Não fique tão perto de mim escrita por A menina que contava fics


Capítulo 1
Depois da decepção




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10 de dezembro de 2011

02:45 PM

Lá estava eu, no banheiro. Via minhas lágrimas descendo pelo meu rosto, sofria desde a semana passada. Tinha sido enganada pelo meu primeiro e grande amor. O cara com quem tive meu primeiro beijo de verdade. Não aqueles beijos de brincadeira do tipo ‘’ Salada de fruta ‘’

Passei um ano inteiro com ele, na certeza de que esse ano era o melhor de toda a minha existência. Só que tudo isso, para ele, não passou de um teatro. Tudo era mentira. Suas palavras, seus carinhos… Seus beijos.

E foi nas férias que descobri quem ele era de verdade: Um galinha que traia a garota que ele dizia amar todos os dias.

Traia com cinco outras namoradas. Ele mantinha em sigilo todas, nem mesmo seus amigos mais próximos sabiam do seu segredo.

Eu não poderia culpar as garotas, também eram vítimas e compartilhavam do mesmo sentimento que eu: A mágoa, seguida de um ódio que endurecia o coração.

– Filha. - Ela bateu na porta do banheiro. Tratei de secar as lágrimas com um pano, eu sei que se minha mãe me visse chorar, iria certamente querer saber o motivo. E eu choraria ainda mais. - Está tudo bem? Posso entrar?

– Eu estou sem roupa! - Menti, mesmo isso não sendo impedimento para minha mãe. Ela se limitou a continuar no corredor.

– Está tudo bem? Achei que estivesse dormindo. - De fato, nas férias eu costumava dormir cedo e acordar tarde… Só que era a segunda vez que não conseguia pegar no sono.

– Eu estou bem. - Respondi. Era sempre a mesma resposta.

E foi assim…

Durante o ano de 2012, eu ainda pensava nele.

Em 2013, parti do ginásio para o primeiro ano do ensino médio. Uma nova escola, em outro bairro… Um bairro quente, no qual eu pensava duas vezes antes de ir de moleca* para a escola, pois as solas eram finas demais.

Lá, fiz novos amigos… Ótimos amigos.

Mas eu detestava aquela escola.

Era o tipo de escola que não fechava nem se um meteoro a atingisse. A única parte boa é que, a escola era perto do shopping, perto de uma praça perigosa, porém, divertida e também perto de um grande centro de jogos. Era tão fácil matar aula naquele colégio… Eu estudava pouco e me divertia demais. Por causa da semana de provas bimestrais, era um pouco mais fácil passar de ano sem entrar em recuperação final.

Só que havia um problema comigo: Eu tentava ao máximo evitar relacionamentos amorosos.

Via minhas amigas com namorados: Beatriz estava com um cara rosquero,que tinha no celular as mais diversas bandas de rock, heavy metal, metal… Só que tinha uma mania de usar óculos espelhados. Quem o olhasse na rua certamente acharia que era umfunkeiro.

Era o primeiro namorado de Bia. E realmente, ela estava cega.

Ele fazia de tudo para afastar a namorada das suas amigas, enquanto ele, passava o tempo que quisesse com seus colegas, também rosqueros, Bia aceitava por amá-lo demais e isso causou muita briga entre nós.

Éramos quatro, inseparáveis, amigas. Eu, Bia, Thalita e Shizuko.

Cada uma com uma personalidade diferente: Beatriz era a mais esperta do grupo, ela conseguia tirar nota dez em física, e em todos os bimestres, enquanto eu sempre tirava o mesmo 3,50 e tentava me esforçar para melhorar de nota… De fato, a mais inteligente de todas nós era ela. Mas em relacionamentos, talvez a mais ingênua.

Thalita era um pouco mais parecida comigo, esse deve ser o motivo no qual não nos largamos nem por nada. Ela não ia com a cara dos estudos, mas tirava notas medianas. Era da minha classe, costumava dizer que eu que a insentivava a matar aula só que… Eu sempre dizia o contrário. Éramos loucas! Mexíamos com todo mundo… Zoávamos qualquer um. Tinhamos algumas diferenças, claro. Porém, a diferença mais gritante é que ela também tinha um namorado. Um cara metido, era brasileiro, mas morou na Espanha e chegou nela com um papo de que era espanhol.

Eu apenas observava. Conseguia sentir cheiro de mentira de longe… Já não acreditava em mais nada que saía da boca de alguém do sexo oposto ao meu.

Shizuko era a mais tímida de todas. Era presa só à nós pois tinha dificuldade de fazer novos amigos por conta da timidez, ainda ouvia frases dela do tipo ‘’ Juh, paga o motorista da van para mim. ‘’ ‘’ Juh, pede para ele parar em tal ponto ‘’ - Sim, ela tinha vergonha até disso…Era acanhada até demais e isso as vezes, me chateava. Foi secretamente apaixonada por um garoto no qual eu já fiquei afim… Mas não me importei com isso, afinal, eu estava ‘’foda-se’’ para o amor naquele ano.

Em 2014, era a mesma coisa

Estava na aula mais legal de todo o segundo ano daquela escola: Educação física. Eu sempre praticava esportes, para ganhar pontos extras na matéria.

Só que o futebol, de fato, era o melhor de todos.

Eu estava sentada no banco, torcia para alguma daquelas patricinhas metidas a jogadoras que formavam o time me escolhessem. Enquanto Thalita, mexia tranquilamente no celular.

Olhei ao longe, Beatriz conversava com seu ex-namorado (finalmente). Conseguia ver ao longe… Depois de muitos altos e baixos e meses sem nos falarmos direito (graças à ele) éramos amigas de novo.

Beatriz era uma ótima pessoa, o seu único defeito é que ela não desencanava desse rosquero! Ela sabia que eu e seu ex tínhamos uma rixa eterna.

– Oi. - Félix se sentou do meu lado, sorrindo. Segurou minha mão.

Mas a soltei.

Félix era um dos meus amigos. Apesar de ter quatro amigas inseparáveis, eu era do grupo dos garotos. E há poucas semanas atrás, Félix me disse que era completamente apaixonado por mim. Desde o momento que nos conhecemos… Ainda lembro, foi em um dia que fui em direção ao Nicolas e pedi para ele me esperar em frente à escola pois Shizuko viria aqui para arrumar a papelada de transferência para outra escola.

Foi assim que Shizuko e eu conhecemos o Félix. Ele era um cara diferente, sensível e engraçado. Certamente, ele me fazia bem.

– Fica com a Shizuko. - Pedi sorrindo e ele suspirou.

Sim, era a segunda vez que Shizuko gostava do mesmo rapaz que eu. - Eu gosto de você. - Respondeu.

– Olha, eu… Não quero relacionamentos sérios. Na verdade, quero manter distância.

Ele riu. - Você é dificil… Isso só me faz gostar mais de você.

Eu e Thalita nos entreolhamos. - Não sou dificil, acontece que eu tenho o pé no chão. - Pausei. - E sei que essa coisa de amor sempre acaba.

– O meu amor por você será eterno. - Segurou minha mão.

– Arg. - Rosnei, me levantando. - Qual foi! - Gritei para as meninas que ainda decidiam quem ia jogar futebol. - Ninguém vai me escolher nessa merda?!

– Eu escolho você. - Félix se levantou. - Escolho você para estar ao meu lado para sempre.

Suspirei. - Thalita, eu vou no banheiro.

– Ah, eu te espero na porta Juh! - Félix me seguia, quando ouvi Thalita o chamar. Agradeci mentalmente por isso.

[...]

– Te venci, mais uma vez! - Gritei enquanto gargalhava. - Toma Bia! É a terceira seguida hein, fica esperta! - Ela amarrou a cara.

Sempre jogávamos na loja do Klaus, perto da minha rua depois da escola. Era sempre o mesmo jogo de fliperama.Street Fighter.Esse era o único jeito de saírmos nós três: Eu, Bia e Shuziko, já que Thalita morava um pouco mais para o outro bairro, era quase impossível ela vir para cá.

– Valter me pediu uma nova chance.

Fingi não me importar, mas eu odiava aquele moleque. - Faça o que quiser.

– Devo aceitar? - Suspirei, não queria dar minha opinião. - Juh, responde! - Pediu, me balançando.

– Acho que você é uma pessoa muito legal. - Pausei. - E merece algo melhor.

Ela sorriu fracamente. - Tá e o Félix? Hein? - Me lançou aquele olhar que só nós duas entendíamos.

– Ele deveria ficar com a Shizuko. - Sussurrei. Olhamos juntas para trás e vimos Shizuko sentada em uma das mesas, distraída ouvindo música no fone.

– Mas ele gosta de você. E você… Gosta dele.

Balancei os ombros. - E daí? Não preciso de um namorado. Ele já me faz muito feliz sendo um amigo.

– Cá entre nós, amiga. - Sussurrou. - Estou começando a achar que a Shizuko é uma fura-olho.

– Eu não ligo, cara. - Ri fracamente. - E então, vamos jogar? - Recomecei.

[...]

Era a aula de filosofia, lá estava eu, sentada ao lado de Thalita, ouvindo atentamente o que o professor Tiago dizia. - Ele é bonitinho. - Comentou Thalita, ao meu lado.

Precisei concordar. Era alto, moreno claro e os cabelos pretos como carvão. - Só que ele é do tipo que se você perguntar tudo bem, ele te responde filosoficamente.

Thalita suspirou. - É mesmo. Eu acho que ele não faz mais nada a não ser falar de filosofia, que chato.

– Sabe o que é mais chato? - Ela negou. - Estou aqui tentando prestar a atenção, mas o Félix não para de me espiar na porta. - Apontei com a cabeça para a porta da classe.

– O que ele quer?

– Não faço a menor ideia. Só sei que não vou até lá. - Resmunguei.

Thalita se levantou, ela faria de tudo para não ter que ouvir o papo de Sócrates ou Aristóteles…

Continuei ali, estava quase dormindo. - Eu vou dar para cada um, uma folha. Quero que escrevam seus nomes e façam um resumo sobre o discurso que eu dei.

– Que merda… - Murmurei.

– Juliana. - Se aproximou. - Xingamentos não são permitidos na sala de aula. - Disse sério para mim.

– Hum, claro… Foi mal ai.

Me olhou torto e entregou a folha para mim. Não sabia o que escrever, Thalita me distraiu a aula inteira e também não entendia sobre nada da matéria dele.

Escrevi meu nome e em seguida entreguei para o professor com a frase: ‘’ Só sei que nada sei. ‘’

Thalita voltava para a sala. Ela pegou a mochila na cara-de-pau. - Ei! - A chamei. - Onde vai?

– Os garotos vão jogar verdade ou consequência lá embaixo. Vai jogar?

Como eu já tinha me ferrado em filosofia, não fazia sentido continuar ali.

Me levantei, levando meu material e desci.

Fizemos uma rodinha no pátio. Só eu, Félix, Martim, Nicolas e Thalita. Era só entre amigos mesmo… E como Beatriz estava em aula, sabiamos que ela não iria perder matemática nem por nada no mundo.

Thalita foi a primeira, ela girou a garrafa e caiu justamente em mim. Imaginei que faria alguma pergunta boba…

Só que eu estava enganada. - Juh, você ficaria com o Félx?

Eu não estava acreditando naquela pergunta. Me embolei um pouco. - O-olha, a Shizuko…

– Nada disso! - A loira interrompeu. - Estou perguntando se você ficaria com o Félix!

Olhei para ele. Ele sorria para mim, ansioso por uma resposta. - Tá, e-eu prefiro fazer uma consequência do que responder essa pergunta.

– Tudo bem. - Ela sorriu maliciosamente para mim. - Beija o Félix.

– Tá, eu vou me retirar do jogo. - Me levantei.

– Nada disso, Julie! - Martim reclamou. - Vai ter que arcar com a consequência. - Ele e Nicolas riram da piadinha interna.

Revirei os olhos enquanto Félix me olhava abobalhadamente. - Thalita, é proibido beijar na escola. - Era meu ultimo argumento. Mas foi completamente em vão.

Quando notei, Félix já encaixava seus lábios nos meus. O beijo durou dez segundos, parei assim que notei a tentativa dele de incluir sua língua naquele simples beijo.

Corei quando vi os meninos olhando para mim, surpresos, enquanto Thalita apenas ria discretamente da situação.

Depois daquele dia, cheguei em casa triste, cansada e confusa. Era inevitável dizer que eu gostava do Félix. - Filha. - Minha mãe chamou assim que cheguei. Joguei a mochila no meu quarto. - Shizuko ligou para cá. - Arregalei meus olhos. - Ela disse para você retornar.

Assenti e peguei meu celular. Liguei e no terceiro toque ela atendeu aos prantos, eu já sabia o motivo: Seu padrasto sempre a castigava por qualquer coisa, teve uma vez que ela ficou de castigo por um mês inteiro só por não coar o café.

Suspirei. Tinha que dar atenção para ela e fazer um trabalho de física ao mesmo tempo. - Julie, você está me ouvindo?

– Uhum. - Respondi digitando no computador. - Olha amiga, ignora o seu padrasto.

– Não dá! - Gritou. - Você sempre me dá o mesmo conselho! É fácil pra você falar… Você ignora até os seus sentimentos, mas eu não sou assim!

– Dizer que eu ignoro meus sentimentos é algo muito forte… - Reclamei. - Eu só acho que essa coisa de amar alguém, tem que ser de verdade. Só isso.

– Hum, tá Julie… Tà… - Resmungou. - Eu acho que vou ligar para a Bia, ela vai me dar mais atenção.

– Desculpe Shizuko, estou fazendo trabalho…

– Desde quando se dedica a trabalhos?

– Se está duvidando de mim, tudo bem… Vamos conversar. - Fechei a janela de pesquisa. - Mas por favor, chega de falar sobre o seu padrasto… Você me fala dele todos os dias. - Pedi.

– Tá. - Suspirou. - Como foi seu dia?

Aquela pergunta me pegou de surpresa. Na hora lembrei do meu beijo com o Félix. - Tive aula de filosofia com o Tiago… E provavelmente tirei zero.

– Hum, e você não sabe falar de mais nada a não ser notas?! Você é uma nerd incubada, só pode ser!

– Não, eu sou uma atleta. Ou pelo menos eu queria ser.

– Tá, não entre no assunto de futebol por que também estou cansada! Como foi seu dia?

– Joguei verdade ou consequência com os meus amigos… E eu tive que beijar o Félix

– … - Ela ficou em silêncio, e aquele silêncio me amedrontava. - E você beijou?

Corei ao lembrar. - Beijei.

Shizuko se calou. - Desculpe. - Pedi. - Eu disse que ele deveria ficar com você mas… Ele gosta mesmo de mim. De verdade.

– Hum, tá tudo bem amiga. - Deu ênfase a palavra amiga.Eu sabia que Shizuko conseguia ser irônica as vezes. - Eu vou desligar, passe bem! - Gritou.

Um grito que jamais pensei que ouviria de uma garota tão meiga e doce.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que está longo para um primeiro capitulo! Me digam o que acharam da sinopse e desse primeiro capitulo... Julie está certa em evitar relacionamentos mesmo ela gostando de alguém? E a Shizuko? também está certa? (O Daniel aparece um pouco mais pra frente)

* Moleca: Sapatilha de pano



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