Lá estava eu, sentada naquele café pequeno e escuro, algum jazz antigo tocando ao fundo, um chocolate quente, que já estava ficando frio entre as mão, intocado, meus pensamentos, minhas tristezas e meus devaneios eram mais interessantes que ele. Muito mais.

Do outro lado da rua, passava um casal, eu os segui com os olhos. Eram jovens, e pareciam tão felizes... Felizes como nós eramos um dia. Ela olhava pra ele e sorria, como se ele fosse o mundo todo dela, e ele olhava de volta, e sorria também, como se ela fosse sua jóia mais preciosa, a razão de sua existência. A alegria que emanava deles, parecia dançar em volta, rodopiar e cantar, era tão grande, que parecia derreter a neve que caia la fora, mas ela chegava em mim em forma de tristeza, saudades e melancolia.

Me levantei, deixei uma nota em baixo do copo e sai pela porta. Ficar naquele lugar frio e mórbido não ajudava em nada. E a cada passo sem rumo que eu dava, mais me afogava nos meus pensamentos.

Onde está você? Por que eu te perdi? O que eu fiz de errado? Eu só conseguia pensar nisso, mais nada. A neve se entrelaçava ao meu cabelo, minhas mãos, sem luvas, estavam mais geladas que nunca. Tinha um banco ali perto, minhas pernas não aguentavam mais, me sentei. Onde está você? Por que eu te perdi? O que eu fiz de errado? Uma senhora sentou do meu lado, bem maltratada pelo tempo, trazia uma expressão triste e cansada em meio as rugas, expressão que parecia estar ali desde sempre, trazia também um porta retrato vazio. Ela olhava pra ele, como se ele fosse seu ultimo fio de esperança, de felicidade

E ali naquele banco, ao lado daquela senhora com o porta retrato, no dezembro mais frio que consigo me lembrar, percebi que eu não te perdi. Eu ME perdi, e acabei te deixando ir. E só sobrou isso. Isso que não sei se posso chamar de "eu", porque nem sei quem sou eu.