A Chance escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 16
Capítulo 15




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Flávio acorda e se depara com o olhar apreensivo de Beatriz. Ele se espreguiça e acaricia o rosto dela que retribui com um leve sorriso.

—  No que está pensando? – pergunta Flávio dando um beijo em Beatriz.

—  Em como a gente se conhece há tantos anos e ao mesmo tempo não sabemos nada um sobre o outro.

—  Como assim? – pergunta Flávio franzindo a testa  — O que precisa saber?

— Sabe… Eu não sei sua cor preferida… –começa Beatriz olhando para suas mãos.

—  Branco – responde rapidamente Flávio.

—  Se gosta de cachorro ou gato….

—  Os dois.

—  Sua música favorita…

—  Por um minuto da dupla Bruno e Marrone. Algo mais? – pergunta Flávio sorrindo.

—  É sério, Flávio. Eu não sei nada sobre você e nem você sobre mim. Eu não sei sobre as coisas que te irritam, quem são seus amigos, suas manias, vícios, futuro, o que pensa sobre família… – dispara Beatriz, nervosa.

—  Calma, Bee – pede Flávio se levantando um pouco  —  Muitas dessas coisas, você só descobre convivendo. Vamos fazer isso aos poucos, com calma, sem pressa e aí lá na frente tudo isso será respondido…

—  O que está querendo dizer? –pergunta Beatriz  —  O que quer dizer com lá na frente?

—  Não é óbvio? – Flávio cheira o pescoço de Beatriz  —  Eu quero continuar. Quero que isso seja para valer. Quero te conhecer todos os dias, ver quem você é no cotidiano.

—  Talvez você acabe decepcionado – alega Beatriz segurando o rosto de Flávio  —  Talvez seja maravilhoso para você por estarmos no Cairo, um lugar magnífico, temos tempo para ficar juntos e sair. Mas na rotina, eu não sou metade disso. Talvez a gente nem fique junto depois do Cairo… Eu volto para o Brasil em poucos dias e você ainda vai para Dubai. São dois meses afastados…

—  Ei. Eu quero tentar – tentando convencer Beatriz. Flávio encara Beatriz e pergunta  —  O que quer saber?

—  Coisas que você jamais contou para alguém –responde Beatriz olhando para ele, o desafiando.

—  Difícil... Eu morro de medo de injeção – confessa olhando para Beatriz que ri  —  Não é para rir. Se continuar, não te conto mais nada. Gosto de Sertanejo, não o universitário. O sertanejo modão, dor de corno, sabe?

—  Você, ouvindo sertanejo? – questiona Beatriz arqueando a sobrancelha.

—  O que foi? É uma coisa que eu nunca contei para ninguém, mas eu gosto… Vai tirar sarro?

—  Não vou, seu segredo está guardado comigo – promete Beatriz cruzando os dedos nos lábios tentando não rir.

—  Posso continuar? – pergunta Flávio fingindo estar bravo.

—  Pode.

—  Tenho mania de estalar apenas o dedo do meio da minha mão. E entrar com o pé esquerdo nos lugares.

—  O pé esquerdo?

—  Sim… Gosto de provar que existem coisas que as pessoas dizem que são absurdas.

—  Por que me chama de Bee? – pergunta Beatriz, curiosa. Ela coloca os cabelos atrás da orelha  —  Você é o único que eu conheço que me chama assim… Por quê?

—  Essa é fácil. Primeiro, eu não consigo te chamar de Bia… Esse apelido tá mais para Bianca do que para Beatriz. Segundo, eu te chamo de Bee desde criança, pois em inglês significa abelha. Você sempre conseguia me machucar, então te associei a abelha…

—  Que maldade! – comenta Beatriz cerrando os olhos.

—  Porém, acabei permanecendo com o apelido por outro motivo. As abelhas, as operárias, quando ferroam alguém acabam morrendo logo em seguida, pois o ferrão é um prolongamento do abdômen – explica ele fazendo carinho no pulso de Beatriz que faz uma cara de quem não entendeu  —  É um ataque suicida. Ela se arrisca sem pensar nas consequências, sem preocupar com sua própria vida, tudo em prol de algo maior que ela. Faz isso pelos outros e não por si mesma. E foi isso que vi você fazendo a vida toda.

 O silêncio toma conta dos dois. Beatriz pensa nas belas palavras de Flávio. Realmente passou muito tempo de sua vida fazendo mais pelos outros do que para si e finalmente consegue enxergar uma vida sem esse tipo de responsabilidade. Quem sabe compartilhar essa vida com o Flávio. Porém, para isso , precisa perguntar mais uma coisa, algo que faz em seguida:

 —  O que pensa sobre formar família, filhos? – sussurra Beatriz.

 —  Não sei. Hoje eu diria que não quero ter filhos. Claro que me imagino com alguém, casado, mas filhos ainda não se encaixam nessa imaginação. Talvez um dia... e com a pessoa certa. E se essa pessoa certa não quiser, pode ser com você – finaliza sorrindo para Beatriz.  Então a agarra e continua  —  Chega de perguntas, quero mais ação nessa cama!

 —  De novo? A gente passou a noite toda… – tenta argumentar Beatriz impedida pelos lábios ferozes de Flávio.

 —  Você pensa demais, Bee – diz a segurando  nos braços. Toca em seu rosto até chegar a seus lábios —  Pense menos, aja mais.

 Ele a beija novamente e vai tocando seu corpo bem devagar. Beatriz passa as mãos nos cabelos desgrenhados de Flávio. Ele morde seu lábio inferior e arranca o lençol em que ela está coberta, deixando seu corpo à mostra. Flávio começa beijando o pescoço de Beatriz e vai descendo. Está perto dos seios, quando seu telefone começa a tocar: é o alarme avisando do compromisso de hoje.

 —  Droga! – xinga levantando a cabeça  —  Preciso ir.

 —  Como? – pergunta Beatriz ainda desnorteada  —  Ir para onde?

 —  Pegar a estátua – responde  deitando ao lado de Beatriz  —  Sinto muito, mas vou ter que terminar isso depois.

 —  Eu vou cobrar – avisa Beatriz olhando para ele  —  Pelo visto, não conhecerei as pirâmides hoje.

 —  Não… Mas prometo que te levarei amanhã – garante beijando a mão de Beatriz. Ele pula da cama e vai para o closet, onde fala  —  E te recompensarei por hoje.

 —  Tudo bem… Vou ler um pouco e ver mais sobre o curso – informa Beatriz sentada passando a mão no lençol  —  Encontrei uns bem legais e quero te mostrar.

 —  Quando eu chegar, que verei todos com você – promete Flávio de dentro do closet. Não demora muito e já sai com o terno bege claro e camisa branca, escolhidos.  —  Vou tomar uma ducha.

 —  É…  –Beatriz com cara de inocente levantando da cama. Para na frente de Flávio e passa mão no seu peitoral  —  Uma pena que não podemos tomar juntos….

 —  Não me provoque – pede Flávio segurando na cintura de Beatriz, a puxando.

 —  Ops! –prova ao soltar o lençol que cobre seu corpo, erguendo os braços  —  Caiu.

 —  Você provocou o cara errado –Ele levanta Beatriz que coloca as pernas ao redor de sua cintura  —  Hora do banho.

Minha hora preferida, pensa Beatriz segurando nos ombros de Flávio.

***

 Beatriz já tinha reduzido o número de cursos para dois, quando Flávio chegou com uma enorme caixa de madeira sendo carregada por ele e pelo Teremun, colocando no canto da sala. É um pouco maior que Beatriz que se levanta para ver mais de perto.

 — Obrigado, Teremun – agradece Flávio entregando uma gorda gorjeta ao motorista

 —  Então, essa é a estátua – conclui Beatriz se aproximando.

 —  Sim, estátua de Osíris – responde Flávio passando a mão na caixa, satisfeito  —  Finalmente.

 — Parabéns, fico muito feliz de você ter conseguido – felicita Beatriz tocando no ombro de Flávio.

 —  E como foi seu dia? – pergunta Flávio segurando na cintura de Beatriz.

 —  Produtivo. Estou perto de escolher qual curso farei quando voltar ao Brasil – responde Beatriz com os olhos brilhando  —  Eu realmente quero fazer isso.

 —  Fico feliz por você. Tão feliz que vou te levar para jantar em comemoração – revela Flávio tirando o terno ao sentar no sofá.

 —  Mais um não encontro? – pergunta Beatriz sorrindo de pé na frente dele  —  Aonde está querendo chegar?

 —  Não. Eu vou te levar para um encontro de verdade. O nosso primeiro encontro – responde segurando nas pernas de Beatriz —  Com tudo o que você merece.

 —  Uma proposta interessante – comenta Beatriz beijando o topo da cabeça de Flávio  —  Que horas?

 —  Daqui duas horas – responde Flávio olhando para o relógio. Ele a encara de volta que o olha indignada  —  O que foi?

 —  Duas horas para me arrumar para um encontro? Isso não é muito justo – responde Beatriz  —  Eu não vou conseguir nem me maquiar para o encontro.

 —  Eu sei disso – responde sorrindo — Daqui uns 15 minutos vem uma maquiadora e uma hair stylist te ajudar a ficar linda. Como esse é um encontro, você vai ficar no meu quarto. Eu vou pegar algumas coisas minhas e ir para o seu quarto, assim poupamos tempo – Levanta e dá um beijo em Beatriz  —  Eu deixei o endereço para onde vamos com o Teremun, solicitei outro para mim.

 —  Por que? Não jantaremos no hotel? – pergunta Beatriz, curiosa.

 — Não. Eu quero oferecer uma experiência inesquecível – responde Flávio beijando as mãos de Beatriz. Ele se afasta e vai para o quarto dele. Depois de alguns minutos volta com seu smoking embalado  —  Até daqui a pouco.

 —  Até – despede-se Beatriz indo para o quarto de Flávio. Tinha que escolher a melhor roupa para aquele encontro e não seria fácil.

***

 Teremun abre a porta do carro para Beatriz que o encara, sem entender o motivo pelo qual ele estacionou no cais do Rio Nilo. Ali têm vários barcos parados, mas nada que indicasse um encontro.

 —  Estamos no lugar certo? – questiona Beatriz em inglês olhando para Teremun.

 —  Sim, ordens do Sr. Wilkinson – responde Teremun fechando a porta. Ele se vira para Beatriz  —  Tenha uma boa noite.

 —  Boa noite – responde Beatriz olhando para Teremun que entra no carro e vai embora. Ótimo, estou na margem do Rio Nilo, sem ter ideia do motivo e sem qualquer visão do Flávio.

 O vento sopra mais forte que o normal, fazendo o belo vestido grafite de alça única transversal e detalhes em pedraria no busto, esvoaçar. Beatriz agradece por ter escolhido fazer uma trança embutida nos cabelos castanhos, assim eles não a atrapalham.

 Já está ficando preocupada com a demora, quando escuta seu nome, longe. Olha em direção ao rio e vê um belo barco de madeira e velas, se aproximando. Na proa está Flávio, em seu belo smoking preto de gravata borboleta da mesma cor, com as mãos nos bolsos. Ela não pôde deixar de sorrir, aliviada por vê-lo, mas então pensa O que ele está fazendo dentro daquele barco?

 Assim que o barco encosta no cais, Flávio desce e vai em direção à Beatriz que mantém o ponto de interrogação em sua face.

   —  Boa noite e bem-vinda ao nosso encontro – apontando para o barco.

 —  O nosso encontro vai ser em um barco? – pergunta Beatriz apontando para o barco, perplexa.

 —  Um barco, não. Felucca, um veleiro – corrige Flávio  —  Tradicional veleiro do Egito. Eles os utilizam para subir e descer o Nilo. É uma experiência única e sei que você vai amar.

 —  Sim, já estou amando a ideia – ironiza Beatriz olhando para o seu vestido estilo red capert  —  Porém,  acho que exagerei um pouco na roupa…

 —  Você está linda – elogia Flávio, apaixonado. Estende a mão para ela e diz  —  Vem, eu te ajudo a subir.

 —  Tudo bem – aceita  segurando na mão dele  —  Eu confio em você.

Ele segura a mão de Beatriz até perto do veleiro, entra primeiro e depois a segura pela cintura. Levanta-a e gira o corpo até que os pés de Beatriz estejam dentro do barco. Deixa-a deslizar pelo seu corpo.

  —  Você me fascina, Bee – afirma acariciando seus lábios. Flávio fecha os olhos—  Preciso me segurar, se não o encontro acaba antes de começar e quero que aproveite tudo.

 —  Pode ter certeza que vou aproveitar tudo. Do começo ao fim – provoca Beatriz sorrindo.

Ele se afasta um pouco e aponta para a mesa baixa forrada de vermelho que tem duas velas, dois pratos, talheres para dois, taças para dois e o champanhe dentro de um balde de gelo.

 —  Então, vamos começar – avisa segurando nas costas de Beatriz, a guiando para a mesa.

Ele a ajuda a sentar em um dos pufes que servem de assento para a mesa, dá um beijo em sua mão e senta do outro lado. Abre o champanhe e serve uma taça para Bia e outra para ele. Levanta a taça e diz:

 —  Um brinde ao nosso primeiro encontro.

 —  Um brinde – responde Beatriz tocando na taça dele com a sua  —  À nossa maravilhosa noite juntos.

***

 O garçom saía com os últimos pratos da mesa, quando o Flávio toca nas mãos de Beatriz que está admirando as águas do Nilo. Ela o olha com os olhos marejados:

 —  Desculpe-me, eu… Isso tudo é tão lindo… Eu sinto que passaria o resto da minha vida admirando essa vista, sem cansar – ela o encara, agradecida  —  Obrigada, mais uma vez por tudo. Você é incrível.

 —  Eu passaria o resto da minha vida admirando você, Bee – elogia Flávio  —  Eu que agradeço por você estar aqui comigo. Você não tem ideia do quanto eu esperei por isso.

 —  Eu tenho, pelo menos a Socorro quis deixar isso bem claro – comenta Beatriz.

 —  Como assim? Quando a Socorro falou com você? – pergunta Flávio com a expressão fechada.

 —  Ontem à tarde – responde Beatriz acariciando a mão de Flávio  —  Ela me convidou para tomar café e me contou que vocês namoravam… E que você sempre me amou – finaliza, omitindo os outros fatos.

 —  Bom… Eu esperava por isso. Ela não estava muito feliz quando eu saí da loja de Ramsés ontem pela manhã. Achou minha atitude muito precipitada.

 —  Que atitude? – pergunta Beatriz franzindo a testa. Então se lembra, ela não deve ter gostado de saber que eles estavam juntos e por isso foi atrás dela  —  Entendi, ela não gostou de saber de nós.

 —  Não é só isso – avisa Flávio, enigmático.

 —  Tem mais? – pergunta Beatriz um tanto perplexa. Se a Socorro disse mais alguma coisa para o Flávio…

 —  Beatriz, esses dias foram os melhores da minha vida. Mesmo com todas as situações, motivos e circunstâncias, não consigo deixar… – começa Flávio segurando na mão de Beatriz. Então ele se declara  —  Eu descobri o que faltava para ser completo: Você. Com todas as suas imperfeições, medos, angústias e receios. Eu preciso de você para ficar inteiro… Só me sinto verdadeiramente feliz quando estou com você… Cada célula do meu corpo deseja você… Eu não quero te dizer adeus e não quero te deixar partir. O que eu mais quero é tentar te fazer feliz...

Beatriz o encara, atônita, ele está se declarando. Ela abre um belo sorriso, já sabe o que dizer para ele, então seu celular toca.

 —  Desculpe-me – pede Beatriz, constrangida. Ela olha o nome no visor: Mari e recusa a chamada  —  Depois eu retorno.

 —  Pode atender se quiser – diz Flávio sorrindo  —  Eu tenho todo o tempo do mundo para falar…

 —  Mas eu quero ouvir agora – interrompe Beatriz, feliz.

 —  Tá legal… Antes de eu continuar… – começa mexendo em seu paletó, procurando algo.

Então o telefone de Beatriz vibra com o nome de Leninha no visor, deixando Beatriz curiosa. Flávio olha para ela e diz:

 —  É melhor atender – segurando algo entre as mãos, só aparece uma pequena parte vermelha.

 —  Eu realmente preciso atender, ainda mais a Leninha a quem pedi para só me ligar se algo muito ruim acontecer – explica Beatriz, aflita, atendendo logo em seguida  —  Oi Leninha, essa não é uma boa hora… Oi? … Não consigo te entender… Está falando muito rápido… Fala mais devagar, Leninha… Não estou conseguindo te entender… Pare de chorar… Está me deixando nervosa… O que foi? … Quem? Leninha o que tem o Hugo? … O que foi que aconteceu com o Hugo?


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