CAPÍTULO 3 - ELIZABETH

Estou chateada com o fato de William não ter aceitado o que seu pai propôs. Tenho certeza de que Will também está chateado, queria que fôssemos para lá, mas o que eu posso fazer? Obrigar meu filho a viver onde não quer? Abandonar uma criança de 9 anos nessa praia deserta? Não. Eu seria a pior mãe de todas em ambos os casos. Procuro uma solução, mas não acho. Quando percebo, lágrimas ameaçam cair de meus olhos. Will abre os braços para mim e eu vou, sem pensar duas vezes. Nos abraçamos e ele me beija na testa.

– Vamos dar um jeito. - ele sussurra em meu ouvido. - Prometo.

Sorrio para meu marido e olho para nosso filho, que se distraiu com uma concha. O mar sempre o fascinou, desde muito pequeno. Isso é uma das muitas coisas em comum com o pai. As coisas que me lembram Will em William eram tantas que não sei nem quantas vezes me peguei olhando para meu filho e vendo seu pai. Tem o mesmo jeito romântico e cabeça dura de pensar. Isso só me traz problemas. Será muito difícil convencer William a ir. Tive uma ideia! Preciso contá-la a Will.

– Will. - chamo - Tive uma ideia para fazer ele ir. - digo sorrindo.

– Sério? - ele diz sorrindo e eu afirmo com a cabeça. - Conte-me, pelo amor de Deus.

– Bom, vai demorar um pouco para podermos estar juntos, - vi seu sorriso desaparecer - mas prometo que ficaremos juntos. A ideia é a seguinte: William só terá a opção de escolher o melhor depois que conhecer os dois, certo?

– Certo.

– Então que tal se passarmos esses próximos 10 anos em terra e depois vamos para o mar? Assim ele poderá vivenciar melhor os dois lugares.

– Concordo. - ele disse com um sorriso triste - Infelizmente vai demorar muito para ficarmos juntos. – e entrelaçou seus dedos nos meus.

– Eu sei. - agora o sorriso triste é meu - Mas pelo menos ficaremos juntos e, mesmo que ele não queira ficar no mar, ele já será bem grandinho para se cuidar sozinho.

Will cai na gargalhada.

– Também, pudera! Queria que um marmanjo de quase 30 anos ainda dependesse da mãe? - Will diz brincalhão e eu começo a rir.

William se aproxima de nós curioso, possivelmente achando que somos loucos.

– Filho, - chamo e ele vem ao meu encontro - eu sei que é impossível escolher entre dois lugares que não conhece tão bem. Então que tal fazermos assim: vamos passar mais 10 anos em terra e depois seu pai vem nos buscar para 10 anos no mar. No fim, você se decide onde quer ficar. Saiba que, independentemente de sua permanência no mar, eu ficarei ao lado de seu pai.

Ele concordou com a cabeça e veio me abraçar.

O resto desse dia se passou muito rápido: conversamos muito, nos beijamos também e tivemos uma linda tarde romântica. Claro que William não estava conosco. Passou o dia conhecendo o avô, deixando-me à sós com Will pela primeira vez em dez anos. No fim desse dia maravilhoso, tive que me despedir de meu marido novamente. Tive de observá-lo partir novamente. Pelo menos desta vez eu não estava sozinha. Mas, mesmo não estando sozinha, senti a mesma tristeza de dez anos atrás e fui capaz de sentir meus olhos marejando e o calor de lágrimas descendo pelo meu rosto. Não tenho certeza se consigo por mais dez anos.