Secret escrita por Gasai


Capítulo 7
Bitter Desire


Notas iniciais do capítulo

Olá! Então... juntei os outros capítulos em um só. Espero que gostem!
Boa leitura!



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A lua estava cheia e, naquela noite sem estrelas, lançava sua luz pálida na estrada que deveria estar completamente deserta e silenciosa àquela hora da noite. As sirenes das ambulâncias ressoavam, abafavam os sons que saiam dos lábios dos adultos que andavam para lá e para cá, deixando as marcas de suas botas na neve fofa.

A garotinha que estava dentro do carro sentiu as mãos grandes e grosseiras segurando seus braços magros. Os cacos de vidro, que estavam grudados em seus membros por causa do líquido carmim que escorrida dos cortes abertos de seu corpo, fincaram-se em sua pele, causando uma dor ainda mais forte.

Logo ela foi puxada para fora do automóvel, que estava destruído. Ela finalmente pôde ver o rosto de seu salvador, com seus traços ásperos e a barba por fazer. Deixou-se ser aconchegada maca que impedia que a neve acariciasse sua pele machucada e exposta pelos rasgos de sua roupa. Ele colocou a pequena máscara sobre seu rosto e logo em seguida foi embora, um vulto branco o seguiu, com alguns três o seguindo. Ele parecia não os ver.

Um deles parou na frente da maca, encarou a menina. Logo criou forma e a menina pôde distinguir um rosto, um corpo, os fios brancos e brilhantes sendo agredidos pelo vento que trazia alguns flocos de neve, assim como o vestido simples e esvoaçante que tocava o chão de mesma cor. Os olhos da dama ficaram alguns segundos pousados nela. Brilhavam em uma mistura de tristeza e nostalgia. A mulher se aproximou.

– O-olá, s-senhora? – disse a garota. Sua voz estava rouca, e não passava de um sussurro um tanto abafado pela máscara. – Por que está olhando para mim?

A expressão da mulher mudou. Curiosidade, confusão e surpresa a dominaram quase que por completo. Ela se aproximou mais ainda. Sua face com traços delicados e feitos de luz quase tocava o rosto da menina. Os fios brilhantes atravessavam a superfície fofa da maca.

– Consegue me ver? – questionou a mulher. Sua voz era doce, recheada com a saudade que a dama sentida da carne que não habitava.

– S-sim. – Sophie gaguejou assustada com a aproximação repentina dela. – P-por quê? Não d-deveria?

– Não, é apenas raro. – murmurou a mulher, pensativa, afastando-se um pouco. – Não existem muitas pessoas com esse dom... De qualquer forma, qual seu nome, garotinha?

– Sophie... – murmurou. – Onde estão meus pais? - Ela tentou se levantar, mas logo voltou a deitar na maca. Seus membros latejavam com o esforço. - Meus braços doem... Eu quero ver eles!

– Eu sinto muito Sophie. Mas eu e minhas irmãs temos de levar seus pais para outro lugar. Lá é melhor para eles.

– Como assim? – questionou, ficando mais confusa ainda.

Os olhos brilhantes e brancos da dama brilhavam no escuro da noite.

– Você verá.

Ela sentiu um desejo forte de abraçar a loira, lhe dizer que iria ficar tudo bem, mas não o fez. Virou-se e caminhou lentamente até o carro, e antes de qualquer coisa, sussurrou para a menina, sem sequer olhar nos olhos âmbar, que já estavam marejados:

– Nos vemos por aí, Sophie.

~*~

A garota sentiu seus olhos arderem assim que sua mão, pequena e delicada, tocou na maçaneta da porta de casa. Assim que a forçou para baixo e empurrou a madeira escura, desejou amargamente que a aula não houvessem terminado naquele dia, assim como em todos os outros, que jamais devesse voltar a pisar no assoalho de sua casa, que nunca mais sentisse a mão de sua mãe tocar seu corpo de forma agressiva. Porém, isso não passava de desejos de sua mente, frágil naquela época, no tempo em que desejou ser forte. Queria que, de alguma forma, sua mãe melhorasse.

"Ela está apenas doente, querida. Logo ela vai melhorar...", sussurrara-lhe seu pai, nos chamados "Tempos Difíceis", enquanto acolhia a garota em seus braços, quando as lágrimas deslizavam de seus olhos claros, marcavam sua bochecha. Ela costumava a envolve-lo com seus braços magros e fungava em sua camiseta suja de suor do trabalho, o nariz vermelho. Mas, naqueles dias, ele não tinha tempo para a filha.

Mas a mãe não iria ser curada. A prova disso estava em seus pensamentos confusos, em cada palavra sem nexo proferida por sua boca, por cada marca que suas mãos ásperas deixaram no corpo de sua filha.

– Olá, mamãe... - disse a menina, adentrando o cômodo escuro, que parecia sem vida.

A mulher que veio em sua direção tinha uma pele tão pálida que a mesma parecia ser de um cinza extremamente claro. Tanto o short jeans quanto a regata branca que trajava eram sujos e surrados, o que tornava os tecidos mais escuros do que realmente eram. O par de olhos azuis e opacos, que era a única cor que adornava seu rosto anguloso, pareceram cravar-se no pequeno corpo da filha como uma lâmina, frios.

– Não fale assim tão alto, e não deixe a porta aberta! - sussurrou-lhe com desdém. - Você acha mesmo que a policia vai poupar você?

A garota a encarou, confusa. Todos os dias sua mãe lhe contava coisas diferentes, a maioria sem sentido algum.

– Acha mesmo que eles não vão matar você apenas porque você é uma criança?! - murmurou a mulher, indo em direção a porta. Os pés descalços quase não faziam barulho algum ao encostasse contra a madeira. Do bolso, pegou o pequeno molho de chaves e pegou uma prateada, que tinha uma aparência um tanto velha. - Eu sei que você quer me entregar para eles. Não é isso que quer? Mas a policia secreta não teria piedade de você. - riu com desdém enquanto trancava a porta, parando de girar a chave na fechadura apenas quando ela podia mais fazer o movimento.

– Desculpe, mamãe... - murmurou a menina.

– É SEMPRE A MESMA COISA! - bradou ela, virando-se para encarar a filha, o medo estava estampado no rosto da menor. - Você SEMPRE pede desculpas, mas nunca, NUNCA, concertou a si mesma! A CULPA É TODA SUA!

– Mamãe, você já tomou seus... - a garota disse, mas logo calou-se assim que se rosto foi forçado para o lado e sua bochecha começou a arder. Sua mãe havia lhe dado um tapa.

– EU NÃO PRECISO TOMAR MEDICAMENTOS! Eu estou MUITO bem! Eu não preciso disso! - ela gritou, a voz estava esganiçada. - EU NÃO ESTOU DOENTE!

– M-mas...

– Sem mas! Cale-se! - O rosto da loira estava distorcido pela raiva que a dominava.

Os dedos esguios da mulher se fecharam e prenderam o braço da filha com tanta força que a menina soltou um gemido. As lágrimas já riscavam seu rosto, e os soluços saiam de sua garganta. A menina já tinha ideia do que iria acontecer.

– Mamãe... Não! Por favor. - berrou, mas a mulher não lhe dava atenção, já a puxava para a porta, a fazia descer os degraus que pareciam gritar debaixo de seus pés.

– Eu faço o que quero com o que é meu... - disse quando o par de íris azuis conseguiram finalmente enxergar as correntes que saiam da parede do pequeno e escuro cubículo.

~*~

Anos depois...

Já havia um bom tempo de que seu pai não passava tempo em casa. A desculpa era sempre a mesma: Trabalho. Porém aquele dia era diferente, pois o homem estava lá.

Sentado em seu lugar na pequena mesa de jantar, junto com a mulher, Jon bebericava o vinho tinto com satisfação, tamborilando os dedos na taça algumas vezes enquanto de seus lábios saiam doces e belas palavras dirigidas à sua esposa.

Vanessa estava animada, mas a filha sabia que aquilo não duraria muito tempo. Eram poucas vezes as quais ela tomava seus medicamentos, e aquela era uma delas. Ela nunca gostou deles, para a loira, ela nunca esteve doente, mas a garota sabia que aquilo seria assim até seu ultimo suspiro.

A garota, em seu canto na cozinha, cortava lentamente os legumes para a salada. Estava de costas para o casal alegre, que não podia ver o sorriso sádico em seu rosto. Ela agradeceu mentalmente quando ouviu o barulho do vidro se chocando contra a madeira, estilhaçando-se. O som da bebida derramando-se era como música para seus ouvidos.

No fim de tudo, eles não tinham notado o estranho sabor do vinho...

~*~

Castiel apoiou-se sobre os cotovelos sobre o vidro da pequena mesa e encarou o pequeno bloco de notas, onde as belas e um tanto inclinadas letras de Lysandre juntavam-se umas com as outras e se transformavam em palavras, que por sua vez viravam versos.

Talvez, antes de tudo, seus pensamentos estariam focados ali, na tinta negra sobre o papel um tanto amarelado, seja admirando o talento do amigo ou tentando compor uma melodia que demonstrasse os sentimentos escritos e a transformasse em uma música, mas o garoto, é claro, não conseguia.

O problema era que, naquele momento ele sentia o suor ensopar um tanto suas mãos, cujos dedos estavam entrelaçados, a saliva molhando levemente a palma enquanto podia notar os dentes tocando o metacarpo que era protegido por sua pele, apenas para tentar amenizar o que sentia no machucado.

A dor no ombro parecia ainda mais forte naquela tarde. Latejava como na vez em que teve de tirar a bala de dentro do buraco de seu ombro. Ele ainda sentia arrepios subirem pela espinha quando se lembrava das amarras em seus braços que o impediam de mover muito, apenas para não “atrapalhar”, e o pedaço de tecido enfiado na boca. Ele agradeceu-os mentalmente por tê-lo amordaçado, pois assim ele teve algo para morder quando sentia a dor dominando quase todo o corpo e o impedir o grito que tentava escapar da garganta, além de proteger seus lábios e sua língua. Provavelmente teria fincado dos dentes neles com tanta força que ambos teriam sangrado tanto quanto o corte deixado pelo tiro e pela faca, que ajudara a tirar a bala de seu corpo.

Foi a voz suave do albino que o tirou de seu devaneio.

– E então? – perguntou Lysandre. – O que achou?

Castiel retirou a mão de perto dos lábios e mordiscou levemente o inferior, era quase impossível notar os dentes brancos e simétricos fincados nele.

– Está muito bom. – disse quase que automaticamente. – Ficou ótimo. Vou compor a melodia logo, logo! – Castiel falou tão rápido que as palavras pareceram juntar-se uma as outras.

Lysandre ergueu uma das sobrancelhas brancas, um tanto desconfiado.

– Está tudo bem, Castiel? – perguntou, apoiando o rosto sobre a mão fechada em punho, encarando diretamente o par de olhos cinzentos.

– Claro! – respondeu Castiel, acomodando a postura, tornando-a rígida. Estava tão reta que parecia que a coluna vertebral do ruivo havia sido trocada por um bastão. – Por que não estaria?

– Você demorou muito tempo para me dar uma resposta. E também devo lembrar que você não olhava para o papel, não diretamente. Também estava mordiscando a mão, você costuma fazer isso quando não se sente bem. Se aconteceu algo, ou quiser desabafar, pode falar comigo. – Lysandre inclinou-se um pouco para frente.

Castiel tentou relaxar um pouco, porém não conseguiu. O albino o conhecia muito bem, bem até demais para seu gosto.

– Não é de sua conta... – Ele começou a falar, porém Lysandre o interrompeu.

– Eu sempre te ajudei quando você precisou, assim como você fez o mesmo por mim. – disse o rapaz, de maneira calma. – Se quiser, posso fazê-lo.

– Não quero que se meta nisso, Lysandre. – Castiel apoiou o rosto na mão, olhando para o vidro da mesa. Não queria encarar os olhos heterocromáticos do garoto, pois ambos pareciam ler seus pensamentos.

– Tem certeza? – questionou o amigo. – Já te ajudei tantas vezes que não vejo como não posso te ajudar com esse. Sei que já estou insistindo demais, Castiel, mas acho que é preciso. Tenho certeza de que posso tirar esse peço de seus ombros. Estamos quase lá, o sonho de sua vida está prestes a ser realizado, mas você não parece animado com isso. Agora que está com ela, você parece estar cada vez mais fechado.

– Ela não tem nada a ver com isso... – mentiu, enterrando as mãos no emaranhado de fios escarlate.

Lysandre pegou a pequena caneta que tinha no bolso, e a colocou sobre a mesa, próxima ao braço direito de Castiel. O amigo a encarou, estreitando um pouco os olhos cinzentos, sem entender.

– Escreva. – disse Lysandre, voltando a sentar-se de forma mais confortável no sofá de couro negro.

– O quê...? – o outro questionou confuso.

– Escreva no bloco o que está te afligindo. Prometo que não lerei, tem minha palavra. Apenas o farei caso algo aconteça. – explicou, desviando o olhar para o lado.

Castiel engoliu em seco e pegou a caneta, olhando para ela por alguns segundos. Ouviu Dragon grunhir em meio ao sonho em algum canto da sala e passou algumas folhas do bloco até chegar próximo ao final. Porém, quando a ponta um tanto suja de tinta negra quase tocara o branco, levantou um pouco a cabeça e respirou fundo.

– Confio em você, Lysandre...

E a tinta finalmente formou letras, um tanto trêmulas, no papel.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Caso tenham visto algum erro, por favor, me avisem.
Comentários são bem-vindos! e.e



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