Ruína escrita por Ofidioglota, MrOrion, Fragile Soul


Capítulo 2
E Este Era Apenas o Princípio


Notas iniciais do capítulo

Antes de começarem a ler, queria alertar que sim, é um capítulo maçudo e com poucos diálogos, mas era preciso ser feito, para contextualizar o leitor no novo ambiente de Hogwarts. Se notarem algumas diferenças na escrita em relação ao que estão habituados, tentem não ligar, porque eu sou portuguesa e há algumas diferenças -tanto a nível de ortografia como de construção de frases- entre o português europeu e brasileiro. Enfim, meus amores, espero que gostem.

Passo aos créditos:
Brian e Jhessy a Jéssica Gonçalves, Rick a João Henrique, Gary a Alex Gomes, Kenton a Gustavo Silva, Megan a Luana Soares e Ryan a Mariana Almeida.



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Era difícil acreditar que, nos tempos distantes de outrora, Hogwarts fora um lugar de felicidade e harmonia. Para alguns, uma segunda casa. Onde antes havia luz, surgira a escuridão, infiltrando-se pelas brechas das paredes, pelas páginas dos livros, pelos pensamentos dos alunos que, na verdade, não passavam de crianças. Onde anteriormente se ouviam gargalhadas, agora apenas existia a tristeza, a seriedade… o medo. A enfermaria era ponto de rumores macabros e, em caso de ferimento, o último local em Hogwarts que os alunos desejavam visitar. O empenho de todos havia aumentado drasticamente, não por interesse, mas sim pelo pavor das consequências ao errar, somado à escassez de outros entreténs. As punições tinham recuado pelo tempo, de volta à época em que obedeciam, indiretamente, aos padrões medievais. Corriam boatos que os alunos desordeiros eram torturados, contudo, obrigados a manter esses episódios em sigilo. Ninguém reconheceria a Hogwarts atual, cujas regras de funcionamento secular haviam sido distorcidas para uma severidade assustadora e desnecessária.

E este era apenas o princípio.

Talvez fosse a terceira ou quarta semana de aulas, ninguém sabia dizer com exatidão. Cada dia era uma réplica do anterior, que por sua vez fora igual ao antecedente. Os alunos já não encontravam ânimo nas pequenas coisas, que, outrora, eram elementares em Hogwarts. Os banquetes, tradições milenares marcadas pela majestosidade, convívio e alegria, haviam perdido completamente a sua essência, sendo reduzidos a um compromisso do horário ao qual deveriam obrigatoriamente comparecer. Pequenas travessuras dos alunos, às quais os professores costumavam fechar os olhos, tinham sido devidamente proibidas e punidas, acabando por ser erradicadas na sua totalidade. Até mesmo o polêmico Rick Bringstrow vira-se forçado a terminar os seus negócios de longa data, cortando a principal fonte de diabruras em Hogwarts. Face a tudo o que mudara tão velozmente num período de escassas semanas, o corpo docente antigo revelava-se impotente. Observavam o descalabro de Hogwarts perante os seus olhos, contudo não percebiam como é que isso acontecia, ou quem estava por trás. Na confusão dentro das suas mentes, apenas tomavam a inocência de Kenton como um facto. E acerca de Brian? A certeza dissolvia-se num palpite.

O amor, aliás, a expressão carnal do amor nunca fora bem aceite em Hogwarts. Sempre que decorria, gerava olhares de lado por parte das figuras de autoridade. Desde que o novo diretor ascendera ao cargo, qualquer tipo de namoramento público tornara-se motivo de expulsão ou castigo severo, dependendo da gravidade da infração. Jhessy e Gary, com uma responsabilidade adicional devido à sua posição na monitoria, haviam sido propositadamente afastados pela administração da escola, que quase impossibilitara o encontro entre ambos. Contudo, simbolizando um sentimento emergente de revolta, tinham improvisado alguns lugares de encontro, nas horas mais arriscadas. Eles, juntamente de outros casais infortunados, simbolizavam um núcleo abstrato de rebelião, comprovador de um princípio que jamais poderia morrer: o amor é mais forte do que tudo o resto.

Seguindo estereótipos, seria de esperar que os sonserinos se contentassem com tal situação de mal-estar e tensão instalada em Hogwarts. O ambiente liderado por mentes cruéis revelar-se-ia uma melodia para os seus ouvidos, o concretizar de expectativas que há muito julgavam garantidas. Sim, talvez alguns descendentes das serpentes se deleitassem com a situação, com o sofrimento exprimido pelos integrantes de outras casas, a generalização do infortúnio. Mas não ele, não Rufo. Sentia o sangue de Nicolette, sua mãe, a escorrer-lhe por entre os dedos. A ira, atenuadora natural da tristeza, preenchia cada uma das suas células. Ardia-lhe o corpo, os pensamentos, a alma, como uma chama inapagável e em constante dilatação. Lágrimas raramente se atreviam a escorrer pelo seu rosto, funcionavam como uma destruição para o escudo emocional que construíra em torno de si. Todos estranhavam o seu comportamento peculiar face aos outros e ao novo sistema. Ele tornara-se levemente mais brincalhão, descontraído e até mesmo sociável. Transformara a sua função de monitor-chefe num trunfo contra as autoridades superiores, alterando a anterior altivez por um companheirismo estratégico. Uns diziam que ele estava em estado de choque e que ainda não acreditava plenamente no sucedido. Todavia, caíam num erro. Rufo tinha os olhos mais abertos do que qualquer outro.

Um outro extremo dentro da Sonserina era Brandon, que adotava uma posse semelhante à de Rufo, numa escala menos ampla. — Eu não sei, mas tudo isto me parece muito estranho. — Repetia, em diálogos diários. — A morte de Nicolette, o diretor expulso, e agora Hogwarts transformada num regime “salazarista”? Há algo aqui que não bate certo. — Massajava as suas têmporas, pensativo. — Estão a brincar conosco. Quero dizer, alguém está. — Brandon assumia-se como um dos poucos que conseguira preservar o seu ânimo. Lançava suposições arriscadas juntamente de Ryan e Meg, colegas a quem o tempo lhe havia providenciado uma total confiança. Os três reuniam-se poucas vezes, estudando sempre o lugar e hora, para evitar o risco da atividade ilícita ser notada. Cada um tinha os seus pontos de interrogação. Juntos, apenas acumulavam as perguntas, falhando nas respostas.

E a menina dos lírios? Sem lírios caminhava. Acordara num dia — qualquer um dos perdidos pela rotina das semanas —, sem se incomodar a espalhar repelente anti-narguilés pelo dormitório ou verificar se mais algum zonzóbulo se havia juntado à sua colónia improvisada. Vestira-se com o uniforme requerido, negro e amarelo-canário, dispensando os ornamentos vegetarianos ou de proteção contra criaturas fantasiosas. Substituíra o saltitar pelo arrastar, o sorriso pelo suspiro. Não, aquela menina tão cabisbaixa não era a “Chris”. Na sua mente ainda passavam os pensamentos mais aleatórios, contudo já não os exprimia. Aprendera a guardá-los para si mesma, reduzira o seu discurso a monossílabos curtos e breves, exprimindo apenas o necessário. Os talismãs contra larvas aquovirantes eram usados por debaixo das vestes, toldados por espessas camadas de roupa. Há poucas semanas, os seus monólogos eram mais longos do que uma aula de História da Magia. Todos suspiravam quando ela abria a boca para começar uma tese acerca de heliopatas. Agora, muitos desejavam ter a lunática de volta. Ela ainda estava presente algures por Christine, arranhando-a, pedindo para ser libertada. Mas o medo impedia-a.

Enfim, Hogwarts morrera juntamente de Nicolette. A visão dos bruxos em relação ao lugar igualara a dos trouxas: uma ruína, em tempos bela e lustrosa, mas agora sombria. De noite, apenas algumas tochas iluminavam a escola, guardando-a numa obscuridade permanente. Durante o dia, até mesmo o sol parecia ter perdido o seu brilho.


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Notas finais do capítulo

Então, quais as vossas opiniões e palpites sobre o que irá acontecer? A escrita agradou-vos? O que acham que pode ser melhorado? Aproveito por vos agradecer pelo acompanhamento, pela atenção e por todo o amor que temos recebido.



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