(Alice Narrando)

– Filha! – Minha mãe me chamava pra acordar e ir pra escola.

– Ah mãe, qual é? Não quero ir pra escola hoje! – Falei com voz de sono.

– Anda logo, Alice, ou eu vou jogar um balde de água em você! – Falou aumentando o tom de voz.

– Que merda, mãe. - Falei, e levantei da cama. Odiava acordar cedo, e odiava ir pra escola. Será que os adultos não percebem que acordando cedo não conseguimos prestar atenção nas aulas? Que raiva. Peguei meu uniforme, me vesti e fui até a cozinha.

– Pão de novo? – Resmunguei.

– Sim, pão de novo, Alice! E se você reclamar vai ter que achar outra coisa pra comer. – Falou brava.

– Que foi, mãe? Depois que o pai morreu, você nunca mais foi a mesma... Aqui em casa está tudo diferente. – Falei me sentando.

– Filha, entenda, é muito difícil perder o marido.

– Mas já faz dois anos, mãe... No começo você não estava assim, de um ano pra cá que começou a ter dores de cabeça, me tratar mal.

– A situação aqui em casa está muito difícil, entendeu? Estamos sem um homem em casa, não temos dinheiro pra quase nada e... – Ela ia falar alguma coisa e parou.

– Que foi? Fala logo!

– Nada, Alice. Come logo, que o seu ônibus já vai passar.

Comi rápido pra não ter que olhar pro rosto cansado da minha mãe, pro rosto que mostrava claramente que havia chorado a noite toda. Minha mãe havia mudado seu comportamento comigo, e eu também mudei o meu com ela, eu entendo o que ela passou, mas eu passei por tudo isso também e nem por isso vou começar a tratar alguma pessoa diferente. Escovei os dentes, e penteei o cabelo. Coloquei meu tênis sujo e velho, peguei minha mochila e fui esperar o ônibus. Logo ele chegou.

Entrei, e me sentei no primeiro banco. Peguei meu livro e comecei a ler, até chegar na escola. Nisso vi que uma pessoa havia sentado do meu lado.

– Já li todos os livros dessa saga. – Falou um menino, de cabelo castanho e olhos verdes.

– Sério? – Fiquei impressionada. – Você já leu todos?

– Sim, e pelo visto você está no último. Qual seu personagem favorito?

– Ah, o meu certamente é o Draco!

– O Draco? – Falou fazendo careta e eu ri.

– Que foi?

– Seu personagem favorito é um garoto que já tentou matar o Harry, e que é filho dos Malfoy, super normal.

– Ah não fala assim do Draco! Ele não teve escolhas, no fundo é um menino que precisava de ajuda, e necessitava de amigos fiéis. E ele é muito gato, aliás.

– Que? Ah meu deus, ele é horrível. E um idiota, também. – Quando ele falou eu ri.

– E o seu personagem favorito?

– Voldemort e Hermione.

– VOLDEMORT? – Fiz cara de desentendida.

– Claro. Aquele cara é foda. Você viu aquelas coisas que ele faz?

– Ele tentou matar o Harrry! – Falei.

– Draco também tentou matar o Harry. – Falou sorrindo, como se houvesse ganhado uma aposta.

– É diferente... – Falei, mas logo sorri porque não era diferente. – E porque você gosta da Hermione?

– É uma garota simples, inteligente e gosta de livros. E aliás, é muito gata. Se ela fosse a protagonista ela conseguiria resolver em 2 livros o que o Harry demorou pra resolver em 7.

– Ta bom, isso eu concordo. – Falei. – Então qual seu nome?

– É Charlie, e o seu?

– O meu é Alice, prazer Charlie.

– Você tem carinha de 15 anos, acertei?

– Acertou e você pelo visto... Tem 16?

– Tenho 15 também. – Ele falou.

– Poxa. - Ri. - E como vai sua vida? – Falei tentando não parecer metida.

– Tá tudo bem, eu acho... – Vi que ele estava mentindo.

– Eu sei que não faz mais de 10 minutos que a gente se conheceu, mas... Eu também tenho problemas e eu sei que você está mentindo.

– É que...

Quando ele ia falar o ônibus parou para entrarmos na escola. Charlie se levantou.

– Tchau, menina que gosta do personagem mais idiota dos livros de Harry Potter. – Falou, e logo depois sorriu e eu sorri também.

– Tchau, menino que gosta do vilão dos livros de Harry Potter. – Retruquei, e me levantei.

Quando ele saiu de vista, eu sorri igual uma boba. Um cara lindo, que gostava de Harry Potter. Ou hoje era meu dia de sorte ou estavam fazendo palhaçada comigo. Quando entrei na sala me deparei com aquele monte de gente fazendo bagunça, me sentei na última carteira e baixei a cabeça.

– Bom dia, Alunos. – Falou a professora de filosofia, entrando na sala.

Uma segunda-feira e ela ainda deseja bom dia?

A professora sentou-se. Fez a chamada e pediu para que escrevêssemos como estávamos nos sentindo em um papel e depois entregar pra ela. Peguei uma caneta, e comecei a escrever.

Você pediu pra escrevermos como estamos nos sentindo em um papel, não é? Será que você faz mais alguma coisa além de pedir isso? Que merda, toda aula sua é assim. Eu não vou ficar expondo meus sentimentos para uma professora velha e idiota de filosofia, só porque ela pediu. Então, vai se ferrar.

Depois que escrevi, entreguei pra ela. Quando leu fez uma cara de espanto.

– Srta. Alice! Que mal educação.

– Deve ser porque eu não tenho um pai. – Falei. Privilégios de não ter um pai. É só falar essa desculpa que todos ficam com pena.

– Alice, sente-se. –Falou meiga, e eu senti nojo. Pedi pra ir no banheiro e ela deixou, mas eu não ia no banheiro, só ia passear. Fiquei dando voltas na escola, até que esbarrei em uma pessoa.

– Você! – Falamos juntos.