Ser um caçador não é algo fácil, principalmente quando se é Dean Winchester. Você não tem tempo para três refeições por dia e você também não tem mais do que quatro horas de sono (talvez cinco horas, se tiver sorte). Você não pode sentar-se e ter uma maratona de filmes durante um dia inteiro e você não pode confiar em ninguém além de si mesmo. Você não tem a chance de um lar com uma pessoa amada esperando seu retorno. Nunca se sabe se você vai realmente voltar.

Você não é uma pessoa comum. Pessoas comuns tomam café enquanto assistem as notícias nos televisores. Elas saem para trabalhar e quando está na metade do dia, elas mandam mensagens para seus entes queridos. Você não tem isso. Você não tem família. Todos estão mortos.

Alguns gostam da chuva, outros gostam do brilho calmante do sol. Você gosta dos dias em que consegue sobreviver.

Você nunca será um regular em uma cafeteria ou um conhecido do porteiro do seu prédio. Você não terá a sua prateleira preferida em uma locadora e também não terá seu atendente predileto em uma lanchonete. Você não pode ter essas coisas. Você nunca passa tempo suficiente em uma cidade para pelo menos se lembrar o nome dela.

Pessoas perdem o emprego e ficam desoladas. Outros terminam relacionamentos e choram. A grande maioria se conforta com a dor, uma velha amiga. Você é atacado, destruído e mentalmente pisoteado, mas ainda assim é grato por ter saído vivo.

Você não pode ter um motivo para pensar que está seguro. Não pode ter um conforto de estar protegido e salvo. Você não conhece a calmaria desde que tinha quatro anos. Mas você têm algo que nenhum outro seria capaz te ter.

Você têm o amor de um anjo.

Anjo com uma vestimenta branca, sandálias e uma harpa? Não. Não esse tipo de anjo, mas sim o tipo real. O anjo guerreiro, que sangra e faz sangrar, que fere e é ferido.

Um anjo que morre e mataria por você.

Não é seguro amá-lo. Nunca foi e nunca será. Nessa vida, não é seguro amar nem à si mesmo. E ainda assim, você o ama tanto que chega a doer fisicamente e tudo vale a pena, porque ele também te ama. Ele quer você. Você nunca acreditaria nisso se não fosse por ele mesmo te dizendo.

Você queria chorar. Queria rir. Você só queria ser feliz e ele conseguiu te trazer isso.

Tem dias em que você acorda e só quer desaparecer. Ir a algum outro universo, talvez. Ir pra bem longe. Você sonha em ter nascido em um universo onde não há o sobrenatural. Onde você poderia ser uma pessoa comum, com desejos fúteis e um emprego normal.

Então a realidade te bate. Lá, você nunca poderia conhecer o anjo rebelde. Anjo vingador. Lá você não seria tão feliz assim. Seria um tormento sem fim olhar pro céu e sentir alguma parte em você faltando. Entrar no mar e vir uma vontade incontrolável de puxar alguém com um trenchcoat junto com você.

Nada seria exatamente completo lá.

Mas há outros dias, a minoria, onde você olha pro seu lado e vê um anjo tomando conta de você. Olhando por você, como sua mãe dizia. O mundo é insignificante nesses momentos. A caça está longe de sua mente e as coisas que pessoas normais fazem não lhe interessam. Você não quer aquilo. Você não quer um maldito café ou uma casa pra voltar. Você não quer nada, aquilo é tudo tão pouco perto do anjo gladiador. Você não quer conviver com colegas sádicos e usar malditos ternos em reuniões de empresa.

Dias assim, você só quer se perder no anjo renegado. Sentir a presença dele e seu coração justo. Você quer dizer que o ama e não sentir vergonha por expressar isso. Quer deixá-lo envolver-te naquela voz profunda. Então você faz tudo isso, porque dias assim são raros. Dias em que você acredita que merece algo para si mesmo. Com ele ao seu lado é mais fácil sentir algo que não seja dor.

E, nesses dias, você se permite ser feliz.