Primeiro, Wakamatsu estava seguindo a Kashima para tudo quanto era canto. Segundo, a garota parecia muito mais ocupada que o normal e terceiro – por ultimo, mas não menos importante – ele não fazia a menor ideia do que estava acontecendo!

E ele não estava gostando daquilo, nem um pouco.

Mas o que raios tá acontecendo aqui?! Mikorin exclamou em pensamento, sentado atrás da cortina de sua sala, abraçado aos seus joelhos. Pelo amor de Deus, o que tá havendo com a Kashima e o Wakamatsu?! Por que ninguém me explica nada?!

Por falar em explicar, o pensamento do evento que ocorrera uma hora atrás voltou a sua mente e o ruivo sentiu vontade de se costurar dentro da cortina.

–Mikoshiba-kun? – O garoto sentiu algo puxar levemente sua camisa branca e se virou para trás, dando de cara com duas garotas do seu ano.

Opa, garotas.

Aquilo não ia acabar bem.

–Sim? Que foi? – Ele piscou. Isso! Mantenha a calma!

–Sabe o que é... – A garota que estava ao lado da que puxara sua camisa, olhou para o chão antes de voltar sua olhar para o mesmo. – O que está acontecendo com a Kashima-kun e aquele garoto do primeiro ano, o Wakamatsu?

–Hm? – Ele piscou outra vez. Mas o quê?

Ah, era isso... Estava mesmo estranho, com o Wakamatsu seguindo a sua amiga sem parar.

–Como você é amigo da Kashima-kun, achamos que você pudesse saber de algo. – A que puxara sua blusa completou.

–Ah, desculpa. Eu não faço ideia do que tá havendo também. – De qualquer forma, seja rápido e mande-as embora antes que você cometa uma besteira!

–Entendo... Não tem problema.

Ótimo, elas já iriam embora!

–Desculpe te incomodar, Mikoshiba-kun. – Uma das meninas sorriu sem graça. Isso aí, elas estão prestes a ir embora. Podem ir, vão logo, rápi-!

Mas quando o garoto se deu conta, já haviam segurado as mãos de ambas com delicadeza.

... Droga.

–Me incomodar? – Ele riu levemente e sorriu para elas. – Se flores tão belas como vocês estavam me incomodando, adoraria ser incomodado mais vezes.

As duas garotas o encaram e lentamente tiveram suas bochechas tingidas de rosa.

DROGA!

–Mrrrrfgffff!! – O ruivo gritou com o rosto escondido na cortina enquanto suas mãos a prendiam a ele. – Kashima, você me pagaaaa!

Nunca mais. Definitivamente, nunca mais.

No meio disso, outro pensamento – menos vergonhoso, mas igualmente ruim – cruzou sua mente e o garoto voltou a franzir o cenho.

Estava andando pelo corredor, olhando para todos os lados, procurando por alguém mais alto que a média e laços vermelhos com pontos brancos.

–Cadê aqueles dois...? – Murmurou para si mesmo. – Eles vieram por aqui, não foi?

Então, seus olhos escarlates detectaram um vislumbre de cabelos laranjas balançando e sua cabeça se virou na exata direção onde Sakura e Nozaki estavam parados no meio do corredor.

Finalmente!

–Ei, Nozaki! Sakur-

–KASHIMA-SENPAI!

Hah?

O ruivo parou de repente já que a confusão atacou seus sentidos quando viu seu kouhai correr feito um louco atrás de Kashima que se encontravam no final do corredor.

–Wakamatsu? – Ele murmurou.

–Ah! Lá está ele, Nozaki-kun! – Mikorin ouviu a ruiva exclamar e o garoto ao lado dela assentir antes de saírem atrás dos outros dois, deixando-o para trás.

Eles tinham sequer ouvido seu chamado?

–... E- Espera... – Ele levantou uma mão, mas já era tarde.

–MEU DEUS, O QUE TÁ HAVENDO?! O QUE PODE TER ACONTECIDO EM DOIS DIAS?!?!? – O garoto berrou, agarrando a cortina e quase a rasgando com os dentes.

–... Mikoshiba?

O ruivo parou e olhou para o lado, avistou um dos seus colegas de sala que o encarava com uma expressão bem assustada.

E foi naquele momento que Mikoshiba Mikoto viu sua alma saindo lentamente de seu corpo e subindo aos céus.

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–Ei, Mikoshiba.

–Hm? – O garoto se virou para a garota de cabelos escuros e curtos. – Que foi, Kashima?

–Você reparou que o Wakamatsu tá estranho?

–Hah?

–É... Eu estou acostumada com garotas me seguindo... Mas ele fica me seguindo de um lado para o outro e eu não sei o que fazer.

–O Wakamatsu tá te seguindo?

Ela assentiu.

–Ué, faz o mesmo que você faz com as meninas.

–Eu tentei! Não deu certo!

Ele parou.

–É, pensando bem, não daria certo com alguém como ele mesmo.

–O que eu faço então?!

–Eu sei lá, Kashima. – Mikorin deu de ombros, em sinal de rendição. – Eu não faço ideia do que tá rolando! E eu nem sabia que ele tava te seguindo!

A garota de cabelos curtos o encarou por um tempo e suspirou, derrotada.

E foi o que acontecera ontem, ao final da aula quando voltavam para o portão da frente da escola. Queria ter ajudado a amiga, mas não conseguia ler a situação. Aquilo não era nem um previsível!

Na verdade, parecia aquela vez quando a Satsuki do ultimo Dating Sim que jogara dissera que o odiava mesmo depois dele ter escolhido a opção de que “Ela era a única para ele”! Sinceramente, garotas de jogos eram impossí-!

Espera, ele estava fugindo do assunto.

–Ah, Mikoshiba-senpai!

Mikorin se virou para o lado e encontro um moreno com olhos turquesa que brilhavam com determinação. Na verdade, ele inteiro parecia brilhar.

Agh, brilhante demais.

–Ah, oi... Wakamatsu... – O ruivo respondeu, hesitante. Não importava o quanto seu kouhai fosse legal, ele estava estranho e aquilo o deixava muito confuso.

Quer dizer, ele estava muito mais... Brilhante que o normal.

–Então, senpai! – O mais novo voltou a falar, um sorriso largo ainda presente em seu rosto. - Eu sei que você e a Kashima-senpai são amigos, então... Você pode me ajudar? Eu queria saber do que ela gosta!

O outro piscou.

–Er... Ok, mas, por que você quer saber?

Naquele mesmo segundo, o brilho do moreno pareceu mudar enquanto o mesmo olhava para baixo, coçando a parte de trás da cabeça...

E com um visível tom avermelhado nas bochechas.

O ruivo arregalou os olhos.

–Sabe o que é... Ela fez muitas coisas por mim e eu queria retribuir de um modo... – Wakamatsu sorriu com alegria transbordante e o tom avermelhado se intensificou.

Ai, caramba. Aquilo não podia estar acontecendo!

–Bem... Olha, ela gosta disso... – E começou a contar algumas coisas que sua melhor amiga gostava, mas na realidade, estava completamente absorto na sua possível descoberta e na sensação de epifania quando tudo parecia voltar a fazer sentido.

–Entendi! Obrigado, senpai! – A voz animada de seu kouhai o arrancou de seus pensamentos e ele piscou outra vez.

Ah, mas...

...Mesmo que eu fale essas coisas para ele, não vai dar certo. A Kashima já... O ruivo pensou para si mesmo, mas o som de passos rápidos desaparecendo à distância o acordou mais uma vez e ele só teve tempo de ver Wakamatsu virando o corredor.

Por todos os Dating Sims do mundo...

Aquilo estava mesmo acontecendo.

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Hori não fazia a mínima ideia da situação em que estava.

Para ser honesto, ele começara a achar que se encontrava no meio de um sonho ou alguma dimensão paralela estranha desde o momento em que ouviu Kashima cantar dias atrás. Aquilo tudo tinha sido muito surreal – e ele não ficara nem bravo dela ter acidentalmente quebrado o vidro de um holofote com sua voz, o problema era outro.

Quer dizer... Kashima e imperfeições não eram termos que combinavam na cabeça dele. Para alguém como ela que conseguia atuar, tirar boas notas e se comunicar com os outros com maestria, era estranho pensar que ela podia ter algum outro ponto fraco além de ser extremamente irritante e chegar sempre atrasada.

E, como se aquela descoberta não fosse o suficiente de surpresas, ninguém menos que a Lorelei do clube de canto tinha se oferecido para cantar por ela.

Ele aceitara de cara, claro; pois a reputação da estrela do clube estava em jogo se alguém descobrisse que tinham desistido do musical porque ela não sabia cantar. O problema era que, aparentemente, essa solução acarretara em outra coisa indubitavelmente estranha.

O fato de que seu kouhai e assistente de Nozaki tinha começado a seguir Kashima por aí.

Era estranho – ele começara exatamente no dia seguinte ao que entrara no teatro na hora errada.

Será que ele está tentando descobrir quem é a Lorelei? O mesmo pensou para si mesmo, pondo uma mão no queixo e pausando no corredor. Ele é um dos fãs dela, afinal...

Só que só aquilo não justificaria o fato de Wakamatsu cumprimentar Kashima toda vez que a encontrava. E de levar coisas para ela. E de falar bem de sua aparência. Sério, essa deveria ser a décima segunda vez em dois dias...

...Não que ele estivesse contando, claro.

A única coisa de que ele sabia era que algo estava muito errado, e o mesmo tinha a impressão de que isso viria afetar e muito a situação do teatro.

E era por isso que ele estava se preocupando tanto.

O mesmo suspirou, recomeçando a andar. Tinha de chegar mais cedo ao ensaio hoje, talvez falar com Seo para ver se ela sabia o que estava acontecendo ou algo assim. Aqueles dois eram próximos, não é?

Se bem que talvez eu mesmo poderia perguntar. Hori refletiu, virando o corredor em direção à sua sala. O problema seria achar ele.

– Hori-senpai!

Ele parou. Depois, se virou, vendo seu kouhai se aproximando enquanto acenava, rosto determinado.

Ok, esses tipos de coincidências não deveriam existir no mundo real. Ele definitivamente estava numa dimensão paralela estranha.

–... Wakamatsu. – Hori murmurou, observando-o enquanto ele parava levemente ofegante à sua frente. – O que houve?

– Ah...! É que... – O garoto respirou fundo, parecendo se recompor. – A Kashima-senpai mandou avisar que não vai poder ir ao ensaio hoje.

Ele franziu o cenho, por um momento não ficando bravo com a aleatoriedade de sempre da estrela do clube para focar em outra coisa.

– Você correu até aqui só para dizer isso?

– Sim! Ela disse que era urgente! – O mais novo sorriu para ele. – Então eu tive que vir o mais rápido possível!

O mais velho encarou o garoto mais alto enquanto ele sorria, e estreitou os olhos.

–... Você gosta mesmo de ficar fazendo todas essas coisas por ela?

– Claro! – Wakamatsu assentiu animadamente, seu sorriso aumentando assim como os brilhos à sua volta. – Quer dizer, a Kashima-senpai é realmente uma pessoa incrível, eu estou feliz só por poder estar ao lado dela! E ela também tem um coração tão puro...

Hori falhou em perceber a descrição estranhamente similar às que ele costumava fazer de Lorelei, ainda tentando processar o que tinha ouvido.

Kashima, com um coração puro? Ele pensou para si mesmo, se segurando para não deixar sua completa descrença mostrar em seu rosto. A pessoa que o fazia ter que ir buscá-la todo santo dia, a que fazia graça de sua altura, a que destruía os materiais do clube, com um coração puro?

...Tudo bem, ele podia estar sendo um pouco exagerado. Ela não era tão ruim assim, tinha o levado para a enfermaria naquela vez em que ele desmaiou de cansaço no clube. Mesmo que provavelmente tinha vestido aquela máscara de touro para caçoarem da cara dele depois.

O mesmo comprimiu os lábios. Mas... Dá para contar os elogios que ela faz para as garotas como algo bom sobre ela, certo?

...Se bem que provavelmente enganar algumas enquanto isso não é tão bom. Eh... Ela pelo menos tem boas intenções nas coisas que faz? Mesmo que sempre ache um modo de estragar tudo mesmo assim... Então... Uh...

– Hori-senpai?

O mesmo piscou, encarando enquanto Wakamatsu o olhava com o rosto tombado para o lado.

...Ah. É mesmo, ele estava ali.

– Desculpa, eu acho que me distraí. – Hori coçou a cabeça, abrindo um sorriso sem graça. – Então, do que você estava falando?

– A-ah, bom...! – O garoto piscou, corando um pouco em seguida. – Eu tinha acabado de falar que, além disso, ela também é bem...

– Bem...? – Ele arqueou uma sobrancelha.

– Bonita. – Seu kouhai comentou, coçando o rosto. Depois, seu rosto tornou-se nervoso e ele se apressou para continuar: – Ah, desculpa, Senpai! Ela é sua colega de clube, falar isso de repente é-...!

Hori piscou, o encarando.

– Não, eu...

Imagens diversas inundaram sua mente.

A expressão concentrada de Kashima enquanto ela recitava uma fala. Ela sorrindo para ele depois que o mesmo elogiava seu desempenho depois de uma peça. O rosto dela depois de tirar aquela máscara ridícula de touro, colorido levemente de vermelho pelo calor, pele parecendo reluzir com o suor que se acumulara nela e sem falar nos olhos numa cor tão brilhante de esmeralda que tiraram o ar de seus pulmões por uns segundos...

Disso ele não poderia discordar. Kashima era sim, definitivamente...

...Espera.

O garoto piscou mais uma vez, parecendo finalmente tomar conhecimento do que acabara de pensar. Sentindo seu rosto esquentar e xingando a si mesmo por sequer ter refletido sobre aquilo, ele virou-se para seu kouhai novamente.

– Eu tenho que ir, Wakamatsu. Minha aula deve começar logo.

– Eh, mas ainda faltam cinco minutos para o fim do-

– Ela começa mais cedo para a minha turma. – Ele o cortou, e aproveitou o momento de confusão do mais novo para se apressar e sair dali.

O que tivera acabado de acontecer? Por que ele ficara lá para ouvir Wakamatsu elogiar Kashima e ainda concordara com o que ele dissera?

...E, além disso, por que seu kouhai falara tudo aquilo em primeiro lugar? Será que ele...

Hori parou de andar a dois passos da porta de sua sala, arregalando os olhos.

Não podia ser. Não podia ser, não é? Não havia a menor possibilidade-

Ele se lembrou do rosto corado de Wakamatsu novamente, e que ele dissera que Kashima era bonita além de elogiá-la por quase um minuto inteiro.

...Era um fato. Ele definitivamente estava numa dimensão paralela estranha. Aquilo não podia estar acontecido, era estranho demais, não fazia sentido ter acontecido do nada-

O mesmo tentou convencer a si mesmo de que esse era o motivo de seu desconforto.

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–Wakamatsu.

O moreno piscou ao ouvir seu nome, mas se virou no momento que reconheceu a voz.

–Nozaki-senpai! – Ele sorriu. – Ah, Sakura-senpai também!

Sakura sorriu de volta, meio hesitante.

–O- Oi, Wakamatsu-kun. – Ela juntou as mãos e deixou-as perto do peito. – Estávamos te procurando.

–Eh? Eu? Precisam de ajuda com o mangá?

Nozaki arregalou os olhos levemente.

–Bom, na verdade...

–Nozaki-kun!

Ele parou.

–Certo, desculpe. – E suspirou. – Na verdade, Wakamatsu... Sobre a Kashima-kun...

Os olhos do mais novo se iluminaram enquanto seu sorriso aumentava e suas bochechas se tingiam de rosa.

–Oh, sim! Eu só estou tão feliz de tê-la encontrado!

Por um segundo, Sakura pareceu querer dar meia volta. Provavelmente sentindo-se culpada por estar tentando acabar com aquela felicidade vinda de seu kouhai, mas manteve-se firme.

–Er... Isso é muito bom, Wakamatsu-kun... Mas... Você não acha que tá fazendo isso do jeito errado?

O garoto parou e um semblante confuso tomou conta de suas feições.

–Errado?

–Sim, digo... Se quer tanto passar tempo com ela... Talvez seja melhor fazer isso de outro jeito?

O mais alto assentiu.

–Um jeito melhor que segui-la por todos os lados da escola, já que esse não está dando muito certo.

–Eh? Vocês acham isso mesmo? – O moreno tornou a piscar até que um lampejo de realização atravessou sua face e ele pôs a mão no queixo. -... Será que isso tem haver com a ameaça de morte que eu achei no meu armário?

Nozaki e Sakura ficaram com uma gota. Elas chegaram tão longe assim?

–... Sim. Ah, então talvez eu tenha que mudar quanto a isso...! – O sorriso voltou com força total. – Muito obrigado, senpais!

E logo após acenar, Wakamatsu saiu correndo pelo corredor até sumir de vista.

Os dois mais velhos ficaram parados, até mesmo depois de perderem qualquer rastro do seu kouhai, encarando o corredor e piscando.

–Isso foi um pouco fácil demais?! – A ruiva foi rápida em perguntar, preocupação evidente em sua voz. Ela não sabia por que, mas tudo ao redor deles tinha a tendência de dar errado da pior maneira possível... Ou da maneira mais estranha possível.

–...Bom, ele não parece que vai fazer algo muito extremo... – Foi a resposta vinda do mais alto, o que fez a garota suspirar.

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Era incrível! Parecia que tudo estava conspirando ao seu favor!

Wakamatsu andava sorridente pelo corredor com brilhos ao seu redor, chegando a chamar a atenção de quem passava.

Seus amigos estavam o ajudando e, ainda por cima, Seo lhe havia finalmente dado sua merecida folga!

Estava tudo perfeito! ... Ou quase. Só faltava uma coisa.

–Ah, mas se eles acham que eu estou fazendo isso do jeito errado, é porque eles acham que o melhor a fazer seria...! – Murmurou para si mesmo.

E cerrou um dos punhos ao olhar para frente, determinação espiralando em suas irises turquesas. Sim! Ele já havia se decidido!

–Vou chamá-la para um encontro!