A Chance escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 18
Capítulo 17




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A entrada do prédio está lotada de paparazzi, uma imagem que dá impressão a  Beatriz que esteve apenas sonhando com o Cairo. Apesar de cansada, não tem muito tempo para descansar, precisa ir o quanto antes para o hospital saber como está toda situação.

Mal coloca os pés em seu apartamento e Leninha aparece, apavorada com os olhos vermelhos, tem nas mãos um papel com várias anotações. De volta à realidade, pensa Beatriz fechando a porta.

 —  Bem-vinda, Dona Beatriz. Sua mãe ligou, disse que foi direto para o hospital, a senhorita Mari também, uma jornalista está ligando insistente aqui, quer uma entrevista… – conta Leninha andando ao lado de Bee que joga a jaqueta e a bolsa no sofá.

Beatriz para no meio do corredor, espreguiça as costas, mexe o pescoço e vira para Leninha, sorrindo . Ela se aproxima, tira o papel das mãos de Helena e então o rasga em vários pedaços, assustando a empregada.

 —  Obrigada, Leninha – agradece Bee, séria  —  Eu gostaria de um pouco de paz, antes de ser jogada aos leões – Segura nos ombros da emprega e diz  —  Eu vou tomar banho agora, escolher uma roupa e depois vou para o hospital. Peço por gentileza que tire todos os telefones do gancho e tire o chip do meu celular. Peça para o Antônio ir até ao supermercado ou qualquer loja que venda e compre um chip qualquer.

 —  Tu… Tu… Tudo… Bem – sussurra Leninha diante da atitude de Beatriz  —  Eu preciso falar com a senhora… Sobre seu Hugo…

 —  Conte-me depois, está bem?  – pede Beatriz girando o corpo em direção ao quarto.

 —  Mas Dona Beatriz…– começa Leninha indo atrás de Beatriz  —  É importante…

  —  Depois – reforça Beatriz fechando a porta do quarto, impedindo a entrada de Leninha.

Beatriz encosta as costas na porta, agradecendo por chegar ao quarto. Tiras suas roupas até chegar ao banheiro. Precisa de uma ducha, pois o resto do dia será longo.

***

A entrada do hospital Barra D'or não está diferente da anterior, até pior. Beatriz, mesmo cercada pelos seguranças do hospital, recebe vários microfones no rosto, fotos são tiradas e perguntas descabidas, são feitas:

 —  Por que demorou tanto para vir ao hospital? Estava desejando a morte do seu marido? 

—  Se o seu marido morrer, quão rica ficará? 

—  Ele queria o divórcio, por isso se encarregou do acidente dele?  

 —  Ele tinha outra, por isso decidiu matá-lo?

 Beatriz segue em silêncio até entrar no hospital, onde se depara com sua mãe, Mari, Antonieta e os outros médicos solicitados por ela. Eles conversam e não parece ser algo bom, nota Bee que se aproxima do círculo, surpreendendo a todos.

 —  Olá minha filha, como é bom finalmente revê-la – diz Miranda abraçando a filha  —  Já está tudo controlado, não precisa se preocupar com nada.

 —  Sua mãe está certa – concorda Mari olhando para Beatriz  —  Os médicos já fizeram todos os procedimentos necessários. O Hugo está em boas mãos.

 —  Exatamente – confirma Miranda sorrindo para Beatriz e passando as mãos nos cabelos de sua filha  —  A mamãe já resolveu tudo para você.

 —  Beatriz, seria bom que fosse para casa. Não há nada que possa fazer aqui – sugere Mari.

Beatriz respira fundo, irritada com as duas. Com semblante sério, diz:

 —  Vocês duas podem me dar licença para que eu possa conversar com os médicos?

   —  Bom… Acho que não há nada que eles possam dizer, querida – reforça a mãe segurando o braço de Beatriz andando para a porta do hospital  —  E não há nada que possa fazer ficando aqui.

 —  Mãe, desculpe a minha ignorância, mas a senhora é formada em medicina?  – questiona Beatriz, petulante. Ela tira as mãos de sua mãe de seu braço e ordena  —  Vá para casa, mamãe. A senhora é quem não deveria estar aqui.

 —  Mas querida… – tenta argumentar Miranda, ofendida.

 —  Eu vou conversar com os médicos e saber como está a situação do Hugo… A senhora querendo ou não – afirma Beatriz, séria.Ela se vira para Mari e dispara —  Seu trabalho é com a imprensa, que, aliás, me fizeram perguntas muito interessantes. Você deveria cuidar da imagem que fazem de mim e não dando conselhos sobre o que eu posso ou não fazer a respeito da vida do meu marido.

 —  Desculpe-me, Beatriz – pede Mari pegando o celular  —  Eu vou ligar para saber melhor da situação da notícia nos meios de comunicação.

 —  Faça isso – reforça Beatriz observando Mari caminhar em direção a um dos corredores. Ela olha para a mãe e repete  —  Vá para casa.

 —  Mas eu posso te ajudar aqui… – alega Miranda, entristecida.

 —  Não pode. Ajudará muito mais longe disso tudo, em casa. – garante Beatriz. Ela beija o rosto da mãe  —  Depois nos falamos. Até mais.

 Sem esperar uma resposta de sua mãe, caminha em direção aos médicos que fingem não ter escutado nada.

 —  Qual é o quadro do Hugo?  – pergunta Beatriz observando o semblante preocupado de todos. Então ela olha para Antonieta  —  Antonieta?

 —  As notícias não são tão animadora. É fato que eles fizeram tudo o possível. O Hugo não sofreu nenhuma fratura interna, nem fratura na região da coluna, nada que comprometa seus movimentos – explica Antonieta, cautelosa. Então ela respira fundo e continua  —  Porém o Hugo sofreu um traumatismo craniano, está com um, digamos, inchaço cerebral e entrou em coma.

 —  Em quanto tempo ele consegue se recuperar?  – questiona Beatriz cruzando os braços.

 —  Não sabemos. Lesões envolvendo a região da cabeça são difíceis de serem bem avaliadas. Não foi um coma induzido, Beatriz. O Hugo entrou em coma e não há nada que possamos fazer, além de monitorar sua atividade cerebral – comunica Renata.

 —  Há alguma boa notícia?  – questiona Beatriz, nervosa segurando para não chorar na frente dos médicos. Tudo o que não precisa agora é que  eles sintam pena.

 —  Beatriz, é um milagre o Hugo ter sobrevivido – argumenta Ricardo  —  Ninguém sabe explicar como ele conseguiu ser jogado para fora do veículo pela janela do passageiro. Mesmo com o cinto, ele teria sido esmagado pelo ônibus, ou voado pela parte frontal do carro. Agora só resta ele lutar por sua vida.

 —  Belo milagre… – ironiza Beatriz.

 —  SUA VAGABUNDA!

Um tapa é desferido no rosto de Beatriz que é amparada pelo Ricardo. Beatriz vira o rosto e então vê quem desferiu o tapa: Lúcia que ninguém tem ideia de onde possa ter vindo, mas antes que ela conseguisse desferir outro, um dos seguranças a segura pelos braços, fazendo com que ficasse mais histérica. Ela se mexe, descontroladamente, tentando alcançar Beatriz :

—  O HUGO ESTÁ MORRENDO POR SUA CULPA!!!! SUA GANANCIOSA!ELE TE ODEIA! ELE ODEIA VOCÊ! PODE FICAR COM SEU DINHEIRO, MAS NUNCA FICARÁ COM ELE!NUNCA!

 —  Solte-a – ordena Beatriz arrumando seu terno azul petróleo. Lembra-se muito bem daquela mulher no jantar de sua amiga. Ela encara novamente o segurança e ordena  —  Solte-a, imediatamente.

Com muito custo, o segurança a solta. Lúcia arruma a blusa vermelha, escondendo novamente o sutiã preto e ajeita os cabelos. Ela olha para Beatriz enquanto se aproxima:

 —  Você acha que isso vai me fazer sentir agradecida? Ou está com a consciência pesada pelo que fez?

 —  Antonieta – chama Beatriz sem desviar os olhos de Lúcia  —  Arrume uma sala para nós duas. Preciso conversar com essa mulher, de forma civilizada. Se é que ela sabe o que é isso.

 —  Ora, sua… – começa Lúcia que é parada pela mão do segurança em seu ombro.

  —  Se quiser conversar comigo, como uma pessoa adulta, saiba que estarei esperando por você no consultório da Doutora Antonieta – informa Beatriz andando ao lado de Antonieta.

***

 Lúcia abre a porta do consultório de Antonieta, não parece à desvairada de poucos minutos. Ela senta na cadeira à frente de Beatriz, ficando separadas  apenas pela mesa da médica.

 —  O que gostaria de falar comigo?  – pergunta Lúcia, irritada, mexendo nos cabelos.

 —  Primeiro, eu espero que tenha provas a respeito do que me acusou. Caso contrário, vou à delegacia acusá-la de calúnia, difamação – avisa calmamente tocando em seu rosto  —  E agressão.

 —  Olha só, não vem se fazer de inocente para cima de mim, e muito menos me ameaçar, que eu não sou tuas nega, não – rebate Lúcia apontando o dedo para Beatriz e depois  para a porta  —  Você mandou aquela biscate na minha casa… Com aqueles malditos papéis. Você mandou aquela vagabunda fazer seu trabalho sujo, humilhar o Hugo.Foi você que o colocou aqui! Você e aquela vagabunda!

 —  Desculpe-me… Qual teu nome?  – pergunta Beatriz com as mãos na mesa.

 —  Lúcia Maria Ribeiro da Mata – responde Lúcia arrumando a alça de sua enorme bolsa marrom.

 —  Lúcia, seu linguajar está dificultando que eu entenda a respeito da sua acusação infundada – alfineta Beatriz cruzando os braços, sarcástica  —  Utilize a língua mãe de forma correta, por favor.

 —  Eu sou professora, querida – retruca Lúcia, estressada  —  E não venha me falar como conversar com você!

 —  Sinto pena dos seus alunos. – provoca Beatriz. Ela se ajeita e continua dizendo com toda calma  —  Eu não estou aqui para discutir com você, pois isso será perda de tempo, coisa que não tenho. Então, me explique o que foi que aconteceu na sua casa?

 —  Tudo bem. – concorda Lúcia respirando fundo. Posiciona suas mãos na mesa e começa  — Sua "assessora" foi até a minha casa com os papéis de divórcio para o Hugo assinar. Ele ficou revoltado porque você tinha colocado condições ultrajantes, pedindo que ele largasse o cargo da empresa… Tinham outras coisas que… Não lembro agora – limpa as lágrimas do rosto  —  Você não tem ideia do quanto aquilo arrasou com ele. Você estava tirando tudo o que ele conquistou a vida toda, sem qualquer respeito, sem pena e  sem dó.

 —  Pelo visto, ele não me conhece o suficiente – comenta Beatriz, magoada com a voz rouca  —  Durante catorze anos juntos, ele ao menos percebeu que isso não seria do meu feitio. Eu jamais faria isso com ele e não dei ordens para que fossem à sua casa. Sequer estava sabendo desses papéis. Quero sim, me separar dele, mas eu solicitei que o meu advogado o fizesse e encaminhasse para mim, antes mesmo de enviar para o Hugo. Falarei com a minha assessora a respeito.

 —  Isso é você quem está dizendo – rebate Lúcia, irritada  —  O que eu sei é que fizeram isso com o Hugo e agora ele está…

 —  Eu vou verificar essa situação – interrompe Beatriz, irritada  —  O que ainda não consegui entender, como foi que ele pegou meu carro?

 —  Não sei. Ele saiu de casa e não me disse aonde ia – responde Lúcia enxugando o rosto  —  Mas pode ter certeza que ele não estava com seu carro. O meu Hugo não queria nada do que é seu.

 —  Eu também achava isso, mas as pessoas mudam – retruca Beatriz, séria  —  Ele mudou. Disse que ia tomar providências para colocar meu nome na lama e marcou uma entrevista com o “Gente como a gente”, onde  contaria tudo e mais um pouco. Inclusive sobre o noivado de vocês...

—  De onde tirou essa coisa absurda?  – questiona Lúcia, perplexa  —  O Hugo jamais fez ou pensou em fazer uma coisa dessas. Ele chegou a me pedir em casamento sim, mas ele  disse que gostaria que fosse o mais reservado possível. Mas saiba que o Hugo estava com raiva da imprensa e recusou todos os convites!

—  Isso é você quem está dizendo – repete a mesma frase de Lúcia  —  De qualquer forma, temos outra questão para resolver: a visita para o Hugo.

—  Você não vai… Não se atreveria a me tirar do lado dele –  protesta  Lúcia, inconformada.

—  Eu nem comecei a falar. Será que dá para você me deixar falar e depois se manifestar?  – questiona Bee, irritada — Continuando… Não tenho o menor interesse em ficar ao lado dele, muito menos o tempo todo. Tenho muitas coisas para resolver e não é do meu interesse permanecer dentro do hospital integralmente. Eu vou ficar apenas pela manhã, você fica de tarde e a noite. Permitirei que durma aqui até que Hugo se recupere.

  —  Por que está sendo tão generosa?  – pergunta Lúcia, confusa mordendo os lábios  —  Por que está fazendo isso?

 —  Eu não sou o tipo de pessoa que pintaram para você – responde Beatriz. Ela olha para a barriga de Lúcia e continua  —  Eu não separo famílias. Ele precisa ficar perto de você e… De seu filho.

 —  Fico feliz em saber – comenta Lúcia tentando sorrir. Ela aperta a barriga e confessa —  Mas eu não estou grávida. Somos capazes de tudo pelo homem que amamos, você me entende, certo?

—  Isso não é da minha conta – responde Beatriz, impassível.

— Mas eu ficarei. Assim que ele se recuperar, nós teremos um filho.

—  O acordo  permanece o mesmo –  levanta e senta-se à mesa, próxima de Lúcia.

 —  Obrigada – sussurra Lúcia olhando para Bee  —  Desculpe-me pelo tapa.

 —  Não. Ele me deu uma desculpa para poder fazer isso – explica Beatriz desferindo um tapa violento na face direita de Lúcia que a olha assustada. Bee sorri—  Não é bom ser pega de surpresa?  – antes que Lúcia conseguisse responder, Beatriz dá outro  —  Esse é pelo jantar da minha amiga –  dá um terceiro tapa com mais força  —  Esse é para você nunca mais esquecer quem sou eu.

Lúcia a encara, aterrorizada, parece não acreditar no que havia acontecido. Beatriz se levanta e a olha com desprezo.

 —  Nunca mais ouse a dizer nada sobre mim. Se eu sonhar que conversou com alguém sobre mim,se me acusar , saiba que esses tapas serão nada perto do que serei capaz com seu rosto e com sua carreira. Acho que escola nenhuma ia gostar de saber que uma de suas professoras incentiva o adultério, destruição do ambiente familiar e bigamia.

  —  Você não faria isso… – protesta Lúcia, arrasada, com a mão no rosto.

 —  Pague para ver – desafia lembrando de Flávio.

Beatriz abre a porta e sai, deixando Lúcia chorando, desesperada.

***

Mariane desliga o telefone ao ver Beatriz saindo da sala, e caminha em sua direção, confiante. Porém,  é recebida com frieza por ela.

 —  Eu consegui falar com eles, expliquei a situação e eles farão uma retratação – avisa Mari desfazendo o sorriso diante do olhar  gélido de Beatriz  —  Está tudo bem, Beatriz?

 —  Diga-me  você, Mariane – responde Beatriz, irritada  —  O que foi fazer na casa do Hugo? E que papéis de divórcio eram aqueles que você entrou na casa dele , sem minha permissão? –aproxima de Mari, com seus braços cruzados e continua  —  Você vai me explicar direitinho que traição foi essa e vai ser agora.

***

Uma semana atrás…

Mariane sai de sua sala, cansada. Aquela semana tinha sido intensa com a viagem de Beatriz. Tudo que deseja naquele momento é uma taça de vinho, mas conclui que não acontecerá tão cedo ao se deparar com Miranda, parada, em sua porta.

  —  Olá, Mari – cumprimenta Miranda sorrindo  —  Como está?

 —  Cansada – responde Mari respirando fundo enquanto tranca a porta.

 —  Imagino que sim – comenta Miranda tocando em seu colar de pérolas, pensativa  —  Eu sei bem como é cansativo cuidar dos interesses da minha filha, ainda mais quando ela não colabora muito. Sempre indecisa.

 —  Não a vejo assim – nega Mari caminhando pelo corredor  —  Eu achei bem determinada nos últimos dias.

 —  Talvez. Mas não acha que seria mais fácil ela já ter assinado o divórcio e ter ido?– questiona Miranda andando ao lado de Mari.  —  Convenhamos, esse divórcio beneficiaria muito os dois.

 — A Beatriz viajou justamente para tomar uma decisão definitiva a respeito – explica Mariane, desconfiada das intenções de Miranda.

 —  Mas a minha filha é muito confusa, Mari. Desde pequena, sempre precisou de um estímulo para tomar uma decisão – conta Miranda balançando a cabeça. —  Talvez se nós duas déssemos um estímulo, essa decisão sairia mais fácil.

 —  Eu não vejo necessidade… – começa Mari parando ao ver a mão espalmada de Miranda na frente de seu rosto.

 —  Eu e Beatriz ficaríamos imensamente agradecidas, se ajudar. Como sabe, represento minha filha aqui na empresa, me tornando a pessoa com maior número de ações – recorda Miranda aproximando do rosto de Mari  —  Sabe o quão eu posso ficar agradecida com seu apoio?

 —  Aonde quer chegar, Miranda?  – pergunta Mari, desconfiada.

 —  No momento, a minha sala. Se quiser, pode me acompanhar – responde Miranda andando pelo corredor.

 Mariane sabe que se for até a sala, perderá sua integridade. Quem sabe não valia perdê-la por uma boa causa?

***

 —  Sabia que viria – Miranda olhando Mari entrar em sua sala. Ela aponta para a cadeira à sua frente —  Sente-se, por favor.

 —  Obrigada – agradece Mari sentando. Ela encara a senhora Gouvêa e então pergunta — O que pretende, Miranda?

 —  Eu gosto daquela expressão, “uma mão lava a outra” – diz Miranda, reflexiva  —  Representa exatamente o que faremos aqui. Eu tenho algumas ideias para estimular a separação deles e se conseguirmos fazer com que separem logo,  posso conseguir um cargo maior para você… Talvez, Diretora de crises. Eu sei o quanto você desempenha bem o seu trabalho, mas só o salário de assessora não é recompensa pelo seu esforço.

 —  Esse cargo existe? –questiona Mari  —  Nunca ouvi falar dele.

 —  Se não existe, providenciarei que ele se torne real – garante Miranda sorrindo  —  Para provar o quanto ficarei agradecida com o seu apoio.

 —  O que propõe?  – pergunta Mari, interessada. Subirá de cargo, finalmente.

 —  Diremos a Beatriz que Hugo vai fazer uma declaração à imprensa… e que está noivo – sugere Miranda gesticulando com as mãos  —  E também seria interessante que ela desse o divórcio como forma de impedi-lo a continuar com isso.

 —  Mas ele não o fez ainda – argumenta Mari.

 —  Convenhamos,ele poderá fazer a qualquer momento,só estamos antecipando a jogada. Como em um jogo de xadrez – explica Miranda, confiante  —  Assim daremos um xeque-mate nele antes que consiga pensar.

 —  Como faremos isso?

 —  Eu sei que tem o telefone de Beatriz. Ligue para ela e diga exatamente às palavras que estão escritas aqui – solicita Miranda entregando um papel  —  Bem simples, não?

  —  Ela não vai desconfiar? – pergunta Mari franzindo a testa.

 —  Não… Ela confia cegamente em você – nega Miranda  —  Jamais desconfiará disso.

 —  Quando devo fazer isso?  – pergunta Mari, insegura.

 —  Agora – responde Miranda. Ela sorri e comenta  —  Para que deixar para amanhã, o que podemos fazer hoje?

 —  Tudo bem, se isso é pela Beatriz… Eu faço – aceita Mari. Tenta se iludir dizendo para si que não deseja o cargo oferecido.

Ela pega o celular e disca o número de Beatriz sob o olhar atento de Miranda.

 —  Oi Mari, já ia te ligar. Como estão as coisas? – pergunta Beatriz do outro lado da linha.

***

Mariane coloca o telefone de volta na bolsa e encara Miranda que está curiosa. Sente-se horrível por ter mentido para Beatriz e agora precisa se convencer de aquilo foi necessário.

  —  Então?  – pergunta Miranda com uma das sobrancelhas arqueada  —  O que ela disse?

  —  Ela me pediu para agir com os papéis do divórcio – responde Mari, desanimada  —  Pretende dar o divórcio.

 —  Que maravilha!  – comemora Miranda batendo palmas  —  Finalmente esse crápula sairá de nossas vidas. Não disse que era só dar um estímulo em minha filha?

 —  Ela me disse que pretendia falar isso comigo antes das notícias – revela Mari encarando Miranda.

 —  Disse isso somente para não ficar por baixo – esclarece Miranda com desprezo  —  Bom, agora temos de realizar nosso próximo passo.

 —  Que seria?  – pergunta Mari.

 —  Os papéis. Quero que Hugo saia com o mínimo que entrou – responde Miranda, pensativa  —  Preciso de uns dias para pensar e te direi o que faremos.

 —  Tudo bem, mas não acho que seja necessário – alega Mari, contrariada.

 —  Está dispensada, Mariane – finaliza Miranda ,ríspida, indicando a porta.

 —  Tudo bem- aceita  Mari , arrependida, saindo da sala.

Mari sabe que vendeu sua alma para Miranda e não tinha mais volta.

***

Dois dias atrás…

O plano é simples: entrar, entregar os papéis, ele assina e está tudo feito, pelo menos foi isso que Miranda havia dito, para convencer à assessora. Porém, a matriarca não  permitiu a Mari que analisasse os papéis antes e não deu nenhum motivo, foi uma ordem. Miranda a leva até a porta do prédio, onde Hugo agora reside , entrega o número do apartamento, junto com os papéis de divórcio. Mari não tem ideia de como Miranda conseguiu todas aquelas informações.

 —  Eu ficarei esperando aqui embaixo, não esqueça: Ele não pode saber que estou envolvida – alerta Miranda desligando o veículo. Encara a morena que demonstra nervosismo pelo que terá de fazer. — Relaxe ou colocará tudo a perder…. E eu não sou generosa com perdedores.

 —  Tudo bem – responde Mari fechando sua pasta e saindo do carro.

 —  Eu falo sério – reforça Miranda segurando no braço de Mari.

 — Eu entendi – retruca Mari se soltando antes de caminhar em direção ao apartamento.

 Quando Hugo abre a porta, Mariane sente que foi longe demais com aquilo.

***

Quando volta ao carro, encontra Miranda fumando um cigarro, nervosa. A matriarca dos Gouvêa abre a porta e pergunta:

 —  Ele assinou?

 —  Não quis – revela Mari, nervosa, entrando no carro. Ela encara Miranda  —  Ficou furioso. Ele será capaz de tudo agora… E se ele for atrás da Beatriz?

 —  Ele não fará isso… Não ousaria. Ele é orgulhoso demais – comenta Miranda ligando o carro  —  Temos de sair daqui urgente, ele não pode me ver aqui.

 —  O que nós faremos?  – pergunta Mari, preocupada  —  Se a Beatriz descobre…

 —  Nós?  – questiona Miranda franzindo a testa enquanto dirige  — Você falhou em uma coisa simples que era fazê-lo assinar e agora solta essa de “nós”? Você terá de consertar isso sozinha, Mari. Se ainda tiver interesse em crescer na empresa, claro.

 —  Tenho sim – responde Mari, encolhida, no banco.

 —  Chegamos – avisa Miranda encostando o carro.

  —  Mas aqui não está nem perto da minha casa! – protesta Mari, exaltada, apontando para a janela.

 —  Eu sei – afirma Miranda abrindo a porta do passageiro  —  Estou deixando você aqui para caminhar, assim ter tempo para definir o que fará e espero que jamais conte dessa conversa para minha filha. Aliás, nenhuma delas. Quando eu sou boa, sou boa. Porém, quando sou má, sou melhor ainda. Até.

 —  Até  – despede-se Mari descendo do carro.

Enquanto caminha em direção a um ponto de táxi, pensa em como resolverá toda essa situação. No que foi que eu me enfiei?  questiona Mariane, arrependida do que fez.

***

Hoje…

 —  Foi isso o que aconteceu – finaliza Mari esfregando o braço.

 —  Como você pôde?  – questiona Beatriz, chocada  —  Você traiu a minha confiança…. A troco de quê? De cargo? De um cargo que não existe!

 —  Não foi pelo cargo… – defende-se Mari com a voz embargada.

 —  Faça-me rir, Mari!  –retruca Beatriz, sarcástica  —  Vai querer me enganar que foi por mim? Vai continuar mentindo para mim?

 —  Não…. Eu  realmente acreditei que fosse te ajudar – justifica Mariane.

 —  Ajudar-me? Sério? Como? Fazendo com que ele acreditasse na mentira de vocês?  – revolta-se Beatriz erguendo os braços  —  Colocando o Hugo em um hospital?

 —  Não. Mas quero que saiba que aprendi com o meu erro – responde Mari segurando nos braços de Bia  —  Eu não farei isso novamente.

 —  Saia da minha frente – ordena Beatriz contendo toda sua raiva  —  E nem pense que isso ficará barato.

 —  Desculpe-me, mas você melhor do que ninguém  como sua mãe sabe ser persuasiva… – argumenta Mari, nervosa.

 —  Sim, eu sei. Por esse motivo, serei muito direta com você: Está afastada das suas obrigações e do grupo... – informa Beatriz, friamente  — Permanentemente

Antes que Mari pudesse implorar, Bia já anda, imponente, pelo corredor. Agora precisa lidar com mais uma pessoa.


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