A Chance escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 27
Capítulo 26




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Beatriz fecha a porta do escritório, após Manuela entrar. Ela senta na poltrona, nervosa e então diz:

— Eu espero que compreenda que o que estou prestes  a falar, afetará o Hugo.

— Dependendo da gravidade da situação, talvez isso não o afete.  – comenta Manuela.

— O que aconteceu com a mãe dele o mudou muito e acredito que o influenciará. Então, eu peço que por agora, isso fique entre nós – pede Beatriz, preocupada.

— Como achar melhor – promete Manuela —Quando quiser é só começar.

Beatriz respira fundo, aquelas memórias são muito difíceis de lidar, até mesmo para ela.

****

Catorze anos antes...

Hugo e Beatriz ficam cada vez mais próximos, conforme os meses foram passando. Eles passam a maior parte do dia juntos, começando pela faculdade até o término do estágio. Além de conversarem pelo telefone todas as noites, antes de dormir. Desde que Sônia foi para Cambridge, Hugo tinha se tornado para Beatriz seu melhor amigo e confidente.

— O que pretende fazer no fim de semana? – pergunta Hugo, animado, entrando na sala de Xerox.

— Você sabe... Estudar... Ir à caridade com a minha mãe... Assistir filme com o meu pai... – responde Beatriz, pensativa, terminando de usar a  copiadora. Ela o encara, admirando como ele fica bem de terno – Por que a pergunta?

— Porque eu tenho uma proposta a fazer – confessa sorrindo. Ele coloca suas folhas na copiadora e continua dizendo, empolgado — Quero te levar para conhecer o meu lugar favorito.

— Humm... Não acho que minha mãe vai me deixar ir para zona oeste –  comenta Beatriz erguendo os ombros.

— Mas e se for... Na Barra da Tijuca? – questiona Hugo.

— Na Barra... Talvez. Quando seria? – pergunta Bia indo para a porta.

— Domingo à tarde –Hugo sorrindo — No quebra mar.

— Tudo bem, eu vou ver com ela e te ligo hoje – avisa Beatriz retribuindo o sorriso — Eu tenho de ir, se não meu pai vai ficar irritado.

— Tudo bem, aguardo sua resposta – Hugo sorrindo.

****

Beatriz passou a tarde toda pensando em como faria a mãe não rejeitar aquele convite. Então lembra que não precisaria fazer muito esforço para convencer sua mãe a deixá-la ir à praia. Miranda sempre incentivou que Bia tivesse o maior contato possível com a natureza e escutar sua filha dizendo que iria caminhar pela Barra da Tijuca, a fez sentir satisfeita por ela finalmente ter escutado.

— Quer que eu vá junto? – pergunta Miranda, colocando a revista no assento do sofá da sala.

— Não precisa... Eu quero aprender a fazer isto sozinha – mente Beatriz disfarçando com pouco caso.

— Tudo bem – responde Miranda — Pedirei ao Bira para te levar no domingo. Estou tão feliz!

—Eu também – afirma Beatriz sorrindo — Vou para o meu quarto trocar de roupa.

— Tome um banho, pois vamos a um jantar beneficente – avisa Miranda.

— De novo? Já fomos na segunda- feira... – reclama Bia jogando a cabeça para trás.

— E vamos novamente. As pessoas precisam saber que você também apóia as nossas causas e que continuará meu legado – explica Miranda folheando a revista novamente.

— Como quiser, mamãe – responde Beatriz indo para seu quarto.

Agora só tem que esperar Hugo chegar em casa e confirmar. Aquela é a primeira vez em que sairiam juntos.

****

As ondas batem fortes, quase alcançando o píer onde está Beatriz. Ela já está pensando em ir embora, quando Hugo aparece com sua bicicleta. Ele acena e acelera os passos, chegando rapidamente perto dela.

— Desculpe-me pelo  atraso – pede sem graça — Eu perdi o trem lá perto de casa.

— Tudo bem, eu estava curtindo um pouco a vista – mente Beatriz sorrindo — Então, onde é o seu lugar favorito?

— Aqui – responde erguendo os braços — Esse é o meu lugar favorito. É aqui que eu gosto de ficar para pensar sobre tudo.

— Legal... Mas aqui estava movimentado até agora pouco –  Beatriz erguendo os braços — Como consegue pensar?

— Aqui não fica cheio sempre. Entre cinco e seis horas, aqui fica bem vazio – explica Hugo sentando — E aí teremos um dos mais belos espetáculos já proporcionados pela natureza.

— E qual é? – pergunta Beatriz, curiosa.

— Você verá. – responde Hugo admirando a vista.

E tal como disse o Hugo, as pessoas foram embora, os deixando sozinhos. Mas não por muito tempo, pois o Sol já está se pondo, deixando a lua tomar o seu lugar. Beatriz olha encantada, não se lembra de quando foi que tinha visto um pôr-do-sol tão belo. Ela olha para Hugo que está de olhos fechados, deixando o vento tocar seu rosto. Ele parece estar tão sereno... Como se nada pudesse tocá-lo…

— Obrigada – agradece Beatriz olhando os últimos raios de sol sumirem — Por me trazer aqui.

— Eu que agradeço por você aceitar –Hugo abraçando os ombros de Bia — Eu queria te mostrar a única coisa que faltava para você saber sobre mim.

— Fico feliz que tenha desejado compartilhar isso comigo –afirma Beatriz sorrindo.

— Eu quero compartilhar mais uma coisa – informa Hugo segurando o rosto de Beatriz. Ele a beija docemente, fechando os olhos. Afasta devagar enquanto os abre novamente e dá um sorriso — Exatamente do mesmo jeito.

— Eu quero compartilhar também – Beatriz aproximando o rosto novamente e o beijando.

Assim ficam por um bom tempo, entre beijos e sorrisos, sob o olhar irado de Miranda que os vigia do táxi com seu binóculo.

****

Passaram-se duas semanas após aquela tarde no quebra mar, Beatriz anda pelo corredor da empresa, irritada. Depois daquele dia, Hugo nunca mais falou com ela e sempre a evita, tanto na faculdade, quanto no estágio, além de não atender mais suas ligações. Bia não consegue entender o que pode ter feito de errado, pois tem certeza de que ele gostou tanto quanto ela. Está determinada a acabar com essa angústia, agora. Ela entra na sala, onde Hugo trabalha, abruptamente e vai direto a sua mesa, sem se importar com o supervisor dele.

— Por que você está me evitando? – pergunta Beatriz, direta e grossa. Ela gesticula, irritada, com os braços — O que é? Beija e joga fora? O que está acontecendo?

— Bia... – Hugo sem graça. Ele se levanta e a segura pelo braço a tirando da sala — Só um minuto – finaliza fechando a porta , deixando Bia do lado de fora.

Um minuto depois, tal como disse, Hugo sai de sua sala e caminha com Beatriz até a sala de Xerox. Mal entram na sala e ele a empurra, delicadamente, contra a parede. Ele toca seu rosto e dá um beijo em Beatriz.

— Desculpe-me – pede Hugo acariciando o rosto dela.

— Não – recusa irritada. Beatriz cruza os braços e continua — Você estava me evitando e agora me beija. Você é bipolar? Eu não sei se consigo lidar com isso.

— Não. Eu não quis me afastar de você... – confessa Hugo. Ele encosta na mesa — Eu só não posso mais te ver.

— Por quê? – pergunta Beatriz, irritada — Não sei se você percebeu, mas vamos nos ver sempre. Já sei, você cometeu um erro e agora não tem como voltar atrás porque o erro foi ter se envolvido comigo. Tudo bem, pode falar que eu aguento.

— Não é isso. – nega Hugo tocando na mão de Bia — Eu não acho que foi um erro. Foi maravilhoso e adoraria repetir todas as vezes que pudesse, mas…

— Mas? ... –  questiona Beatriz cruzando os braços— O que te impede?

— Eu recebi um aviso há duas semanas que se continuasse a falar com você... Haveria o desligamento do  estágio – confessa Hugo.

— Eles te ameaçaram tirando o seu estágio? –pergunta Beatriz, irritada — Que absurdo!

— O meu não. Se fosse o meu, não me importaria –Hugo triste — Eles iriam te desligar do estágio.

— Impossível – nega Beatriz nervosa — Quem te disse isso?

— Seu pai – responde Hugo.

O sangue some do rosto de Beatriz, ela não consegue acreditar que o pai dela fez isso.

— Venha comigo – ordena Bia, segurando na mão de Hugo.

Ela anda enraivecida pelo corredor, irá tirar aquela história a limpo, imediatamente.

****

Beatriz abre a porta da sala de seu pai e o encontra conversando com sua mãe amigavelmente que está de costas para ela. Miranda ao ver o olhar surpreso do marido se vira e vê Beatriz e Hugo na porta.

— Olá –Bruno tranquilamente — O que quer, minha filha?

— Por que você ameaçou o Hugo? – pergunta Beatriz.

— Do que está falando? – questiona Miranda, curiosa.

— Não se faça de inocente, mamãe. Eu sei que você está envolvida nisso. Então pai, por que você o ameaçou?

—Não o ameacei – Bruno responde sério — As normas do estágio dizem que não pode ter envolvimento amoroso entre os participantes.

— Mas a gente não está junto. Ele é só meu amigo – explica Beatriz, sob o olhar confuso de Hugo.

— Como pode mentir com tanta facilidade? –  questiona Miranda apoiada na mesa de Bruno — Está aprendendo isso com ele, não é?

— Eu não estou mentindo – retruca Beatriz.

— Eu vi vocês dois na praia, no domingo. No mesmo dia que me pediu para caminhar sozinha – revela Miranda, irritada — Achou mesmo que eu ia cair no seu papo?

— E se eu tiver namorando  o  Hugo, não poderei mais fazer parte do programa? – pergunta Bia, séria olhando para o seu pai.

— Não poderá - confirma Bruno.

— Tudo bem – responde Beatriz, determinada. Ela se vira para o Hugo e pergunta — Quer namorar comigo?

— Isso é um absurdo! – Miranda, exaltada — Você não pode jogar sua vida fora por birra.

— Não é por birra – olha para Hugo e pergunta mais uma vez — Quer namorar comigo?

—Não precisamos chegar aos extremos – informa Bruno levantando a mão — Filha, se for desligada, não conseguirei te colocar novamente. Além de ter uma péssima repercussão.

— Eu não me importo – responde Beatriz olhando para o pai — Eu quero namorá-lo e serei menos um problema para o Hugo aqui dentro.

—Vamos fazer um acordo: vocês podem namorar e você continua trabalhando aqui dentro. Só que eu precisarei mudar um dos dois para outro departamento.

— Tem mais uma coisa – Beatriz segurando na mão de Hugo — Eu quero poder sair com o Hugo à hora em que eu bem entender e também que ele freqüente a nossa casa. Ah, e não quero ouvir falar mal dele.

— Isso está fora de negociação – intromete-se Miranda balançando a cabeça.

— Então eu me demito – Beatriz, desafiando a mãe.

— Bia... Não faça isso – sussurra Hugo — A gente não precisa fazer as coisas assim.

— Com a minha família funciona assim – retruca Bia.

— Poderá sair com ele em finais de semana alternados –sugere Miranda — Mas terá de estar em casa às nove. O Bira a levará nos lugares.

— Tudo bem – concorda Beatriz. Ela olha para Hugo e completa — Então, você aceita?

— Aceito – concorda Hugo sorrindo.

— É melhor vocês voltarem ao trabalho – propõe Bruno tentando não sorrir.

Assim que os jovens saem da sala, Miranda olha para o marido, séria:

— Eu te avisei .

****

— Bom, então estamos namorando – comenta Hugo andando ao lado de Beatriz.

— Sim – responde Beatriz franzindo a testa. Ela para e o encara — Você não quer?

— Eu quero – responde Hugo apressado segurando a mão de Beatriz sem se importar com os funcionários que os observam — Só que eu tenho que te pedir uma coisa.

— O que é? – pergunta Beatriz.

— Preciso que conheça a minha mãe – revela Hugo, sério — Eu prometi que ela conheceria minha namorada... Quando eu tivesse uma.

— Tudo bem – responde Beatriz tranquila — Pode ser sábado?

— Com certeza – Hugo sorrindo. Ele para em frente a sua sala— Até... Minha namorada.

— Até – despede-se Beatriz vermelha.

Ela caminha até sua sala pensativa, não tinha mais certeza se aquela decisão era correta.

****

A lua daquela noite de Sábado estava tão bela quanto Beatriz em seu vestido de cetim azul marinho. Ela ajeita o cabelo em rabo de cavalo, encarando a janela do carro. Aquela noite conheceria a mãe de Hugo, por isso se sente na obrigação de estar impecável. Seus pais consentiram sem argumentar com ela, o único pedido foi que no próximo final de semana a mãe de Hugo viesse até a casa deles.

— Bee...

— Flávio? – indaga Beatriz, tentando enxergar Flávio.

— Oi Bee – cumprimenta Flávio caminhando calmamente enquanto surge da escuridão. Veste uma camiseta verde e bermuda bege. Seus cabelos estão penteados para trás — Que bom que consegui te encontrar em casa.

— Eu já estou de saída – avisa Beatriz, nervosa — Estou indo jantar,mas a gente pode combinar outro dia.

— Eu não posso esperar – Flávio mordendo os lábios. Ele se aproxima de Beatriz — Eu esperei muito tempo para dizer isso.

— Por favor... – pede Bia se afastando — Não diga nada.

— Eu preciso te dizer o que sinto – continua Flávio, exasperado, se aproximando.

— Por favor... Não fale... Por favor – pede Beatriz erguendo a mão.

— Por que não? Eu achei que você quisesse saber – questiona Flávio, confuso.

— Eu estou namorando agora – confessa Beatriz — E não quero me arrepender dessa decisão. Eu não posso.

—Ele vai entender... Deixe-me falar – pede Flávio, desesperado tentando convencê-la — Se você me escutar... Vai ver que essa decisão está errada…

— Você não entendeu. Fui eu quem o pedi em namoro –revela Beatriz, triste — Então, eu não quero ouvir. Eu só quero que seja feliz, com a sua noiva, ou sei lá com quem... E me deixe ser feliz.

— Bee... Escute-me – pede Flávio segurando suas lágrimas — Não é nada disso…

— Por favor, não – Ela fica quieta com a presença do chofer que entra no carro rapidamente. Ela olha para Flávio— Eu não quero. Tenho de ir, adeus.

Antes que Flávio possa dizer algo, ela entra no carro, apressada e pede que Bira a leve imediatamente. Do retrovisor, enxerga a silhueta de Flávio sumindo na escuridão da rua, sendo atrapalhada por suas lágrimas.

****

A casa de Hugo é bem modesta. Tem uma sala que também é o quarto dele, uma cozinha, um banheiro, e um quarto, onde dorme Carla. Apesar de não ser luxuosa, como de Beatriz, é acolhedora.

Assim que Bia chegou, foi recebida afetuosamente por Carla, uma mulher simples, seus cabelos são lisos negros iguais ao de Hugo, porém com muitos fios grisalhos. Seu rosto é marcado pelo sol e suas rugas dão um ar mais velho do que de fato tem. É a mais nova de sete irmãos, todos eles ainda moram na cidade de Esperantinópolis, no Maranhão. Ela veio para o Rio de Janeiro com treze anos, assim como muitos, em busca de seu lugar ao sol.

— Mas as únicas coisas que eu conquistei – continua Carla, colocando a panelas de ferro, com o arroz de cuxá, em sua mesa redonda — Foi um carioca bom de lábia e uma barriga – toca no rosto emburrado de Hugo e senta ao seu lado. Ela sorri sem graça para Beatriz — O Hugo foi à única alegria que eu tive…

— O que aconteceu com ele? – pergunta Beatriz, interessada, pegando a colher para servir o arroz.

— Não aconteceu nada – responde Hugo de forma ácida. O assunto o incomoda profundamente — Podemos mudar de assunto?

— Ele era casado, fui babá na casa dele – responde Lúcia sorrindo tímida. Ela vai até o fogão esmaltado de amarelo, bem antigo e então pega uma travessa de peixe gratinado e volta mudando de assunto — Espero que goste de merluza.

— Deve ser muito bom... – responde Beatriz suspirando — O Hugo diz que a senhora tem mãos de fada na cozinha.

— Ele disse que gosta da minha comida? – pergunta Carla, admirada.

— Sim, mãe. Eu disse – responde Hugo segurando na mão de Beatriz — Tenho certeza que a Bia vai gostar.

— Que bom. – Carla olhando para o gesto afetuoso — Sabe, nunca pensei que fosse conhecer uma namorada do Hugo.

— Por que não? – questiona Beatriz, curiosa, servindo um pouco do peixe. O cheiro divino, faz Beatriz salivar. Ela encara Hugo e pergunta — Ele é do tipo pegador?

— Quem me dera... – responde Carla sorrindo — Ele nunca namorou, não... Sempre foi focado, sabe? Sempre em casa…

—Mãe – repreende Hugo, envergonhado — Por favor.

— Mas é verdade – Carla jogando o pano de prato em seu ombro — Ela tem de saber que você é um rapaz de família, nunca foi arruaceiro, nunca foi de turma e nunca se meteu em encrenca…

Ela para de falar e põe uma das mãos na cabeça, enquanto a outra desce procurando uma cadeira. Hugo se levanta rápido, ajudando a mãe sentar.

— Está tudo bem, mãe? – pergunta Hugo, preocupado.

— A senhora está bem? – pergunta Beatriz, preocupada.

— Foi nada... – Carla, séria. Ela dá um sorriso triste para Bia e diz — Só estou um pouco cansada. Trabalhei em duas casas hoje.

— A senhora precisa descansar – comentaHugo, dando um beijo na testa de sua mãe — Já disse que não precisa fazer mais isso.

— Eu sei, eu sei, mas não vou deixar minhas patroas na mão – responde Carla, irritada.

— A senhora teve febre essa semana, vive reclamando de dor e falta de ar – conta Hugo, voltando a sentar — Se a senhora continuar assim, daqui a pouco não poderá trabalhar. Eu acho melhor a senhora ir ao médico e ver se não tem algo com a sua saúde.

— Mas eu sempre trabalhei Hugo – argumenta Carla — Deve ser só cansaço... Mas chega de falar sobre minha pessoa... Quero ouvir mais sobre essa lindeza de garota.

—  Mas eu já te contei tudo – retruca Hugo, nervoso — Vamos comer, sim.

—  Por mim, tudo bem – responde Bia sorrindo — O que gostaria de saber?

— Hugo está certo, vamos comer – Carla, tímida, servindo seu prato — Espero que goste da minha comida.

— Pelo cheiro está uma delícia – elogia Beatriz sorrindo — Juntando com os elogios de Hugo , tenho certeza que esse será o melhor jantar da minha vida.

— Eu sei... Essas são as minhas refeições preferidas – Hugo sorrindo.

O jantar continua animado e cheio de assuntos sobre as novelas, os homens bonitos da capa de revistas, religião, política e as piadas de Hugo. Beatriz tenta se lembrar de quando foi à última vez que riu até sua barriga doer com sua família e nada veio em sua mente. Ela olha, maravilhada, para Hugo e Carla, apesar de serem só os dois, aquele lar exala amor. Aqueles momentos a fizeram esquecer a conversa que teve mais cedo com Flávio.

Carla retira as coisas da mesa com a ajuda de Bia, enquanto Hugo conversa sobre as novidades do estágio. Ela termina de lavar a louça e se vira para os dois.

— Filho, vai lá na venda, para mim? – pede enxugando as mãos no pano de prato.

— Fazer o que lá? – questiona Hugo franzindo a testa.

— Eu fiz um manjar e queria servir com refrigerante para sua namorada – responde sorrindo.

— Tudo bem – concorda Hugo se levantando. Ele vai em direção a Beatriz e a beija — Quer ir comigo?

— Não – Carla, séria. Ela sorri um pouco — Eu vou arrumar as coisas e queria prosear um pouco com ela.

— Tudo bem – responde Hugo. Ele dá mais um beijo em Beatriz — Não demoro.

— Espero que demore um pouco – sugere Carla sorrindo.

Hugo sai da cozinha sob o olhar de Carla que não fala nada, até escutar o barulho da porta da sala fechando. Ela olha para Beatriz e sorri.

— Gostei de você – comenta Carla abrindo a geladeira. Ela tira um maravilhoso manjar, colocando-o na mesa —É uma menina cativante. Apesar de ser rica, humilde... Uma boa menina.

— Obrigada – agradece Beatriz corando. Ela pega três copos de vidro, colheres e os coloca na mesa — Fico feliz em saber.

— Porém – Carla  senta para terminar— Não serve para o meu filho.

— Como? – solta Beatriz, confusa. Ela senta de frente para a mãe de Hugo

— Não me entenda errado, mas o mundo de vocês é diferente – responde Carla — Ele cresceu na pobreza, trabalha para ganhar tudo o que deseja. Enquanto você…

— Meus pais também não eram ricos, Dona Carla – interrompe Beatriz,séria — Eles lutaram e cresceram na vida.

— Eles sim, mas você não – Carla, séria. Ela ajeita seu pano de prato e  continua —Você sempre teve tudo o que deseja e meu filho não poderá te oferecer muito.

— Mas eu não quero nada do seu filho – nega Beatriz — Não estou exigindo nada dele. Eu gosto dele...

— Mas não o ama – alega Carla — Você não  está apaixonada e eu vejo isso. Eu sinto muito... Meu filho está e sei que está disposto a ficar com você, pena que não é recíproco.

— É sim, Dona Carla – afirma Beatriz, convicta — É recíproco. Não vou dizer que o amo, nem que estou apaixonada, mas eu admiro seu filho e gosto muito dele. Tenho um carinho enorme por ele e sei que vou amá-lo... Um dia.

— Eu espero que sim – confessa Carla sorrindo. Ela toca na mão de Beatriz— Mas se não amá-lo, espero que seja sincera com ele e diga. Não o iluda. Ele é um menino muito bom, mas sei que um dia irá sofrer de amor. Seja por você ou por outra.

— Eu entendo... Mas farei de tudo para que ele seja feliz – garante Beatriz.

— Espero que sim – reforça Carla sorrindo.

— Cheguei! – grita Hugo da sala, alertando as duas para trocar de assunto.

Depois do maravilhoso jantar, os três se deslocam para a sala, onde sentam e continuam conversando. Carla ri das histórias de Hugo a respeito da faculdade, recebendo carinho nos ombros, dado por Beatriz.

— A conversa está boa – Carla se levantando do sofá amarelo desbotado — Mas eu preciso me deitar. Tenho um longo dia amanhã.

— Boa noite, mãe. –Hugo, dando um beijo no rosto de sua mãe — Durma bem.

— Boa noite, Dona Carla – Bia se levantando e a abraçando — Foi um prazer conhecê-la.

— O prazer é todo meu – despede-se Carla sorrindo. Ela segura a mão de Bia — Venha mais vezes aqui em casa.

— Pode deixar – responde Beatriz.

Ela passa a mão no rosto do filho e vai para o quarto bem devagar, como se estivesse sentindo dor. Beatriz vai até o sofá e pega sua bolsa, tirando de dentro seu celular.

— O que está fazendo? – pergunta Hugo.

— Vou ligar para a minha casa e pedir para mandarem o Bira me buscar. – responde Beatriz, séria.

— Achei que fosse ficar mais um pouco – comenta Hugo, muxoxo.

— E vou. Vai demorar ainda para ele chegar – responde Beatriz sorrindo.

— Aposto que sua mãe o mandou ficar nas redondezas – fala Hugo cismado.

— Ela não é tão louca assim – nega Beatriz fazendo careta. Ela termina de discar o número do chofer e liga. Depois de dois toques — Oi Bira, pode vir me buscar, por favor? Obrigada.

— Eu aposto que em quinze minutos, ele estará aqui –resmunga Hugo.

— Eu aposto que em quarenta – desafia Bia.

— Nós precisamos conversar – avisa Hugo, sério, batendo no assento do sofá — Sente-se.

— O que foi? – pergunta Beatriz, sentando.

—Eu estive pensando na forma em que aconteceu o pedido de namoro... – Hugo, nervoso — Não foi muito tradicional.

— Isso é um problema? –questiona Beatriz cruzando os braços — Eu gostei, apesar dos pesares.

— Eu sei – Hugo tocando no rosto de Beatriz ,pega algo em seu bolso — Mas eu acho que você merece algo tradicional.

— Como assim? – pergunta Beatriz franzindo a testa — O que seria tradicional?

— Algo como isso – responde Hugo abrindo a mão e mostrando um anel prateado — É Aço cirúrgico, mas saiba que pretendo te dar algo melhor – segura a mão direita de Beatriz e pergunta — Você quer namorar comigo?

— Eu... Eu... –  gagueja Beatriz. Um turbilhão de emoções surge em sua mente. Ela pensa em tudo o que aconteceu naquele dia, a briga com Flávio, as falas de Carla entre outras coisas. Ela sorri levemente — Aceito. Eu aceito namorar com você.

— Espero poder te fazer muito feliz – comenta Hugo sorrindo. Ele coloca o anel no dedo dela rapidamente.

Ele se aproxima dando um beijo nos lábios de Beatriz, enquanto a puxa pela cintura, aproximando seus corpos. Ela vai deitando aos poucos no sofá, sendo empurrada, levemente, pelo corpo de Hugo. Uma das mãos dele toca seu rosto, e a outra, desce pela lateral do vestido, encontrando a perna de Beatriz. Ela suspira quando a mão sobe para sua coxa, apertando levemente. A mão de Hugo continua explorando por debaixo do vestido de Beatriz que não o impede, se deixando levar pelo momento. Hugo se afasta devagar, enquanto tira a calcinha de Beatriz que o observa, segurando a  respiração, sabe o que está por vir. Hugo demora algum tempo se livrando de sua calça e então volta a tocar seu corpo no dela, enquanto a penetra, lentamente.

Eles respiram ofegantes, segurando os gemidos que sobem pela garganta, enquanto entram em sintonia, até o êxtase, sendo contido pelas mãos de ambos contra os lábios um do outro. Hugo  desaba contra Beatriz, escondendo seu rosto nos cabelos desgrenhados da namorada que encara a escuridão da sala,sentindo apenas suas lágrimas escorrerem.

Já estão se vestindo quando a buzina do carro de Beatriz invade a casa.

Beatriz se levanta rapidamente, arrumando o vestido enquanto Hugo ajeita a camiseta. Ele olha o relógio e sorri.

— Vinte minutos – sussurra Hugo quebrando o silêncio. Ele abre a porta dando um passo para o lado.

— Nem eu, nem você – brinca Bia passando por ele.

— Você esqueceu uma coisa – Hugo, segurando no braço de sua namorada. Ele a puxa, dando um beijo intenso — Até amanhã.

— Até amanhã – sussurra Bia tocando no peito de Hugo.

Bia entra no carro com o rosto vermelho. Ela acena para Hugo que vai ficando para trás junto com a poeira da rua. Assim que a silhueta dele desaparece, ela se vira olhando para sua mão com o anel dado por Hugo. Agora ela é oficialmente a namorada de Hugo Gouvêa.

****

Onze anos antes...

O namoro de Beatriz e Hugo se fortalece a cada ano. Naqueles três anos, Beatriz passou a pensar mais em Hugo e cada vez menos em Flávio. Hugo é o tipo de cara romântico que Beatriz sonhou tantas vezes: Sempre lhe dá uma rosa ou lírio na faculdade, faz questão de abrir o carro para ela, a cobre de beijos inesperados e sempre a elogia. Atitudes que somente tinha visto seu pai fazer com sua mãe.

No serviço, o pai de Beatriz contratou Hugo para ser auxiliar administrativo, mas Bia decidiu que não ficaria na empresa. Argumentou com seu pai que estava difícil conciliar a faculdade e o estágio.  Porém, isso não impedia de ver o Hugo, pois ele fazia questão de passar na casa dela, antes de ir para sua.

Apesar desse lado da vida dos dois estar indo muito bem, não se pode dizer o mesmo do ambiente familiar de Hugo. Carla está cada vez pior de saúde, mas não quer ir ao médico. Diz que é apenas cansaço, mas não convence nem ao Hugo e muito menos a Beatriz que vai regularmente a casa dela.

Isso mudou quando Hugo chegou do serviço e encontrou sua mãe caída no chão da sala, inconsciente. Ele a carregou nos braços e a levou até a avenida principal, onde pegou uma van que o levou para a clínica mais próxima. O médico do local não conseguiu identificar a causa do desmaio, mas deu um encaminhamento para que Carla fosse a outro hospital. Nesse também não conseguiram descobrir a causa, deixando Hugo mais preocupado.

— Por que você não a leva ao Hospital Espanhol? – pergunta Beatriz com a rosa que ganhou na mão, enquanto caminha ao lado de Hugo pela faculdade.

— Eu não tenho dinheiro – responde Hugo cabisbaixo — Eu vou ficar tentando por lá mesmo.

—Olha, eles tem convênio com a empresa. Sem contar que se passar medicação, temos o laboratório a sua disposição. Acho melhor que você vá o quanto antes.

— Eu farei isso. Assim que chegar em casa – afirma Hugo abraçando a namorada —Obrigado por estar ao meu lado.

—  Sempre que precisar. – garante Beatriz.

****

No dia seguinte, a tristeza estampa o rosto de Hugo marcado pela insônia da noite anterior. Ele não traz em suas mãos a rosa do dia. Assim que Beatriz o vê, percebe que há alguma coisa errada.

— Está tudo bem, Hugo? –pergunta Beatriz, se aproximando dele.

— Não... –Ele abraça Beatriz fortemente. Aos poucos, suas lágrimas tocam os cabelos soltos de Bia. — O mundo é muito injusto Beatriz... Muito injusto…

— O que houve? – pergunta Beatriz, preocupada.

— Minha mãe... – responde Hugo, transtornado. —Ela tem Glioblastoma Multiforme.

— Como assim?  - questiona Beatriz sem entender — O que isso significa?

— É o tipo mais maligno de câncer e com crescimento mais rápido de todos os Astrocitomas. – explica Hugo tocando no rosto de Beatriz — O Glioblastoma tende a crescer e se espalhar rapidamente, invadindo o tecido normal do cérebro e... Não tem cura.

— Quando começa o tratamento? – pergunta Beatriz, nervosa.

— Ela já foi encaminhada para o INCA. Ela fará uma biopsia para ver a possibilidade de uma cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Mas ele disse... Que as chances são mínimas... Demoramos demais…

— Não desista – pede Beatriz segurando na mão do namorado — Ela sairá dessa.

— Como? – pergunta Hugo, desesperado — E se não conseguirmos... E se…

— Não se preocupe com isso – pede Beatriz, séria — Daremos um jeito. Estamos juntos nessa.

****

Os pais de Beatriz ficaram chocados, quando Beatriz contou a respeito da mãe de Hugo. Eles há conheceram uma semana depois do jantar na casa de Carla. Beatriz achou que sua mãe a trataria mal, mas Miranda foi muito amável, nem parecia àquela mulher que falava horrores de Hugo. Bruno deu a ideia de oferecer o apartamento a Carla e Hugo, enquanto ela estiver fazendo o tratamento, assim facilitaria a locomoção dela e não prejudicaria Hugo de ir ao trabalho. No começo Hugo recusou, mas viu que aquilo era necessário, por sua mãe. Miranda contratou uma diarista para cuidar do apartamento onde eles ficariam.

O tratamento é sofrido para todos. Carla não tem mais apetite, sente muita fadiga e dor de cabeça, sofria convulsões, alterações de humor, perda de memória e dos cabelos, náuseas e vômitos. Isso tudo por conta da radioterapia, quimioterapia e a cirurgia local que não deu muito resultado. Hugo não sabe o que fazer, pois nem sempre sua mãe se lembrava dele, ou se lembrava de algumas coisas. A cada novo exame, era uma alegria ou tristeza. Miranda passou a visitar Carla frequentemente, se tornaram grande amigas, apesar de aquilo parecer ilógico aos olhos de Beatriz. Segundo Miranda, Carla não tinha culpa do filho mau caráter que tinha.

E assim o tempo foi passando...

****

Dez anos antes...

Finalmente o dia da formatura, Hugo e Beatriz estavam terminando de se arrumar no apartamento, quando Carla aparece na porta. Ela está tão magra que seus ossos aparecem no vestido de festa vinho e com um lenço na cabeça, seu andar debilitado fez com que Hugo a apoiasse com os braços.

— A senhora deveria estar na cama, mamãe – repreende Hugo levemente irritado com a atitude da mãe.

— Mas eu me sinto muito bem hoje, meu filho – Carla responde sorrindo —Vá para perto de Bia, quero dar uma olhada em vocês…

Hugo a coloca na poltrona do quarto de hóspedes e abraça Beatriz pela cintura. Carla sorri diante da imagem: Eles realmente fazem um belo casal. Ela se levanta devagar e vai em direção a Beatriz e a abraça.

— Posso ter alguns minutos com meu filho? – pergunta Carla.

— Claro que sim – responde Beatriz saindo do quarto.

Beatriz não consegue escutar a conversa, então foi para a sala, onde Miranda, Bruno e Sônia os esperam. Ela abraça a amiga que veio de Paris somente para sua formatura.

— Ai amiga – Sônia abraçando Beatriz — Finalmente. Agora você irá para Paris.

—Acho que ainda ficarei um tempo no Brasil – revela Beatriz.

—Por quê? – pergunta Sônia ,surpresa —O que foi que aconteceu?

— Tudo aconteceu, Sônia.O Hugo precisa de mim, tenho as obras de caridade e eu nem quero mais belas artes. Além disso, você tem o seu italiano, Giuseppe, que está morando com você.

— Poxa amiga, sonhei tanto com isso – comenta Sônia, chateada.

— Eu também, mas a vida muda... E eu estou bem com a minha decisão. – afirma Beatriz,séria.

Hugo e Carla aparecem na sala e todos se movimentam para ir à colação de grau do casal.

****

A festa está incrível e todos estão se divertindo, até mesmo Carla, sentada na mesa, parecia radiante. Depois de quatro músicas dançadas com o Hugo, Beatriz volta para mesa, ficando ao lado de Carla que a encara feliz.

— A senhora está bem? – pergunta Beatriz, preocupada.

— Nunca estive melhor – responde Carla — Eu nunca pensei que chegaria a ver esse dia... Meu filho formado. É uma alegria imensa, agora posso descansar em paz.

— Não diga isso, Dona Carla, a senhora ainda viverá muito – Beatriz segurando na mão da sogra — Hugo ainda lhe dará muitas alegrias.

— Ele já meu deu todas que eu precisava. Bia, eu sei que fui dura com você no começo do namoro de vocês, mas hoje eu sei que gosta muito do meu filho – comenta Carla — Eu posso te pedir uma coisa?

— O que quiser – responde Beatriz.

— Cuide dele por mim, o ame e o faça feliz. Eu sei que hoje ele estará bem, pois você está com ele. Faça por meu o que não poderei fazer daqui para frente.

— Tudo bem, mas eu acho que a senhora viverá muito ainda –comenta Beatriz.

— Se você diz... – Carla sorrindo. Ela respira funda— Vá se divertir Bia, aproveite a sua juventude. Essa é a melhor época da nossa vida…

— A senhora ficará bem? – pergunta Beatriz.

— Melhor que nunca – garante Carla sorrindo.

Beatriz se levanta e vai até Hugo e sua família. Todos riem e dançam juntos. Parece que nada pode atingi-los, até que Miranda grita e aponta para a mesa. Carla está no chão. Todos correm em direção a ela. Bruno liga pedindo que o motorista venha para o salão de festa, Hugo tenta reanimar a mãe junto com Miranda, enquanto Beatriz liga para o hospital.

O trajeto até o hospital foi rápido, bem como o atendimento, mesmo assim Carla não resiste e morre. Assim que Hugo recebe a notícia, ele desaba no corredor amparado por Beatriz.

— Eu estou sozinho... – balbucia Hugo, desesperado — Ela se foi e me deixou sozinho…

— Você não está sozinho... – nega Beatriz abraçando — Você tem a mim. Eu sempre estarei com você.

— Ela me deixou Bia... Ela me deixou…

****

Hoje

— Depois que Carla se foi, ele mudou. Ficou mais sério, dedicado ao trabalho. O sorriso fácil se foi. Eu sabia que no fundo uma parte de Hugo tinha ido com a Carla. A melhor parte dele – finaliza Beatriz limpando as lágrimas — E eu vejo essa parte novamente nele e tenho medo que ele a enterre de novo.

— Bom, é um risco. – responde Manuela — Isso terá de ser bem trabalhado nas próximas sessões, mas acredito que ele pode ter a mesma reação de antes.

— NÃO! – grita Hugo abrindo a porta. Ele caminha em direção a Beatriz, enfurecido — VOCÊ MENTIU PARA MIM TODO ESSE TEMPO  DIZENDO QUE A MINHA MÃE ESTAVA VIVA!

****

Hugo olha para o sol que cobre todo o píer do quebra mar na praia da Barra, quando Beatriz finalmente o alcança. Ele fugiu antes que ela pudesse explicar sua mentira.

— A gente... Precisa... Conversar... – fala Beatriz respirando, ofegante.

—O que tem a me dizer? – questiona olhando para ela — Quem me garante que não vai mentir novamente? Pelo que eu vi, é sua especialidade mentir para as pessoas…

— Sim... No passado – admite Beatriz — Mas eu não preciso mentir para você. Eu não podia contar a respeito da sua mãe, pois... Seria uma emoção muito forte. Eu precisava da ajuda de outra pessoa. Eu ia te contar. Eu juro que ia... No momento certo.

— E quando seria o momento certo? - pergunta Hugo, irritado.

— Não hoje – responde Beatriz — Não era para você ter escutado.

— Desculpe-me se eu atrapalhei seus planos – fala Hugo sarcasticamente. Ele respira fundo  com os olhos fechados — Onde a minha mãe foi enterrada?

— No cemitério São João Batista – responde Beatriz — Meus pais cederam uma das nossas gavetas para ela.

—Eu quero visitá-la, agora. – informa Hugo, sério

— Tudo bem – concorda Beatriz, respirando aliviada — Vamos para casa e ai então te levo.

— Eu vou sozinho – avisa Hugo, irritado.

— Eu vou pedir para o Antônio te levar então – completa Beatriz. Ela abaixa a cabeça  segurando as lágrimas — Eu sinto muito, mas quero que saiba que eu sempre estarei aqui pra você, mesmo que não queira.

Hugo respira fundo e passa por Beatriz indo em direção ao duplex.

****

Por mais que Beatriz tente, não consegue parar de pensar se Hugo está bem com aquela situação, se ele iria embora e como seria dali para frente. Está preocupada, pois está de noite e nem sinal dele. Já tinha andado por todo o duplex, quando ele chegou. Hugo entra e vai direto para o quarto sem falar com ela.

Ela pensa em bater no quarto dele, mas desiste. Não quer causar mais conflito com ele. Vai para o seu quarto e abre o PC, quer falar com Flávio, contar tudo o que aconteceu, mas nem mesmo ele está disponível.

Os dias passaram seguindo essa mesma rotina, onde Hugo não falava com ela e Flávio ausente. Para completar a segunda sessão foi somente com o Hugo e os sentimentos com relação ao falecimento da mãe. A única coisa que alivia a tensão são as sessões com Sandra que a tem orientado a como lidar com as lembranças.

Era nisso que estava pensando, quando entra no duplex e encontra Hugo sentado na sala encarando o chão, sua aparência não é das melhores, indicando que ainda não se recuperou da revelação a respeito da morte de sua mãe. Ele ergue a cabeça, encarando Beatriz, sério:

— Sem mentiras. – solta Hugo mordendo os lábios — A partir de agora , peço que você nunca mais minta, ou omita nada que tenha a ver comigo, entendeu?

— Tudo bem , Hugo. Sem mentiras – concorda Beatriz colocando a bolsa no sofá.

 Ela senta ao lado de Hugo que se esforça para continuar na mesma posição, mas acaba cedendo e deitando sua cabeça nas pernas de Beatriz que afaga os cabelos de seu marido que desaba.

— Vai ficar tudo bem – sussurra Beatriz observando o choro desesperado de Hugo — Eu estou aqui com você... para o que der e vier.


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