Deixe a neve cair escrita por Snow Girl


Capítulo 20
Natal


Notas iniciais do capítulo

Booom dia pra você que já está de férias! Maravilhoso dia pra você que ainda tem tem aula, tamo junto haushaus
Enfim, vou pular as amenidades que eu tenho que vazar, mas no último capítulo de DaNC:

"Ele não me beijou, mas naquele momento, me senti mais próxima de Dimitri do que imaginei ser possível e admiração me preencheu até eu quase explodir.
Naquele momento eu percebi que mesmo que não o conhecesse tão bem eu já confiava em Dimitri. Queria dizer-lhe isso, mas estava confortável demais em seus braços para fazer qualquer coisa."



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Depois de eu ter beijado Dimitri e o ocorrido com as fotos da balada, pensei que nós iríamos nos afastar mais ainda, mas na verdade ele se tornou uma pessoa ainda mais simpática comigo, ficavámos até tarde conversando e a barreira de gelo entre nós ia se afinando mais e mais.

Percebi isso no Natal, e estava bastante desligada por ser a primeira vez que o passava longe de casa. Eu havia bolado um plano para aquela noite, já que aparentemente os russos achavam que era desnecessário comemorá-la. O presente que eu havia comprado com Anya estava embrulhado e bem guardado, só esperando o momento em que Dimitri aparecesse. Ele apareceu pontualmente às sete da noite com uma expressão de satisfação no rosto.

— Como foi o dia? — perguntei quando ele sentou a meu lado no sofá e soltou um suspiro pesado fechando os olhos.

— Cansativo. Meu pai não para de zumbir no meu ouvido sobre… — ele ergueu uma pálpebra e me mirou. — Sobre alguns assuntos.

— E você não vai me falar sobre esses assuntos, presumo.

— Acertou. Não é nada demais.

Aproveitei a deixa.

— Falando em nada de mais… tenho uma coisa para você.

Seus olhos se abriram de uma vez, como se ele esperasse que de repente eu tivesse tirado a roupa. Fiz força para não lembrar que ele já tinha me visto semi-nua, quando me vestiu uma camisola depois do dia da boate.

— Oh, sim?

Acenei com a cabeça e peguei o presente que havia deixado no chão, ao lado do sofá.

— Feliz Natal — entreguei-lhe o embrulho prateado, evitando seus olhos. — Não é grande coisa, mas…

Dimitri olhou confuso de mim para o embrulho.

— Layla, hoje não é o Natal.

— Claro que hoje é o Natal. 25 de dezembro.

Dimitri sorriu de forma paciente.

— Aqui na Rússia o Natal é comemorado só depois do Ano Novo, Layla. Apenas no dia 7 de janeiro.

Corei.

— Ah. Acho que isso deveria estar na apostila que eu deveria ter lido — mordi o lábio e ele me olhou com especulação.

— Tudo bem. Hoje é Natal em Illéa, certo?

— Sim. Desculpa, eu realmente pensei que fosse aqui também.

Ele assentiu e abriu um sorriso torto.

— Obrigado pelo presente. Foi muito gentil de sua parte.

Também sorri levemente e fiz menção de voltar para o meu quarto.

— Layla? — Dimitri me chamou quando eu já estava na porta.

— Sim?

— Feliz Natal.

Me senti boba sem motivo algum durante o resto da noite e Dimitri não parou me lançar olhares no jantar. Até o rei achou isso estranho pois perguntou se Dimitri queria que chamasse o médico, no que o príncipe sacudiu a cabeça e me olhou ainda mais insistentemente.Por fim o rei se cansou de tentar fazer o filho falar e se retirou.

No mesmo segundo Dimitri abriu a boca.

— Quero te levar para sair — disse de chofre, me fazendo olhá-lo como uma retardada.

— Sair?

Dimitri assentiu.

— Quero te mostrar uma coisa.

— Uma coisa…?

— Aguarde e verá — ele levantou e saiu sem mais nem menos. — Vou te esperar na saleta compartilhada às dez.

— Dimitri! — chamei, mas ele já tinha sumido no corredor.

Anya estava me esperando no quarto.

— Senhorita? Aqui estão as roupas que você pediu.

— Roupas que eu pedi? — olhei-a com a cabeça inclinada. — Eu não pedi isso.

Ela também estava estranhando, embora claramente tentasse se manter impassível.

— Foi o príncipe quem disse que a senorita pediu. Ele disse que vocÊs iam sair…?

Ah!

— Obrigada, Anya. Vou… me arrumar.

Ela se curvou e saiu. Olhei as roupas que havia me entregado: um suéter grosso, uma camisa de manga longa e fina, calça jeans, luvas, gorro e cachecol. É, ele me conhecia bem.

Me arrumei em um tempo recorde, como eu não fazia ideia de onde íamos decidi deixar o cabelo solto, passei um lip balm e vesti as roupas do jeito que ficou mais confortável: a camiseta fina por baixo do suéter. Não era a maior fã do mundo de calças, mas tive que admitir que protegia melhor que os vestidos, mesmo os de veludo. Como Anya não entregou nenhum sapato, optei pela mesma bota de couro que havia usado na boate.

Quando fui para a saleta esperar Dimitri ele já estava lá, com um jeans e uma jaqueta, de modo que eu não conseguia ver se havia mais roupa por baixo.

Seu queixo literalmente caiu quando ele se levantou.

— Você está deslumbrante, Layla.

Sorri.

— Obrigada. Onde nós vamos?

Ele cruzou os braços atrás das costas.

— Não vou te dizer. Vem, vamos nos atrasar.

Estava tudo escuro no palácio, o que era estranho. Dimitri me puxou por um corredor com um sorriso de quem se diverte com o perigo nos lábios.

— Você é doido — sussurrei. — E se nos pegarem?

Ele sorriu ainda mais.

— Eles não vão. Não tenha medo.

— Medo de alguém me matar? Eu não tenho.

Dimitri riu alto. Era a primeira vez que eu o via rindo assim, e admito que fiquei bastante interessada em repetir o feito.

— Não se preocupe, ninguém vai nos reconhecer — ele desprezou meus receios com um gesto da mão que eu não estava segurando. — É por isso que estamos com as roupas mais simples possível. E mesmo se reconhecessem, as pessoas aqui em Moscou são tranquilas, jamais iriam nos atacar. Não vai ser como a boate, que as coisas saíram de controle.

Assenti ouvindo o “quando você saiu de controle” subentendido em sua frase.

Permanecemos me silêncio por algum tempo, apenas vendo as luzes que do palácio pareciam tão distantes, mas que na verdade estavam muito próximas. A cidade.

— Estamos chegando — avisou-me com um sorriso quando um carro passou a nosso lado buzinando em uma avenida larga.

— Quando vou saber onde estamos indo?

Ele me olhou de lado e deu de ombros.

— Quero te mostrar o festival de inverno da cidade. Ele é lindo e começa hoje.

Olhei-o de viés, seus olhos negros brilhavam intensamente.

Dimitri se esgueirava com os passos rápidos de quem conhecia bem o caminho e praticamente me guinchava pelas ruas nevadas da cidade iluminada.

— Festival de inverno?

— É. Aqui, chegamos — Dimitri indicou o que era claramente uma grande praça, haviam famílias e mais famílias, casais de namorados e rodas de amigos. Realmente ninguém iria dar a mínima para nós.

— Como você me disse que raramente saia do castelo, imaginei que nunca viu um evento de rua como esse — explicou olhando nervosamente para o chão. — Pensei que você o acharia bonito.

Olhei para as barraquinhas cheias de luzinhas brilhantes, os brinquedos e a decoração do lugar em si: centenas de estátuas de gelo espaçadas uniformemente representando o que parecia Papai Noel em tamanho natural e pisca-piscas enrolados em postes fazendo papel de iluminação.

Apenas assenti. Eu estava, pela primeira vez na vida, sem fala.

Me sentia como uma criança, absorvendo o ambiente, o cheiro doce de chocolate quente vindo de algum lugar, as risadas e o som de conversas em um idioma que eu não dominava totalmente.

Sem pensar, me joguei em seus braços. Aquele era o melhor presente de Natal de todos.

— É tão lindo! — sussurrei. — Obrigada por me trazer aqui.

Dimitri não parecia preparado para o meu súbito ataque, mas passou os braços a meu redor, primeiro de forma hesitante, mas depois com mais força, uma mão grande acariciando meus cabelos.

Não sei quanto tempo ficamos assim abraçados, mas ele se afastou levemente com os olhos calorosos, não parecia irritado pelo contato físico.

— Vem, vou te mostrar o festival — disse pegando minha mão enluvada como se alheio ao fato do calor que eu senti devido à proximidade entre nós. Tanto a física quanto a emocional.

A hora seguinte passamos comprando várias comidas deliciosas e brincando em todo o tipo de brinquedo, desde aqueles de atirar no patinho para ele cair e boliche a céu aberto até uma montanha-russa que me fez quase congelar.

— Já estamos quase indo — ele disse quando eu levei a mão à boca para esconder um bocejo depois que perdi pela terceira ou quarta vez seguida no boliche para Dimitri.

— Não estou com sono — mas falei rápido demais e ele ergueu uma sobrancelha escura.

Amaldiçoando-me, completei baixinho:

— Não quero ir.

Dimitri tocou uma mecha do meu cabelo e a colocou atrás da orelha. Não queria imaginar como meu cabelo estava após duas idas na montanha-russa, mas Dimitri não parecia se importar muito com isso.

— O evento vai continuar aqui até o Natal, fique tranquila. Posso te trazer quantas vezes você quiser — prometeu solenemente ignorando-me. — Vou te levar ao meu lugar favorito no festival antes de voltarmos ao palácio. Os dois favoritos, na verdade.

Ergui uma sobrancelha mas me mantive quieta.

Eu queria conhecer esses lugares, afinal, Dimitri nunca me decepcionava quando o assunto era surpreender-me.

Ele pegou minha mão e eu me vi pensando em como para todas as outras pessoas nós provavelmente parecíamos um casal, brincando e de mãos dadas. O motivo que me sobressaltou foi perceber que aquilo era exatamente o que eu havia ido fazer na Rússia, e pela primeira vez entendi que estar ali não era mais apenas para ajudar meu povo, mas porque era Dimitri quem estava ali comigo e eu queria estar com ele tanto quanto queria ajudar illéa.

Apertei sua mão quando esse pensamento se alojou em meu cérebro e Dimitri olhou-me com curiosidade, notando que havia algo errado mas sem identificar o quê. Depois de um pequeno dar de ombros ele continuou nossa rota em meio à praça, me levando por um caminho adjacente, com estátuas de gelo iluminadas por dentro, demorei a entender qual era o nosso destino, na verdade só entendi qual era quando Dimitri pegou sua carteira e tirou uma nota para entregar a um senhor em um grosso casaco.

Olhei para o príncipe da Rússia.

— Patinar?

Ele assentiu de um jeito que me pareceu quase nervoso.

O homem fez uma pergunta baixinho à Dimitri e ele respondeu igualmente baixo e pegou alguma coisa escura com o homem e passou um par de patins pretos para mim.

Olhei para as lâminas mortais que Dimitri estava me entregando.

— Você quer que eu patine com isso?

— Obviamente — ergueu uma sobrancelha. — Vem, não seja medrosa, Layla.

— Não é medo, eu só… sei lá, acho melhor ficar de fora olhando você.

Ele riu da minha cara de pânico. Pelo menos eu acho que riu, porque seus olhos brilharam.

— Layla Schreave está com medo! Essa é uma coisa que eu só acredito vendo.

Fiz careta. Eu não tinha medo, mas aquele monte de gente com aquele monte de lâminas assustadoras… não eram inspiradores.

— Dimitri — reclamei. Ele era mais irritante que o meu irmão, meu Deus.

— Só cinco minutos, se você não gostar a gente vai embora. — Seus olhos brilhavam, me desafiando.

— Cinco minutos — repeti, abaixando-me para trocar de sapatos.

O senhor que estava com os patins colocou minhas botas no apoio e entregou-me um papelzinho com o número do suporte onde elas estavam.

Coloquei o papel no bolso da calça.

— Isso mesmo — Dimitri murmurou e me puxou pela mão até a entrada.

Me senti como uma criança idiota agarrando-me à barra de metal.

— Eu vou cair — gemi.

— Dobre levemente os joelhos e firme os pés — Dimitri instruiu segurando minha cintura. — E solte a barra, pegue minhas mãos.

— Eu vou cair — repeti.

Ele parecia estar se divertindo monstruosamente.

— Não, não vai. Confia em mim.

E eu confiei.

Com Dimitri segurando-me parecia bastante fácil, mas quando eu decidi tentar sozinha, caí de bunda no chão.

Ele veio patinando com perícia e puxou-me para cima, os olhos analisando-me enquanto questionava se estava tudo bem.

Eu fiz que sim e continuei tentando, ao fim de meia hora já conseguia me manter em pé sem ajuda e até andar em linha reta sem cair, embora às vezes caísse quando tentava fazer curvas.

— Você é uma patinadora terrível — Dimitri disse quando saímos do rinque e eu colocava meus sapatos de volta.

— Fui bem para uma primeira vez — respondi com um sorrisinho para ele.

Dimitri inclinou a cabeça para um lado. Sua expressão estava levemente nebulosa como se ele não estivesse totalmente ali.

Quando terminei de calçar os sapatos ele não parecia ter voltado totalmente à si.

Puxando a manga da jaqueta para cima, Dimitri olhou o relógio em seu pulso, com um sobressalto notei que era o mesmo que eu havia lhe dado horas antes.

— Vamos, vou te mostrar o último evento da noite.

Dimitri dessa vez pegou minha mão sem hesitar, de tão acostumado que estava com aquilo e me puxou para longe.

— Espera, estamos saindo do festival? — minha voz parecia desesperada.

— Mais ou menos — ele me guiou até um lugar onde não havia muita gente. Dimitri se colocou atrás de mim. Por algum tempo eu não sabia o que fazer, apenas ficamos parados em um confortável silêncio, Minha cabeça estava encaixada em seu ombro e ele me abraçava por trás.

Dimitri então tirou uma mão da minha cintura, olhando para o relógio no pulso e finalmente começou a se mexer.

— Três… dois… um — murmurou.

Acima de nós, fogos de artifício subiram ao céu, atrás de nós as pessoas exclamavam a cada novo estouro brilhante.

Não soube quanto tempo havia se passado quando a última rajada — totalmente prateada — subiu e pipocou como as luzes na praça.

Eu aplaudi junto com as centenas de pessoas no lugar até minhas mãos ficarem insensíveis. Aplaudi até o fim, me sentindo tremendamente feliz com aquela noite mágica.

Dimitri então suspirou e virou-me para si, seus olhos estavam cheios de cautela.

— Bem, é isso que eu queria te mostrar. Você gostou?

Eu sabia que meus olhos estavam arregalados como duas panquecas, mas não podia ter outra expressão depois da noite perfeita que tive.

— Amei — resumi. — É tão lindo, e as pessoas estão tão felizes! Esse é o melhor presente de Natal do universo todo.

Ele sorriu de verdade, mas havia certa melancolia em seu olhar.

— Fico feliz por te deixar feliz, Layla.

Toquei seu rosto delicadamente e Dimitri segurou minha mão ali por alguns segundos.

— O que houve? — sussurrei. — Você não parece feliz.

Ele expirou profundamente.

— Eu estive pensando nas duas últimas duas vezes estive aqui. Uma delas eu estava com minha mãe, foi o último ano que tive com ela. Na outra, Yuri me trouxe até aqui e no ano seguinte ele se foi. Acho que esse é o evento onde eu me despeço das pessoas que são importantes para mim.

Importantes para mim.

Antes que eu dissesse ou fizesse qualquer coisa, Dimitri me puxou de volta à praça.

— Vamos para o palácio — disse com uma expressão tão triste que me partiu o coração.

Ele parou um carro, um táxi, e entrou.

Entendi a ordem que ele deu ao motorista que arregalou os olhos para o príncipe, mas não disse nada.

Eu não queria dizer nada na frente daquele homem, então mantive a boca fechada o trajeto todo.

Assim que abri a porta de meu quarto, Dimitri se inclinou para se despedir de mim e falou pela primeira vez em muito tempo.

— Boa noite, Layla — murmurou com a voz levemente rouca.

Seu rosto estava muito próximo do meu, nossos narizes quase se tocando. Fechei os olhos por uma fração de segundo e toquei meus lábios nos dele com o mais leve dos toques, tão suave quanto o roçar das asas de uma borboleta.

— Boa noite, Dimitri — sussurrei antes de entrar.


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Notas finais do capítulo

Amo escrever por isso: eu posso adiantar o calendário em um mês!
Beijos, até logo