A Última Harrison escrita por Caderno Azul


Capítulo 6
Página Oculta


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoas! Muito obrigada a todos que comentaram, boa leitura!



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Kate não vira mais Adam naquele fim de semana. Nenhum dos irmãos Burton na verdade. Para ela, havia sido um alívio. Não tinha certeza como seria o próximo encontro com eles, mas se tivesse metade da animosidade que o de sábado, ela faria questão de evitá-los pelo resto do ano letivo.

Resolveu então se dedicar em algo mais produtivo e que já navegava pela sua mente desde que colocara os pés naquele colégio. Precisava contatar a madrinha, Anabelle. Kate não via a tia desde que ela partira para Paris e aquilo fazia uns bons três meses. Ainda assim, a paranoia a atingia como nunca. Não queria deixar rastros. E não seria óbvia ao tentar usar o computador da escola. Concluiu que deveria recorrer a outros métodos. Um percalço, no entanto, se colocava em seu caminho. Um percalço de um metro e meio, cabelos castanhos e muita atitude.

Mary.

–Você precisa ir a uma Lan House? – a garota lhe perguntou com braços cruzados a encarando descrente. - Eu já falei que pode usar o meu computador.

–Não precisa – insistiu Kate, odiando a mania de sua companheira de quarto de ter que saber de tudo. Lamentou não ter mais ninguém mais a recorrer para conseguir aquela informação.

–Melissa, escute a si mesma. – Mary pediu, se levantando da cadeira, onde fazia o dever de casa atrasado que acumulara. - Quem faz isso? Ah, eu já sei. A mulher de setenta e cinco anos do meu curso de francês, porque ela não tem celular, nem facebook, nem email. Ela precisa dos nossos endereços para mandar cartas.

–Trágico, mas ainda assim vou lá – Kate insistiu, se preparando para sair do quarto. Como estava esfriando, pegou um casaco e correu até a porta. Antes que sua mão chegasse até a maçaneta, Mary se colocou na frente.

Kate suspirou e reprimiu a vontade de empurrar a garota que impedia sua passagem.

–Eu não sei por que está fazendo isso. – Declarou Mary contrariada. – Só que não acho seguro sair por aí sozinha sem conhecer as redondezas. Vou te acompanhar.

E sem dar opção de protesto, virou as costas e deixou o quarto. Balançando a cabeça, a suposta Melissa se apressou em acompanhá-la. As meninas cruzaram os corredores do dormitório e agora Kate já conseguia reconhecer alguns rostos e retribuiu acenos. Passaram pelo rigoroso sistema de segurança do colégio com a promessa que em meia hora estariam de volta.

–Estamos quebrando alguma regra?

–Não, Mel – Mary respondeu, se divertindo com a preocupação da colega. – É que não é comum estudantes saírem nos domingos já quase de noite.

–Tem certeza disso? Porque as garotas a nossa frente conseguiram sair sem problemas e bem mais rápido que a gente.

Mary crispou os lábios e apressou o passo.

–Bom, você tem seus segredos e eu tenho os meus.

Aquela frase calou Kate de imediato. Ela nunca esperou que Mary e ela virassem confidentes. Percebera que sua colega de quarto já tinha enfrentado problemas de disciplina e apostaria todo seu dinheiro – se estivesse em seu poder – que eles estavam relacionados à menina que morava em seu quarto antes. O buraco que estava preenchendo.

Decidiu que era melhor assim. Mesmo que May abrisse o jogo, ela não poderia se dar o luxo de contar a verdade. Principalmente para uma pessoa tão instável.

–Você não vai entrar?

Kate perguntou quando Mary não fez menção alguma em entrar na Lan House que ficava a menos de cinco minutos do colégio.

–Não. E de qualquer maneira, você não me mostraria o que veio fazer aqui.

Ela ficara magoada, percebeu Kate com algum peso na consciência. Mas como não tinha contra argumentos, apenas disse que não demoraria e sem rodeios, escolheu um computador vago. A mensagem que pretendia escrever a madrinha já tinha sido recitada silenciosamente em sua mente mais vezes que poderia contar.

“Dinda,

Eu estou bem. Estou viva. Não posso falar o mesmo dos outros. Infelizmente também não posso dizer onde estou por motivo de segurança. A minha e a sua.

Por favor, não procure a polícia. Isso vai piorar a situação.

Volto te mandar notícias assim que puder.

Kate”

Parou de digitar ferrenhamente e analisou a mensagem. Parecia razoável. Mas ainda faltava algo. A prova para que Anabelle tivesse certeza que era mesmo sua sobrinha falando.

“PS: Trincas não são permitidas. “

Isso teria de servir. As duas costumavam jogar baralho até altas horas da noite e essa era a regra de ouro de cada partida. Kate não queria deixar sua colega de quarto ainda mais aborrecida ou desconfiada. Enviou a mensagem, saiu do computador e pagou pelo tempo transcorrido.

–Podemos ir – anunciou ao encontrar com Mary se abraçando pelo vento que começara a se manifestar.

A garota não passou recibo e começou o caminho de volta ao colégio. Sem ter o que falar, Kate apenas a acompanhou e por quase todo o trajeto, ambas permaneceram em silêncio. Quando faltava meia quadra, Mary finalmente se pronunciou:

–Sabe Melissa, eu não te conheço. Mas você não me parece ser uma pessoa má –Suspirou antes de prosseguir - O Adam é uma das pessoas mais especiais que eu já conheci e esse ano tem sido o pior da sua vida. Ele perdeu a mãe, Paul tem agido como um babaca, o pai o ignora. Ele se fechou. Adam nunca foi assim. Eu não sei o motivo, mas quando te conheceu, um vislumbre do meu antigo amigo voltou. E eu quero aquele Adam de volta.

Kate, que tinha as mãos enfiadas no casaco franziu a testa, se perguntando o que tinha a ver com a aquela história.

–Aonde você quer chegar?

Com rabo de olho, notou que Mary estava séria. Mais séria que imaginou que uma pessoa como ela poderia ficar.

–Se você não o quer, por favor não faça joguinhos. Eu não sou burra, sei somar dois mais dois. Você chegou batendo a porta depois daquele seu passeio à tarde e eu vi como ele estava no jantar ontem. O mesmo jantar que você não quis ir. – Ela parou e deu uma encarada em Kate. – Se eu descobrir que essa sua vinda á Lan House foi para prejudicar o Adam de algum modo, eu não vou descansar até você ser expulsa desse colégio. E você vai perceber, pela cama que ocupa agora, que sou muito boa nisso.

E entrou no colégio, deixando uma Melissa estarrecida para trás.

Ela ainda achou que o relacionamento das duas voltaria ao normal, mas para sua surpresa, Mary não só a ignorou no resto do domingo, como em toda a manhã de segunda incluindo a aula que ambas dividiam turma, Álgebra. Na hora do almoço, Kate conseguiu emparelhar com a colega a caminho do refeitório.

–Vai continuar me evitando até quando?

Mary suspirou, como se exigisse um enorme esforço mental participar de uma conversa com ela.

–Já parou para pensar, Melissa, que não sou eu que estou te evitando, é você que não fez nenhum esforço em ser minha amiga? – Ela continuou em passos firmes e decididos fazendo com que a outra tivesse que acelerar o ritmo para acompanhá-la. – Já parou para pensar que talvez o problema não esteja em mim ou em Adam ou em Paul?

Kate parou diante da ofensa. Mary não olhou para trás. Pelo contrário, entrou no refeitório e se sentou a mesa de Adam e Paul. Os irmãos que conversavam sobre algo, pararam e abriram sorrisos com a chegada da amiga. Como todas as paredes do refeitório eram de vidro reforçado dando um aspecto limpo e amplo ao ambiente, Kate conseguia assistir tudo. Em algum momento, os três perceberam que estavam sendo observados e se viraram para ela. Nenhum deles parecia feliz em vê-la.

A multidão se chocava levemente contra ela e a pressionava a tomar uma decisão. Seguir em frente ou sair dali. O que não poderia era continuar imóvel, bloqueando a entrada do refeitório, sendo observada pelas três pessoas com quem tivera contato até agora. E as três a fuzilavam com os olhos.

Kate deu as costas com as palavras letais de Mary se instalando em sua cabeça, torturando-a lentamente. Ela nunca pertencera a lugar algum e mesmo agora, com um novo nome e objetivo, ainda se sentia intrusa em sua própria vida. Talvez sua colega de quarto tivesse razão. Talvez o problema fosse ela.

Sem ânimo para almoçar, se voltou para a biblioteca. Lá ela percebeu que nada havia acontecido com a bibliotecária. A moça de cabelos claros continuava por trás do balcão com a mesma expressão severa. Uma expressão que não combinava com a idade que parecia ter, avaliou Kate distraída. Ela não devia sequer ter quarenta anos, concluiu. A funcionária trazia um crachá junto ao peito com seu nome: Susan.

Logo sua presença lhe chamou atenção.

–O que está fazendo aqui? - ela perguntou em tom curioso. Era bem mais amável sem Burtons por perto.

–Eu não quero almoçar hoje – disse Kate, sem querer entrar em maiores detalhes.

Susan sorriu em solidariedade.

–Adolescentes podem ser cruéis – comentou enquanto começava a agrupar uma série de livros em sua mesa para organizar nas prateleiras ao lado.

–Você nem imagina o quanto – Kate concordou, maneando a cabeça.

Susan parou por um momento o que estava fazendo e a encarou.

–Você esteve aqui com os irmãos Burton na semana passada? – ela perguntou ao que Kate apenas confirmou com a cabeça. Não tinha ideia como havia começado a conversar com a bibliotecária, mas aquele estava sendo um dos únicos momentos agradáveis que teve nas últimas semanas. – Acho que devo desculpas a você e sua amiga pelo meu comportamento daquele dia.

–Não tem problema - a garota tranquilizou Susan, que voltou a tarefa de guardar os livros. – Todos nós perdemos a paciência vez ou outra. E conhecendo os dois, não posso te culpar.

Susan soltou um sorriso enigmático.

–Eles são terríveis, não são? – encarou Kate de soslaio e manteve o olhar fixo em seu rosto. – Espera, acho que eu te conheço de algum lugar...

O sorriso relaxado que se instalara, desapareceu rapidamente do rosto de Kate.

–Acho difícil – ela comentou, dando alguns passos para trás. – Tenho um desses rostos comuns que você encontra em qualquer lugar.

Susan se reteve, encarando-a fixamente.

–Não é isso... Eu juro que já te vi em algum lugar antes, só não consigo me lembrar de onde – Susan chegou a franzir a testa, num esforço em recordar. – Mas algo em você mudou, não sei bem dizer o que...

Kate decidiu que já tinha passado tempo demais naquela biblioteca.

–Eu acho melhor eu voltar, não quero chegar atrasada na próxima au...

O toque do telefone da biblioteca a interrompeu. Susan olhou para o aparelho, contrariada.

–Fique aqui – ela pediu a Kate que assentiu com a cabeça. No entanto, assim que a funcionária tinha se virado para atender a chamada, a garota já saía da biblioteca, buscando a segurança que apenas um refeitório barulhento e apinhado de adolescentes cruéis poderia lhe oferecer.

Susan não lhe procurou um dia sequer na próxima semana. Kate, que havia ficado em estado alerta pelas próximas quarenta e oito horas nem havia tido tempo para se preocupar com a aula de Literatura Clássica que se aproximava e garantia desagradáveis minutos na presença de Adam e Paul.

–Muito bem, alunos. Estou pronto para ouvi-los – anunciou o professor assim que todos se acomodaram em suas cadeiras.

Kate experimentou a sensação de que deixara algo passar. O professor olhava sugestivamente para ela e os irmãos Burton. Para seu espanto, Adam e Paul se levantaram se dirigindo à frente da sala.

–Quando estiver pronta, Srta. Smith – disse o professor já impaciente, achando que ela causaria problemas de novo relacionados ao grupo.

Foi só então que Kate se lembrou. A apresentação do rascunho havia sido marcada para aquele dia, ela foi sortuda suficiente para não apenas ter que trabalhar com Adam e Paul, mas de esse ser o primeiro grupo. Desanimada, se levantou já imaginando todo tipo de humilhação que teria de passar.

Não era sua intenção ficar entre os dois, mas assim que tentara se colocar no canto esquerdo, Paul chegou mais para aquele lado a obrigando a ocupar o espaço do meio, o que só a deixava mais vulnerável. Respirou fundo enquanto ouvia Adam fazer a apresentação do projeto de trabalho e se surpreendeu com seu conteúdo. Eles nunca chegaram a realizá-lo. Quando aquilo havia acontecido?

–Nós pensamos então em finalizar com os relatos da época que Melissa já providenciou para nós - concluiu Adam e Kate se controlou para fingir que aquela informação não era novidade para ela.

Em seguida, Paul falou um pouco do livro através do seu ponto de vista e eles encerraram a apresentação.

–Ela não vai falar nada? – perguntou o professor insatisfeito com a situação.

–Melissa é muita tímida – comentou Paul e Kate sentiu que de algum modo, aquela era uma alfinetada. Na boca do garoto, até o melhor dos elogios soava como a pior das ofensas. – Além disso, ela já trabalhou o fim de semana todo levantando o material que precisamos. Longe de nós sobrecarregá-la.

A ironia era tão palpável em sua última frase que Kate se surpreendeu quando o professor apenas concordou e deu espaço para outro grupo se apresentar. Os três voltaram a se sentar perto um do outro e a garota não aguentou ficar calada por um segundo sequer.

–Mas que merda vocês pensam que estão fazendo? – vociferou ela, tentando manter o volume de voz baixo.

Adam a encarou com uma frieza glacial.

–Sinceramente, acabamos de te salvar de uma detenção. O mínimo que você podia fazer agora era demonstrar sua gratidão – ele retrucou indiferente.

Paul os assistia, deliciado com a intriga. Kate não perderia seu direito a réplica.

–E o mínimo que vocês podiam ter feito era me avisar que fariam esse trabalho no final de semana para que eu pudesse ajudar e não ficar sem saber o que falar hoje.

–Sinto muito, Melissa. – disse Adam e seu tom despreocupado provocou efeito contrário. – Mas achei que você já estivesse ocupada julgando os outros em tempo integral. Não queria te tirar de suas funções.

Kate lamentou estar dentro de uma sala de aula e não poder dar vazão ao que tinha vontade agora. Que era pular no pescoço de Adam e estrangulá-lo. Estreitou os olhos, pronta para lançar alguma resposta muito mal educada quando o professor se aproximou do grupo.

–Gostei da apresentação, meninos – Ele elogiou e Kate quase revirou os olhos diante da óbvia tentativa de agradar os irmãos Burtons. – Só gostaria de pedir para que nos próximos encontros deixasse que a Srta. Smith participasse um pouco mais.

Adam e Paul concordaram com sorrisos relaxados como se todos fossem grandes amigos. Eram camaleões sociais. Diferentes da garota, que permaneceu com a expressão apreensiva. O professor se afastou, para encerrar a apresentação do grupo que estava à frente da sala. Logo depois pediu para que os grupos continuassem a discutir sobre seus tópicos.

Só que a última coisa que Kate tinha a tratar com seu grupo era literatura. Na verdade, se ligava a livros de certo modo.

–Percebo que não fizeram nada em relação à bibliotecária – ela comentou, erguendo a sobrancelha. O comportamento dos dois parecia mais suspeito a cada segundo que passava. – Ela ainda estava lá na segunda.

–Não, já cuidamos disso – declarou Paul seco.

–E o que fizeram? – Kate exigiu saber.

–Você já deixou claro que isso não é da sua conta – Adam a lembrou. – Não volte atrás agora que tudo está no seu devido lugar.

–Devido lugar?

–Você conseguiu toda a distância que queria. Tanto queria afastar as pessoas de você que finalmente conseguiu. – explicou Adam sem encará-la. - Mesmo Mary que é mais pacífica entre nós.

Já Paul a encarava fixamente. Kate rapidamente se incomodou com aquele olhar invasivo sobre si.

–Você deve estar muito satisfeito com tudo isso – ela comentou ao que o garoto sorriu mais abertamente.

–O que eu acho mais divertido nessa história é que você acha que eu me esforcei tanto para mostrar a todos a grande farsa que você é – Ele parou para uma risada seca que revelava todo seu desprezo. - Mas quer saber, eu não tive que mover uma palha. Você fez tudo sozinha.

A Kate de semanas atrás teria saído correndo depois de ouvir tais palavras. Mas essa garota que havia enfrentado o inferno nas últimas semanas não se dobraria tão facilmente. Aquela garota se chamava Melissa e tinha uma tenacidade, uma força que a Kate do passado jamais sonharia possuir.

–Escutem – assim, ela chamou a atenção dos dois ao mesmo tempo. – Vocês não gostam de mim. Não vou perder o sono por causa disso. Mas se eu tenho que passar por todo esse trabalho com vocês, existe algumas regras.

Adam apenas piscou, sem esboçar reação alguma. Paul colocou a mão no rosto, incrédulo com o que acabara de ouvir.

–Em que mundo a parte que você vive, onde realmente acredita que tem algum poder de decisão?

–No mundo real, Paul. Onde nem todo mundo tem que aturar dois garotos mimados dando ordens por aí – Kate replicou sem pegar fôlego. – Minhas regras são simples, então acho que nenhum de vocês terá dificuldade em entendê-las. Se tiver alguma reunião para o trabalho, eu quero participar. Se vocês mudarem alguma coisa na apresentação, eu serei avisada.

–Você realmente ainda não percebeu com quem está lidando. Com tantas dicas, tantas provas ao seu redor, você ainda não faz ideia.

–Não, Paul. Você entendeu errado. Eu sei com quem estou lidando. Eu só não me importo. –retrucou Kate numa atitude tão desafiadora que percebeu que as mãos de Paul se fecharam em punhos fechados. Uma veia de seu rosto saltou e ela se lembrou de que Adam exibiu uma reação semelhante na discussão de dias atrás.

–Vai se arrepender disso – Paul o avisou e havia um brilho diferente em seus olhos, como se ele fosse um predador que acabou de escolheu sua nova vítima.

–Suas ameaças não assustam mais ninguém – Kate o enfrentou.

–Pergunte isso à Susan.

A garota o encarou e por alguns segundos, o seu ar de confiança sofreu um abalo e vacilou.

–Eu a vi na segunda. Ela estava bem – falou, mas a certeza que antes tingia sua voz desaparecera.

O sinal soou e Adam rapidamente sacou sua mochila, saindo da sala sem esperar para ver como a conversa dos dois acabaria. Paul colocou sua mochila nos ombros com uma lentidão dolorosa a Kate, que só esperava o que ele tinha a dizer. Fez menção de cruzar a porta. Antes disso, no entanto, destilou o restante de seu veneno.

–Espero que não ela não tenha te emprestado nenhum livro, porque agora ela jamais o terá de volta.

Kate não pode evitar arregalar os olhos com aquela insinuação. Seu passado de alguma forma estava entrelaçado com Susan. E se algo tivesse acontecido à bibliotecária, ela poderia ficar sem saber qual a relação era essa.

Agarrou sua mochila e partiu colégio afora, numa corrida desesperada para chegar à biblioteca. Ela perdeu a conta de quantas vezes esbarrou em alguém ou se chocou em algum ombro. Os estudantes já abriam caminho para a menina que corria como se sua vida dependesse disso.

Talvez dependesse.

Chegou à biblioteca e seus ombros caíram em alívio quando viu o trás de cabelos claro, ela se aproximou.

–Susan. – Kate a chamou, esperançosa.

Mas quando a pessoa por trás do balcão se virou, ela percebeu que era o rosto de outra mulher. Estava prestes a perguntar o óbvio e a desconhecida acabou sendo mais rápida

–Susan não trabalha mais aqui.

–/-

–Chefe, temos em mãos o registro de uma garota que se cadastrou no Orfanato perto do hotel do tal de Charlie. Foi o último rastro que a garota Harrison nos deixou. O nome que ela forneceu foi Melissa Smith.

O homem de terno branco se virou se sua cadeira. Tinha as mãos nas têmporas e o rosto guardava as marcas de noites mal dormidas.

–E então?

–Acontece que segundo o hacker que contratamos, alguém acessou a conta do email de Kate Harrison no último domingo, por volta das seis da tarde. O sinal veio de um computador em um estabelecimento ao lado do Colégio Wilshire.

O homem se aprumou na cadeira, os olhos brilhantes de expectativa.

–Mas isso não é possível? Como ela saberia...

–Ela não sabe. O orfanato recentemente transferiu parte de seus moradores para o internato, por causa de algum projeto filantrópico.

O homem socou a lustrosa mesa de madeira, cuja cor contrastava com todo o restante da sala em branco.

–Teremos que envolver pessoas que não queríamos nisso – ele comentou, puxando com raiva o próprio cabelo demonstrando todo seu descontentamento com a notícia.

–E é melhor se apressar, Chefe. Kate Harrison contatou a tia. Percebe como isso pode ser um problema em seus caminhos. Principalmente se considerarmos que...

–Sei muito bem o que Anabelle saber disso pode significar.

–E ela está correndo para resgatar a sobrinha.

–Com isso, eu não me preocuparia. – o homem sacudiu os ombros, despreocupado - Eu também estou a caminho de Harrison. E eu vou chegar primeiro.

Ergueu-se, colocando as mãos no bolso de seu terno e encarou as chamas superficiais de sua lareira digital.

“Estamos chegando, Harrison.”


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Notas finais do capítulo

Olá de novo!
Vários avisos para dar!
O primeiro é que já fiz a lista de todas músicas que usei para a fic, quem quiser saber me manda um comentário. A desse capítulo foi o Cd da Marjorie Estiando de 2005 e a "You remind me", do Nickelback.
Depois, quero agradecer efusivamente a todos que estão acompanhando, todos que comentaram e estão me dando força para continuar essa história.
Por fim, quero lançar um pedido: Por favor, se você está lendo isso e pensa em sair sem comentar. Eu quero saber o que você está achando. Quero e preciso. Então, vá em frente, sou uma pessoa legal, prometo! :)
É isso, gente. Penso em postar o próximo na próxima quinta!
Beijinhos!