O Tigre Negro escrita por Willabelle


Capítulo 12
Explicações Complicadas


Notas iniciais do capítulo

Demorou para chegar mas agora está aqui e está um ♥



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Era quase três horas da madrugada e nada de o sono chegar.
Todos costumavam reclamar de Jet lag após uma viagem longa mas nunca pensei que seria tão frustrante. Estar cansada e sem sono ao mesmo tempo.
Bufei frustrada depois de ter remexido nos lençóis macios da cama e não encontrar nenhuma posição confortável. Eu queria culpar o Jet Lag mas no fundo eu sabia que não era uma questão de fuso horário. Foi o dia longo que tive e tudo o que aconteceu nele: Manhã na Índia, chegada de Manik, minhas revelações, nossos planos e por fim, Kishan. Todas essas questões rodopiavam na minha mente rapidamente me exigindo explicações e soluções.
Chutei os lençóis para longe de mim com força e desci da cama pisando no chão frio de mármore do quarto. Me certifiquei de fechar a porta do quarto com o cuidado de não fazer nenhum som alto e acordar os outros.
Me dirigi à cozinha da casa e quanto mais chegava perto do cômodo, percebi que a luz de seu interior estava acesa. Andei devagar, com cautela o suficiente para ser silenciosa.
Espiei pelo batente da porta entre aberta e avistei uma figura de costas, adentrei um pouco mais a cozinha, notando que a figura tinha cabelos compridos.
Não deixei de suspirar aliviada.
Se fossem Manik ou Kishan ali, eu daria meia volta e retornaria à tortura da insônia causada pelos meus pensamentos excessivos. Não queria ter mais problemas para refletir.
Empurrei a porta com cuidado.
– Kells?
Ela se virou e quase deixou cair a manga que segurava no colo.
– Ah! É você Liz, que susto!
Apontei o fruto que Kells segurava no colo, perguntando perplexa:
– Não sei se é porque estou muito cansada e preciso dormir, mas porque você está segurando uma manga no colo? E ela é dourada?
Kells riu, colocando a manga em cima do balcão de mármore da cozinha - será possível que tudo aqui fora feito de mármore nessa casa? -, ela apoiou o fruto com todo o cuidado do mundo.
– Esse aqui, é o fruto dourado.
Franzi a testa.
– Você não pintou a manga de dourado e agora está brincando com a minha inocência não, não é? Você sabe que sou nova nesse negócio de maldição dos tigres, Kells.
Kells riu de novo.
– Está com vontade de comer ou beber alguma coisa? - perguntou ela.
– Isso é uma tentativa de mudar de assunto ou...?
– Não é sério, só me fala o que está com vontade de comer ou beber, okay?
– Tudo bem, mas então você vai ter que se virar pra preparar o que eu quero comer - resmunguei -, eu quero comer um crepe de chocolate belga com frutas vermelhas.
O que aconteceu a seguir foi algo que eu honestamente não esperava que iria acontecer.
Um enorme prato decorado com bordas douradas dispunha uma crepe com calda de chocolate e pequenas framboesas e morangos por cima em cima da mesa, bem à minha frente. Assim como um passe de mágica.
– O que você acabou de fazer? - Murmurei estupefata.
Kells apenas levantou uma das sobrancelhas como se quisesse dizer " Eu te disse!".
– Isso é incrível! - continuei animada - poderia alimentar um país inteiro, pessoas que não podem comprar comida. Onde arranjou isso? Sei que não foi no Ebay.
– Quando eu e Ren terminamos a primeira etapa da quebra da maldição, conseguimos o fruto dourado - explicou ela, entusiasmada - no começo, não sabia sua "função" mas sabia que tinha alguma importância divina. Isso nunca poderia cair em mãos erradas.
Involuntariamente meu sorriso se desfez e aquela voz interior que dizia que eu era uma pessoa ruim voltou a me importunar.
– Kells, não é ruim pra você me confiar tantos detalhes das suas jornadas? Você sabe que sou filha de " você sabe quem"...
– De Lord Voldemort? Não diria que você tem o nariz de seu pai. E eu confio em você, sei que tem um coração bom. Mas... posso te perguntar uma coisa?
– Claro - respondi.
– Como é que Lokesh conseguiu te convencer de matar Kishan? Quero dizer, você nunca faria isso a alguém a menos que algo estivesse em risco...
– E estava, na verdade era um alguém. Lokesh sempre mexeu com magias antigas e poderosas e ele me disse que Kisha havia matado minha irmã, Yesubai. Ele me contou uma história falsa sobre Kishan e nela, Kishan era uma pessoa terrível que roubava e assassinava inocentes em troca de poder. O que me fez buscar vingança foi a faísca de esperança que Lokesh me apresentou. Ele leu um conto antigo indiano que falava sobre uma magia antiga que poderia ressussitar os mortos e trazê-los para o mundo dos vivos novamente, mas uma coisa deveria ser feita: O assassino da pessoa que você quer trazer de volta deveria ser morto e você também deveria ter posse do bem mais valioso do assassino. - Encarei meus pés, me recordando do dia em que Lokesh me contou a história. Havia sido a muito tempo, mas todos os detalhes estavam gravados na minha mente - Eu quis saber se era verdade, insisti para que Lokesh tentasse realizar a magia e foi aí que caí na armadilha. Pedi para que ele me contasse tudo o que sabia sobre Kishan e ele o fez, logicamente, distorcendo toda a história.
Kells parecia perplexa.
– Ele te disse qual era o bem precioso de Kishan? - perguntou ela.
Assenti.
– O amuleto.
– Ele queria Kishan morto e também o amuleto para ele e nem precisaria sujar as mãos para isso...
– Exatamente - eu disse.
– Ele sabia que você tinha um bom coração então quis que você colocasse tudo na balança, como Kishan era o "vilão", você poderia livrar o mundo de um mal e ainda recuperar sua irmã, dois coelhos em uma cajadada só.
Assenti, concordando.
– E Kelsey, eu menti antes na pequena reunião que fizemos antes. Eu só não era a prometida de Ren porque não sou uma princesa e nunca fui.
Kells franziu a testa, perguntando:
– Se Lokesh era rei então você seria naturalmente uma princesa, certo?
– Sim, mas nasci um pouco antes de Lokesh se tornar rei, quando ele era apenas o conselheiro. Minha mãe disse que o poder mexeu com a cabeça dele, tanto que ele manteve minha mãe e eu como empregadas do palácio. Ele se casou com uma mulher de sangue real, foi aí que Yesubai nasceu. Eu servia Yesubai então ao longo do tempo, firmou-se uma amizade entre nós.
– E você sabia que Lokesh era seu pai? - perguntou Kells.
– Fiquei sabendo aos quinze anos quando minha mãe faleceu. Ela escondeu esse fato de mim para não me machucar...
– Sinto muito, Liz. Sei como esse sentimento é.
– Está tudo bem, Kells. Na época, eu só consegui aguentar tudo porque tinha Manik. Eu o conheci no palácio - sorri com a antiga memória que agora parecia tão distante e quase irreal -, nós fomos criados no palácio juntos, depois ele se tornou um dos guardas da família real e eu continuei sendo criada. Depois de um tempo, nós desenvolvemos uma relação tão forte e foi quando nos apaixonamos. Logicamente que o namoro entre soldados e criadas era proibido mas nós nos arriscamos, a única que sabia da nossa relação era Yesubai e ela nos ajudava. Dizia que queria se apaixonar por alguém assim como eu e Manik estávamos apaixonados.
Kelsey não esboçara reação. Penso que às vezes quando o assunto carrega muita surpresa, nossa reação simplesmente se torna a falta dela.
– Agora muitos anos se passaram - continuei -, acho que aquela forte ligação que tivémos no passado fora rompida. É difícil manter a conexão quando quase 300 anos se passam.
– Vocês não ficaram mais juntos depois?
– Não. Muita coisa aconteceu depois disso, Lokesh soube que Manik era um órfão perdido que fora criado pelas empregadas do palácio e é claro que usou isso em benefício próprio já que Manik estava se destacando em relação aos outros soldados nos ataques militares. Ele sempre fora um bom líder e sempre tivera um talento nato para isso. Lokesh queria aquilo para ele, toda aquela grandeza que Manik carregava e Lokesh não, mas ele sabia que não poderia roubar uma característica humana. Então o que ele fez foi ter Manik em suas mãos, para que ele pudesse fazer todas as vontades do rei.
– Isso é horrível - murmurou Kells.
– Ele poderia obrigar Manik a ser seu braço direito com toda certeza pois era o rei e tinha poder absoluto - continuei -, mas ele queria alguém devoto à ele que nunca tentasse o enganar e que seria fiel ao seu mestre sempre. O que ele fez foi dizer à Manik que descobrira que o garoto era órfão e estava morando no palácio de forma clandestina. Manik achou que seria enxotado dali e foi então que Lokesh disse que tinha uma pista de onde sua família poderia estar, que ele tinha um pai lá fora em alguma parte da Índia o procurando.
– Isso fez com que Manik sentisse confiança e gratidão por Lokesh - completou Kelsey, pensativa.
– Exatamente. A busca pela família perdida se tornou o objetivo de vida de Manik. Depois disso, achei que tinha perdido Manik, ele estava estranho e parecia um pouco fora de si. Tudo parecia estar desmoronando e foi quando Yesubai foi morta. Meu mundo parecia sem vida naquela época. Fiquei tão desesperada e foi então que aconteceu o que eu havia lhe contado antes sobre ressuscitar Yesubai.
Segurei uma lágrima que estava prestes à rolar. Respirei fundo e continuei:
– Meu objetivo era encontrar Kishan e o de Manik, sua família. Lokesh nos ofereceu algo que nos faria ficar mais fortes, que provinha de uma magia antiga. Nós queríamos tanto vencer e alcançar nossos objetivos, que aceitamos. Foi aí que Lokesh nos amaldiçoou também e como ele ainda não tinha controle total à sua magia então nos transformou em animais que a princípio ele não queria nos transformar. Virei uma raposa e Manik, uma águia. Lokesh disse que estava fraco e por isso não conseguira nos transformar no que ele tinha em mente o que seria ao invés de uma raposa, um lobo e ao invés de uma águia, um abutre. Ele nos ensinou a controlar as transformações entre animal e humano e foi então que nos separamos, eu e Manik. Mesmo que nos amássemos. Nós sacrificamos tudo o que tínhamos pelo o que achávamos que era mais importante e acontece que tudo não passou de armadilhas tramadas pelo meu próprio pai.
Notei que Kells era uma ótima ouvinte e prestava atenção a cada palavra que eu contava. Depois de contar essa parte da história, Kells imprimira uma feição perplexa no rosto.
– Então é por isso que você e Manik estão vivos depois de 300 anos. Vocês também foram amaldiçoados. Você acha que ele usou a mesma maldição que usou em vocês nos meninos?
Porque daí você poderia ensiná-los a controlar a magia de dentro deles.
– Eu acho que foi diferente, Lokesh provavelmente utilizou todos os seus recursos disponíveis para realizar a maldição dos meninos e apenas usou uma "lasca" do que sobrou para mim e Manik. Por isso que a minha maldição não teve um efeito tão impactante quanto a de Ren e Kishan.
– Isso é muito louco - Kelsey disse - mesmo nesse contexto em que vivemos, ainda fico perplexa...
– Acho que isso é louco em qualquer contexto... - comentei.
– Liz, posso te fazer só mais uma pergunta?
– Claro.
Confesso que esperei alguma pergunta sobre algum pedaço grande e doloroso do meu passado mas a pergunta foi simples e singela:
– Como Manik era? - perguntou ela.
Dei um pequeno sorriso, respondendo:
– Ele é o mesmo de agora, apenas parece um pouco ferido, como se existisse amargura dentro dele. Mas antigamente ele era um perfeito cavalheiro, me tratava como uma princesa mesmo eu sendo uma simples empregada. Ele sempre deu valor às mulheres, mesmo que na época o machismo predominasse e era algo normal na sociedade.
– Ele é um pouco misterioso - Kells disse rindo.
– Sim, ele é. É o seu charme e ele sabe como tirar um bom proveito disso.
Meu cérebro começava a esquecer palavras depois da conversa com Kells. Decidi que descansaria agora, já estava esgotada de cansaço e meus pensamentos haviam se acalmado depois de contar tudo à Kells detalhadamente.
Limpamos o que sujamos na cozinha e então subimos para nossos quartos.
Assim que Kells entrou em seu quarto, girei a maçaneta para abrir a porta do meu quarto quando ouvi a porta do cômodo do meu lado se abrir, antes que eu pudesse abrir a minha porta e entrar, Kishan apareceu.
– Lizzie - chamou ele, baixinho.
– Fala Kishan.
– Eu queria te dizer algo que não acho certo esconder de você.
– E precisa ser às quase 5 da manhã?
– Na verdade sim, bilauta.
Kishan realmente parecia receoso em me contar o que quer que fosse, mas ainda assim eram 5 da manhã e não era um horário muito comum pra dividir confissões ainda mais no meio de um corredor. Meu cérebro estava quase falhando de cansaço. Apressei-o:
– Kishan, fala logo!
Ele mordeu o lábio inferior fazendo uma careta de receio.
– Eu ouvi a conversa que você acabou de ter com Kells.


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Notas finais do capítulo

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PS: #kishanbisbilhoteiro