Open Your Heart escrita por Ally Faria


Capítulo 32
Pode vir quente que eu estou fervendo!


Notas iniciais do capítulo

Gente lindaaa da minha vida ♥ Olha eu aqui ♥
Estou triste... sério. Pouca gente comentou o capitulo passado. Cadê meus leitores maravilhosos? Estou com saudade ☺

Enfim... Quem ouviu a boa nova? A Laura vai lançar o primeiro single (Boombox) em breve. Orgulho dessa diva.

E mais.... ah sim. A pedido de uma leitora, eu dividi também esse capitulo, pelo simples facto dela me ter dito que prefere capítulos pequenos. Esse capítulo já estava com 10.000 palavras, então já devem imaginar o tamanho.
Mas e vocês? O que acham? Preferem capítulos pequenos ou capítulos grandes?

Enjoy do capítulo... vai ter uma revelação... ihihih não pensem besteiras.



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POV Ally

Acordei sobressaltada a meio da madrugada. O meu coração batia forte no peito, as minhas mãos tremelicavam e no meu rosto escorria uma cortina suor. Com os olhos semicerrados, olhei ao redor, tentando focalizar algo que não estivesse coberto pela escuridão da noite. Nada!

Saí da cama com os braços esticados para a frente, de modo a evitar que eu chocasse com algum objeto, e segui em direção ao interruptor da luz. O impacto da claridade repentina que invadiu o quarto, assim que liguei a luz, me deixou vesga por longos minutos. Rodopiei a cabeça de um lado para o outro, que nem uma barata tonta e respirei fundo.

Encostei o corpo no batente da porta e bocejei. Não sabia o que me tinha acordado – se fora um pesadelo, um ruído ou coisa do género -, mas eu não tinha vontade de voltar para a cama, apesar de estar morrendo de sono. E isso me irritava profundamente!

Observei Romeu, o meu gatinho preguiçoso, dormindo com serenidade no tapete ao lado do meu criado-mudo e senti uma leve inveja. Resignada e com um humor péssimo, andei até ao pobrezinho e rosnei no seu ouvido. Obstinado, o filho da mãe abriu um olho preguiçosamente, olhou pra mim e voltou a dormir como se a minha presença fosse insignificante.

Sorri como uma desvairada e arranquei o gato do seu sono, carregando-o nos meus braços para fora do quarto.

—Se eu não durmo — enfiei a unha no narizinho molhado dele. — você também não.

Não adiantou de nada gastar a minha irritação com o gato. Era inútil! O filho da mãe adormeceu em três tempos e nem com abanões grotescos ele se dignou a acordar. Hipócrita!

Rastejei os pés pelo chão, obrigando-os a me levarem até à cozinha. Por que para ser honesta: os meus olhos estavam abertos, meu corpo estava se mexendo, mas toda eu ainda estava, de certa forma, dormindo.

Uma rajada de vento pairou sobre o meu rosto e eu praticamente esmaguei o Romeu nos meus braços, para puder esconder a face no seu pêlo fofinho.

Cheguei na cozinha e joguei o gato em cima da bancada. Meu cérebro ainda estava em modo de suspensão. Ou seja, qualquer dano futuro não seria culpa minha!

Romeu se levantou, andou em círculos sobre a bancada e enfim, voltou a deitar todo aconchegado. Soprei na sua orelha só para o irritar. E eu podia jurar – estou falando sério – que ele me olhou torto. Isso era possível, certo?

Abri a torneira da pia e esfreguei o rosto com a água gelada que corria. Nada melhor para acordar do que isso. Mentira! Me arrepiei de tal maneira, que quase caí dura no chão.

—Ai, Romeu, Romeu…— fiz uma pausa dramática, colocando uma mão no peito e outra na testa. Devia estar com cara de embriagada naquela hora. - … acorda meu grandessíssimo sacana, antes que eu te dê um chute… Romeu.

Comecei a rir feito louca da minha própria piada, totalmente, sem graça. Fiquei sem ar, meu peito ficou em chamas e quase tive um treco… mas ri com vontade! Oh se ri. Eu sou doente, só pode!

Parei de rir quando me senti completamente esbaforida, mas as risadas continuaram a ser propagadas pela casa. Cocei a cabeça confusa. Eu estava com sono, mas não estava bêbeda.

Ouvi mais um conjunto de risadas e só enfim, - depois de meu cérebro quase entrar em combustão espontânea - é que eu me apercebi de que as risadas não eram minhas, mas sim de outra(s) pessoa(s).

—Que porra…—murmurei de olhos arregalados.

Mais risadas se ouviram. Homem e mulher. Descartei logo a hipótese de serem Brady e Rydel, porque vamos combinar que a risada de gazela do meu irmão era inconfundível. E, por outro lado, cada risada do meu pai era diferente da anterior, por isso…

Subi, com algum esforço, em cima da bancada e abri um dos armários que ficavam lá no alto. Peguei numa frigideira e me preparei para o ataque. Não sem antes acordar Romeu, mais uma vez. Pequei no seu corpinho fofinho e coloquei-o em cima da frigideira, como se ele fosse uma arma. Às vezes tenho pena desse animal!

Andei pé ante pé até à sala, quase sem respirar para não fazer barulho. E dei de cara com a situação mais inesperada de toda a minha estranha e conturbada vida.

Imaginem a seguinte cena: como seria se vocês dessem de cara com o vosso pai - solteiro, livre e desimpedido - atracado com uma mulher desconhecida, bem no meio da vossa sala de estar?

Provavelmente, vocês ficariam em choque e sairiam de fininho para não serem pegos numa das situações mais constrangedoras que se pode imaginar. Mas eu?! Eu não!

Pousei Romeu no chão e cruzei os braços no peito, mantendo ainda a frigideira na minha mão direita.

Elevei a sobrancelha e após pigarrear em alto e bom som, falei:

—Oh, pai!— chamei, engolindo a vontade de rir. — O senhor tem um quarto lá em cima, sabia?

Apanhei-o de surpresa. Seus olhos pareciam querer saltar do rosto. Os dele e os da mulher. Ambos tinham os lábios inchados e as roupas amarrotadas. Não vou nem falar do cabelo da mulher.

Meu pai olhou pra mim – todo envergonhado, todo assustado - e o vi engolir em seco, antes de falar:

Filha?— sua voz assustada me deu uma vontade de rir imensa. Mas me controlei.

—Eu mesma.— respondi num tom abusado e de indiferença. Mantive minha sobrancelha erguida, pois eu sabia que o intimidava.

—O que você está fazendo aqui?— ele quis saber, enquanto tentava esconder a pessoa intrusa atrás das suas costas. Tontinho!

—Até onde eu sei, eu moro aqui.— respondi, mantendo a minha língua ferina pronta para o ataque.

—Sim, pois claro.— meu pai murmurou, olhando para todos os lados, como se buscasse um buraco onde pudesse esconder a cabeça.

Você não é uma avestruz. Quase falei isso para ele.

Caminhei até ao sofá e apoiei meus cotovelos no encosto. Observei o rosto da “namoradinha” do meu pai à descarada. Cabelos pelos ombros, negros e cacheados; baixinha, mas elegante; olhos castanhos escuros, meio puxadinhos; e traços bem definidos e estranhamente familiares. Eu conhecia alguém parecido com ela. Mas quem?

—Está boa a noite, hein?— pisquei o olho para a mulher e sorri maliciosamente. E eu podia ter resistido, mas não consegui evitar usar uma boa dose de ironia. Era a minha especialidade. – Se bem que pela hora, o termo correto seria madrugada. Safadinhos. São horas?

A mulher se encolheu, toda encabulada, com o rosto mais vermelho que tomate. Uma gracinha!

—Ally!- meu pai me repreendeu, percebendo o desconforto da sua companhia noturna.

Olhei-o, relaxando a expressão maldosa e pisquei inocentemente.

—É o meu nome.— sinalizei a mulher de novo como alvo. — E o seu nome qual é?

Ela pareceu surpresa pelo meu interesse, em querer saber o seu nome – tão inocente ela - e respondeu com uma frase típica e barata:

—Isso não é importante.

Ela estava tentando fugir da parada. Mas como é óbvio, eu não ia deixar.

—Que é isso, minha filha? Para mim é muito importante saber o nome da namorada do meu pai. — fiz questão de dar realce à palavra “namorada”.

Vi o rosto do meu pai ser invadido pela cor vermelha e uma fumacinha imaginária sair pelo nariz e ouvidos dele.

—Ally. — ele advertiu de novo.

Adotei uma postura empertigada e apontei a frigideira - que sim, eu ainda tinha nas mãos – para o rosto dele.

—Pai eu já sei o meu nome faz tempo. Não tem necessidade do senhor relembra-lo, de 5 em 5 segundos.

Ele rosnou como um leão e levou as mãos ao cabelo, escasso e em tons acinzentados.

—Eu vou indo.— avisou a mulher, percebendo o clima de picardias que se estava desenvolvendo.

—Sem dizer o seu nome?— disparei na hora, como se a estivesse repreendendo.

—Ally.— rezingou meu pai.

—Ih, está chato isso. — reclamei, desafiando-o a retaliar a provocação.

—Eu tenho mesmo que ir.— falou a mulher, chamando a nossa atenção.

Fiz cara de inocente e recolhi o lábio superior, fazendo beicinho.

—Atrapalhei, né? — perguntei, sendo mais doce que mel. – Foi mal…

A mulher pareceu se sensibilizar pela minha imitação barata de “gato das botas”.

—Não docinho, tudo bem…— ela sorriu toda carinhosa e continuou: - …eu já estava de saída mesmo.

—Não parecia.— respondi rapidamente, mordendo o lábio de um jeito safado.

—Allycia Marie Dawson. — gritou meu pai, colocando as mãos na cintura.

—Ih, agora até já fala o meu nome todo. Está bonito, está! – ironizei. – Pai, o amante de queijo aqui é o Brady, não eu!

—Me dê paciência meu deus.- murmurou ele, jogando os braços para o alto.

—Pede também para Deus te dar aulas de boas maneiras. – sugeri, provocando-o na lata. – Que vergonha meu pai. É assim que o senhor quer dar exemplo aos seus filhos? Se atracando com uma desconhecida no meio da sala?

—Que foi que eu fiz para merecer isso?

Era uma pergunta retórica, mas eu morria se não respondesse.

—Também não sei. Mas com uma filha como eu… com certeza você é um homem realizado. –sorri ainda mais. - Oh, homem de sorte.

Meu pai me fuzilou com o olhar. Eu estava realmente me divertindo.

—Lester, eu já vou indo. – a mulher avisou, com um sorriso forçado no rosto.

—Ah, já vai? – perguntei, fazendo um pequeno drama.

—Vou. — ela respondeu simplesmente.

Ela se aproximou de mim relutante, para pegar a mala que estava jogada no sofá. Seus olhos me observavam como se eu fosse um predador. Ela esticou a mão lentamente e recolheu a bolsa, apertando-a contra o peito.

Com passos tímidos, ela voltou a se aproximar do meu pai e lhe deu um selinho, mantendo-me sobre mira. Murmurou um “tchau”, mas meu pai não respondeu.

Sorri toda provocante e alertei:

—Não vai se despedir da sua namorada pai?

—Não somos namorados. –responderam os dois ao mesmo tempo.

—Ah, vão me dizer que são só amigos?— perguntei, mantendo a voz repleta de ironia.

Sim. — responderam de novo em uníssono.

—Estranha essa vossa amizade. – comentei, dando a volta ao sofá para me sentar. –Se for assim, então vou começar a beijar os meus amigos também… na boca claro.

—Allycia. – meu pai pulou, todo desconcertado.

—Prefiro Ally.

Ignorei os olhares mortíferos na minha direção e caminhei calmamente em direção à cozinha. Até que a resposta que eu procurava me bateu de frente. Uma fotografia minha com a Rydel, a Debby e a Trish, que adornava um dos móveis que tinham espalhados pela casa, foi a chave para resolver o meu dilema. Por isso eu achava a mulher familiar.

Voltei para trás, mesmo a tempo de ver o meu pai se despedindo da, até então, desconhecida com um beijo. Amigos… sei!

Tchau! — gritei chamando a atenção dos dois. – Mande cumprimentos meus à Trish.

A mulher arregalou os olhos, surpresa. Contudo, concordou com o meu pedido, balançando a cabeça meio que em modo automático. Bem que a Trish falou que achava que a mãe andava saindo com alguém. Só não achei que, esse alguém fosse o meu pai.

Voltei saltitando para a cozinha, mas ainda consegui ouvir um “Como é que ela consegue?” vindo do meu querido pai.

Bebi um copo de água, corri para a sala, peguei no meu lindo Romeu e voltei para o quarto, saltando as escadas, de dois em dois. Não estava a fim de ouvir um sermão de meu pai por ter intimidado a namorado. Não depois de me ter divertido tanto.

Missão cumprida! Soninho voltando com força! Hora de voltar a sonhar com o meu loiro!

Ouvi os chamamentos do meu pai na porta do meu quarto, mas o ignorei completamente. Mergulhei em baixo dos cobertores e me perdi de novo num sono profundo.

*****************************************************************************

Tem dia melhor do que a segunda-feira? Óbvio que sim. A segunda-feira é como um pesadelo na vida de qualquer estudante. Ainda pra mais quando mal se dormiu na noite anterior, para poder atormentar a namorada de um pai muito carente, e agora possivelmente furioso.

Lamúrias à parte… acordar foi uma tarefa difícil, mas suportável. Embora, tenha sido necessário que Brady me levasse ao colo para o banheiro e me penteasse os cabelos após o banho. E não gente – parem de pensar besteiras seu bando de perversos –, ele não me viu tomando banho e nem me viu sem roupas, eu estava enrolada numa toalha, bastante grande por sinal. Cruzes credo, eu ainda tenho dignidade!

— Brady! – chamei, sem um pingo de serenidade. Minha paciência estava desfilando numa corda bamba, suspensa sobre um penhasco. Dois segundos bastavam para extinguir este sentimento, que sempre foi uma raridade em mim.

Meu irmão colocou a cabeça numa frincha da porta, observando-me com um olhar repleto de palavras que eu não posso dizer, por serem tão insultuosas. E expelindo raiva por todos os orifícios do seu corpo, rezingou:

—O que você quer agora sua chata?

Pendi a cabeça para o lado direito, observando a selva em forma de cabelo que aquele garoto transportava em cima da cabeça. Eram fios de cabelo para um lado, fios para o outro…

Sorri criticamente, mas não disse nada em relação à aparência selvagem de meu irmão. Um milagre, eu sei! Em vez disso, refiz minha expressão, passando a sorrir feito garota de telenovela e apontei para o meu armário.

—Pega uma roupa pra mim? — pedi.

—Mas, eu tenho cara de seu empregado? — interrogou ele, movendo o corpo para dentro do quarto, numa postura de indignação. – Que eu saiba você não está incapacitada.

—Macaquinho…

Ele caminhou até a mim, sua expressão representava pura raiva. Seu dedo indicador foi erguido na minha direção, ficando a milímetros do meu nariz.

—Se você contar isso a alguém – seu olhar ameaçador se intensificou. – eu te mato!

Um sorriso maior que o decote da Kira se abriu no meu rosto. Brady revirou os olhos e foi pegar uma roupa para mim, rezingando o tempo todo. Depois falam que eu é que sou mal educada. É preciso ter lata!

—Macaquinha dos infernos! — falou ele, jogando as roupas na minha cara.

—Mas você me ama. — joguei minhas costas na cama e cruzei os dedos atrás da cabeça, sem retirar o sorriso presunçoso dos lábios.

Brady se aproximou de novo de mim e deitou seu corpo sobre o meu, esborrachando e quebrando todos os frágeis ossos que dão constituição ao meu físico. Está bem, eu estou exagerando. Mas ele estava mesmo me sufocando.

—Brady… sai! — reivindiquei esbaforida.

—Amar você não diminui a vontade que, eu tenho de te estrangular. – ele falou, olhando-me de forma fria e assustadora.

Engoli a pouca saliva que restava na minha boca. E engoli de novo e de novo, mesmo sabendo que não restava mais nada para ser engolido. Nunca tive medo de ninguém em específico, mas naquele momento meu irmão me aterrorizou. Mas, então, o bastardo sorriu. Isso que vocês ouviram (leram)! Ele sorriu. Sorriu tanto que, parecia que os seus dentes estavam a implorar para serem quebrados. Um a um!

—Tenha o resto de um bom dia macaquinha! — e dito isso, ele beijou a minha testa, se levantou, arrumou o cabelo, que ele querendo ou não, já não tinha salvação, e saiu do quarto desfilando.

—Viado! — gritei.

A minha mente já estava a maquinar mil e uma formas de revidar a gracinha do meu querido irmão. E enquanto, eu tentava não ter pensamentos homicidas em relação a um dos homens que eu mais amo nesse mundo, aproveitei para vestir as roupas que o protagonista da minha almejada vingança me trouxera.

Um top azul e uma calça jeans cinzenta e bem justa. Calcei um par de botas pretas, coloquei um colar e um anel, que formava a palavra “Bad” (má). O meu anel preferido já agora! Fiz uma maquiagem legal e bem a minha cara. E por fim, arrumei o meu cabelo sem nem olhar no espelho. O resultado final foi o que permaneceu. Agora se ficou bom, isso eu já não sei!

Procurei o Romeu com os olhos e o vi dormindo em cima do meu chinelo. Andei até ele e deixei um beijo na sua cabecinha fofa. Claro que, mais uma vez, fui ignorada com sucesso. O que é que eu posso fazer?!

Corri pelas escadas abaixo, saltado de dois em dois degraus, de novo. Qualquer dia eu me iria dar mal com essa brincadeira.

Cheguei na cozinha e só lá estava meu pai. Nada de irmão e nada de empregada. Só nós dois.

Isso vai ser interessante, pensei.

—Bom dia pai.

Ele me olhou de cima abaixo, enrugou os lábios e espremeu os olhos.

—Bom dia mocinha.

Sorri de forma descarada, achando graça por ver meu pai todo encabulado. Virei costas e peguei um copo lavado do armário. Fui até à bancada e me sentei na cadeira, de frente para o meu pai. Enchi o meu copo com água e pousei-o bem na minha frente. Permaneci observando o seu rosto por longos minutos.

—Não vai beber? — perguntou ele.

—Não. — respondi de forma exagerada e perlongada. Ergui a sobrancelha e olhei com desdém para meu pobre pai. —Vou deixar o copo aqui e ver quanto tempo leva para a água evaporar.

—Abusada. — ele disse simplesmente.

—Não sou abusada. O senhor é que faz perguntas idiotas. — retruquei, dando de ombros.

Me servi com duas panquecas, manteiga de amendoim e quatro picles. Podia sentir o olhar de nojo do meu pai sobre mim.

—Se não gosta, não olha. Se não quer, não comenta. — rezinguei, enquanto mordia generosamente um dos meus amados picles, coberto de manteiga.

—Ally, você sabe que precisamos conversar sobre o que aconteceu ontem, certo? — ele perguntou, incerto.

—Tecnicamente, o sucedido com a sua namorada aconteceu hoje e não ontem.

—Podemos conversar ou não?

—Uhm…— murmurei, não dando a mínima para a situação.

E então ele começou a falar. Contudo, tudo o que eu conseguia escutar era: blá blá blá blá blá. Depois de dois míseros segundos, nem isso eu ouvia mais. Meu olhar zanzou pela cozinha e…

Desde quando a cozinha tinha cortina? Porque a cortina era amarela? Quem usa essa cor? Branco era bem melhor, ou não? Tem diferença, certo? São importantes essas coisas, não são? Amarelo é para desesperados, estou certa ou estou errada?

E então para prolongar meu momento de reflexão, sem nexo algum, entrou um mosquito pela janela. Primeiro ele pousou no vidro. Depois voou e voou, até que pousou de novo no vidro. Idiota!

E por falar em idiota… Será que o Brady, nerd como ele é, saberia me dizer quanto tempo vive um mosquito? Ouvi dizer que a esperança média de vida das moscas é um dia. Mas moscas são moscas, mosquitos são mosquitos. Não é a mesma coisa, ou é? Será que eles são parentes? Será que eles sabem que duram tão pouco tempo?

Meu deus, um dia para eles são anos de vida para mim. Eles vivem o nascimento, a infância, a adolescência, a puberdade, a fase adulta, a velhice e a morte em 24 horas. É como se um recém-nascido partisse para ação no primeiro segundo em que, botasse os pés no mundo. Que coisa é essa? Puta que p…

—Allycia Marie Dawson. — gritou meu pai, atirando um pedaço de fruta para o meu rosto.

—Que foi? Quanta agressividade…

—Não dá para falar com você.

O silêncio se estabeleceu. Por pouco tempo…

—Pai, porque as moscas vivem tão pouco? — perguntei intrigada.

—O quê?

—Tanta vaca ruim aí no mundo e essas pobres mosquinhas, que não fazem mal a ninguém, é que morrem. — refleti.

—Você é muito estranha minha filha.

Dei de ombros e voltei a comer. Entre uma mordida e outra, comecei a sentir meus olhos ardendo, meu nariz coçando…

—Não acredito que esse imbecil despejou, de novo, o frasco de perfume na roupa. – reclamei baixinho.

Meu pai estava com a mesma cara que eu. Pobrezinho, com certeza ele ainda estava tentando entender de onde vinha aquela brisa exagerada de perfume.

—De onde vem esse cheiro? — perguntou ele, todo inocente.

—Esse é cheiro vem do idiota do seu filho mais velho.

Mal terminei de falar e o idiota deu as caras.

—Deixa de ser invejosa maninha.

—Eu? Invejosa? — perguntei chocada. — Quer saber, eu tenho inveja sim. Inveja daquelas pessoas que têm irmãos normais. E não idiotas que tomam banho de perfume.

—Tadinha. — ele esnobou, acariciando os meus cabelos com cara de caridade. — Como você nasceu com apenas seis meses, o seu cérebro ainda deve estar prematuro.

Me levantei da cadeira, fazendo o maior alarido. Agarrei na primeira coisa que meus dedos sentiram e taquei na cara do imbecil. Um garfo. Nada mal!

—Repete. — desafiei, fazendo peito com ele. — Repete pra ver se você tem coragem. Franguinho.

Ele sacudiu a cabeça, com as mãos nos olhos e disse:

—Sua louca. Você podia ter me cegado.

—Ah, louca é a sua avó. Imbecil!

Dei um soco no peito dele e voltei a sentar, desconsiderando a hipótese de olhar para o nosso pai.

—Nós somos irmãos. A avó é a mesma, idiota.

Encolhi os ombros e segurei a comida que tinha dentro da boca, para não cuspir tudo pra fora.

—Eu não queria ofender a avó. — me defendi, mas só escutei risadas como resposta. — Parem de rir. Eu não falei por mal.

—Deixa a avó saber que você chamou ela de louca. — disse Brady, rindo ainda mais.

—Olha aqui seu macaco de um raio, se você falar alguma coisa para a avó, eu te mato. — ameacei, enfiando um dos meus picles na boca dele.

—Que medo que eu tenho de você. — ele levantou a mão sobre a minha cabeça, como se me estivesse medindo. — Você devia se chamar: Meio Metro Dawson. E não: Allycia Marie Dawson.

Aí o negócio ficou preto. Foram xingamentos pra cá, xingamentos para lá. Brady poderia, ou não, vir a ficar com o olho roxo. Enfim… Foi bagunça, até ficarmos os dois dentro de um carro a caminho do colégio.

A chegada ao Marino foi sossegada. Dentro dos possíveis! Do lado de fora estavam muitos alunos, mas não quem eu procurava. Caminhei para dentro das instalações, ignorando qualquer um que quisesse falar comigo.

—Bebeu café a mais maninha? — provocou Brady, acelerando o passo para acompanhar o ritmo das minhas passadas.

—Você tirou o dia para me irritar?— perguntei virando de frente para ele.

—Não, mas está sendo divertido. — admitiu ele com um sorriso de canto. Provocador!

—Pegue na sua diversão e enfie num sítio que eu cá sei.

—Quanta delicadeza.— ironizou ele.

Virei costas e continuei caminhando.

—Porque você não vai procurar e encher o saco da Rydel?- sugeri, sem nenhuma paciência.

—Seu humor hoje está maravilhoso. – zombou ele.

—Eu estou preocupada, tá? Não sei como é que estão as coisas entre o Austin e o Riker. Preciso ver o meu loiro. Afinal, eu também estou metida nessa confusão.

—Você é a razão da confusão.

Parei abruptamente, e sem aviso prévio, o que fez meu irmão chocar contra mim. Por pouco não fui de cara ao chão. Diante dos meus olhos estava a visão do inesperado, mas não improvável. E a partir daí, os factos desenvolveram-se da seguinte forma:

1º entrei em choque; Depois fiquei indignada; Em seguida tive um ataque de riso, que rapidamente deu lugar a uma crise de histeria; E por fim e não menos importante… fiquei em choque de novo.

Quer dizer, que raio de demónio assombroso decidiu fazer uma paragem na minha estação de felicidade? Não podia ter se encostado na jumenta da Kira e na vaca da Cassidy? Opa, é ao contrário. Vaca da Kira e jumenta da Cassidy. Ah, quer saber? Dá no mesmo, a fuça de animal está estampada na cara das duas. Se bem que pra mim assim faz mais sentido.

Alerta: excesso de divagação. Continuando a relatar o que é realmente importante:

Riker segurava Austin pelo colarinho da camisa e o pressionava contra a parede. Ele falava algo, olhando Austin nos olhos. O seu olhar flamejava com todo o peso da fúria. Os restantes irmãos Moon rodeavam os dois em pânico. Parecia que Ryland ia entrar em curto-circuito a qualquer momento.

Entrei em estado de alerta.

—Não acredito que eles vão brigar. — constatou Brady, incrédulo.

—Só se eu não puder evitar.

Acelerei o passo, impaciente e completamente invadida pelo nervosismo. Mais dez passos, mas dez passos e eu chegaria até eles. Mas tudo o que parece fácil acaba por ter empecilhos no caminho. E o maior deles todos se chamava Vakira Não Sei Das Quantas Star.

—Que história é essa de você estar namorando com o MEU Austin?

Arquei a sobrancelha e passei a ponta da língua nos meus lábios secos, antes de responder com toda a arrogância presente dentro de mim:

—Não é história… é facto.

A imitação de gente riu. Mas riu com vontade. Esperei que o chilique passasse. E então, ela adotou uma postura felina, como se a qualquer momento fosse saltar e enfiar as garras na minha cara.

—Você é louca se pensa que eu vou deixar você ficar com o Austin.

Meu sangue sumiu de repente. Era impressão minha ou ela estava me ameaçando?

—Sai para lá coisa chata. — falei bem devagar e de forma perfeitamente explícita, sem medo de estar pisando em ovos. Na verdade, eu já estava sambando em cima deles.

Quero ver a vaca explodir!

Louca. – ela fez questão de reforçar o insulto.

Ri com escárnio.

—Sério? Louca? Originalidade zero Kira. Inventa outro apelido, porque esse já foi divulgado, aceite e aprovado.

Adorei minha ironia. Mas, aparentemente, a Kira não gostou.

—Vadia. — guinchou ela, batendo o pé que nem criança.

—Não, esse apelido é o seu.

Ela se aproximou de mim furiosa, mas tudo que eu conseguia enxergar e ouvir era o que se passava nas costas dela. Riker tinha a mão em punho direcionada ao rosto de Austin, enquanto o meu loiro dizia:

—Me bate. Pode bater. — ele estava ofegante, mas seu olhar era pura determinação. Um aglomerado de gente começava a nos rodear a todos. - Mas você é meu irmão, então não espere que eu me defenda. Você está no seu direito!

Me distraí tempo o suficiente para a Kira se aproximar ainda mais.

—Eu vou acabar com você. — ela murmurou, soprando deliberadamente contra a minha pele.

Inconscientemente, me lembrei de um trecho da música interpretada por Frejat e Barão Vermelho:

“Se você quer brigar

E acha que com isso eu estou sofrendo.

Se enganou meu bem,

Pode vir quente que eu estou fervendo.”

Vou fazer a Vakira cair do salto. E vou fazê-lo com todo o prazer do mundo.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Espero que tenham gostado. E só para que conste... quantos mais comentários esse capitulo tiver, MAIS rápido eu postarei o próximo!
Favoritem e/ou recomendem.

Amo vocês de montão.

Leiam a minha nova fic (que vai ser corrigida e alterada em breve):
https://fanfiction.com.br/historia/608511/Ill_Be_Always_There_For_You/

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