Chegou a vez de explicar aquela coisa de “cereja assediada” de que vos falei a umas páginas atrás. Curiosos? Pois deveriam já que esta foi a primeira vez que me aconteceu algo do tipo e confesso que não sei nem o que pensar ou como deveria agir.

Penso que isto aconteceu no sábado imediatamente a seguir ao que relatei da última vez. A Bea, a tal garota demasiado agitada mas com uma voz e talento incríveis, fez anos durante a semana, talvez na quinta, não me recordo muito bem, e decidiu organizar uma glow party no sábado à noite para comemorar.

Só para ficar tudo claro: uma glow party seria, exatamente, uma festa do brilho. Todo o salão estava apenas iluminado pelas luzes do palco onde um amigo da Bea fazia o papel de DJ. A restante iluminação era produzida pelas nossas pulseiras e tiaras de tubinhos de líquido fluorescente, para além das tintas com que desenhámos nas caras e as luzes fluorescentes espalhadas pelo local. Basicamente isso.

Estava tudo muito bem: primeiro a minha mãe perdeu-se no caminho para o salão de festas, depois tropecei quando estava a sair do carro e, só para completar estava um gelo na rua e eu vestia um vestido preto, curto, solto e leve com detalhes em laranja na bainha e no decote. Só para começar!

Ao entrar no salão (depois de cumprimentar a Bea que estava na rua à espera dos convidados; tadinha…) apeteceu-me dar meia volta e telefonar à minha mãe para me levar de volta a casa. Bastou entrar para perceber que eu não me encaixava muito bem ali.

Grupinhos…

Sou só eu que odeio quando as pessoas se juntam para se divertir.. mas começar a formar grupinhos e a ter conversas alheias?!

Era isso que estava a acontecer naquele momento!

Felizmente a Lauren já tinha chegado então foi mais fácil para começar a falar com os outros (que, embora da minha turma, fizessem-me sentir como se estivesse deslocada). A ruiva assim que me viu tratou de me elogiar e arrastou-me rapidamente para a mesa onde nós podíamos fazer os nossos próprios acessórios glow.

Nota: aquela criatura trazia mais pulseiras do que braço! (risos)

Bem, até aqui tudo certo, não? Acontece que as coisas estranhas começaram a acontecer aí!

Eu e a Lauren subimos pelas traseiras do palco para irmos falar com um amigo nosso que estava lá em cima juntamente com o jovem DJ. Depois de alguns minutos descemos, mas ele (o tal amigo) veio connosco e, já nem sei bem como, acabámos os três, juntamente com a Mia, a jogar às setas numa máquina na área de jogos do salão. E mais um par de minutos depois bastou para restar apenas eu e o Edric no jogo (na qual, deixem que vos diga, eu não sou nada boa) já que tanto a Lauren como a Mia se chatearam rapidamente por não conseguir pontuar tanto como o rapaz.

Sei bem o quanto isto parece normal mas… quando terminámos o jogo (claro que a vitória foi dele #chateada) decidimos sair um pouco do salão para apanhar ar e procurar pela Lauren e a Bea, que descobrimos estarem sentadas num muro no exterior do salão juntamente com mais uma mão cheia de pessoas a conversar. Acabei por ficar lá por um tempo e arrumei um lugar para me sentar, no tal muro, mas, de um momento para o outro, sinto uma cabeça no meu ombro.

– Importas-te se eu ficar assim…?

Era Edric e ele parecia um pouco estranho, mas como sou coração mole não percebi nenhuma diferença e deixei.

O real problema veio com o avançar das horas.

Depois desse episódio ele já não me largou o resto da noite! Abraçava-se a mim, dizia constantemente o quanto eu era fofa e meiga, pedia para dançar comigo e… e beijos. Digo, não beijos-beijos, mas beijava-me a testa, as bochechas, as mãos ou o pescoço sempre que podia! Admito que os beijos foram o que mais me chamaram a atenção, mas não tinha coragem de me afastar e parecer, de algum modo, rude e insensível, no entanto passei a desviar-me sempre que podia, tanto dos carinhos como das conversas mais… “arriscadas” como: “Quando é que tiras o aparelho?”(dos dentes, claro).

A uma determinada altura afastei-me para telefonar à minha mãe e a Lauren veio falar comigo:

– Tu gostas do Edric? – perguntou-me, apreensiva.

– Não – respondi sincera, enquanto tentava parecer normal. O rumo da conversa não parecia bom.

– Sabes que ele gosta de ti, certo? – dispara a ruiva, de braços cruzados e expressão séria.

– Ah… não, mas suspeitava – respondi com um sorriso fraco.

– Se não gostas dele então, por favor, tem cuidado – acaba por pedir – Tenta não lhe dar esperanças para não o magoares…

A nossa conversa não foi muito além disso.

Passei a tentar parecer mais indiferente ao Edric, mas ele pareceu perceber e chegou a perguntar-me o porquê do meu afastamento.

Depois da festa tentei esquecer o assunto. Quando nos despedimos ele parecia não me querer deixar ir, mas eu apenas sorri gentil enquanto me soltava do seu abraço. E depois veio o domingo e aquela insegurança de que ele continuasse daquele modo na escola.

Não aconteceu nada como eu esperava…

Assim que alcancei a minha sala de aula surgiu um grupo de garotas da minha turma, inclusive a Lauren, a quererem saber se eu estava bem. Estava clara a minha confusão quanto às perguntas e à preocupação então a Lauren explicou-se:

– Ontem falei como Edric por mensagem e ele disse que afinal não gostava de ti, que estava apenas a passar um mau bocado e que tu foste simpática com ele! – dizia indignada, sendo prontamente apoiada pelas outras.

Sinceramente não sei o que pensar. Para além do “estou a passar um mau bocado” ainda ouvi algo como “ele estava bêbado”, o que realmente poderia ser verdade já que vez ou outra ele pegava numa bebida duvidosa que andava escondida algures no salão.

A situação nem me chateou muito, mas o pior foi que nessa segunda foi abordada por todas as pessoas que conheço querendo saber se eu estava a namorar com o Edric e isso foi a coisa mais constrangedora que já me aconteceu…!

No final… acho que apenas fiquei magoada por, até agora, várias semanas depois, o Edric ainda não ter vindo explicar-se para mim.

Mentiras e falsidade são algo que não suporto…

– Cherry