_Eu não tenho certeza, mas acho que não...

_Sabe, eu acho que mesmo se você quisesse ir agora, não podia. Pelo menos não pode ir buscar suas coisas, porque quem tem sua chave sou eu. Agora falando sério, se você fosse embora iria para onde? Para casa de sua tia?_ Ela me olhou com expressão confusa e começou a falar.

_ Como você sabe disso? Esteve lendo sobre minha vida?_ Ela falou com um sorriso provocador.

_Eu por acaso leio alguma coisa? Hum?

_Você acha que eu não vi seus livros quando fui a sua casa? Acha que sou cega? Se não queria que ninguém soubesse era melhor escondê-los num lugar me....

_Eu sei que você é "cega". Lysandre e Sky me falaram disso quando me contaram aquilo da sua tia. Não quer ir comprar uns óculos ou lentes? Qualquer dia ainda bate contra um poste...

_Hey! Eu consigo ver perfeitamente bem! Ao perto e ao longe! Quer que eu mostre? Não consegue ver aquela rapariga loira com um vestido castanho claro com manchas azuis???_ Ela disse apontando para uma direção onde apenas se encontrava uma velhota de cabelo branco que usava um vestido branco cheio de flores horríveis azuis. Acabei não aguentando e comecei rindo, realmente ela via perfeitamente.

_Você só pode estar brincando..._ Disse entre risos._ Aquilo é uma velha... Você tem de ir comprar mesmo alguma coisa para começar a ver melhor....

_Isso não interessa...! Agora que me lembro, você disse que foi o Lysandre e a Amanda a falarem com você??? Tipo... os dois juntos?

_Sim, foi o que eu disse... porquê?

_Sabe, conhecendo a Sky como conheço, ela não iria falar juntamente com o Lysandre se ela não confiasse minimamente nele... Você acha que ela é o tipo de garota de Lysandre?_ Ela falou com um sorriso bem malandro no rosto...

_Você quer roubar o lugar de casamenteira à Rosalya? Olha que ela não gosta nem um pouco de concorrentes... Mas, respondendo à sua pergunta, ele se apaixona com muita facilidade, você até é uma prova disso... Por isso, acho que qualquer garota é do tipo dele... Com algumas restrições... Mas não fique pensando mal dele, ele apenas vive muito naquele seu mundo perfeito cheio de poemas e etc...

_ Meio aluado? Ótimo!, de certeza que eles se vão dar muito bem, tenho de dar essa notícia à Royals!_ Ela disse totalmente contente e animada enuanto saltitava na cadeira, o que a fez parecer uma simples criança.

Enquanto ela teclava alegremente no seu telefone, veio o empregado de mesa juntamente com os nossos almoços. Ela continuou teclando e quando acabou olhou para mim sorrindo e depois olhou para o seu prato, trocando o seu sorriso por uma expressão pensativa.

_Porque está sendo tão gentil comigo?_ Ela falou enquanto continuava olhando para o seu prato.

_Por que... Bem, se nós estamos juntos, não podemos ir almoçar os dois não?

Depois de ela ter ouvido isto levantou a cabeça e ficou me olhando, o que me deixou um pouco sem jeito...

_Sinceramente, eu não me lembro mesmo de ter dito nada... _Ela falou com um olhar reprovador mas com sorriso desenhado no rosto... Aí, eu consegui perceber o porque de ela ter dito isso.

_Então, você aceita namorar comigo?_ Enquanto dizia isso ouvi um barulho de vibração, provavelmente do telefone dela. Ela o desbloqueou e falou.

_Não sei, você é muito chato e difícil de aturar...

_Hey! Você estragou o clima...

Ela olhou o telefone com uma cara desconfiada... Consegui ver os seus olhos se mexendo de um lado para o outro, provavelmente lendo a possível mensagem que tinha recebido. Ela se levantou e olhou para mim. Lágrimas se tinham formado juntamente com um sorriso irónico.

_É... *snif*, eu estraguei mesmo.

Ninguém disse mais nada. Ela apenas pegou seu casaco e foi embora, o que me deixou ver que as lágrimas não tinham sumido, muito pelo contrário. Eu podia ter dito alguma coisa, ter feito alguma coisa. Mas não fiz. Apenas fiquei plantado naquele sítio. Quando ela passou por aquela velhota, consegui vê-la abrandar e olhar para a mulher durante alguns segundos, até se perder no meio das pessoas.

Sabe aquele momento em que por mais que você pense não consegue chegar a uma conclusão? A uma resposta? Acho que isso já faz mesmo parte da humanidade.

Coloquei o dinheiro na mesa e fui embora, tinha perdido totalmente o apetite. Fui andando para casa e começou chovendo. Só podem estar mesmo brincando... Estamos quase em pleno verão e vai chover logo hoje? Logo agora? A isto eu chamo sorte.

Até podia dizer que quando cheguei a casa estava encharcado, mas realmente acho isso desnecessário. Fui secar o cabelo e mudar de roupa. Enquanto tirava o telefone, senti algo metálico. As chaves... pensei. Tanto trabalho que tive para encontrá-las...

Algumas memórias...

[...]

_Sim, Jo, não sei se sabe, mas não é bom faltar às aulas!

_Olha quem fala...

_Sim, mas comigo é diferente, já é normal eu faltar, faz parte da minha rotina. Só que eu não faltei no meu segundo dia de aulas... Já agora vais ficar nesse lugar sentada muito tempo?

_Porque? O senhor fósforo andante quer se sentar aqui? Desculpe mas não posso sair...

Ninguém me chama fósforo, nem outra coisa qualquer. Peguei nela ao colo enquanto ela esperneava e coloquei-a longe. Depois fui me sentar no meu lugar, até que ela veio e sentou-se em cima de mim...

_O que se passa Castiel? Eu avisei que não ia sair!

_Ou então não quer sair de ao pé de mim!

_N-Não seja b-bobo...

[...]

_Castiel???? Sorri para mim?

_Hhummm???? O que?

_Diz "vodka"!

_Vodka???_Ela tirou uma fotografia_ O que é que se passa? Porque é que você está rindo?

_Eu estou rindo da sua cara! Do que seria? Realmente você é fotogénico!_ Ela virou o telefone para mim e eu pude ver a fotografia_ Não ficou bonitinho?

_O-Oque?_Eu apalpei a cabeça e senti um altinho_ Diga-me que eu não tenho um elástico na cabeça...

_"Uma baleia vermelha deu à costa" e... Postar! Realmente esse "repuxo" fica bem na sua cabeça!

_Você não postou né?_Ela mostrou a tela do telefone outra vez_ Eu te mato!

Eu levantei-me e fui a correr atrás dela e, como é óbvio, ela também começou a correr. Ali nós tínhamos muito espaço para correr e dificilmente eu a iria apanhar. Parecíamos duas crianças a brincar à apanhada até que ela tropeçou e acabou por cair no chão.

_Hahahahhaha!_Eu corri até ela e fiz com que ela se senta-se no meu ombro_Onde é que você guarda o telefone?

_Nem um "Está tudo bem com você?" ou um "Se machucou?" ?

_Não! Agora vá, apague a foto e a publicação!

_Me obrigue!

_ Se é isso que você quer_ Eu agarrei-a e comecei a leva-lá para perto do corrimão e inclinei-me para o chão_ Então, onde é que você guarda o telefone?

_Não sei... eu esqueci!_ Eu aproximei-a mais do chão, eram à volta de dois andares de altura_ Hhhummm...... você não me ia deixar cair...._ Eu soltei-a por um pouco e depois voltei a segurá-la._C-Castiel, PARE COM ESSA MERDA! SE VOCE ME DEIXAR CAIR.... _Eu a larguei de novo e aí ela agarrou-se ao meu pescoço e cruzou as pernas ?a minha cintura.

_Que está fazendo?

_Eu estou a prevenir o meu encontro com a morte, não é óbvio?

[...]

_Há muitas coisas coisas que você não sabe sobre mim..._Eu a olhei sério_ Q-Que foi?

_O que você disse ao Lysandre é verdade?

_O que é que eu disse ao Lysandre?

Então vai fazer-se de desentendida, realmente era mesmo o que eu estava a precisar. Respirei fundo e expliquei.

_Você não acho estranho não ter ir parar ao hospital após cair de dois andares?!?_ Ela abanou um pouco a cabeça como se estivesse a pensar e depois assentiu._Não acho estranho ter ido parar a minha casa? Eu estava lá em baixo quando vocês estavam conversando. A culpa não é minha de eu ter estado a ouvir, se estiver ofendida fale com Lysandre. Mas não é isso que importa. O que você disse era verdade?

Ela se levantou e começou a levantar a mesa até que respondeu.

_Ahhhh..... Pois... Unhhhhh.... Eu nã...... Annnhhhh... Nunca a....... Ahhh.... T-Talvez.

_Então como eu posso ter certeza?_ Ela pousou as coisas e eu dei um passo na direção dela._ Você não me vai dizer?_ Eu dei mais alguns passos enquanto ela ia recuando até ficar totalmente encostada à parede.

_N-Não.

_Então tenho de ser eu a descobrir._Provavelmente fiquei com um sorriso manhoso no rosto mas era impossível não ficar, ela estava com uma cara tão.... engraçada e fofa, eu acho._ Então, se você me odiasse não me ia deixar fazer isto._Eu dei-lhe um beijo na bochecha.

_Você babou minha cara!

_Espera um pouco..._Eu passei a língua no sítio onde a tinha "babado"._Melhor assim?

Ela corou um pouco, mordeu o lábio inferior e olhou para mim séria. Realmente me deu vontade de rir mas eu me segurei. Ela passou a mão na cara que agora deve estar mesmo molhada e esfregou a mão nas calças. Aí ela pôs-se de biquinhos de pés e me beijou. Ela não era muito baixa, talvez uns 10 centímetros mais pequena do que eu. Ouviu-se um som de telefone, provavelmente o dela.

Ela se separou de mim e disse: "Isto responde à sua pergunta?" e seguiu o som do seu telefone até ao quarto.

[...]

Quando as raparigas estão mal com a vida, cortam-se. Quando os rapazes estão mal com a vida, bebem. Realmente, não ia ser um pouco estranho ver um rapaz todo cortado? Sim, ia. E um rapaz todo bêbado? Acho que não.

Não que eu costume beber, mas pode-se dizer que tenho sempre umas garrafas de reserva. Nunca cheguei a ficar totalmente pedrado, apenas desmaiei uma vez. Há pessoas que bebem para esquecer os problemas... talvez eu faça isso... só há apenas um problema: não é só dos problemas que me esqueço, eu não consigo mesmo me lembrar de nada do que acontece quando bebi...