A Julieta escrita por Helen


Capítulo 1
Capítulo Único - - Pretty Visitors.


Notas iniciais do capítulo

Agradeço ao sr. João pelo nome da personagem :3



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Sarah, nunca mais volte.

 A jovem começou a se afastar da simples casa. Não se sentia feliz, como muitos se sentiriam saindo da casa dos pais. Aquela saída era mais um motivo que Sarah via para sua própria morte.

 O mundo cinzento que agora adentrava era um consolo. A chuva começou a cair e a molhar o moletom escuro dela. As gotas pareciam se juntar em uma mão que acariciava o cabelo negro como a noite.

 Os olhos castanhos analisavam toda a trilha mal feita pelo tempo. Estavam mandando ela para ser sacrificada pelo dono daquela floresta. Ela o veria a qualquer momento, e a mesma desejava que fosse rápido.

"Apenas arranque minha cabeça com seus tentáculos negros, beba meu sangue e acabe logo com isso" pensava ela, olhando para o chão. Era um costume. Não gostava de olhar diretamente para frente. Não achava necessidade, e também o chão sempre gostava de enganá-la.

 Foram alguns quilômetros andando. As criaturas amigáveis do dia estavam tomando seu chá antes de anoitecer, porque não se pode ficar acordado de noite. É um ciclo. Apenas os bons ficam de dia, e os maus dominam a noite.

"Julieta. Eu sou uma Julieta, caminhando para meu fim trágico. Mas, diferente dela, sei muito bem desse fim e estou caminhando para ele por escolha própria." Sarah não conteve seu Eu poético. Deveria ser a única coisa bonita nela, e seu fim estava chegando. Não se importaria de sair correndo e fazer tudo que sempre quis fazer, mas era inteligente o suficiente que isso não seria satisfatório. O que mais desejou em toda a vida até agora era simplesmente não ter aquela maldição nas mãos.

Tudo o que tocava se tornava maligno e submisso à ela. Já tinha tido um pequeno exército de cachorros-demônios, transformado uma casa em um monstro, uma bicicleta em uma estranha trituradora e um bebê em um pequeno monstro. Não tinha orgulho dessas coisas. Os padres que os pais obrigavam ela a visitar batiam nas mãos dela e machucavam-na no rosto. Um até mesmo tentou outras coisas, mas ela usou suas mãos para amaldiçoar o próprio padre, mostrando nele um atlas repleto de demônios. Ela se perguntava como alguém poderia ser tão cego a ponto de acreditar em religião. Os padres eram tão cheios de demônios quanto ela. Não tem como combater demônios com demônios. Eles são amigos. Apenas inimigos combatem entre si, por mais que amigos se machuquem.

— Vamos, pode me matar. Não quero implorar por minha vida. Ela é uma porcaria mesmo. — disse Sarah.

Sarah parou na estrada e se sentou no chão.

 O vento tentava sussurrar algo no ouvido dela, mas ela ainda não tinha aprendido a linguagem do vento, que era nada mais nada menos que todas as linguagens que já existiram misturadas em uma só.

— Descrimino você. — disse um sussurro no meio da linguagem do vento.

— Não posso voltar. Meus pais disseram isso. — respondeu Sarah.

— Você está sendo inocentada. Vá viver sozinha.

— Eu não tenho motivos pra isso.

Um pouco longe dela, o homem esguio de terno e sem rosto estava parado. Por algum motivo, seu instinto não o guiava. Não que ela fosse diferente, mas ela não se importava se iria morrer ou não. Não era como os filmes, em que as pessoas choravam de medo e quando eram inocentadas pulavam de alegria e iam para longe, querendo esquecer aquele momento de terror.

— Está demorando muito. — disse Sarah — Você enrola mesmo, ou é só hoje?

Aquilo era desafiador. Slender não gostava de ser ridicularizado, nem mesmo quando estava apenas pensando. Ele pensava em como deveria se sentir bem quando arrancasse a cabeça dela e bebesse seu sangue quente. Queria torturar ela. Vê-la chorar e o arrependimento nos seus olhos o incentivar a continuar matando-a lentamente.

Mas Sarah o olhava indiferente. O esguio sem rosto não a assustava. Ela estava pronta para a morte, e a esperava calmamente.

Então o esguio andou lentamente até estar de frente para ela. A falta de esperança em viver deixava os olhos dela vazios. Não havia brilho. Era algo tão... assustador.

Então ele estendeu a mão branca para ela, e ela a segurou. Ainda séria, ela se levantou e voltou a olhar para o Slender. Ele não parecia tão assustador. A mão branca conseguia ser mais aconchegante do que o abraço falso dos padres.

Sarah fechou os olhos e esperou ser morta pelo monstro. Mas sabe... ele não fez isso. Ele agora era o monstro dela.

Ele a colocou no ombro e começou a andar pela floresta. Eles viveriam juntos, como uma família.

E não haveria nada naquela floresta nem naquele mundo que os iria parar.


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