Ruína escrita por Ofidioglota, MrOrion, Fragile Soul


Capítulo 6
A Cada Momento Piorava-se Mais


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, nos desculpem por demorar tanto para postar este capítulo. Problemas com a vida pessoal acarretou tudo isso. Mas o importante é que aqui está ele, o novo capítulo da narrativa. Buscamos por inserir personagens novos, a fim de tornar tudo o mais amigável possível. Que se divertam lendo, amigos s2



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Capa, cachecol, camisa inegavelmente engomada, sapatos perfeitamente engraxados, nada passava pelos olhos perversos e extremamente observadores de Brian. Portanto, se precaver era o melhor dos remédios para evitar uma punição injusta. Nos últimos tempos tornara-se bem mais dificultoso arrumar-se pela manhã, a rigidez enfim havia se aplicado aos trajes e aos cuidados higiênicos em geral, como haviam previsto outrora. Mesmo com o magro período de tempo que a tal ditadura havia se implantado, já era mais do que na hora de dar adeus.

Brandon situava-se parado defronte a um espelho comprido no dormitório masculino da Sonserina. Um pente demasiado grande jazia em sua mão, ali, olhando para ele, um garoto loiro, de porte médio, pele pálida e fundas olheiras o fitava com substancial avidez. Os fios loiros perfeitamente encaixados ao coro cabeludo, um perfeito nó na gravata, a gola da camisa tão branca como nuvens num céu anil, nada com que pudesse lhe trazer preocupações nas vistorias. Lembrara-se do ocorrido há uma semana, dezenas de jovens reunidos nas cozinhas, rodeados de pequeninos elfos. Suas roupas amassadas e desajustadas, o tom de voz elevado além do limite — o que na ocasião fora realmente desagradável —, eles não se viam aflitos, não se sentiam oprimidos ou acuados por palavras ultrajantes. Eles simplesmente sentiam-se repletos de uma sensação que há muito não se via presente: a liberdade.

Já era tarde demais para se permitir devanear com suas nostalgias, a aula de Poções já, já iniciaria e seu estômago roncava como um porco selvagem. Teria de dar uma passada ao Salão Principal, nada mais revigorante do que um farto café da manhã.

O monitor desceu as escadas correndo até chegar à Sala Comunal que se encontrava ligeiramente inóspita, constando que a maioria dos sonserinos simpáticos haviam se apartado para ir às primeiras aulas do dia.

Entrementes, acomodado em uma poltrona com um livro em mãos, estava Rufo, também conhecido como monitor-chefe e líder da rebelião.

— Bom dia, cara. — Bran saudou-o. O garoto ergueu o olhar das páginas claras da obra e murmurou um “bom dia, Bran” um tanto quanto pensativo.

— Acho que está tão atrasado quanto eu, mas não tão preocupado com o horário, certo? — Eram costumeiras as alfinetadas de Brandon e Rufo, quase que comum, mas vinham diminuindo nos tempos atuais, a aliança parecia ter-lhes feito bem, afinal.

— Não se preocupe comigo, parceiro, só estava lendo um pouco antes de mergulhar nas maravilhas cansativas da História da Magia. — Ele levantou-se e guardou seu livro com capa de couro na mochila, levou-a as costas e virou-se para a saída. — Você vem? Acho que temos um café da manhã para tomar.

Assim que atravessaram o portal do Salão Principal, foram arrebatados por aquela sensação claustrofóbica de opressão e calmaria excessiva. O lugar que outrora era o ponto de encontro dos discentes era agora um simples refeitório sobre rígida vigilância e olhares acusadores. O jovem dinamarquês e o monitor-chefe caminharam por entre as mesas da Corvinal e Sonserina, sentando-se junto aos seus amigos. Num local mais elevado, Brian observava todos com sua feição neutra. Suas íris azuis deslizavam sobre os crânios dos ali presentes, seu queixo erguido em sinal de superioridade e suas mãos cruzadas sobre o púlpito — mesmo que não fosse discursar ou se pronunciar, pelo simples prazer de ser o centro das atenções.

Na mesa dos lufanos, Christine esforçava-se para não parecer suspeito os seus olhares de pura ira para o diretor. Suas mãos delicadas seguravam uma taça de suco de abóbora, seu conteúdo movimentava-se fervorosamente enquanto seus dedos tremiam. Seu colar-amuleto contra criaturas invisíveis estava gelado, pressionado ao seu peito nu no interior das vestes. Seria esse um sinal? Ao seu lado, Lucas continha uma risada enquanto conversava com Franccesca por sinais, nada de ruídos ou estardalhaço.

— Sinto informar-lhes, queridos, que o banquete matinal chegou ao fim. Dirijam-se diretamente e o mais rápido possível para as salas correspondentes às devidas aulas. Tenham um bom e lucrativo dia. — Brian retirou, então, a ponta da varinha da jugular e desceu do púlpito. Os alunos permaneceram sentados, sabiam que só poderiam se retirar após a autoridade máxima, do contrário, seria falta de respeito. Blé.

— Tirano maldito, espero que seus miolos sejam engolidos por hipogrifos raivosos. — Praguejou Brandon enquanto se levantava e ia de encontro a Christine, seguido de Rufo.

— Eu o odeio, odeio com todas as minhas forças. — Chris pigarreou. — Não se destrua interiormente como se estivesse entupido de zonzóbulos, Brandolini. — Disse a texugo respirando fundo. — Não vamos nos prejudicar por culpa desse cara de lesma carnívora, sim?

— Christine tem razão, melhor evitarmos deixar transparecer muita ira, é necessário que nos controlemos e parecermos o mais serenos possível. — Rufo completou, com seu ar de liderança. Ele realmente tinha o dom para a coisa.

— Bom dia, pessoal. — Uma voz feminina surgiu no círculo. — Por Merlim, não vejo a hora do próximo encontro! Estou tão ansiosa! — Sussurrou Mel Lancaster com um dos braços envolto aos ombros de Chris. A moça é detentora de uma inteligência rara, o que hipoteticamente a levou a ser da área das águias. Além disto, caracteristicamente é relevada como crítica.

— O último foi realmente maravilhoso, me deixou surpresa. Confesso, pensei que seria monótono e infrutífero. Enfim, tenho que ir, não quero que percebam essa euforia fora dos “padrões Brian”. Até daqui a pouco, Bran e Chris. Rufo. — Acenando, Mel se afasta.

Decerto, qualquer deslize deve ser evitado.

— Pode limpar a baba do queixo agora, Bran. — Disse Rufo, Chris levou a mãos a boca e sufocou uma risada.

Os quatro dirigiam-se para o sétimo andar, onde seriam sediadas as aulas de Poções — uma especial, dizia-se, sem maiores detalhes — para o quarto ano e História da Magia para o quinto. Desta vez quatro pela inclusão repentina de Megan, que proseava com Ariel nas imediações da biblioteca quando decidiu por juntar-se ao trio. Enquanto subiam as escadas, vários olhares sugestivos foram lançados entre os membros do grupo oculto. Rufo sorria de canto o mais discreto possível em retribuição, e pareciam se comunicar dessa forma.

— Ei, você aí, quatro olhos! — Berrou a figura de um quadro. – Por que bolas está sorrindo para aquela garota grifina ali?

Tal figura uma freira, com aquelas noviças. Em sua mão, a mulher trazia uma régua de madeira de cinqüenta centímetros, régua essa que era apontada diretamente para o rosto de Rufo. Pacote completo.

— Desculpe o meu amigo, bela senhora. — Bran reverenciou ao quadro. O garoto detestava portar-se com tamanha passividade. — A culpa foi toda minha, eu é que contei uma piada inoportuna num momento tão inoportuno quanto, afinal, nós estamos... Subindo as escadas! Um momento deveras importante do dia, pois me perdoe.

Ao redor, todos tentavam disfarçar sorrisos e sair do campo de visão da religiosa.

— Dessa vez eu deixo passar, mas na próxima, Brian ficará a par dessas suas tais... Manifestações de alegria. — E então, o que se via era um plano de fundo enegrecido, a figura havia esvanecido num piscar.

— Essa foi por pouco, que senhorinha mais desagradável, parece um berrador! — Christine balançou a cabeça para a esquerda e para a direita. — Ela precisa de um lírio para alegrar seu dia, velha carrancuda!

— Não é possível. Brian enfeitiçou os quadros? Eles são como sentinelas agora. — Rufo levou as mãos à face e retirou os óculos para esfregar os olhos. —Está cada vez mais arriscado, cada vez mais difícil nos manter na penumbra.

— Ele está certo, não se deixem abater! Força! — Lara Cavendish encorajou-os, surgindo ao encalço dos quatro subitamente. O pulsamento cardíaco dos quatro acelerou-se com o vulto que se materializou na moça de um piscar a outro. — Com a ajuda de todos nós, nada que aquele idiota egocêntrico fizer vai nos deixar menos confiantes. Pensem assim: nós temos potencial. Nada conseguirá roubá-lo de nós. — Dito isso, as escadas voltaram para seu lugar de origem, e os garotos seguiram em frente.

No sétimo andar, os corredores tornaram-se menos largos e mais abafados. Ao passarem pela entrada da Sala Comunal da Grifinória, Lara se desvencilhou do grupo ao adentrar pelo buraco no quadro da Mulher Gorda. Nesta altura do campeonato, as localizações exatas dos cômodos exclusivos são sabidas por todos.

O trio cruzou mais um corredor e outra figura conhecida juntou-se a eles. A garota loira trazia nos fios claros mechas esverdeadas, assim como suas vestes e insígnia.

— Oi, Bran. Oi, Rufo. Oi, Christine. Oi, Meg. — Katrina disse entre os dentes. A repetição de cumprimentos os tornou ligeiramente constrangidos. Será que ela já sabia sobre os quadros?

— Já estão sabendo? Os quadros do castelo acordaram de ovo virado hoje. O cavaleiro do quarto andar ameaçou cortar meu lindo cabelinho só por causa das minhas mechas coloridas! Ah, pois eu sou capaz de muito, mas muito, se aquele quadrúpede encostar suas patas nas minhas madeixas! — Katrina escorria seus dedos por seus fios, acariciando-os.

Brandon lançou um olhar para Chris, que retribuiu para Rufo. A cada momento piorava-se mais.

— Ahn, Kath, não dê corda para esses quadros metidos a besta, certo? — Brandon tocou o ombro da garota. — Eles nem podem sair das molduras, lembra? Fique despreocupada e, bem, não traga problemas para ti, seja discreta e releve, é o melhor remédio, sim? — A garota praguejou baixinho, mas concordou que era o melhor a se fazer.

Logo Rufo e Megan se desvencilharam do restante do grupo, rumando às dependências de História da Magia, e Chris e Bran seguiram em direção a onde deviam estar há sete minutos.

Um considerável ponto de interrogação jazia às testas de ambos. O porquê de estarem no ponto máximo do castelo e não nas masmorras para Poções é incógnito e ligeiramente assustador. Joseph Lindvior, o mago responsável pela disciplina, os aguardava, os atrasados, sustentando-se à bancada principal, olhar atento às feições que ousavam surgir após a sua.

— Bom dia. — Ele se prontificou no centro da sala. — Antes de iniciarmos com o conteúdo, a mim foi requerida a exibição da holografia das Regras e Sub-Regras do regime de Brian Bringstrow, exigidas pelo próprio excelentíssimo.

Certamente não transparecia, mas Lindvior estava extremamente desgostoso com tudo aquilo. Do mesmo modo como as faces juvenis que o fixavam o olhar consideravelmente hostis. O docente ergueu a varinha a mirou à parede logo ao fundo do cômodo. Em seguida, um vídeo holográfico surgiu, a face fina e recatada de um Brian de três metros fora retratada ali.

— Conforme atribuído a todos os docentes sem exceções, o regulamento deve ser revisto no princípio de cada aula. O motivo é límpido: a convivência se dá com perfeição quando os pilares conservam-se fixos. Para isto, quebrar regulamento é inaceitável. Sem mais delongas... — Com o chacoalhar de seu objeto mágico, a varinha, ao holograma fora fornecida vida.

— Artigo um. É expressamente proibido sair de sua Sala Comunal após o toque de recolher.

“Pelas madeixas de Morgana, Brandon! Isso está passando dos limites.” Chris escreveu num pedaço de pergaminho amassado, sem tirar o olhar do rosto gigante do diretor. “Não sei se sinto medo, raiva, ou o raio que for. Onde ele quer parar com isso?” Chris suspirou e engoliu em seco. “Eu não sei, mas, que os Outros me levem se estiver errada, ele quer acabar com a escola, ele não tem um pingo de piedade.” Forneceu tais palavras a Brandon, que leu com atenção e igualitária indignação.

— Artigo trinta e sete: a pena para conspiração, rebelião e afins é a imediata e irremediável expulsão.

O semblante do Brian holográfico é de satisfação, olhando-os e, em simultâneo, nada vendo. Cada alma presente impactou-se com o tal do artigo trinta e sete que, desde ontem, não existia. Imediata e irremediável expulsão. Brandon lutou com unhas e dentes para tornar sua expressão facial indecifrável, arranhando-se por dentro para não demonstrar maior pressão do que os colegas que cochichavam ao seu redor.

À Christine o mesmo, que perdeu o sorriso e tornou-se cabisbaixa, encarando o pergaminho todo bordado por flores, pronto para as anotações que viriam.

Agora está certo, esta era uma aula deveras especial. Sim, sim. Especialíssima. É a sentença de que o nível elevou-se, não é algo amador. Brian está como o olho que tudo vê, altíssimo e, como o holograma explicitou, observando.

Havia de se preparar. Nada de amadorismo. É agora que a luta começa. Brian deu sua cartada, agora é a vez deles.


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Notas finais do capítulo

Não custa nada relembrar que comentários são muitíssimo bem-vindos! É sério. Isto ajuda-nos a continuar escrevendo, pois qualquer apoio é muito, mas muito bom. Então aproveite e comente o que achou, o que está bom, o que não está. Tudo o que quiser. Até o próximo s2



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