encorajando-o. O rapaz digitou o nome da "dentinho" na rede social e esperou enquanto o dispositivo buscava.
— Acho que é essa. A primeira. — Natsumin apontou o dedo para a tela, o rosto novamente bem próximo ao dele, o corpo também. Kentin perdera-se enquanto a admirava que mal notou a tela já carregada. — Nossa, ela está linda mesmo. Quem diria, não é mais a dentinho. — a menina tomou o aparelho das mãos do rapaz e agora olhava as fotos do perfil da menina, todas disponíveis já que Kentin era amigo dela.
— Agora ela tem todos os dentes. — o rapaz sorria enquanto tirava o aparelho da mão dela antes que fizesse alguma besteira.
— Não enrole. Mande a mensagem. — ela cruzou os braços e comprimiu os lábios e olhos.
Kentin sorriu e clicou na caixa de mensagem. Encontrou a menina e permitiu o acesso ao teclado ao clicar no ícone para mensagem. Ficou ali, com o dedo aéreo. Divagando.
— Coloca assim: Oi, Kathy, como você vai? Ainda me lembro daquela garotinha linda de cachinhos. Achei legal você ter me encontrado. Você não mudou nada. — Ela parou e ficou esperando a resposta dele.
— Não, Natsumin. — Kentin levantou uma sobrancelha.
— Vai Kentin. — ela fez uma cara de cachorrinho abandonado.
— Não, isso é demais. —ele passou a mão pelo rosto. — Vai ficar na cara que eu estou dando em cima dela.
— Kentin... —ela fixou os olhos nos dele.
— Natsumin... — ele fez o mesmo.
— Vai, você está exaltando a beleza natural dela. — ela pegou na mão dele e levvou-a ao celular, forçando-o a digitar. — Tenho certeza de que vai gostar.
Ele suspira, observando a mão dela sobre a dele.
— Manda. -ela repete.
— Tá bom, tá bom. — ele cede, segurando o celular com as duas mãos, os polegares prontos para digitar.
Natsumin espera. Nada. Nos seus olhos azuis, a luz proveniente da tela é refletida, bem como no verde dos dele. Ela não os tira dali até ele terminar de escrever. Com os dedos rápidos, Kentin finalmente passa a digitar a mensagem exatamente como indicado por Natsumin. Ao término, ela o espera apertar enviar. Nada. Os dedos dele congelam.
— Kentin. — ela olha pro rosto sério dele na tela.
O rapaz nada diz, apenas suspira, abaixa o dedo, mas não pressiona. Levanta o dedo, suspira mais uma vez. Crispa os lábios e abaixo o dedo novamente. Suspira. Hesita, hesita, hesita...
— Manda logo! — com o susto pelo grito dela, Kentin acaba enviando a mensagem. Após o feito ele tenta desesperadamente reverter, enquanto Natsumin sorri, sentada ao seu lado. O rapaz desiste e deixa o corpo cair para trás, na grama.
— Agora vamos esperar. — ela sorri, deitando-se ao seu lado na grama.
— Nunca... mais... faça... isso. — ele falava entre pausas, a mão no peito que respirava rapidamente.
— E aê, casaaaal!!!!
Kentin abre os olhos, mas sente duas mãos tapando suas órbitas e o mesmo ocorre com Natsumin.
***
— Parecem bem íntimos, não?
— Ayuminn e Ian?
Castiel levantou virou o rosto para Lysandre. Parecia bem sério com as sobrancelhas apertadas acima dos olhos, o maxilar rígido e os braços cruzados sobre o peito. Normalmente ele era sereno. O ruivo franziu o cenho voltou o rosto para frente . Que se dane.
— Natsumin e o Top Gun. — o ruivo apontou com a cabeça para o casalzinho sentado na grama do lado aposto ao pátio. Estavam longe, mas via claramente os movimentos dela, tão próxima a ele, sorrindo, empurrando o ombro dele.
— Mas só há o Kentin lá. — Lysandre franziu o cenho.
— Você faz questão de não entender as referências, não é meu velho? — Castiel pronunciava para Lysandre, mas os olhos não saíam do final do pátio, onde na grama ela o empurrava com o ombro e o fillhinho de mamãe a empurrava de volta.
— Na verdade eu só não as... encontro. — Lysandre tinha os braços cruzados e no bloco de notas em uma das mãos havia uma partitura.
Castiel balançou a cabeça no momento. Por isso Lysandre era seu amigo. Mesmo com poucas palavras eles se entendiam.
— Admita, você está ficando caidinho por ela. — o ruivo afirmou sem olhar nos olhos do amigo.
— Natsumin? — Lysandre indagou franzindo o cenho. Natsumin era uma menina bonita e doce, mas Lysandre não tinha segundas intenções em relação à ela, na verdade nunca teve. Sabia bem como ler Castiel no silêncio e nunca se enganou. Não precisava de autoexplicações, não precisava ver para comprovar nada. Lysandre simplesmente sabia. E de sua boca não sairíam palavras dúbias.
Castiel deixou a cabeça tombar para a frente e bufou. Não era possível, Lysandre não dava uma dentro. Também não tinha dúvidas, ele sempre foi uma pessoa bem aérea e esquecida quando o assunto não é de seu interesse. Mas o ruivo sabia que havia algo no amigo. Desde que a novata passara a trabalhar na casa dele, melhor, desde o assalto na casa dele na semana passada, muita coisa mudou, muito se intensificou. Isso, culpado, o incluía também. E talvez fosse esse o motivo que o fizesse não conseguir parar de olhar Natsumin desde que Kentin chegou para sua companhia.
— A garota nova. — Castiel soltou, os olhos ainda em Nastumin.
— Não me precipito. — Lysandre foi rápido na resposta. De fato, era verdade. A apreciava sim, ela era muito bela e doce. Fazia muito bem seu trabalho e chegava a ser invejada pelas demais empregadas na casa, principalmente pelos benefícios que lhe eram dados por Rosa. Por falar nisso, Rosa parecia muito esquisita atualmente, sempre ajudando Ayuminn em tudo e se dispondo a da-la o que precisasse, sempre sorridente. Havia algo de estranho, mas, ao mesmo tempo, algo que não o preocupava. — De fato, ela é muito bonita.
— E então o que te incomoda sobre ela e o boboca do irmão da Iris? — Castiel levantou os ombros, ainda com o rosto virado para frente, para Natsumin, os olhos meio cerrados, com tamanha profundidade, como se observasse o horizonte há horas.
— Não me incomoda. — Lysandre deixou escapar um imperceptível suspiro. Ian, o irmão mais velho de Iris alto, magro, de cabelos naturalmente ruivos e olhos verdes apenas entregava os livros dela que caíram, nada incomum. Até um pouco clichê para falar a verdade. Só que já fazia cerca de quarenta minutos desde que isso ocorrera e eles não pararam de conversar desde então. — Só me intriga um pouco.
Castiel sorriu. Bingo.
***

Caros alunos, por favor, reúnam-se no ginásio para o anúncio do mais novo evento em Sweet Amoris... pausa AGOOOOORA!
*
Eles estavam parados ali, a mão dele nos lábios dela, os olhos dela arregalados. Pela maneira como Nathaniel sorria e a olhava, ela podia desconfiar que se aproximava, ela esperava por um beijo. Mas logo veio esse maldito anúncio que bloqueou-os por completo e Nathaniel de imediato afastou-se e pegou a bolsa.
— Acho que não temos escolha. — ele levantou os ombros.
— Acho que ela me deixou surda. — Tsubaki dava batidinhas nas orelhas enquanto fazia caretas.
— Vamos. — ele sorriu. — E depois você poderia me emprestar BONES.
— Passa lá em casa, tenho até a oitava temporada. — ela piscou, sorrindo e seguiu-o.
Nathaniel sorria enquanto balançava a cabeça. Tsubaki não existia.
*
— Eu acho que depois dessa não temos como não ir para o ginásio. — Ian sorria e, convenhamos, tinha um belíssimo sorriso. Era simpático como a irmã, apesar de ter um lado ruim: ser amigo de viktor. O cabelo liso estava na altura das orelhas mais ou menos e o rosto já com a barba que deixou crescer não parecia o de um garoto de 18 anos, mas mais velho. Mas depois que raspava, parecia ter quinze.
— Bom, foi um prazer conhecê-lo, Ian. — Ayuminn sorriu para ele sem mostrar os dentes, sempre foi uma pessoa bem tímida e ligeiramente insegura. Havia levado um susto quando nessa manhã um cara alto como Ian esbarrou em seu ombro e derrubou todos os seus livros. Mas, ao mesmo tempo, impressionada por ser um cara tão legal e que transmitia tão boas energias. Soube por ele mesmo que ele era irmão de Iris, a ruivinha simpática que era de sua sala. Estava aí a explicação para a boa energia. Ele era como a irmã.
— Tá esperando o que, Ian? — Brad, um cara de cabelo raspado e um pouco mal encarado acenou com a cabeça para o ginásio. Estava acompanhado de um pior ainda. Pelo pouco que Ayuminn sabia, seu nome era Victor. Os cabelos eram negros, ele era forte, mas ao mesmo tempo acima do pesa e suas expressões eram muito rudes.
— Não dependo de vocês para nada. Vou encontrar minha irmã. — Ian encarou-os com as expressões rudes, parecia que algo não ía bem entre eles. — Te vejo por aí, Ayuminn. — ele piscou e sorriu para ela.
— Sim. — ela sorriu de volta, observando-o partir naquela regata azul escura e calças jeans. Ian era realmente muito bonito.
Como todos, ela também direcionou-se ao ginásio, não conseguia encontrar Tsubaki de jeito algum, de qualquer maneira. Em sua frente, alguém parou na porta. Era Lysandre e lhe oferecia passagem.
— Obrigada. — ela passou por ele, feliz por encontrar alguém tão belo e cavalheiro. Balançou a cabeça. Ele era seu patrão. Seria antiético se apaixonar por ele. Antiético.
*
— Quer me matar do coração!? — Kentin levanta-se de supetão, encarando Alexy com o cenho franzido. O rapaz de cabelos azuis sorria enquanto esfregava a própria nuca.
— Quem quase me matou agora foi a Sra Shermansky. — Armin cutucava uma das orelhas enquanto ainda tapava o rosto de Natsumin com a outra mão.
— Armin, eu posso te ver e você acabou de falar, o que te denunciou. — ela segurou o pulso dele, forçando-o a retirar a mão de seus olhos.
— Droga, nunca fui bom nessas brincadeiras.— o rapaz curvou os lábios.
Os quatro sorriram.
— E o que vocês fazem aqui solitários como um casal apaixonado? — Alexy indaga com um biquinho nos lábios.
— Está com ciúmes, Alexy? — Armin senta-se ao lado de Natsumin.
— Está com ciúmes, Armin? — Alexy rebate.
— Ciúmes? — Armin olha para Natsumin e ruboriza. Nesse momento Alexy e Kentin começam a rir, a menina apenas passa uma mecha por detrás do cabelo. — Ah! Por que vocês não vão logo ver o que a diretora quer dizer no ginásio?
— Por que eu acho que te fazer ficar vermelho foi mais divertido. — Kentin rebateu ainda aos risos.
— Estávamos tratando de negócios. — Natsumin piscou para Kentin, que com a troca de olhar agradeceu por ela não falar nada exatamente sobre o assunto. Armin ofereceu-se para ajuda-la a se levantar e a menina aceitou. Os três foram andando na frente e a menina ficou para trás, observando-os partir em direção ao ginásio. Momentaneamente, um vento forte bateu em suas costas e seus olhos observaram, do outro lado, Castiel e Lysandre. Lysandre estava um pouco mais à frente, caminhando. Ela sentiu um aperto no peito ao notar que o ruivo tinha ambas as mãos nos bolsos estava parado, como ela, olhando-a. Ela devolveu o olhar em silêncio e ele não se moveu. Ficaram assim, olhando-se por um tempo. E o ruivo foi o primeiro a virar-se e partir. Aquilo doeu muito em Natsumin. Podia ser egoísmo, mas por mais que estivesse entre amigos, por mais que adorasse estar entre amigos, sempre sentiria um vazio. Aquele vazio profundo e ambíguo, que doía como o buraco deixado pelos pais. Aquela dor era sua maldição. Aquela vontade de tê-lo que estava decidida a reprimir para sempre seria sua redenção.
Como ele, avançou lentamente para o ginásio.


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Notas finais do capítulo

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