Boneca Humana escrita por SweetAmmy


Capítulo 5
Capítulo 4 — O útil, o agradável e o desnecessário


Notas iniciais do capítulo

→ Confesso que a ideia para esse capítulo veio de algo que a offa faz, estudo com música. As paródias dos links me ajudaram pra caramba na escola haha



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O dia não demorou muito a passar. Felizmente o nosso professor, Alfred Faraize, era legal e não exigia dos alunos mais do que eles podiam fazer. Não sei porque Kentin e os outros reclamavam tanto dele.

Falando no Kentin, eu ainda tinha que encontrar uma maneira de fazer com que ele parasse de me perguntar sobre fatos passados. Quando o professor Faraize falou sobre a guerra entre Tróia e Esparta, Kentin me disse: “Lembra-se de quando fomos para a casa de Rachel e estava passando o filme Tróia na TV? Rachel ficou uma semana dizendo o quanto Brad Pitt estava gato no filme!”. Eu apenas dei uma risadinha para disfarçar. Depois, quando fomos ao laboratório de ciências e abrimos um coração humano para a aula de biologia, Kentin falou: “Que legal, você superou seu pavor de sangue! Lembro que você quase vomitou quando estávamos andando de patins na sua casa e eu caí e ralei o joelho!”. Era legal que ele estivesse com saudades de falar com a amiga depois de tantos anos sem ver um ao outro, mas aquilo já estava me deixando de saco cheio. Eu não sou a Kaplan verdadeira e, se nós e Rachel éramos tão próximos, não sei por que ela nunca o mencionou. Tudo o que ele fala não faz o menor sentido pra mim e eu não sei mais como evitar a situação! Não posso contar a verdade, mas também é difícil continuar fingindo! E se ele acabar percebendo alguma coisa? Ou pior: E se ele acabar descobrindo tudo e meu disfarce for por água abaixo?




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No dia seguinte, peguei o endereço de Rosalya e prometi estar na casa dela às 17h em ponto. Quem me levou foi minha mãe, afinal, meu pai estava tentando ajudar os garotos de Os Engravatados a comporem uma música nova. O estúdio ainda nem estava totalmente pronto, mas eles não se importavam. Tive poucas oportunidades de conversar com eles, mas descobri que eram mesmo muito simples, mas persistentes. Desejavam ser famosos não apenas pensando na mulherada ou no dinheiro que ganhariam. Bem, pra falar a verdade, David só pensava na mulherada e no dinheiro. Mas mesmo assim apoiava a ideia dos companheiros de usar sua música para engajar-se em projetos sociais. E meu pai adorava isso. Tanto que o vi várias vezes rindo como um adolescente durante os ensaios - coisa que ele raramente fazia. Acho que nunca o vi se divertindo tanto com uma banda!


Eu e minha mãe apenas mandamos um abraço para todo mundo e saímos no carro. O apartamento de Rosalya ficava no centro de Bridgeport, levaria uns 10 minutos para chegar lá. Eu estava levando minha guitarra para ajudar no estudo, afinal, ter um instrumento musical sempre ajuda na melodia. E com uma boa melodia, seria bem mais fácil decorar a matéria.

— Estamos pensando em comprar outro carro, Kaplan. — Lucia disse, tentando puxar papo. — Eu tenho muita coisa pra fazer durante o dia, e agora com o emprego na Oasis eu preciso de um automóvel próprio para não ter que ficar dependendo do seu pai.

Ah, eu mencionei que minha mãe havia arranjado um novo emprego? Ela agora era decoradora em uma empresa de paisagismo chamada Midnight At The Oasis – que ela chamava de Oasis apenas por preguiça de dizer o nome inteiro.

— Mas o papai mal sai de casa o dia todo! — Comentei, rindo. Mas era verdade, não havia muito o que fazer fora do estúdio. A não ser quando eles saíam pra comer, ficavam dentro de casa até o final do dia.

— E você acha que o seu pai, Philippe Foxy, irá abrir mão do carro dele? — Lucia ergueu as sobrancelhas. Dei uma risadinha. É, conhecendo meu pai como conheço, duvido muito que isso acontecesse.

Minutos depois, cheguei ao local onde Rosalya morava: Um prédio de vidro belíssimo, com uns 12 ou 13 andares. Adentrei o hall com a guitarra nas costas e fui até o elevador.
Abri o bolso do meu colete para pegar o papelzinho que continua o endereço de Rosalya com o número do apartamento dela. Mas tive uma surpresa desagradável: Ele não estava lá. Eu havia esquecido-o dentro do carro.
Virei-me para a porta de entrada, mas minha mãe já havia ido embora. Não adiantava tentar ligar para o celular dela, porque o telefone também ficou anotado no papelzinho. Tentei ligar para Nathaniel, já que o único número que eu tinha era o dele (E antes que alguém pense besteira, ele me passou o número no primeiro dia de aula para ligar caso eu tivesse algum problema ou alguma dúvida em relação à escola. ES-CO-LA). Porém, ele não atendia. E agora?

Por via das dúvidas, decidi confiar na sorte. Fechei os olhos e escolhi um botão aleatório do interfone. Mas não era o apartamento de Rosalya. Aliás, a voz que ouvi era de um homem adulto que, mesmo vendo que eu havia errado o apartamento, insistiu para que eu subisse e lhe fizesse companhia.
Quando estava tentando pela segunda vez, ouvi uma voz familiar vinda do portão de entrada:

— O que você está tentando fazer? — Era Castiel.

— Tentando descobrir a cura do câncer. — Falei com ironia. — O que você acha que estou fazendo?

— Sendo maluca, pra variar. — Castiel riu com sarcasmo, indo até o elevador e apertando o botão do quarto andar. — Vai ficar aí de fora até quando? — Perguntou, se virando para mim.

Antes mesmo que eu pudesse responder, Castiel pegou minha mão e me puxou de uma vez para dentro do elevador. Assim que entrei, as portas se fecharam e o elevador começou a subir.

— Ei! Está achando que é meu dono? — Perguntei, rindo.

— Não, Foxy, mas acho que você vai acabar precisando de um. — Castiel respondeu. Ele tinha pegado a mania de me chamar de Foxy ao invés de Kaplan. Não entendi o motivo, mas também nunca perguntei. — Com a falta de senso de direção que você tem…

— Eu esqueci o papel com o endereço da Rosalya e… — Antes que eu continuasse a falar, percebi que Castiel também estava com uma guitarra. Ele havia sido convidado também? — Rosalya te chamou pra estudar também?

— Hã? Estudar? — Ele me pareceu confuso. — Ela me disse que iríamos compor algumas músicas e ajudar um ao outro para a semana que vem.

— Temos provas na semana que vem, está todo mundo comentando sobre isso! Em que você pensou exatamente?

— Eu não sei! Quando ela disse “compor músicas”, a última coisa que eu pensaria é que tivesse algo a ver com as provas!

— Depois eu é que tenho falta de senso! — Revirei os olhos antes de o elevador parar. Se bem que, não devia ser algo comum na França misturar música com estudo. Assim que as portas abriram e saímos, vimos Rosalya ao lado de uma porta digitando algo em seu celular.

— Até que enfim! — Ela disse, soando um pouco impaciente. — Já está todo mundo esperando vocês.

— Esquece! — Castiel disse. — Você mentiu. Pensei que realmente fôssemos compor alguma coisa. Mas se for pra estudar, não contem comigo!

— Desde quando eu menti? — Rosalya perguntou. — Eu disse que iríamos ajudar um ao outro na semana que vem, que é a semana de provas finais. Em que você pensou?

— Não interessa, mas tenho coisa melhor pra fazer do que estudar!

— Vamos compor músicas, porém as letras serão baseadas nas matérias! — Rosalya bateu o pé no chão, demonstrando estar irritada. Ela parecia ser do tipo de garota que odiava quando alguém discordava dela. — Todos precisam se preparar para as provas!

— Não, obrigado! — Ele disse, se virando e indo em direção ao elevador.

Sabendo que Nathaniel também estaria lá, não era de todo ruim deixar que Castiel fosse embora. Isso evitaria conflitos. Porém, eu duvido muito que Castiel iria estudar de verdade quando fosse embora. E se ele tivesse resultados ruins nas provas, ficaria ainda mais ranzinza do que já é. E quem iria sofrer as consequências disso? Nós, os próprios amigos deles. Injusto, mas era a realidade.

— Castiel, espera aí! — Falei, correndo até ele. — Não vamos apenas estudar como você está pensando! Vamos compor músicas sobre as matérias que nos ajudem a decorá-las mais rápido! Estamos unindo o útil ao agradável, e tem algum jeito mais divertido para estudar? Sei que não é o que estava esperando, mas ainda sim vai poder usar sua guitarra e compor alguma coisa! E ainda irá nos ajudar!

— Você também tem uma guitarra, Foxy, não precisarão de mim! — Ele respondeu, demonstrando indiferença.

— Eu não toco muito bem! Ainda estou aprendendo! — Menti. Eu sabia tocar guitarra - e muito bem -, mas ás vezes uma mentirinha não faz mal a ninguém. — E… Eu quero fazer uma aposta.

Senti um brilho nos olhos de Castiel quando ele ouviu “aposta”.

— Estou ouvindo. — Ele disse.

— Como temos duas guitarras, proponho que nos dividamos em dois grupos. Cada grupo criará uma música sobre uma das matérias. O grupo que tiver a melhor música ganha.

— E o que eu ganho se eu vencer? — Castiel perguntou, erguendo as sobrancelhas,

— O direito de escolher uma “punição” para o grupo que perder. — Respondi. Ele pensou por alguns momentos e no final concordou. Então, nós três fomos em direção ao apartamento de Rosalya e encontramos todos na sala (Alexy, Armin, Wendy, Nathaniel, Kentin e um outro garoto que eu não reconheci) entediados, como se estivessem nos esperando.

— Olha só, o masturbador também está aqui! — Castiel disse, olhando em direção à Nathaniel. Alexy e Armin soltaram um riso abafado.

— Masturbador!? — Franzi o cenho, olhando para Castiel.

— Vê se cresce, Castiel! — Nathaniel revirou os olhos.

— Nós sabemos muito bem do que você gosta que “cresce”. — Castiel disse maliciosamente, fazendo Alexy e Armin quase explodirem de tanto tentarem segurar o riso.

— Castiel, não é educado falar isso dos outros. É algo muito pessoal. — O garoto que eu não reconheci disse. Eu não havia notado-o na escola nos dias anteriores - o que era estranho, porque ele tinha cabelos brancos com as pontas escuras, olhos de cores diferentes (seriam lentes ou heterocromia?) e usava roupas um tanto… Antiquadas. Pra falar a verdade, MUITO antiquadas, provavelmente da era vitoriana.

— Ah, Kaplan! Acho que vocês dois ainda não se conhecem. Kaplan, este é Lysandre Pierce. Lys, essa é a Kaplan Foxy, a garota que deu a ideia do estudo com as músicas. — Rosalya me apresentou ao rapaz vitoriano.

— É um prazer conhecê-la. — Lysandre disse, se levantando e estendendo a mão.

— Igualmente! — Falei, apertando a mão dele.

— Então, já podemos dividir os grupos? — Rosalya perguntou.

— Grupos? — Kentin indagou. — Que grupos?

— Para fazermos músicas mais rápido, vamos formar dois grupos diferentes. — Expliquei. — E eu e Castiel fizemos uma aposta: O grupo com a melhor música ganha e poderá escolher uma “punição” para o grupo perdedor.

— Fizeram uma aposta sem nos consultar antes? Também faremos parte dos grupos! — Armin disse.

— E quem irá votar na melhor música? — Wendy perguntou.

— Eu voto. — Rosalya disse. — O apartamento é meu, então eu serei a jurada. Para garantir, não entrarei em nenhum dos grupos.

— E você vai ficar à toa enquanto fazemos as músicas? — Perguntei, erguendo uma das sobrancelhas.

— Claro que não! — Rosalya disse. — Eu também vou fazer uma. Aliás, vou começar uma e depois terminamos juntos. Tudo bem pra vocês?

Todos concordaram e os grupos foram divididos por sorteio: No meu grupo estavam Alexy, Wendy e Lysandre. Nós teríamos que fazer uma música sobre matemática (por sorte, a matéria da prova final era apenas Geometria Espacial). E no outro grupo ficaram Castiel, Armin, Nathaniel e Kentin, que teriam que fazer uma música sobre história geral. Nathaniel foi o primeiro a reclamar, dizendo que não queria ser do mesmo grupo de Castiel, mas Rosalya insistiu e disse que estarem no mesmo grupo faria-os aprender a trabalhar em equipe. Mesmo com as insistências, Rosalya bateu o pé no chão e não deixou que trocassem de grupo. Fiquei com medo do que poderia acontecer, mas Rosalya parecia bem segura em deixá-los juntos.

Enquanto o outro grupo foi para o quarto de Rosalya, nós fomos para o quarto dos pais dela (que raramente estavam em casa, como a própria Rosalya disse). E começamos a criar nossa música sobre Geometria Espacial. Apesar de a matéria ser pequena, tivemos um pouco de trabalho para pensarmos em uma música que fizesse todo mundo decorar as fórmulas.
Percebi que Lysandre cantava muito bem. Ele me disse que tinha uma espécie de “banda” (não uma banda de verdade, mas ele e Castiel compunham muitas músicas e tocavam juntos quando não estavam na escola) e que, quando fosse mais velho, iria tentar a sorte na carreira musical. Ele tinha talento, tomara que consiga!

Algum tempo depois, voltamos para a sala e esperamos o outro grupo. Não demorou muito até que eles chegassem.

— Preparada para perder, Foxy? — Castiel disse em um tom ameaçador.

— Engraçado, eu iria perguntar a mesma coisa pra você! — Rebati, olhando sarcasticamente para ele.

E então começamos a cantar nossa música:



Link para o vídeo → http://www.youtube.com/watch?v=WofecMPc2DQ

— Adorei! — Rosalya aplaudiu ao final. — Ficou ótima! Vocês foram incríveis!

— Ei! Você me disse que ainda estava aprendendo a tocar guitarra! — Castiel disse.

— Pois é. Eu menti! — Falei, dando um sorriso sarcástico para ele. Ao contrário do que pensei, Castiel não ficou irritado. Ele esboçou um sorriso mais irônico ainda e disse:

— Se queria tanto que eu ficasse, bastava dizer. Não precisava ficar inventando uma desculpinha só pra que eu não fosse embora. — E deu uma piscadinha pra mim.

— Babaca! — Falei, começando a rir.

— Tudo bem, chega dessa lenga-lenga que eu quero ouvir a outra música! — Rosalya disse, colocando um ponto final. Os garotos começaram a cantar:



Link para o vídeo → http://www.youtube.com/watch?v=9MAhCq8SWog

— Ficou incrível! — Rosalya aplaudiu. — Assim vai ser difícil escolher. Mas acho que voto…. Hum… No grupo do Lysandre! Desculpem, mas eu sou péssima em matemática e nunca decoraria tantas fórmulas sem ajuda!

Fizemos um high-five, comemorando a vitória.

— A culpa é sua, masturbador! — Castiel começou, empurrando Nathaniel. — Se você não ficasse criticando tudo o que nós fazíamos o tempo todo, talvez teríamos nos saído melhor!

— Rosalya deu preferência à matéria que ela acha mais difícil, Castiel. — Nathaniel revirou os olhos. — Você é burro ou o quê?

— COMO DISSE?? — Castiel gritou. Ai não, de novo não!

— Vocês dois parem com isso! Na minha casa não! — Rosalya se colocou entre os dois. — Parem de provocar um ao outro que isso já está ficando irritante!

Castiel suspirou para controlar a vontade de bater em Nathaniel novamente. Cheguei mais perto de Alexy e cochichei para ele:

— Por que Castiel fica chamando Nathaniel de “masturbador”?

— Você não soube? — Ele perguntou, cochichando de volta.

— Soube do quê?

— Castiel e Armin foram chamados na diretoria alguns dias atrás. Castiel por ficar matando aula e Armin, pra variar, por ficar jogando no PSP dentro da sala de aula. E, como você sabe, o Grêmio Estudantil fica logo ao lado. Eles disseram que a porta estava trancada e ouviram uns gemidos vindos lá de dentro. Quando eles falaram com o Nathaniel sobre isso, ele disse que estava com câimbra no pé e não havia percebido que a porta estava trancada. — Alexy segurava a risada. E, pra falar a verdade, eu me segurava para não rir também.

— Alo-ô, Kaplan? Você me ouviu? — Rosalya disse.

— Hã? Pode falar! — Falei, me afastando de Alexy, ainda tentando segurar o riso.

— Seu grupo tem que escolher a punição para o outro grupo! — Ela disse.

Eu não queria algo que fosse cruel, mas também não queria facilitar demais. Então tive uma ideia que agradaria meu grupo todo.

— Cada um de vocês ficará nos devendo um favor. Vocês deverão um favor para cada um do nosso grupo. E nós poderemos cobrar esse favor de vocês quando quisermos! — Falei.

— Ai, sério? Só isso? — Wendy pareceu decepcionada. — Pensei que poderíamos fazê-los dançar alguma coisa ridícula, gravar um vídeo e postar no blog da escola!

— Pode gastar seu favor pedindo isso para eles. — Respondi.

— NEM MORTA! — Todos do outro grupo gritaram de uma só vez, ficando um pouco corados. Wendy, Rosalya e eu começamos a gargalhar.

— Vocês são muito estraga prazeres! — Wendy disse.

Ficamos cantando as músicas por mais um tempo até decorarmos as letras. E então, percebi que já era bem tarde e eu não poderia voltar sozinha para casa. Alguns já estavam ligando para seus pais virem buscá-los.

— Kaplan, pode me emprestar seu celular, por favor? — Nathaniel disse. — Preciso ligar para meu pai, moro em Paris e não posso ir sozinho. Eu usaria meu celular, mas a bateria acabou.

"É, eu percebi quando tentei te ligar mais cedo!", pensei. Emprestei meu celular para Nathaniel e ele prometeu me dar uma carona até em casa, porque provavelmente meu pai estaria acabando de ensaiar com Os Engravatados e não poderia vir me buscar.

Nos despedimos de Rosalya e descemos pelo elevador até o hall de entrada.

— Ei, Foxy! Quer uma carona? — Castiel perguntou de fora do prédio, subindo em uma moto. Eu nunca havia andado de moto, mas tinha um pouco de medo. Especialmente porque eu estava com uma guitarra nas costas, que eu temia se desprender a qualquer momento caso eu andasse na moto a altas velocidades.

— Só se você me deixar dirigir! — Brinquei, rindo.

— Vá sonhando! — Ele deu um sorriso com o canto da boca e foi embora.

— Não sei como você o atura! — Nathaniel disse. — Castiel é muito irritante.

— É sim. Mas todos nós somos um pouco irritantes de vez em quando! — Dei uma risadinha.

— Não como ele. — Nathaniel disse, não esboçando sorriso algum.

Decidi ficar calada até que o pai dele chegasse. E não demorou muito.
Nathaniel disse que seus pais se chamavam Daniel e Claire, mas preferiam ser chamados de Sr. e Sra. Armitage.

E eu concordei em chamá-los assim. Assim que Daniel estacionou o carro, Nathaniel abriu a porta de trás para mim (como um cavalheiro, que coisa rara!) e eu me sentei no banco. Nathaniel se ajeitou ao meu lado, pois havia uma mulher no banco da frente. Provavelmente a mãe dele, Claire.

— Boa noite, Sr. Armitage. — Falei. — Obrigada por me dar uma carona. Eu moro no Caminho da Prata, 302.

— Hunf! — Daniel apenas resmungou, dando partida no carro.

— Minha querida, você não acha que suas roupas estão um tanto… Inapropriadas? — Claire disse, se referindo a minhas roupas curtas. Não estavam tão curtas! Bem, pelo menos, ninguém nunca disse isso. Eu sempre usei esse tipo de roupa nos Estados Unidos e ninguém dizia nada. Aliás, todo mundo por lá usava roupas assim.

— Eu… Vim dos Estados Unidos. — Respondi. — As pessoas de lá se vestem assim.

— Americanos! — Daniel murmurou com desprezo.

— Ei! O que o senhor tem contra americanos? — Perguntei, me sentindo um pouco ofendida.

— Acham que mandam em todo o mundo. — Daniel respondeu com arrogância. — Acham que são melhores e que podem ditar regras em qualquer lugar. Mas agora, senhorita, você está na Europa. Então trate de se vestir mais adequadamente, ou as pessoas vão começar a pensar mal de você.

— Ela se veste da maneira que se sentir melhor! — Nathaniel disse, me defendendo.

— Calado, Nathaniel. Ou quer apanhar quando chegar em casa? — Daniel disse, rangendo os dentes. Nathaniel apenas abaixou a cabeça e se calou.

Espera, quer dizer que Nathaniel apanhava em casa?

— Apanhar? Não é uma maneira um tanto… Rude para melhora de comportamento? — Falei.

— Se não formos extremistas, significa que estamos criando um filho rebelde e sem futuro. — Daniel disse.

— Meus pais nunca precisaram me corrigir com violência!

— Então já sabemos por que você é assim. — Claire disse. Aquilo foi como um soco no meu estômago. — E isso se reflete na forma como você se veste.

"Argh! De novo falando da maneira como eu me visto? Troca o disco, meu bem!", pensei, impaciente.

— Me desculpe, mas um país diferente não fará eu mudar a maneira de me vestir! — Respondi.

— Como queira. — Claire disse. — Mas não reclame quando te disserem que você se veste como uma vadia.

"Controle-se, Kaplan, controle-se. Eles não sabem o que dizem!", pensei, me segurando para não começar a gritar e jogar um monte de coisas na cara deles, do tipo "Melhor me vestir como uma vadia do que parecer uma lacraia anêmica, que nem você, Claire!". E então, Daniel estacionou na porta de minha casa. Vi Tyler, Logan, David e Clark lá de fora, conversando. Talvez o ensaio tivesse terminado naquele momento.

— Obrigada! — Disse, descendo do carro. — Até amanhã, Nathaniel!

Ia caminhando para a porta da frente, quando ouvi atrás de mim:
— Garoto imbecil! — Era Daniel, que gritava com Nathaniel. — Ao invés de estudar em casa fica ajudando vadias mal educadas como ela! Está na cara que ela não quer nada da vida, fica te influenciando de forma negativa e você ainda a defende! Você realmente não tem jeito. Não há castigo que o faça melhorar! — E então ouvi o som de um tapa.

Aquilo foi desnecessário. TOTALMENTE desnecessário. E eu havia atingido o limite. Aguentei calada por muito tempo, mas, naquela hora, não consegui me segurar. Eu não suportava ver alguém sendo injustiçado. Nathaniel se esforçava tanto para agradar os pais em relação à escola e era tratado daquela maneira.
Deixei a guitarra no chão, em frente ao portão de entrada, e caminhei de volta até o carro, gritando:

— Eu posso até admitir que você fale mal de minhas roupas ou do meu comportamento, mas não desconte isso no seu filho que não tem culpa de nada, SEU MONSTRO IDIOTA! — E então, não conseguindo me conter, dei um forte tapa na cara de Daniel. Neste momento, ouvi passos atrás de mim, como se alguém estivesse correndo em minha direção. Eram os garotos da banda.

— Kaplan, calma! — Ouvi Tyler dizer, se colocando na minha frente.

— Não fique irritado com ela, senhor. — David disse para Daniel. — Ela fica meio estressada quando esquece de tomar os remédios!

— Remédios? Ficou doido, David? — Falei. — Não é momento para piadas!

— Não me interessa se você toma ou não remédios, senhorita. Não tente me ensinar como devo ou não educar meus filhos, porque, vendo a maneira como você se comporta, já posso ter certeza de que dou uma educação bem melhor que seus pais. — Daniel disse, ligando o carro e indo embora.

Eu estava quase explodindo por dentro. David, Tyler, Clark e Logan prometeram não contar nada a meus pais, desde que eu prometesse me controlar mais. Mas eu ainda me sentia mal por Nathaniel. Ele não merecia pais como aqueles.
E então, comecei a pensar que talvez tentar descontar tudo no pai de Nathaniel não foi a maneira certa de fazer justiça. Ele era cabeça-dura, e a única coisa que aconteceu foi ele ficar ainda mais irritado. Daniel Armitage não poderia fazer nada contra mim, mas poderia descontar a raiva em outra pessoa: Seu próprio filho.

"Oh, não!", pensei. Neste momento, me senti a pessoa mais estúpida do universo. Ao invés de ajudar Nathaniel, eu havia piorado ainda mais a situação para ele.


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Notas finais do capítulo

→ UEUHEUHEUHEUHEHUE Kaplan barraqueira. Sossega aí ou vai acabar no ferro-velho novamente xDxD



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