O Tigre Negro escrita por Willabelle


Capítulo 10
Feridas


Notas iniciais do capítulo

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– Kishan eu não posso fazer isso – murmurei, quando nossos lábios se separaram.
O sorriso sincero que antes iluminava seu rosto, se desfez.
Naquele momento, toda a certeza que eu havia sentido durante o beijo se esvaiu como se um buraco negro dentro de mim tivesse sido desperto, senti algo queimando pelo meu corpo como lava de vulcão, queimava lentamente de modo que torturasse minhas feridas em seus exatos pontos fracos. Aos poucos a água do lago começara a gelar, fazendo aparecer pontos arrepiados pela minha pele, notei também que meus lábios endureceram quando os toquei, estavam frios como gelo.
– O quê? Está tudo bem, Lizzie? Seus lábios estão... – Kishan levantou a mão para tocar meu rosto.
Recuei e bati, acidentalmente minhas costas com força numa pedra.
Apesar da dor intensa nas costas, alertei-o:
– Fica longe de mim, Kishan. Não é seguro.
Ele parecia confuso antes de tudo, mas algo que se assemelhava à raiva queimava em seus olhos. Eu não poderia explica-lo toda a situação, ele não entenderia agora.
Saí do lago, escalando as pedras na borda da cachoeira.
Kishan continuou em silêncio, observando meus movimentos.
Quando ele finalmente disse algo, já estava fora do lago.
– O que quer que seja – sussurrou ele - eu arrisco tudo pra sentir o que nós tivemos aqui.
– Você não vai querer arriscar se não saber o que está em jogo...
– Não temos como mudar isso agora. E seja lá o que estiver em jogo...
– É a sua vida – soltei, interrompendo-o –, sua vida é que está em jogo.
Kishan não mostrou reação, ao invés disso, riu sarcasticamente.
– Está mentindo – afirmou ele.
– Está querendo provas?
Quando ele não respondeu, sorri amargamente.
– É claro que quer.
– É claro que quero, isso não faz sentido, Liz. Quem iria querer me matar e como você saberia disso e eu não?
Respirei fundo. A massa vulcânica imaginária que corria dentro de mim parecia avançar por toda a extensão interna do meu corpo, o que fazia minha mente funcionar lentamente, como se todas as situações do mundo fossem inefáveis, principalmente a qual eu estava lidando no momento.
Lágrimas insistiram em sair do canto dos meus olhos, apertei meus dedos contra a minha palma para evitar que as lágrimas escapassem.
– Você sabe...
Repentinamente, uma forte rajada de vento me atingiu, um borrão marrom passou diante dos meus olhos, interrompendo o que eu iria falar.
O borrão era na verdade uma capa, uma capa que vestia um homem. Eu sabia exatamente quem era e aquilo era o que eu mais temia.
– Não – ordenou ele -, não conte nada.
O homem abaixou o capuz e me encarou mortalmente.
Seus olhos verdes eram frios e irradiavam raiva.
– Manik.
– Eu mesmo, querida.
Estreitei os olhos.
– Não me chame de querida.
Manik riu.
– Espera, vocês se conhecem? – Kishan perguntou, surpreso – e porque estão falando em hindi?
Manik olhou em minha direção como incentivo para que eu me explicasse.
– Nós nos conhecemos e eu sei falar hindi.
– Porque nunca me disse que sabia falar hindi?
– Porque você nunca me perguntou, oras – respondi, incomodada.
Kishan olhou para Manik de forma desconfiada, por fim perguntou:
– Ele iria te machucar?
– Não tenho certeza – respondi - ele mudou muito desde que nos conhecemos.
Manik sorriu com os lábios selados.
– Liz não precisa de sua proteção, príncipe. Ela é mais forte do que nós dois juntos, pode nos derrotar facilmente, se estiver, por acaso só um pouquinho mal humorada – Manik deu um passo à frente – e eu nunca a machucaria, se quer saber.
– O que está fazendo aqui? – Indagou Kishan – Está atrás de alguma coisa?
– De fato, mas não estou atrás de algo.
– Está atrás de alguém – murmurou Kishan.
– Até que você é esperto pra alguém que viveu em uma floresta durante 300 anos.
– E o que a sua procura tem a ver com a gente? – perguntou Kishan, ignorando a provocação de Manik.
– Tem tudo a ver. A pessoa que procuro é um de vocês dois. Quem atende pelo pseudônimo de “Tigre Negro”? Bom, eu tenho de matá-lo para terminar o serviço de alguém que falhou em concluí-lo antes.
Kishan levantou uma das sobrancelhas, mais uma vez desconfiado quanto a veracidade das palavras de Manik.
– Quem é que queria me matar? E porque não o fez?
– Vamos fazer o seguinte, eu respondo uma pergunta e Liz responde a outra que restar. Começando... a pessoa que estava encarregada de te matar falhou, digamos que ela foi fraca. – Manik se virou para mim, sorrindo – Sua vez, querida.
– Você sabe quem iria me matar? – Kishan perguntou, confuso.
Assenti, sentindo o sangue subir quente até meu rosto.
– Eu
As lágrimas que antes estavam contidas, rolaram quentes pelo meu rosto.
– O quê...você? Como poderia... – disse Kishan, incrédulo.
– Eu não conseguiria...
– Mas aceitou fazer o trabalho, não foi? Aceitou me matar.
– Kishan, você não sabe nem metade dessa história...
– Não, eu não sei e nem quero me envolver nisso, eu não posso acreditar, Liz. Porque faria isso?
Mais lágrimas rolaram pelas minhas bochechas. Obviamente, aquela era uma pergunta retórica. No entanto, era uma pergunta que necessitava de uma resposta clara a ser dita.
– Porque me disseram que você matou Yesubai.
– Eu não fiz isso – Disse Kishan, incrédulo.
– Eu sei, eu soube disso quando tive minha visão.
– E porque você me mataria se pensasse que eu matei Yesubai? Isso... não faz sentido.
Manik, que ouvia nossa conversa, ficou tenso quando Kishan fez a pergunta. No momento em que abri a boca, ele balançou a cabeça em negação, dizendo:
– Você não precisa falar, Liz.
Como se fosse possível, mais lágrimas rolaram pelo meu rosto. Elas ardiam nos cantos dos meus olhos e escorriam quentes pelas minhas bochechas. Eu nunca chorara tanto. Nunca derrubara uma lágrima sequer depois que Yesubai morreu.
Mas eu percebi que aquelas lágrimas eram diferentes de quando chorei por Yesubai, aquelas antigas lágrimas, eram de tristeza. Essas eram diferentes, se misturavam a sentimentos diferentes.
Quando me dei conta, percebi que as lágrimas não eram tristeza, mas sim, de raiva. E isso tudo me machucava internamente.
Manik ainda mantinha um contato visual comigo. Apesar de ele ter mudado muito sua personalidade, para mim, ele sempre seria aquele garoto engraçado e corajoso que costumava ser quando pequeno. Apesar das mudanças, de ele ter se tornado mais frio e cauteloso, ele ainda sabia o quanto seria doloroso contar toda a verdade à Kishan. Ele sabia que mesmo depois de todo esse tempo, essa ferida não se curara.
Porém eu sabia que devia isso à Kishan, que deveria conta-lo. Se eu quisesse alguém para me ajudar a curar minhas feridas do passado, eu não pensaria em ninguém além dele. Alias, eu só pensaria nele, não apenas nessa situação mas em todas que pudessem o envolver na minha vida.
Não poderia perde-lo.
Sequei minhas lágrimas e lancei um breve e triste sorriso à Manik, uma maneira de dizer que tudo estava sob controle.
Me virei para Kishan e encarei seus profundos olhos dourados. Imaginei que dentro deles pudessem haver ouro, bronze, mel... e isso de alguma forma acalmou meu coração. Respirei fundo e anunciei:
– Yesubai era minha irmã caçula.


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Notas finais do capítulo

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