Irreal escrita por Pepper


Capítulo 5
Lágrimas clandestinas Final.




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Entre, entre! Vejo que está gostando de meus contos, não?

Faz um tempo que encontrei alguém como você... Mas esta é a história para outro dia. Lembro-me fracamente de onde paramos nossa história. Sente-se, minha criança. Vejamos... Hei de lembrar onde paramos...

Ah, sim! Como pude esquecer-me de tal detalhe?

A mãe de Janaína, chorava no sofá, e eu a reconfortava, passando minhas mãos em sua cabeça, já expondo fios grisalhos. Lembrando-me do dia em que sua mãe morrera, e eu a reconfortava em minha casa na Alemanha. Mas agora estávamos em sua casa, tantos anos após, ao lado do Rio Hudson,que naquela época remota, era cristalino.

– Como as coisas chegaram a esse ponto? Sabe o que irás acontecer caso conte para o pai dela?

– Sim, Clara, eu entendo... Eu tenho o endereço do tal rapaz, vou lá, assim que sua família chegar.

– Dona Bélle... - Reparemos, criança, que mesmo o passar de longuíssimos anos, Clarinha ainda me chamava de Dona Bélle. era raro ela me chamar pelo primeiro nome ou de "você", vivíamos na época em que respeito era ouro. - Não vás a fazer nada de que se arrependa...

– Não levar-lhe-hei a morte precoce, nem a dores físicas. Existem coisas piores do que dor física e morte.

– O que irás fazer? - Clarinha me pergunta me olhando. Sei que tendo a fazer comparações de tais momentos com o dia macabro da morte de sua mãe. Mas aquele olhar era o mesmo de Janaína e o mesmo de quando Clarinha me fitava ao saber da morte da mãe com uma mescla do olhar de minha eterna amiga, Morte, dando os pêsames pela tal morte. Olhares consequentes de momentos que põe a prova a fé dos seres humanos. E seres como eu, apenas ajudamos, ou em meu caso especial, atrapalhamos.

Não a respondi, eu fitava a porta que se abria, dando a entrada do pai que chegava do trabalho. Respirei fundo. Este momento poderia ser contato lentamente em 10 momentos que gravei e o terei eternamente em minha cabeça.

1 - Quando ele se chocou ao ver sua mulher chorando, e eu a consolar.

2 - Clarinha se levantou e o abraçou, e ele perguntou o que aconteceu.

3 - Clarinha respirou fundo também, e soltou o corpo do marido.

4 - Ela começou a contar o ocorrido macabro.

5 - Leo a fitava, tentando entender o que ela queria falar.

6 - Clarinha começou a contar a parte macabra.

7 - O marido começa a se espantar.

8 - Em meio a soluços, ela termina de contar o caso que a feriu.

9 - Leo assimila tudo, perplexo.

10 - Leo começa a chorar e se ajoelha no chão, se sentindo sem ele.

Eu observava tudo, sem saber se era certo eu estar lá. O médico que fora pra guerra, e a dona de casa que cuidara da família, e se mudou para perto do Rio Hudson e começou a trabalhar. Ambos fortes, agora, caídos. Eu demoraria anos a entender se não fosse o amor. Pois eu sabia o amor que ambos viviam para dar: Amor aos seus filhos.

Quando a família se reunia, menos Janaína que dormia para se recuperar, eu anunciei que ia à casa do patife, para ter uma conversa. Os três irmãos na mesa se entreolharam, o médico e a mãe também. Eles temiam que eu fizesse outra besteira. Mas ninguém se atreveu a me impedir. Me despedi da família e fui dar uma olhada em Janaína. Depois peguei o endereço e fui em direção.

– Não faça isso Bélle. - Me advertiu a morte voando ao me lado. Para chegar mais rápido, tornei-me essência, e ela para me alcançar, também. - Sabe que isso vai contra o amor!

– Às vezes tendo a ir contra os meus princípios.

– Como quando você matou aquele homem?

Eu parei. Finquei minhas pernas invisíveis no chão, e ela também.

– Aquilo já faz anos e anos, minha cara.

– Mas não deixa de ser fato. Sabes os castigos que mais lhe aguardam? Sabes que afetarás o mundo todo eternamente? Ou simplesmente és tão egoísta que não pensa no mundo? Nosso trabalho é esse. Pensar no mundo. Sermos sábias. Ás vezes ages feito humana!Não podes cometer erros!

Quem diria que a Morte teria mais prudência do que eu?

– Já lhe disse, cara Amiga, não hei de matá-lo, nem de feri-lo gravemente.

– O que farás, então?

– Irás ver, cara amiga.

Eu começo a correr como essência até o tal endereço e a morte me seguia feito polícia atrás de um bandido.

Chegamos na casa. Era aquelas casas típicas dos Estados Unidos, com jardim, dois andares, uma varanda e etc. Toquei a campainha.

Quem atendeu fora um garoto, aparentemente dezessete anos, vestia uma calça de couro justa e uma blusa branca.

– O que foi, dona?

– Você conhece Janaína? - O rapaz se assusta.

Ah, esqueci-me de um detalhe crucial, quando voltei a forma humana, não voltei com a costume, voltei com a aparência de uma policial, alta, magra, cabelos negros e presos num coque, porém, ainda aparentava um pouco velha.

– Sim, minha namorada, o que aconteceu?

– Ela te denunciou hoje á pouco, e vim com minha obrigação legal, de informar seus pais, eles estão?

– N-não, eles saíram.

– Recuso-me a acreditar, rapaz, licença. - Eu o empurro pro lado e entro na casa, chamando por alguém.

– EI! Não pode fazer isso! - Reclama o garoto.

Eu abri a boca para responder quando uma mulher desceu as escadas. Era relativamente jovem, para ser mãe de um menino de dezessete anos, usava camisola branca e o cabelo estava solto, eram negros e ondulados, estavam desgrenhados.

– Mas o que há aqui? Que gritaria é essa?

– Senhora, suponho que seja a mãe deste rapaz. - Falo esticando minha mão para um cumprimento formal.

– Sim, - confirma apertando minha mão. - O que este pivete aprontou?

– Se não for de muito abuso, senhora, podemos conversar nós três na sala? Creio ser mais confortável. - A mulher nos conduziu até a sala, atrás de mim, o garoto agressor, pálido e quieto.

– Como deve saber, este menino. - Aponto pro agressor. - Namorava com uma garota, Janaína. - A mãe assente. - A menina veio em nossa delegacia hoje mais cedo, ela estava com o rosto todo sangrando e com dores no corpo.

– Ó céus, o que aconteceu? - A mãe pergunta, assustada. O filho se encolhe no sofá.

– No depoimento, a menina fora agredida pelo seu filho, pois ela simplesmente quis terminar o namoro.

A mãe gela, arregala os olhos, não como alguém que viu a mãe morrer diante dela, mas como alguém que acaba de descobrir que papai noel não existe. Ah, peço perdão criança, se não sabia deste detalhe, meus pêsames.

A mãe olhou para o filho, que desviara o olhar. Ela me fitou e por fim disse:

– Senhora policial, se não se importa, poderia retirar-se de minha casa? Queria conversar a sós com meu filho.

–Claro. - Aperto sua mão e me retiro da casa. Porém, volto como essência, para assistir o que se passaria a seguir.

A mãe simplesmente subiu e pegou uma cinta de couro, e surrou o filho que chorava pedindo piedade à mãe. Foi apenas um minuto disso, a mãe não parava de xingá-lo, e quando terminou a sessão de surra, o puxou e o trancafiou no quarto. Ele ficara de castigo por vários meses. E o menino não teve sossego quando o pai chegou de um dia árduo de trabalho.

Quando seguia para o caminho da casa ao lado do Rio Hudson, a morte veio comigo.

– O que aconteceu? Não pude ficar para ver, tinha trabalho a fazer...

– O rapaz apanhou da mãe, só isso.

– Que susto Bélle! Pensei que faria algo pior...

– Estás decepcionada?

– Aliviada. - A morte me corrigiu.

– Trazer a morte para o ser humano, é o seu trabalho. - Sorri.

– Fico feliz que me tenhas entendido. Agora, terei de partir, sabe, humanos me esperam.

– Vá, cara amiga, humanos também me esperam. - Sorrimos,e a morte se foi.

Se me concede tal atrevimento, pularei a parte em que chego à casa, e conto para todos o engraçado ocorrido. Exclui a parte em que mudo para uma policial, falando que falei como tia de Janaína mesmo. E falar-te-ei para ti, só para ti, que os deuses me abençoaram, rejuvenesci, voltei a aparentar 35 anos, porém, a maldição de mortalidade não foi-me tirada. E claro, para não confundir a cabeça da família mais amada, tive de afastar-me dela. Mas não me impediu de vê-las, apenas de ser vista.

Vi Janaína esquecendo parcialmente do ocorrido, e se levantando da queda. Ela não levou nenhum trauma, não guardou nenhuma mágoa, apenas nunca mais viu seu agressor.No início, tivera de se distrair, e aprendera, com o irmão, artes marciais. Janaína teve muitos amores e fora sempre muito amada. Mas tudo acaba. Como se fôssemos uma biblioteca e os momentos nossos livros. Alguns tem menos páginas que outros, alguns são longos e tem continuação, porém, é chegada a hora de fechar um livro para abrir outro. Janaína fora um exemplo disso. Claro, sofria com um término, mas se recuperava, e abria outro livro, não necessariamente de romance ou drama, mas talvez uma comédia de vez em quando para adoçar-te a vida. Janaína fora uma prova viva de que és possível seguir em frente, e viver intensamente.

Quando se casou, foi com um brasileiro capoeirista, e se mudou com ele para o Brasil, e lá criou quatro filhos lindos, e ensinou-lhes o que aprendera comigo e com a vida. Se lhe for de interesse, ela lecionou em faculdades da Bahia, e ensinou adolescentes baianos o que era amar, e contou-lhes minhas histórias. que foram se espalhando por Bahia inteira.

O segredo do amor, está em Paris, Roma, São Paulo e Bahia.

Escuta-me criança, está tarde agora, porém, quando vier me ver, e ouvir, evidentemente, lembre-me que lhe contarei a história de Piratas Ingleses. Não seja preconceituoso, todos amam, e a próxima história, mostrar-lhe-á este fato irrefutável.

Agora, vás, antes que tua mãe te chame! Vás dormir bem, adorável criança.


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