A Chance escrita por Pauliny Nunes
A entrada do prédio está lotada de paparazzi, uma imagem que dá impressão a Beatriz que esteve apenas sonhando com o Cairo. Apesar de cansada, não tem muito tempo para descansar, precisa ir o quanto antes para o hospital saber como está toda situação.
Mal coloca os pés em seu apartamento e Leninha aparece, apavorada com os olhos vermelhos, tem nas mãos um papel com várias anotações. De volta à realidade, pensa Beatriz fechando a porta.
— Bem-vinda, Dona Beatriz. Sua mãe ligou, disse que foi direto para o hospital, a senhorita Mari também, uma jornalista está ligando insistente aqui, quer uma entrevista… – conta Leninha andando ao lado de Bee que joga a jaqueta e a bolsa no sofá.
Beatriz para no meio do corredor, espreguiça as costas, mexe o pescoço e vira para Leninha, sorrindo . Ela se aproxima, tira o papel das mãos de Helena e então o rasga em vários pedaços, assustando a empregada.
— Obrigada, Leninha – agradece Bee, séria — Eu gostaria de um pouco de paz, antes de ser jogada aos leões – Segura nos ombros da emprega e diz — Eu vou tomar banho agora, escolher uma roupa e depois vou para o hospital. Peço por gentileza que tire todos os telefones do gancho e tire o chip do meu celular. Peça para o Antônio ir até ao supermercado ou qualquer loja que venda e compre um chip qualquer.
— Tu… Tu… Tudo… Bem – sussurra Leninha diante da atitude de Beatriz — Eu preciso falar com a senhora… Sobre seu Hugo…
— Conte-me depois, está bem? – pede Beatriz girando o corpo em direção ao quarto.
— Mas Dona Beatriz…– começa Leninha indo atrás de Beatriz — É importante…
— Depois – reforça Beatriz fechando a porta do quarto, impedindo a entrada de Leninha.
Beatriz encosta as costas na porta, agradecendo por chegar ao quarto. Tiras suas roupas até chegar ao banheiro. Precisa de uma ducha, pois o resto do dia será longo.
***
A entrada do hospital Barra D'or não está diferente da anterior, até pior. Beatriz, mesmo cercada pelos seguranças do hospital, recebe vários microfones no rosto, fotos são tiradas e perguntas descabidas, são feitas:
— Por que demorou tanto para vir ao hospital? Estava desejando a morte do seu marido?
— Se o seu marido morrer, quão rica ficará?
— Ele queria o divórcio, por isso se encarregou do acidente dele?
— Ele tinha outra, por isso decidiu matá-lo?
Beatriz segue em silêncio até entrar no hospital, onde se depara com sua mãe, Mari, Antonieta e os outros médicos solicitados por ela. Eles conversam e não parece ser algo bom, nota Bee que se aproxima do círculo, surpreendendo a todos.
— Olá minha filha, como é bom finalmente revê-la – diz Miranda abraçando a filha — Já está tudo controlado, não precisa se preocupar com nada.
— Sua mãe está certa – concorda Mari olhando para Beatriz — Os médicos já fizeram todos os procedimentos necessários. O Hugo está em boas mãos.
— Exatamente – confirma Miranda sorrindo para Beatriz e passando as mãos nos cabelos de sua filha — A mamãe já resolveu tudo para você.
— Beatriz, seria bom que fosse para casa. Não há nada que possa fazer aqui – sugere Mari.
Beatriz respira fundo, irritada com as duas. Com semblante sério, diz:
— Vocês duas podem me dar licença para que eu possa conversar com os médicos?
— Bom… Acho que não há nada que eles possam dizer, querida – reforça a mãe segurando o braço de Beatriz andando para a porta do hospital — E não há nada que possa fazer ficando aqui.
— Mãe, desculpe a minha ignorância, mas a senhora é formada em medicina? – questiona Beatriz, petulante. Ela tira as mãos de sua mãe de seu braço e ordena — Vá para casa, mamãe. A senhora é quem não deveria estar aqui.
— Mas querida… – tenta argumentar Miranda, ofendida.
— Eu vou conversar com os médicos e saber como está a situação do Hugo… A senhora querendo ou não – afirma Beatriz, séria.Ela se vira para Mari e dispara — Seu trabalho é com a imprensa, que, aliás, me fizeram perguntas muito interessantes. Você deveria cuidar da imagem que fazem de mim e não dando conselhos sobre o que eu posso ou não fazer a respeito da vida do meu marido.
— Desculpe-me, Beatriz – pede Mari pegando o celular — Eu vou ligar para saber melhor da situação da notícia nos meios de comunicação.
— Faça isso – reforça Beatriz observando Mari caminhar em direção a um dos corredores. Ela olha para a mãe e repete — Vá para casa.
— Mas eu posso te ajudar aqui… – alega Miranda, entristecida.
— Não pode. Ajudará muito mais longe disso tudo, em casa. – garante Beatriz. Ela beija o rosto da mãe — Depois nos falamos. Até mais.
Sem esperar uma resposta de sua mãe, caminha em direção aos médicos que fingem não ter escutado nada.
— Qual é o quadro do Hugo? – pergunta Beatriz observando o semblante preocupado de todos. Então ela olha para Antonieta — Antonieta?
— As notícias não são tão animadora. É fato que eles fizeram tudo o possível. O Hugo não sofreu nenhuma fratura interna, nem fratura na região da coluna, nada que comprometa seus movimentos – explica Antonieta, cautelosa. Então ela respira fundo e continua — Porém o Hugo sofreu um traumatismo craniano, está com um, digamos, inchaço cerebral e entrou em coma.
— Em quanto tempo ele consegue se recuperar? – questiona Beatriz cruzando os braços.
— Não sabemos. Lesões envolvendo a região da cabeça são difíceis de serem bem avaliadas. Não foi um coma induzido, Beatriz. O Hugo entrou em coma e não há nada que possamos fazer, além de monitorar sua atividade cerebral – comunica Renata.
— Há alguma boa notícia? – questiona Beatriz, nervosa segurando para não chorar na frente dos médicos. Tudo o que não precisa agora é que eles sintam pena.
— Beatriz, é um milagre o Hugo ter sobrevivido – argumenta Ricardo — Ninguém sabe explicar como ele conseguiu ser jogado para fora do veículo pela janela do passageiro. Mesmo com o cinto, ele teria sido esmagado pelo ônibus, ou voado pela parte frontal do carro. Agora só resta ele lutar por sua vida.
— Belo milagre… – ironiza Beatriz.
— SUA VAGABUNDA!
Um tapa é desferido no rosto de Beatriz que é amparada pelo Ricardo. Beatriz vira o rosto e então vê quem desferiu o tapa: Lúcia que ninguém tem ideia de onde possa ter vindo, mas antes que ela conseguisse desferir outro, um dos seguranças a segura pelos braços, fazendo com que ficasse mais histérica. Ela se mexe, descontroladamente, tentando alcançar Beatriz :
— O HUGO ESTÁ MORRENDO POR SUA CULPA!!!! SUA GANANCIOSA!ELE TE ODEIA! ELE ODEIA VOCÊ! PODE FICAR COM SEU DINHEIRO, MAS NUNCA FICARÁ COM ELE!NUNCA!
— Solte-a – ordena Beatriz arrumando seu terno azul petróleo. Lembra-se muito bem daquela mulher no jantar de sua amiga. Ela encara novamente o segurança e ordena — Solte-a, imediatamente.
Com muito custo, o segurança a solta. Lúcia arruma a blusa vermelha, escondendo novamente o sutiã preto e ajeita os cabelos. Ela olha para Beatriz enquanto se aproxima:
— Você acha que isso vai me fazer sentir agradecida? Ou está com a consciência pesada pelo que fez?
— Antonieta – chama Beatriz sem desviar os olhos de Lúcia — Arrume uma sala para nós duas. Preciso conversar com essa mulher, de forma civilizada. Se é que ela sabe o que é isso.
— Ora, sua… – começa Lúcia que é parada pela mão do segurança em seu ombro.
— Se quiser conversar comigo, como uma pessoa adulta, saiba que estarei esperando por você no consultório da Doutora Antonieta – informa Beatriz andando ao lado de Antonieta.
***
Lúcia abre a porta do consultório de Antonieta, não parece à desvairada de poucos minutos. Ela senta na cadeira à frente de Beatriz, ficando separadas apenas pela mesa da médica.
— O que gostaria de falar comigo? – pergunta Lúcia, irritada, mexendo nos cabelos.
— Primeiro, eu espero que tenha provas a respeito do que me acusou. Caso contrário, vou à delegacia acusá-la de calúnia, difamação – avisa calmamente tocando em seu rosto — E agressão.
— Olha só, não vem se fazer de inocente para cima de mim, e muito menos me ameaçar, que eu não sou tuas nega, não – rebate Lúcia apontando o dedo para Beatriz e depois para a porta — Você mandou aquela biscate na minha casa… Com aqueles malditos papéis. Você mandou aquela vagabunda fazer seu trabalho sujo, humilhar o Hugo.Foi você que o colocou aqui! Você e aquela vagabunda!
— Desculpe-me… Qual teu nome? – pergunta Beatriz com as mãos na mesa.
— Lúcia Maria Ribeiro da Mata – responde Lúcia arrumando a alça de sua enorme bolsa marrom.
— Lúcia, seu linguajar está dificultando que eu entenda a respeito da sua acusação infundada – alfineta Beatriz cruzando os braços, sarcástica — Utilize a língua mãe de forma correta, por favor.
— Eu sou professora, querida – retruca Lúcia, estressada — E não venha me falar como conversar com você!
— Sinto pena dos seus alunos. – provoca Beatriz. Ela se ajeita e continua dizendo com toda calma — Eu não estou aqui para discutir com você, pois isso será perda de tempo, coisa que não tenho. Então, me explique o que foi que aconteceu na sua casa?
— Tudo bem. – concorda Lúcia respirando fundo. Posiciona suas mãos na mesa e começa — Sua "assessora" foi até a minha casa com os papéis de divórcio para o Hugo assinar. Ele ficou revoltado porque você tinha colocado condições ultrajantes, pedindo que ele largasse o cargo da empresa… Tinham outras coisas que… Não lembro agora – limpa as lágrimas do rosto — Você não tem ideia do quanto aquilo arrasou com ele. Você estava tirando tudo o que ele conquistou a vida toda, sem qualquer respeito, sem pena e sem dó.
— Pelo visto, ele não me conhece o suficiente – comenta Beatriz, magoada com a voz rouca — Durante catorze anos juntos, ele ao menos percebeu que isso não seria do meu feitio. Eu jamais faria isso com ele e não dei ordens para que fossem à sua casa. Sequer estava sabendo desses papéis. Quero sim, me separar dele, mas eu solicitei que o meu advogado o fizesse e encaminhasse para mim, antes mesmo de enviar para o Hugo. Falarei com a minha assessora a respeito.
— Isso é você quem está dizendo – rebate Lúcia, irritada — O que eu sei é que fizeram isso com o Hugo e agora ele está…
— Eu vou verificar essa situação – interrompe Beatriz, irritada — O que ainda não consegui entender, como foi que ele pegou meu carro?
— Não sei. Ele saiu de casa e não me disse aonde ia – responde Lúcia enxugando o rosto — Mas pode ter certeza que ele não estava com seu carro. O meu Hugo não queria nada do que é seu.
— Eu também achava isso, mas as pessoas mudam – retruca Beatriz, séria — Ele mudou. Disse que ia tomar providências para colocar meu nome na lama e marcou uma entrevista com o “Gente como a gente”, onde contaria tudo e mais um pouco. Inclusive sobre o noivado de vocês...
— De onde tirou essa coisa absurda? – questiona Lúcia, perplexa — O Hugo jamais fez ou pensou em fazer uma coisa dessas. Ele chegou a me pedir em casamento sim, mas ele disse que gostaria que fosse o mais reservado possível. Mas saiba que o Hugo estava com raiva da imprensa e recusou todos os convites!
— Isso é você quem está dizendo – repete a mesma frase de Lúcia — De qualquer forma, temos outra questão para resolver: a visita para o Hugo.
— Você não vai… Não se atreveria a me tirar do lado dele – protesta Lúcia, inconformada.
— Eu nem comecei a falar. Será que dá para você me deixar falar e depois se manifestar? – questiona Bee, irritada — Continuando… Não tenho o menor interesse em ficar ao lado dele, muito menos o tempo todo. Tenho muitas coisas para resolver e não é do meu interesse permanecer dentro do hospital integralmente. Eu vou ficar apenas pela manhã, você fica de tarde e a noite. Permitirei que durma aqui até que Hugo se recupere.
— Por que está sendo tão generosa? – pergunta Lúcia, confusa mordendo os lábios — Por que está fazendo isso?
— Eu não sou o tipo de pessoa que pintaram para você – responde Beatriz. Ela olha para a barriga de Lúcia e continua — Eu não separo famílias. Ele precisa ficar perto de você e… De seu filho.
— Fico feliz em saber – comenta Lúcia tentando sorrir. Ela aperta a barriga e confessa — Mas eu não estou grávida. Somos capazes de tudo pelo homem que amamos, você me entende, certo?
— Isso não é da minha conta – responde Beatriz, impassível.
— Mas eu ficarei. Assim que ele se recuperar, nós teremos um filho.
— O acordo permanece o mesmo – levanta e senta-se à mesa, próxima de Lúcia.
— Obrigada – sussurra Lúcia olhando para Bee — Desculpe-me pelo tapa.
— Não. Ele me deu uma desculpa para poder fazer isso – explica Beatriz desferindo um tapa violento na face direita de Lúcia que a olha assustada. Bee sorri— Não é bom ser pega de surpresa? – antes que Lúcia conseguisse responder, Beatriz dá outro — Esse é pelo jantar da minha amiga – dá um terceiro tapa com mais força — Esse é para você nunca mais esquecer quem sou eu.
Lúcia a encara, aterrorizada, parece não acreditar no que havia acontecido. Beatriz se levanta e a olha com desprezo.
— Nunca mais ouse a dizer nada sobre mim. Se eu sonhar que conversou com alguém sobre mim,se me acusar , saiba que esses tapas serão nada perto do que serei capaz com seu rosto e com sua carreira. Acho que escola nenhuma ia gostar de saber que uma de suas professoras incentiva o adultério, destruição do ambiente familiar e bigamia.
— Você não faria isso… – protesta Lúcia, arrasada, com a mão no rosto.
— Pague para ver – desafia lembrando de Flávio.
Beatriz abre a porta e sai, deixando Lúcia chorando, desesperada.
***
Mariane desliga o telefone ao ver Beatriz saindo da sala, e caminha em sua direção, confiante. Porém, é recebida com frieza por ela.
— Eu consegui falar com eles, expliquei a situação e eles farão uma retratação – avisa Mari desfazendo o sorriso diante do olhar gélido de Beatriz — Está tudo bem, Beatriz?
— Diga-me você, Mariane – responde Beatriz, irritada — O que foi fazer na casa do Hugo? E que papéis de divórcio eram aqueles que você entrou na casa dele , sem minha permissão? –aproxima de Mari, com seus braços cruzados e continua — Você vai me explicar direitinho que traição foi essa e vai ser agora.
***
Uma semana atrás…
Mariane sai de sua sala, cansada. Aquela semana tinha sido intensa com a viagem de Beatriz. Tudo que deseja naquele momento é uma taça de vinho, mas conclui que não acontecerá tão cedo ao se deparar com Miranda, parada, em sua porta.
— Olá, Mari – cumprimenta Miranda sorrindo — Como está?
— Cansada – responde Mari respirando fundo enquanto tranca a porta.
— Imagino que sim – comenta Miranda tocando em seu colar de pérolas, pensativa — Eu sei bem como é cansativo cuidar dos interesses da minha filha, ainda mais quando ela não colabora muito. Sempre indecisa.
— Não a vejo assim – nega Mari caminhando pelo corredor — Eu achei bem determinada nos últimos dias.
— Talvez. Mas não acha que seria mais fácil ela já ter assinado o divórcio e ter ido?– questiona Miranda andando ao lado de Mari. — Convenhamos, esse divórcio beneficiaria muito os dois.
— A Beatriz viajou justamente para tomar uma decisão definitiva a respeito – explica Mariane, desconfiada das intenções de Miranda.
— Mas a minha filha é muito confusa, Mari. Desde pequena, sempre precisou de um estímulo para tomar uma decisão – conta Miranda balançando a cabeça. — Talvez se nós duas déssemos um estímulo, essa decisão sairia mais fácil.
— Eu não vejo necessidade… – começa Mari parando ao ver a mão espalmada de Miranda na frente de seu rosto.
— Eu e Beatriz ficaríamos imensamente agradecidas, se ajudar. Como sabe, represento minha filha aqui na empresa, me tornando a pessoa com maior número de ações – recorda Miranda aproximando do rosto de Mari — Sabe o quão eu posso ficar agradecida com seu apoio?
— Aonde quer chegar, Miranda? – pergunta Mari, desconfiada.
— No momento, a minha sala. Se quiser, pode me acompanhar – responde Miranda andando pelo corredor.
Mariane sabe que se for até a sala, perderá sua integridade. Quem sabe não valia perdê-la por uma boa causa?
***
— Sabia que viria – Miranda olhando Mari entrar em sua sala. Ela aponta para a cadeira à sua frente — Sente-se, por favor.
— Obrigada – agradece Mari sentando. Ela encara a senhora Gouvêa e então pergunta — O que pretende, Miranda?
— Eu gosto daquela expressão, “uma mão lava a outra” – diz Miranda, reflexiva — Representa exatamente o que faremos aqui. Eu tenho algumas ideias para estimular a separação deles e se conseguirmos fazer com que separem logo, posso conseguir um cargo maior para você… Talvez, Diretora de crises. Eu sei o quanto você desempenha bem o seu trabalho, mas só o salário de assessora não é recompensa pelo seu esforço.
— Esse cargo existe? –questiona Mari — Nunca ouvi falar dele.
— Se não existe, providenciarei que ele se torne real – garante Miranda sorrindo — Para provar o quanto ficarei agradecida com o seu apoio.
— O que propõe? – pergunta Mari, interessada. Subirá de cargo, finalmente.
— Diremos a Beatriz que Hugo vai fazer uma declaração à imprensa… e que está noivo – sugere Miranda gesticulando com as mãos — E também seria interessante que ela desse o divórcio como forma de impedi-lo a continuar com isso.
— Mas ele não o fez ainda – argumenta Mari.
— Convenhamos,ele poderá fazer a qualquer momento,só estamos antecipando a jogada. Como em um jogo de xadrez – explica Miranda, confiante — Assim daremos um xeque-mate nele antes que consiga pensar.
— Como faremos isso?
— Eu sei que tem o telefone de Beatriz. Ligue para ela e diga exatamente às palavras que estão escritas aqui – solicita Miranda entregando um papel — Bem simples, não?
— Ela não vai desconfiar? – pergunta Mari franzindo a testa.
— Não… Ela confia cegamente em você – nega Miranda — Jamais desconfiará disso.
— Quando devo fazer isso? – pergunta Mari, insegura.
— Agora – responde Miranda. Ela sorri e comenta — Para que deixar para amanhã, o que podemos fazer hoje?
— Tudo bem, se isso é pela Beatriz… Eu faço – aceita Mari. Tenta se iludir dizendo para si que não deseja o cargo oferecido.
Ela pega o celular e disca o número de Beatriz sob o olhar atento de Miranda.
— Oi Mari, já ia te ligar. Como estão as coisas? – pergunta Beatriz do outro lado da linha.
***
Mariane coloca o telefone de volta na bolsa e encara Miranda que está curiosa. Sente-se horrível por ter mentido para Beatriz e agora precisa se convencer de aquilo foi necessário.
— Então? – pergunta Miranda com uma das sobrancelhas arqueada — O que ela disse?
— Ela me pediu para agir com os papéis do divórcio – responde Mari, desanimada — Pretende dar o divórcio.
— Que maravilha! – comemora Miranda batendo palmas — Finalmente esse crápula sairá de nossas vidas. Não disse que era só dar um estímulo em minha filha?
— Ela me disse que pretendia falar isso comigo antes das notícias – revela Mari encarando Miranda.
— Disse isso somente para não ficar por baixo – esclarece Miranda com desprezo — Bom, agora temos de realizar nosso próximo passo.
— Que seria? – pergunta Mari.
— Os papéis. Quero que Hugo saia com o mínimo que entrou – responde Miranda, pensativa — Preciso de uns dias para pensar e te direi o que faremos.
— Tudo bem, mas não acho que seja necessário – alega Mari, contrariada.
— Está dispensada, Mariane – finaliza Miranda ,ríspida, indicando a porta.
— Tudo bem- aceita Mari , arrependida, saindo da sala.
Mari sabe que vendeu sua alma para Miranda e não tinha mais volta.
***
Dois dias atrás…
O plano é simples: entrar, entregar os papéis, ele assina e está tudo feito, pelo menos foi isso que Miranda havia dito, para convencer à assessora. Porém, a matriarca não permitiu a Mari que analisasse os papéis antes e não deu nenhum motivo, foi uma ordem. Miranda a leva até a porta do prédio, onde Hugo agora reside , entrega o número do apartamento, junto com os papéis de divórcio. Mari não tem ideia de como Miranda conseguiu todas aquelas informações.
— Eu ficarei esperando aqui embaixo, não esqueça: Ele não pode saber que estou envolvida – alerta Miranda desligando o veículo. Encara a morena que demonstra nervosismo pelo que terá de fazer. — Relaxe ou colocará tudo a perder…. E eu não sou generosa com perdedores.
— Tudo bem – responde Mari fechando sua pasta e saindo do carro.
— Eu falo sério – reforça Miranda segurando no braço de Mari.
— Eu entendi – retruca Mari se soltando antes de caminhar em direção ao apartamento.
Quando Hugo abre a porta, Mariane sente que foi longe demais com aquilo.
***
Quando volta ao carro, encontra Miranda fumando um cigarro, nervosa. A matriarca dos Gouvêa abre a porta e pergunta:
— Ele assinou?
— Não quis – revela Mari, nervosa, entrando no carro. Ela encara Miranda — Ficou furioso. Ele será capaz de tudo agora… E se ele for atrás da Beatriz?
— Ele não fará isso… Não ousaria. Ele é orgulhoso demais – comenta Miranda ligando o carro — Temos de sair daqui urgente, ele não pode me ver aqui.
— O que nós faremos? – pergunta Mari, preocupada — Se a Beatriz descobre…
— Nós? – questiona Miranda franzindo a testa enquanto dirige — Você falhou em uma coisa simples que era fazê-lo assinar e agora solta essa de “nós”? Você terá de consertar isso sozinha, Mari. Se ainda tiver interesse em crescer na empresa, claro.
— Tenho sim – responde Mari, encolhida, no banco.
— Chegamos – avisa Miranda encostando o carro.
— Mas aqui não está nem perto da minha casa! – protesta Mari, exaltada, apontando para a janela.
— Eu sei – afirma Miranda abrindo a porta do passageiro — Estou deixando você aqui para caminhar, assim ter tempo para definir o que fará e espero que jamais conte dessa conversa para minha filha. Aliás, nenhuma delas. Quando eu sou boa, sou boa. Porém, quando sou má, sou melhor ainda. Até.
— Até – despede-se Mari descendo do carro.
Enquanto caminha em direção a um ponto de táxi, pensa em como resolverá toda essa situação. No que foi que eu me enfiei? questiona Mariane, arrependida do que fez.
***
Hoje…
— Foi isso o que aconteceu – finaliza Mari esfregando o braço.
— Como você pôde? – questiona Beatriz, chocada — Você traiu a minha confiança…. A troco de quê? De cargo? De um cargo que não existe!
— Não foi pelo cargo… – defende-se Mari com a voz embargada.
— Faça-me rir, Mari! –retruca Beatriz, sarcástica — Vai querer me enganar que foi por mim? Vai continuar mentindo para mim?
— Não…. Eu realmente acreditei que fosse te ajudar – justifica Mariane.
— Ajudar-me? Sério? Como? Fazendo com que ele acreditasse na mentira de vocês? – revolta-se Beatriz erguendo os braços — Colocando o Hugo em um hospital?
— Não. Mas quero que saiba que aprendi com o meu erro – responde Mari segurando nos braços de Bia — Eu não farei isso novamente.
— Saia da minha frente – ordena Beatriz contendo toda sua raiva — E nem pense que isso ficará barato.
— Desculpe-me, mas você melhor do que ninguém como sua mãe sabe ser persuasiva… – argumenta Mari, nervosa.
— Sim, eu sei. Por esse motivo, serei muito direta com você: Está afastada das suas obrigações e do grupo... – informa Beatriz, friamente — Permanentemente
Antes que Mari pudesse implorar, Bia já anda, imponente, pelo corredor. Agora precisa lidar com mais uma pessoa.
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